sábado, 31 de maio de 2008

MARIA MONTESSORI



Maria Montessori
Em
A Criança





“Poder-se-ia dizer que a diferença psíquica entre o animal e o homem é essa: o animal é como o objeto fabricado em série, cada indivíduo reproduzindo de imediato as características uniformes fixadas na raça inteira.
O homem, ao contrário, é como o objeto trabalhado à mão: cada um diferente do outro, cada um possuindo um espírito criador próprio, que a transforma numa obra de arte da natureza.
Mas o trabalho é lento e demorado.
Antes que surjam os efeitos exteriores tem que haver um lavor íntimo que não é a reprodução de um tipo fixo, mas a criação de um tipo novo – e, consequentemente, é um enigma, um resultado de surpresa, que permanece oculta durante longo tempo, exatamente como ocorre com a obra de arte que o autor conserva na intimidade do estúdio, transfundindo-se nela antes de expô-la em público”.


“Se do recém-nascido inerte, mudo, inconsciente e incapaz de movimentar-se se forma um adulto perfeito, com a inteligência enriquecida pelas conquistas da vida psíquica e resplandecente com a luz que lhe é dada pelo espírito, isto se deve à criança”.


“O homem é construído exclusivamente por ela”.


“Diante da simples evidência da realidade, podemos repetir incessantemente: “A criança é a progenitora do homem”.




MONTESSORI, Maria. A Criança. Tradução de Luiz Horácio da Matta. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Editora Nórdica, s/d.

Sobre a autora:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Montessori

SIMON VOUET


The Getty Center Los Angeles

Vênus e Afrodite
c. 1642 – óleo sobre tela – 130 x 94 cm.
Autor: Simon Vouet

Sobre o autor:

http://en.wikipedia.org/wiki/Simon_Vouet




sexta-feira, 30 de maio de 2008

ESPINOSA



Espinosa
Em
Pensamentos Metafísicos






“O que é a duração?


A duração é o atributo sob o qual concebemos a existência das coisas criadas, enquanto perseveram em sua atualidade.
Disso decorre claramente que entre a duração e a existência total de uma coisa há apenas uma distinção de Razão.
Quanto mais se subtrai a duração de uma coisa, tanto mais se subtrai, necessariamente, sua existência.
Para determinar a duração nós a comparamos com a duração daquelas coisas que possuem um movimento certo e determinado.
Essa comparação chama-se tempo.


Que é o tempo.


Assim, o tempo não é uma afecção das coisas, mas apenas um modo de pensar, ou, como já dissemos, um ente de Razão.
Com efeito, é um modo de pensar que serve para explicar a duração.
Deve-se notar aqui (o que servirá quando posteriormente falarmos da eternidade) que a duração é concebida como maior ou menor, como composta de partes e que é um atributo da existência e não da essência”.





ESPINOSA, Benedictus de. Pensamentos metafísicos. Tradução e notas de Marilena de Souza Chuaí. In. ___________ Pensamentos metafísicos; Tratado da correção do intelecto; Ética; Tratado político; Correspondência. Seleção de textos de Marilena de Souza Chuaí. Traduções de Marilena da Souza Chuaí [et al.] 2ª. Edição. São Paulo:Abril Cultural, 1979.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bento_de_Espinosa

quinta-feira, 29 de maio de 2008

EPICTETO (8)



EPICTETO – MÁXIMA 315




“Há pequenos escravos e grandes escravos.
Os pequenos são aqueles que se fazem escravos por coisas à toa, por dinheiro, por pequenos serviços.
Grandes são os que se fazem escravos pelo consulado, por governos de província.
Diante desses, vês os que levam as achas e os feixes, que são escravos de escravos.”




Epicteto: filósofo da escola dos estóicos, vivendo entre a Grécia e Roma nos meados do primeiro século da era cristã. Foi escravo, em Roma, na época de Nero.


EPICTETO. Máximas. Tradução de Alberto Denis. São Paulo: Ed. E Pub. Brasil Editora, 1960.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

RABISCOS NO BLOCO


JOÃO RODRIGUEZ DE CASTELO BRANCO



Cantiga, partindo-se.
(Joam Rodriguez de Castel Branco)




Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhüs por ninguém.

