sábado, 28 de fevereiro de 2009

JOSÉ DE ALMADA-NEGREIROS



Canção
(José de Almada-Negreiros)



A pastorinha morreu, todos estão a chorar. Ninguém a conhecia e todos estão a chorar.
A pastorinha morreu, morreu de seus amores. À beira do rio nasceu uma árvore e os braços da árvore abriram-se em cruz.
As suas mãos compridas já não acenam de além. Morreu a pastorinha e levou as mãos compridas.
Os seus olhos a rirem já não troçam de ninguém. Morreu a pastorinha e os seus olhos a rirem.
Morreu a pastorinha, está sem guia o rebanho. E o rebanho sem guia é o enterro da pastorinha.
Onde estão os seus amores? Há prendas para Lhe dar. Ninguém sabe se é Ele e há prendas para Lhe dar.
Na outra margem do rio deu à praia uma santa que vinha das bandas do mar. Vestida de pastora p’ra se não fazer notar. De dia era uma santa, à noite era o luar.
A pastorinha em vida era uma linda pastorinha; a pastorinha morta é a Senhora dos Milagres.



In. Revista Orpheu, Número 1 (1915).
Disponível em:
http://www.gutenberg.org/files/23620/23620-8.txt





NEVES, João Alves das. Poetas Portugueses Modernos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.

Sobre José de Almada-Negreiros clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Almada_Negreiros

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

ABRAHAM MOLES



Abraham Moles
Em
A Criação científica.






“A passagem sucessiva em menos de cinquenta anos da ciência do certo à ciência do provável e, a seguir, bem recentemente, à ciência do percebido, resume uma evolução do espírito científico que ultrapassa largamente o quadro da própria ciência.

Não foi a ciência sozinha que provocou essa mudança de ponto de vista – ainda, vaga, aliás – mas toda uma ambiência de idéias, de reflexões perspectivas que pertencem à época inteira e mais particularmente ao pensamento filosófico encarregado de exprimir essa época”.




“Se, com efeito, a civilização tecnológica se acha em sensível atraso com respeito às noções científicas que lhe servem de base – um atraso que se avaliava ser da ordem de vinte a trinta anos, há um século, e da ordem de cinco a dez anos, hoje em dia – estas se encontram, por sua vez, em retardo ante os conceitos filosóficos que lhe deram origem.

As realizações técnicas influenciam o ambiente intelectual no instante em que penetram na sociedade, e devido a isto reagem finalmente, por seu turno, sobre a concepção de mundo da época.

Há pois um ciclo de auto-reação do pensamento científico sobre o pensamento filosófico por intermédio das aplicações.

A ciência pura, isolada, não é por si só capaz de modificar as concepções filosóficas de uma época, porquanto seus próprios conceitos são decorrentes destas, mas as aplicações tecnológicas, estas, têm uma força fecundante da imaginação suficiente para modificar nossa concepção de mundo: elas são mais fortes que a ciência”.







MOLES, Abraham Antoine. A criação científica. Tradução de Gita K. Guinsberg. São Paulo: Perspectiva, 1971.

Sobre Abraham Moles clique no linque abaixo:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Abraham_Moles

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

JOSÉ RODRIGUES CARNEIRO CAMPELLO NETO


José Rodrigues Carneiro Campello Neto


demonstração de força ou simples matemática?
genocidas de israel constatam que é 30% maior o crecimento da população palestina que a de judeus. com isso entendem que o confinamento em campos de concentração (há 60 anos) não é mais solução e, desde sabra e chatila partem para a "solução final". neste momento israel aproveita últimos dias da administração bush para mandar recado a obama
jornalistas deveriam por princípio atuar (escrever) em defesa da verdade. quando escrevem em defesa de partes ou de personagens de suas matérias, o texto não é jornalístico e muito menos informativo. e o que é pior, resvalam para o panfletário.

(última mensagem do Zezo em seu Blog – 9 de janeiro de 2009)

Pois é: neste carnaval o câncer levou meu amigo...

GIBRAN KHALIL GIBRAN (2)



Gibran Khalil Gibran
Em
Uma Lágrima e um Sorriso.




O Primeiro Olhar.

“É o momento que separa o despertar da vida de sua embriaguez.
É a primeira chama que ilumina os recantos da alma.
É a primeira tocata sobre a primeira corda da lira do coração.
É um curto momento que evoca ao ouvido da alma as crônicas e os segredos dos tempos idos e as expectativas do futuro mais remoto.

