sexta-feira, 6 de junho de 2008

MICHEL FOUCAULT (2)



Michel Foucault
Em
O Círculo Antropológico






“O último grito de Nietzsche, proclamando-se ao mesmo tempo Cristo e Dioniso, não está nos confins da razão e do desatino, nas linhas de fuga da obra, seu sonho comum, enfim tocado e que logo desaparece, de uma reconciliação dos “pastores da Arcádia e dos pescadores de Tiberíades”; é bem o próprio aniquilamento da obra, aquilo a partir do que ela se torna impossível, é onde deve calar-se; o martelo acabou de cair das mãos do filósofo”.


“A loucura é ruptura absoluta da obra; ela constitui o momento constitutivo de uma abolição, que fundamenta no tempo a verdade da obra; ela esboça a margem exterior desta, a linha de desabamento, o perfil contra o vazio”.


“A loucura não é mais o espaço de indecisão onde podia transparecer a verdade originária da obra, mas a decisão a partir da qual ela irrevogavelmente cessa, permanecendo acima da história, para sempre”.


“Isso não significa que a loucura seja a única linguagem comum à obra e ao mundo moderno (perigo do patético das maldições, perigo inverso e simétrico das psicanálises); mas isso significa que, através da loucura, uma obra que parece absorver-se no mundo, que parece revelar aí seu não-senso e aí transfigurar-se nos traços apenas do patológico, no fundo engaja nela o tempo do mundo, domina-o e o conduz; pela loucura que a interrompe, uma obra abre um vazio, um tempo de silêncio, uma questão sem resposta, provoca um dilaceramento sem reconciliação onde o mundo é obrigado a interrogar-se.
O que existe de necessariamente profanador numa obra retorna através disso e, no tempo dessa obra que desmorona no silêncio, o mundo sente sua culpabilidade”.


“No instante em que, juntas, nascem e se realizam a obra e a loucura, tem-se o começo do tempo em que o mundo se vê determinado por essa obra e responsável por aquilo que existe diante dela”.






FOUCAULT, Michel. História da Loucura. Tradução: José Teixeira Coelho Neto. São Paulo: Editora Perspectiva, 1978.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Foucault

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