_
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
tam fora d’esperar bem
que nunca tam tristes vistes
outros nenhüs_por ninguem.





RESENDE, Garcia. Cancioneiro Geral. 4 vols.. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1990-1993.

Sobre o autor:

http://www.vidaslusofonas.pt/amato_lusitano.htm

e
http://pt.wikipedia.org/wiki/Amato_Lusitano

Estamos todos de parabéns: esta foi a postagem número 500

terça-feira, 27 de maio de 2008

CHARLES DARWIN



Charles Darwin
Em
A Origem das Espécies








“Combina melhor com a fraqueza das nossas faculdades, a suposição de que cada um precise do “fiat” de um criador, e a existência destas leis exaltaria na mesma proporção o nosso conceito da potência do Criador onisciente”.



“Há uma grandeza simples no fato de considerar a vida, com as suas capacidades de desenvolvimento, assimilação e reprodução, como se tivesse sido originalmente insuflada na matéria sob uma ou poucas formas e no fato de que, enquanto este planeta girava em órbitas correspondentes a leis fixas, num ciclo de transformação em água e terra, foram substituindo-se uma após outra, através do processo de seleção gradual de mudanças infinitesimais, até chegarem a uma quantidade infinita de formas belíssimas e admiráveis”.





DARWIN, Charles. A Origem das Espécies – Esboço de 1842. Tradução de Mario Fondelli.Rio de Janeiro: Newton Compton Brasil, 1992.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Darwin

segunda-feira, 26 de maio de 2008

TOMMASO CAMPANELLA



Tommaso Campanella
Em
A Cidade do Sol




Interlocutores: O Grão-Mestre dos Hospitalários e um Almirante genovês, seu hóspede.
( Hospitalários = Ordem religiosa baseada no serviço hospitalar. )



Grão-Mestre – Suplico-lhe, primeiro que me responda a esta única pergunta: que dizem eles do pecado de Adão?

Almirante – Confessam sinceramente que há muita iniqüidade no universo.
Os homens não são governados por superiores e verdadeiras razões, vivendo infelizes e sem escutar os bons.
Triunfam os perversos, se bem que eles consideram miserável esse triunfo, não havendo nada de mais vão e de mais desprezível do que querer mostrar-se aquilo que na realidade não se é ou não se merece ser, como tantos que se chamam reis, sábios, guerreiros ou santos.
Argumentam ainda que há, por causa ignorada, uma grande desordem nas coisas humanas.
E, quanto as primeiras, inclinam-se a crer, com Platão, que os mundos celestes sofreram, outrora, uma revolução do atual Ocidente para a parte agora chamada Oriente, dirigindo-se depois para a parte oposta.
Acrescentam ser possível que o governo da terra, com permissão do Deus Supremo, tenha sido confiado a divindades inferiores.
Mas consideram tolice afirmá-lo de um modo absoluto, e tolice ainda maior asseverar que, primeiro, com máxima eqüidade, tenha reinado Saturno, com menor Júpiter, e depois, sucessivamente, os outros planetas.
Não obstante, confessam que a idade do mundo é regulada de acordo com a série dos planetas, e acreditam que com as mutações dos astros, depois de 1000 ou 1600 anos, poderão as coisas passar por grandes mudanças.
Dizem que a idade presente parece dever atribuir-se a Mercúrio, conquanto modificada pelas grandes conjunções e repetições das anomalias que possuem uma força fatal.
Afirmam, finalmente, que feliz é o cristão que se contenta em acreditar que toda essa revolução se tenha originado do pecado de Adão”.


“Mas, quem estuda a construção do universo e a anatomia do homem (por eles freqüentemente praticada nos cadáveres dos condenados), assim como os planetas, os animais e a função de cada uma de suas partes, deve confessar em voz alta a sabedoria e a providência de Deus.
É, pois, dever do homem consagrar-se inteiramente à religião e humilhar-se continuamente perante o próprio autor, o que só é possível e fácil para quem estuda e conhece as obras deste, obedecendo às suas leis e pondo em prática a sentença do filósofo: “Não faças aos outros o que não queres que te façam; e o que queres que te façam, faze-o aos outros”.
Dessa forma, nós que pretendemos dos filhos e dos homens bens e honras em troca de poucas vantagens que lhes concedemos, devemos dar a Deus tudo, porque dele tudo temos recebido, e estamos nele e com ele.
Glória, pois, a Deus por todos os séculos dos séculos”.