É uma semente que Astarte lança das alturas e que os olhos plantam no campo do coração.
Depois, os sentimentos a cultivam e a alma recolhe-lhe os frutos.
O primeiro olhar da companheira assemelha-se ao espírito que se movia sobre a face das águas, de onde Deus tirou o céu e a terra.
O primeiro olhar da companheira da vida é igual à palavra de Deus: “Faça-se!”.





GIBRAN, Gibran Khalil. Uma Lágrima e um Sorriso. Tradução e apresentação de Mansur Chalita. Rio de Janeiro: Associação Cultural Internacional Gibran, 1977.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Khalil_Gibran

GABRIEL METSU


Rijksmuseum

The Old Drinker
1657-58 – óleo sobre painel – 22 x 19,5 cm.
Autor: Gabriel Metsu

Sobre Metsu clique no linque abaixo:
http://en.wikipedia.org/wiki/Gabriel_Metsu

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

LUCRÉCIO (2)



Lucrécio
Em
Da Natureza.






“Mas não houve centauros nem podem em tempo algum existir conjuntos de dupla natureza e de dois corpos formados de membros díspares, nem haver forças desiguais.

E qualquer o pode reconhecer pelas razões seguintes, mesmo que seja de espírito obtuso.

Primeiro, ao fim de cerca de três anos, está o cavalo em pleno vigor, mas não o está uma criança, mesmo nesta idade procurará em sonhos a ponta do seio que o amamentou.

Depois quando o cavalo começa a não ter já as mesmas forças vigorosas por causa da idade e lhe falham os membros e o deserta a fatigada vida, então floresce para o menino o tempo da sua juventude e lhe veste as faces uma branda penugem”.





“Não é por certo em virtude de um plano determinado nem por um espírito sagaz que os átomos se juntaram por uma certa ordem, também não combinaram entre si com exatidão os movimentos que teriam; mas, depois de terem sido mudados de mil modos diferentes através de toda a imensidade, depois de terem sofrido pelos tempos eternos toda a espécie de choques, depois de terem experimentado todos os movimentos e combinações possíveis, chegaram finalmente a disposições tais que foi possível o constituir-se tudo o que existe”.








SILVA, Agostinho da (Org.). O Epicurismo - Contendo uma antologia de textos de Epicuro e Da Natureza, de Lucrécio. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/data.

Sobre Lucrécio clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lucrécio

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

JÚLIA LOPES DE ALMEIDA



Júlia Lopes de Almeida
Em
Livro das Donas e Donzelas.






“Nós, as mulheres, não temos sempre facilidade de bem exprimir os sentimentos por palavras; eles parecem-nos por demais sutis e complexos; elas insuficientes e fraquíssimas.

Dizem que há para todas as coisas expressões precisas, de inquestionável exatidão; a língua modula no som, e inalterada, a essência da mais rara alegria ou do mais terrível desespero.

Mas essa é a interpretação dos fortes; a nossa dilui-se, numa gota incolor e inodora, que é como um chuvisqueiro em uma rosa se nasce da alegria; ou, se vem da dor, como um floco de neve em uma brasa, que apaga a luz e deixa nu o carvão”.




“Usos, costumes e convenções surgem todos os dias no código mundano, como cogumelos na terra úmida.

É prudente não aceitar todos sem exame.

Há cogumelos que matam, há convenções risíveis.

O ridículo destes equivale ao veneno daqueles...”.



“Fagulhas das labaredas em que nos consumimos, os beijos crepitarão por toda a larga face da terra, embora a ciência contra eles asseste a ducha gelada dos seus decretos proibitivos.

Não há em língua humana palavra que, como o beijo, exprima, por mais silencioso que ele seja, a ternura e o amor.

A boca de um mudo diz tudo quanto há de mais elevado e de mais veemente, quando beija; no beijo está o único triunfo de sua alma encarcerada”.






ALMEIDA, Júlia Lopes de. Livro das Donas e Donzelas. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bi000171.pdf


Sobre Júlia Lopes de Almeida clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlia_Lopes_de_Almeida

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

BERNARD-HENRI LEVY



Bernard-Henri Levy
Em
Elogio dos Intelectuais.