CAMPANELLA, Tommaso. A Cidade do Sol. Sem indicação do tradutor.Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000001.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tommaso_Campanella

sábado, 24 de maio de 2008

LEUCIPO



Leucipo


Fragmentos






“Nada deriva do acaso, mas tudo de uma razão e sob a necessidade”.


“Aquele que quiser viver em tranqüilidade não se deve agitar demasiado, nem em sua vida particular, nem em sua vida coletiva; o que faz, não deve ir além de sua própria força e de sua natureza; e deve tomar cuidado para que quando vier a fortuna e tentar seduzí-lo, através de sua opinião, à desmedida, possa afastá-la e guardar somente aquilo que estiver de acordo com as suas forças.
Pois a plenitude comedida é mais segura do que a desmedida”.


“Se o corpo instaurasse um processo contra a alma, devido às dores e aos maus tratos recebidos durante toda a vida, e se fosse juiz na queixa, prazerosamente condenaria a alma, com as sequintes razões: que ela destruia o corpo pela sua negligência, o enfraquecia pela sua embriagues, o corrompia e rasgava por volúpia.
Da mesma maneira como responsabilizaria aquele que faz uso de um instrumento ou utensílio, deixando-o em mau estado”.


“A Medicina cura os males do corpo, a sabedoria liberta a alma das paixões”.


“O homem, um microcosmo”.







SANSON, Victorino Félix. Textos de Filosofia. Edição provisória para uso interno. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 1974.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Leucipo_de_Mileto

sexta-feira, 23 de maio de 2008

quinta-feira, 22 de maio de 2008

NIETZCHE (14)



Friedrich Nietzsche
Em
O Viajante e sua Sombra






26 – As condições legais como meios:

O direito repousando em tratados entre iguais, subsiste enquanto o poder dos que se entenderam permanece constante; a razão criou o direito no intuito de por termo às hostilidades e às inúteis dissipações entre forças iguais.

Porém, esta razão de conveniência cessa definitivamente, assim que uma das duas partes se torne sensivelmente mais débil que a outra; então a submissão substitui o direito que deixa de existir, mas o resultado, todavia, é igual ao que havia alcançado até então por meio do direito.

Pois que de então em diante é a razão do mais forte que aconselha a dirigir a força do submetido e não a destruí-la inutilmente; e freqüentemente a condição de submetido é mais favorável do que aquela em que se encontrava como igual.

– As condições legais são, portanto, meios transitórios que a razão aconselha, e deste modo não são absolutamente fins.





NIETZSCHE, F. O Viajante e sua sombra. Tradução de Heraldo Barbuy. Rio de Janeiro: Tecnoprint Gráfica, 1967.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

MARQUÊS DE SADE



Aos Libertinos
(Marquês de Sade)







Voluptuosos de todas as idades e de todos os sexos é a vós apenas que ofereço esta obra: nutri-vos de seus princípios, eles beneficiam vossas paixões, e essas paixões, com as quais os frios e insípidos moralistas vos assustam, são apenas os meios que a natureza emprega para que o homem alcance as intenções que ela tem sobre ele; atentai apenas a essas paixões deliciosas; seu órgão é o único que vos deve conduzir à felicidade.

Mulheres lúbricas, que a voluptuosa Saint-Ange seja vosso modelo; desprezai, a exemplo dela, tudo o que contraria as leis divinas do prazer que a acorrentaram durante toda a vida.

Donzelas cerceadas durante um tempo demasiado longo nos laços absurdos e perigosos de uma virtude fantástica e de uma religião repugnante, imitai a ardente Eugênia; destruí, pisai, com a mesma rapidez que ela, em todos os preceitos ridículos inculcados por pais imbecis.

E vós, amáveis debochados, vós que, desde a juventude, não tendes outros freios senão vossos desejos nem outras leis senão vossos caprichos, que o cínico Dolmancé vos sirva de exemplo; ide tão longe quanto ele se, como ele, quereis percorrer todos os caminhos floridos que a lubricidade vos prepara; deixai-vos convencer ao seu ensino de que apenas ampliando a esfera de seus gostos e de suas fantasias, apenas sacrificando tudo à voluptuosidade é que o infeliz indivíduo conhecido como homem, e lançado a contragosto nesse triste universo, pode conseguir semear algumas rosas nos espinhos da vida.





Marquês de Sade. A Filosofia na Alcova. Tradução de Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo: Circulo do Livro, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marqu%C3%AAs_de_Sade

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 20 de maio de 2008

RAUL BOPP



CÔCO
(Raul Bopp)





Pagu tem os olhos moles
uns olhos de fazer doer
Bate-côco quando passa
Coração pega a bater

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer

Passa e me puxa com os olhos
provocantissimamente
Mexe-mexe bamboleia
pra mexer com toda a gente

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer

Toda gente fica olhando
seu corpinho de vai-e-vem
umbilical e molengo
de não-sei-o-que-é-que-tem

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer

Quero porque te quero
Como não hei de querer?
Querzinho de ficar junto
que é bom de fazer doer

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer






BOPP, Raul. Putirum. Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1968.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Raul_Bopp

Sobre Pagu:
http://www.pagu.com.br/index2.asp

segunda-feira, 19 de maio de 2008

SCHLICK



Moritz Schlick
Em
Sentido e Verificação





“A “percepção” implica uma distinção entre o sujeito que percebe e um objeto que é percebido.
Originalmente, o sujeito que percebe é o órgão dos sentidos, ou o corpo ao qual este pertence, porém, uma vez que o próprio corpo – incluindo o sistema nervoso – também é uma das coisas percebidas, a perspectiva original é logo “corrigida” colocando em lugar do percepiente um novo sujeito, denominado “ego” ou “mente” ou “consciência”.

Habitualmente concebe-se o “ego” ou a “consciência” como residindo no corpo, pois os órgãos dos sentidos se encontram na superfície do corpo.
O equívoco de localizar a consciência ou a mente dentro do corpo – “na cabeça” – equívoco este que é denominado por R. Avenarius “introjeção”, representa a fonte primordial das dificuldades do assim chamado “problema mente-corpo”.

Ao evitarmos o erro da introjeção, evitamos, ao mesmo tempo, a falácia idealística que conduz ao solipsismo”.






SCHLICK, Moritz. “Sentido e Verificação”. In. Schlick e Carnap. Traduções de Luiz João Baraúna, Paulo Rubém Mariconda. São Paulo: Editora Abril, 1980. (Os Pensadores)

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Moritz_Schlick

Sobre Richard Avenarius:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Avenarius

Sobre "solipsismo":
http://pt.wikipedia.org/wiki/Solipsismo

sábado, 17 de maio de 2008

ORAÇÃO A SÃO JORGE



ORAÇÃO A SÃO JORGE
(Tradição popular)



Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Jesus Cristo me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos.

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.
São Jorge Rogai por Nós.



Sobre São Jorge:
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Jorge


sexta-feira, 16 de maio de 2008

CHATEAUBRIAND (2)



CHATEAUBRIAND
Em
O Gênio do Cristianismo







“Ora o instinto exclusivo do homem, o mais belo, o mais moral dos instintos, é o amor a pátria.
Se esta lei não fosse sustentada por um milagre sempre subsistente, e ao qual, como a tantos outros, não prestamos atenção alguma, os homens precipitar-se-iam nas zonas temperadas, deixando o restante do globo deserto.
Calculem-se quantas calamidades surdiriam desta congregação do gênero humano num só ponto da terra!”



“Digam-nos desde já: se a alma se extingue na sepultura, donde nos vem o desejo da felicidade que nos atormenta?
As nossas paixões terrenas fàcilmente se fartam: amor, ambição, cólera, têm uma segura plenitude no gozo; a ânsia de felicidade é a única que carece de satisfação como de objeto, porque se não se sabe o que é esta felicidade que se quer.
Força é concordar que, se tudo é matéria, a natureza neste caso, enganou-se estranhamente, fez um sentimento sem aplicação”.