“O intelectual é o abstrato.
O gosto da abstração.
O intelectual é o gosto das coisas no que elas, soterradas sob um código e um nome, perderam seu sabor, sua cor, seu odor.
Absurdo nisso?
Decepcionante?
O intelectual, melhor sabê-lo, é sempre um pouco decepcionante.
É sempre esse mestre em desencantamento vindo inquietar ou suspender nossa crença espontânea no mundo”.




“O intelectual mesmo não tem cheiro.
Não tem verdadeiramente cor.
Se lhe perguntam de onde é, de onde vem e ao que, exatamente, pertence, ele é aquele que, muitas vezes, terá a tentação de responder no tom de Saint-John Perse diante do oficial de imigração americano que lhe rogou, em 1940, declarar seu sobrenome, nome, domicílio e qualificação: habito meu nome, sou da minha língua, não tenho outra verdadeira pátria a não ser a de minhas idéias e só me reencontro verdadeiramente nas famílias de espírito que escolhi”.




“O intelectual é o debate.
É a própria prática do debate.
É o hábito, o princípio, a existência absoluta do debate.
Um intelectual é alguém cuja simples presença indica que a sociedade dá direito aos direitos do debate”.






LÉVY, Bernard-Henri. Elogio dos Intelectuais. Tradução de Celina Luz. Rio de Janeiro: Rocco, 1988.

Sobre Bernard-Henri Lévy clique no linque abaixo:
http://en.wikipedia.org/wiki/Bernard-Henri_Levy

RABISCOS NO BLOCO

Carna-valha-me Deus!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

NIETZSCHE (19)



Nietzsche
Em
Da Utilidade e dos inconvenientes da história para a vida.







“É em função do que o presente tem de mais elevado e de mais digno que tendes o direito de julgar o passado, é explorando ao máximo as vossas nobres qualidades que haveis de adivinhar aquilo que no passado merece ser observado – o que é grande.

Só é possível julgar entre iguais.

Do contrário, o passado será rebaixado até o vosso nível.

Acreditai apenas na história que provém dos cérebros mais raros, e haveis de descobrir a qualidade de espírito do historiador quando ele for obrigado a formular uma verdade geral ou repetir uma verdade conhecida.

O historiador autêntico deve ter força para transformar numa verdade nova o que é conhecido de todos, e para exprimir com tanta simplicidade e profundidade, que a profundidade faça esquecer a simplicidade, e a simplicidade faça esquecer a profundidade.

Não se pode ser, simultaneamente, um grande historiador e um idiota”.






NIETZSCHE, F. Considerações Intempestivas. Tradução de Lemos de Azevedo. Lisboa: Presença, 1976.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

ARIANO SUASSUNA



Ariano Suassuna
Em
Auto da Compadecida.






Valha-me Nossa Senhora,
Mãe de Deus de Nazaré!
A vaca mansa dá leite,
A braba dá quando quer.
A mansa dá sossegada,
A braba levanta o pé.
Já fui barco, fui navio,
Mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem,
Só me falta ser mulher.


Já fui barco, fui navio,
Mas hoje sou escaler.
Já fui menino, já fui homem,
Só me falta ser mulher.
Valha-me Nossa Senhora,
Mãe de Deus de Nazaré.






SUASSUNA, Ariano Vilar. Auto da Compadecida. 31ª Ed. Rio de Janeiro: Agir, 1997.

Sobre Ariano Suassuna clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ariano_Suassuna

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

RAIMUNDO LÚLIO



Raimundo Lúlio
Em
O Livro dos Mil Provérbios.






“Estejamos alegres porque Deus é totalmente bom e completo”.


“Quem serve ao mau senhor acostuma-se ao mal e perde seu tempo”.


“Foge do parente que, enquanto seu parente, tem vergonha de ti”.


“Faz com que tua mulher não conheça teus vícios”.


“O companheiro que louva teus vícios não é leal”.


“Sê humilde com teu maior, com teu igual e com teu menor”.


“Os caminhos da luxúria vêem através da visão e da audição, sua casa é a imaginação e seu leito é a vontade”.








LÚLIO, Raimundo. O Livro dos Mil Provérbios. Tradução de Ricardo Costa. São Paulo: Escala, 2007.