“Este amor não é tão santo como a piedade conjugal; nem tão gracioso como o sentimento dos pastores; mas, mais incisivo que ambos, devasta as almas onde impera.
Sem o apoio da gravidade matrimonial, ou da inocência dos costumes pastoris, alheio a prestígio estranho, este amor é a quimera, a demência, a substância de si próprio.
Ignorada do artista, porque trabalha, e do agricultor, porque é simples, esta paixão só medra nas classes sociais onde o ócio nos deixa gemer sob o peso do nosso coração com seu imenso amor-próprio e suas eternas inquietações”.
(Sobre o amor apaixonado)






CHATEAUBRIAND, François-René de. O Gênio do Cristianismo. V. 1. Tradução de Camilo Castelo Branco. Prefácio de Tristão de Ataíde. Rio de Janeiro/São Paulo/ Rio/ Porto Alegre: W. M. Jackson Inc. Editores, 1952.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/François-René_de_Chateaubriand

quinta-feira, 15 de maio de 2008

MARCIAL



EPIGRAMA
{Marcial)
(Tradução de Castilho)






A minha Júlia querida
Leva uma hora antes que ceda;
Custa a dar-se por batida;
Faz-se de manto de seda;

Diz que amor e ovos moles
São em tudo tais e quais;
Que devem tomar-se aos goles,
E cansam sendo demais.

De ovos e amor pouco entendo;
Só sei que odeio a fadiga;
E que amores de remendo
Não valem nem uma figa.






OLIVEIRA, Ary de (Seleção e Prefácio). Poesia – Volume 1. Rio de Janeiro/ São Paulo/ Porto alegre: W. M. Jackson Inc. Editores, 1950.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcial

quarta-feira, 14 de maio de 2008

JOSÉ INGENIEROS



José Ingenieros
Em
A Emoção do Ideal






“Quando orientas a proa visionária em direção a uma estrela, e desdobras as asas para atingir tal excelsitude inacessível, ansioso de perfeição rebelde à mediocridade, levas a ti o impulso misterioso de um Ideal.
É áscua sagrada, capaz, de te preparar para grandes ações.
Cuida-a bem; se a deixares apagar, jamais ela se reacendera.
E se ela morrer em ti, ficarás inerte: fria bazófia humana”.


“Vives apenas devido a essa partícula de sonho que te sobrepõe ao real”.


“É dada a poucos essa inquietude de perseguir àvidamente alguma quimera, venerando filósofos, artistas e pensadores, que fundiram, em sínteses supremas, suas visões do ser e da eternidade, voando para além do Real”.


( Áscua = Brasa, carvão ardente.)





INGENIEROS, José. O Homem Medíocre. Sem indicação do tradutor. Nova edição autorizada. Rio de Janeiro: Edições Spiker, sem data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Ingenieros

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 13 de maio de 2008

LEON ELIACHAR



Leon Eliachar
Em
O Homem Ao Zero






“A paz ainda não foi inventada”.

“A imprensa foi feita para orientar a opinião pública, mas, em verdade, é a opinião pública que orienta a imprensa”.

“As fantasias mais usadas no carnaval são: homem vestido de mulher e mulher vestida de nada”.

“O casamento foi inventado há milhares de anos, pra evitar que o homem tivesse mais de uma mulher, o que felizmente ainda não conseguiu até hoje”.

“O chato da bebida não é o mal que ela pode trazer, são os bêbados que ela nos traz”.

“A personalidade de um homem é um conjunto de gestos e roupas, as palavras e os pensamentos não importam muito.
O homem pode mudar de idéia de uma hora para outra que a gente não nota diferença, mas quando muda o estilo da camisa ou o nó da gravata é capaz de não ser reconhecido”.






ELIACHAR, Leon. O Homem Ao Zero. São Paulo: Círculo do Livro, 1963.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Leon_Eliachar

segunda-feira, 12 de maio de 2008

WILHELM REICH



Wilhelm Reich
Em
A Função do Orgasmo







“Mais tarde, quando os marxistas não se cansavam de dizer-me que a etiologia sexual da enfermidade psíquica era um capricho burguês, que era “apenas necessidade material” o que produzia as neuroses, eu me lembrava sempre de casos como esse.
Como se a miséria sexual não fosse uma “miséria material”!
Não é uma “necessidade material” no sentido da economia marxista o que produz as neuroses.
Antes, são as neuroses dessas pessoas que lhes destroem a possibilidade de fazerem algo sensato quanto à miséria; de se afirmarem mais eficazmente; de entrarem na competição do mercado de trabalho; de chegarem a um entendimento com outros em semelhante situação social e de manterem a cabeça fria para o pensamento racional”.


“As neuroses da população operária carecem, muito simplesmente, de refinamento cultural.
São cruas e ásperas revoltas contra o massacre psíquico a que todo mundo é submetido”.


“Entre as grandes massas da população que trabalha, a neurose se manifesta em toda a sua deformidade trágica”.




“É simples e parece até vulgar, mas eu sustento que toda pessoa que tenha conseguido conservar alguma naturalidade sabe disto: os que estão psiquicamente enfermos precisam de uma só coisa – completa e repetida satisfação genital”.





REICH, Wilhelm. A Função do Orgasmo. Tradução: Maria da Glória Novak. 7ª. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_Reich

sábado, 10 de maio de 2008

PAUL KLEE


Coleçâo: Paul Klee-Stiftung, Kunstmuseum, Berna

VELEIROS
1927 – Aquarela, 22,8 x 30,2 cm.
Autor: PAUL KLEE

CECÍLIA MEIRELES (6)



ACALANTO
(Cecília Meireles)






Dorme, que eu penso.
Cada qual assim navega
pelo seu mar imenso.

Estarás vendo. Eu estou cega.
Nem te vejo nem a mim.
No teu mar, talvez se chega.
Este, não tem fim.

Dorme, que eu penso
Que eu penso nesse navio
clarividente em que vais.

Mensagens tristes lhe envio.
Pensamentos... – nada mais.





MEIRELES, Cecília. Mar Absoluto e outros poemas / Retrato Natural. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

PLATÃO (2)



Platão
Em
Diálogos III – A República






“ – Há grande perigo em que tomem gosto à Dialética enquanto forem ainda jovens.
Deves ter reparado, sem dúvida, que quando os adolescentes saboreiam por primeira vez os argumentos, servem-se deles como de um jogo, empregando-os sempre para contradizer os outros, à imitação daqueles que os refutam.
Como cachorrinhos, deleitam-se em mordiscar e dar tirões a tudo que lhes chega perto.
– Sim – disse ele – não há nada que apreciem mais do que isso.
– E, depois de terem conquistado muitas vitórias e sofrido também muitas derrotas, caem rapidamente na incredulidade com respeito a tudo em que antes acreditavam e, em conseqüência, não só eles como a própria Filosofia perdem o valimento aos olhos do resto do mundo”.





PLATÃO. Diálogos III – A República. Tradução de Leonel Vallandro. Rio de Janeiro: Editora Technoprint S. A., s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o

quinta-feira, 8 de maio de 2008

KAFKA



Franz Kafka
Em
METAMORFOSE






“QUANDO GREGOR SAMSA despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, em sua cama numa espécie monstruosa de inseto.

Permaneceu de costas, as quais eram duras como couraça, e, erguendo um pouco a cabeça, conseguiu ver a saliência de seu grande ventre marrom, dividido em nítidas ondulações.
As cobertas escorregavam, irremediavelmente do alto da curva, e as pernas de Gregor, lamentavelmente finas, comparadas ao seu tamanho primitivo, agitavam-se, impotentes, diante de seus olhos”.





KAFKA, Franz. Metamorfose. Tradução de Brenno Silveira. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular S. A., 1963.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_Kafka

RABISCOS NO BLOCO


quarta-feira, 7 de maio de 2008

EDOUARD SCHURÉ



Edouard Schuré
Em
A VISÃO DE HERMES
(trecho)





“Doravante compete a ti o dirigires-te e a escolha do caminho para ascender ao Espírito puro, porque tu pertences, desde agora, aos ressussitados vivos.
Lembra-te de que há duas chaves principais da ciência.
Eis a primeira: O exterior é como o interior das coisas; o pequeno é como o grande; não há senão uma só lei e aquele que trabalha é Um.
Nada é pequeno, nada é grande na economia divina.
Eis a segunda: Os homens são deuses mortais e os deuses são homens imortais.
Feliz daquele que compreender estas palavras, porque a lei do mistério cobre a grande verdade.
A ciência integral não pode ser revelada senão aos nossos irmãos, aos que atravessaram as mesmas provas que nós.
É necessário medir a verdade segundo as inteligências, vela-la aos fracos que ela tornaria loucos, oculta-la aos maus que dela não poderiam aprender senão fragmentos, dos quais se serviriam como armas de destruição.
Encerra-a no teu coração e que ela fale por tua obra.
A ciência será a tua força, a lei a tua espada e o silêncio a tua armadura invencível”.





SCHURÉ, Edouard. Hermes. Tradução de Domingos Guimarães. São Paulo: Editora Martin Claret, 1986.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Eduard_Schur%C3%A9

Sobre Hermes:
http://en.wikipedia.org/wiki/Hermes

terça-feira, 6 de maio de 2008

LEON TROTSKY



Leon Trotsky
Em
Moral e Revolução






“A democracia e a moral “geralmente aceita” não são as únicas vítimas do imperialismo.
O “bom senso inato em todos os homens” é a terceira vítima.
Essa forma inferior do intelecto, sempre necessária, é também, em certas condições, suficiente.
O principal capital do bom senso é constituído por considerações elementares obtidas da experiência geral: fique longe do fogo... prefira a estrada principal... não cutuque o cachorro que dorme... etc. etc.
Num ambiente social estável, o bom senso é mais do que suficiente para comerciar, curar os doentes, escrever artigos, dirigir um sindicato, votar no parlamento, fundar uma família, crescer e multiplicar-se.
Mas, mal ele tenta escapar de seus limites naturais e invadir o campo das generalizações mais complexas, ei-lo que não é mais do que um conglomerado de preconceitos de determinadas classes, em determinado período.
A simples crise do capitalismo o desconcerta; diante de catástrofes como as revoluções, as contra-revoluções e as guerras, o bom senso demonstra sua completa imbecilidade.
Para compreender as convulsões “catastróficas” do curso “normal” das coisas, são necessárias qualidades intelectuais mais elevadas, cuja expressão filosófica, até hoje, só o materialismo dialético garantiu”.






TROTSKY, Leon. Moral e Revolução – Capítulos 10 a 16. Sem indicação do tradutor. (1936)
Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ma000065.pdf


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Leon_Tr%C3%B3tski

segunda-feira, 5 de maio de 2008

O QUE SERÁ DE MIM



O QUE SERÁ DE MIM
(Ismael Silva, Nilton Bastos e Francisco Alves)
(samba – 1931)





Se eu precisar algum dia
De ir pro batente
Não sei o que será
Pois vivo na malandragem
E vida melhor não há

Minha malandragem é fina
Não desfazendo de ninguém
Deus é quem nos dá a sina
E o valor dá-se a quem tem
Também dou a minha bola
Golpe errado ainda não dei
Eu vou chamar Chico Viola
Que no samba ele é rei

Oi, não há vida melhor
Que vida melhor não há
Deixa falar quem quiser
Deixa quem quiser falar
O trabalho não é bom
Ninguém pode duvidar
Oi, trabalhar só obrigado
Por gosto ninguém vai lá





Sobre Ismael Silva:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ismael_Silva

Sobre Nilton Bastos:
http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?nome=N%EDlton+Bastos&tabela=T_FORM_A

Sobre Francisco Alves:
http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?nome=Francisco+Alves&tabela=T_FORM_A

Tá bom... pode escutar:
http://www.goear.com/listen.php?v=5b75fc8

DONALD BAECHLER


Vrej Baghoomian Gallery, New York

THE ONION EATER
1988 – acrílica, oleo e colagem sobre linho – 106,6 x 106,6 cm
Autor: DONALD BAECHLER

Sobre o autor:
http://www.donaldbaechler.com/

sábado, 3 de maio de 2008

MICHEL FOUCAULT



Michel Foucault
Em
A Verdade E As Formas Jurídicas






“No direito feudal o litígio entre dois indivíduos era regulamentado pelo sistema de prova (épreuve).
Quando um indivíduo se apresentava como portador de uma reivindicação, de uma contestação, acusando um outro de ter matado ou roubado, o litígio entre os dois era resolvido por uma série de provas aceitas por ambos e a que os dois eram submetidos.
Esse sistema era uma maneira de provar não a verdade, mas a força, o peso e a importância de quem dizia”.



“O inquérito deriva de um certo tipo de relações de poder, de uma maneira de exercer o poder.
Ele se introduz no Direito a partir da Igreja e, consequentemente, é impregnado de categorias religiosas.
Na concepção da Alta Idade Média o essencial era o dano, o que tinha se passado entre dois indivíduos; não havia falta nem infração.
A falta, o pecado, a culpabilidade moral absolutamente não intervinham.
O problema era o de saber se houve ofensa, quem a praticou, e se aquele que pretende ter sofrido a ofensa é capaz de suportar a prova que ele propõe ao seu adversário.
Não há erro, culpabilidade, nem relação com o pecado.
Ao contrário, a partir do momento em que o inquérito se introduz na prática judiciária, traz consigo a importante noção de infração.
Quando um indivíduo causa dano a um outro, há sempre, a fortiori,
dano à soberania, à lei, ao poder.
Por outro lado, devido a todas as implicações e conotações religiosas do inquérito, o dano será uma falta moral, quase religiosa ou com conotação religiosa.
Tem-se assim, por volta do século XII, uma curiosa conjunção entre a lesão à lei e a falta religiosa.
Lesar o soberano e cometer um pecado são duas coisas que começam a se reunir.
Elas estarão unidas profundamente no Direito Clássico.
Dessa conjunção ainda não estamos totalmente livres”.






FOUCAULT, Michel. A Verdade E As Formas Jurídicas. 4ª. Ed. Tradução de Roberto Cabral de Melo Machado e Eduardo Jardim de Moraes. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 1979.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Foucault

sexta-feira, 2 de maio de 2008

SÁ DE MIRANDA



TROVA
(Sá de Miranda)






Comigo me desavim,
sou posto em todo perigo;
não posso viver comigo
nem posso fugir de mim.


Com dor, da gente fugia,
antes que esta assim crescesse;
agora já fugiria
de mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
do vão trabalho que sigo,
pois que trago a mim comigo,
tamanho imigo de mim? *


* imigo = inimigo





MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa – através dos textos. 5ª. Ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1972.



Sobre Sá de Miranda:
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A1_de_Miranda

RABISCOS NO BLOCO


quinta-feira, 1 de maio de 2008

OSCAR WILDE (12)



Oscar Wilde
Em
Poemas Em Prosa / O Discípulo







Quando Narciso morreu, o lago de seus arroubos de prazer converteu-se de ânfora de água doce em ânfora de lágrimas salgadas.
E as Oréades vieram chorando pelo bosque a cantar junto do lago para consolá-lo.

E ao ver que o lago se havia convertido de ânfora de água doce em ânfora de lágrimas salgadas, soltaram as madeixas verdes de suas cabeleiras e gritaram para o lago, dizendo-lhe:

- Não nos surpreende que chores assim por Narciso, que era tão belo.

- Mas Narciso era belo? – perguntou o lago.

- Quem melhor do que tu poderia sabê-lo? – responderam as Oréades – Ele nos desdenhava, mas cortejava-te, e deitado em tua margem, contemplava-te e no espelho de tuas águas mirava sua própria beleza.

E o lago respondeu:

- Eu amava Narciso porque, quando se inclinava na minha margem e me contemplava, no espelho de seus olhos sempre via minha própria beleza refletida.







WILDE, Oscar. Poemas Em Prosa. In.__________ Obra Completa. Tradução de Oscar Mendes. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, Ltda., 1961.