Sobre Lúlio clique no linque abaixo
:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Raimundo_L%C3%BAlio

XUL SOLAR


Museo de Arte Latinoamericanode Buenos Aires


Pareja
1923 – aquarela sobre papel – 27,7 x 33,9 cm.
Autor: Xul Solar

Sobre Xul Solar clique no linque abaixo:

http://en.wikipedia.org/wiki/Xul_Solar

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

CHARLES SANDERS PEIRCE



Charles Sanders Peirce
Em
Semiótica e Filosofia.






“Embora, em matéria científica, a infalibilidade me soe irresistivelmente cômica, eu me encaminharia mal se não pudesse manter elevado respeito pelos que a proclamam, porque entre eles está a maior parte das pessoas capazes de um mínimo de troca de idéias.

Quando digo que a proclamam, quero dizer que a admitem assaz natural e inconscientemente.

Nunca abriram os olhos para a completa significação do adágio Humanum est errare.

Nas ciências de medida, que são as menos sujeitas a erro – a metrologia, a geodésia e a astronomia métrica – hoje em dia, nenhum homem que tenha respeito a si próprio, jamais enuncia resultado alcançado sem fazê-lo acompanhar do erro provável; e se essa prática não é observada nas outras ciências, isso se dá porque, nestas, os erros prováveis são demasiado amplos para serem estimados”.






PIERCE, Charles Sanders. Semiótica e Filosofia. Textos escolhidos de Charles Sanders Peirce. Introdução, seleção e tradução de Octanny Silveira da Mota e Leônidas Hegenberg. São Paulo: Cultrix, 1984.

Sobre Charles Sanders Peirce clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Sanders_Peirce

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

CRUZ E SOUSA (5)



ESCÁRNIO PERFUMADO
(Cruz e Sousa)






Quando no enleio
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,

Vendo tão fartas,
D’uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas – isso dói, me aflige...

E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,

Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme...






CRUZ E SOUSA, João da. Poemas Humorísticos e Irônicos de Cruz e Sousa. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000098.pdf


Sobre Cruz e Sousa clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_e_Sousa

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ERNST CASSIRER (2)



Ernst Cassirer
Em
Antropologia Filosófica.






“O historiador precisa aprender a ler e interpretar seus documentos e monumentos, não só como restos mortos do passado, mas também como suas mensagens vivas, que se dirigem a nós em sua própria linguagem.

O conteúdo simbólico destas mensagens, entretanto, não é imediatamente observável.

Cabe ao lingüista, ao filólogo e ao historiador faze-la falar e fazer-nos compreender essa linguagem.

A distinção fundamental entre as obras do historiador e do geólogo ou paleontólogo não consiste na estrutura lógica do pensamento histórico, mas nessa tarefa especial, nessa missão específica.

Se o historiador não conseguir decifrar a linguagem simbólica de seus monumentos, a história continuará sendo para ele um livro fechado”.





“A compreensão da vida humana é o tema geral e o objetivo final do conhecimento histórico”.




“Para possuir o mundo da cultura precisamos reconquistá-lo incessantemente pela recordação histórica, que não significa simplesmente o ato da reprodução.

É uma nova síntese intelectual – um ato construtivo”.





“A história é uma história de paixões; mas se tentar ser apaixonada, deixará de ser história”.






CASSIRER, Ernst. Antropologia Filosófica. Tradução de Vicente Felix de Queiroz. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1972.

Sobre Ernst Cassirer clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ernst_Cassirer


Mais Cassirer no Reflexões:

Ernst Cassirer
Linguagem e mito – trecho
http://jamesemanuel.blogspot.com/2007/08/cassirer.html

Ernst Cassirer (3)
Antropologia filosófica – trechos
http://jamesemanuel.blogspot.com/2009/07/cassirer.html

Ernst Cassirer (4)
A Filosofia das formas simbólicas: segunda parte – O pensamento mítico – trechos
http://jamesemanuel.blogspot.com/2009/08/cassirer-4.html

Ernst Cassirer (5)
Linguagem e mito – trechos
http://jamesemanuel.blogspot.com/2009/09/cassirer-5.html

Ernst Cassirer (6)
Ensaio sobre o homem – trecho
http://jamesemanuel.blogspot.com/2009/10/cassirer-6.html

Ernst Cassirer (7)
A Filosofia das formas simbólicas: segunda parte – O pensamento mítico – trechos
http://jamesemanuel.blogspot.com/2010/03/cassirer-7.html

domingo, 15 de fevereiro de 2009

TERTÚLIAS VIRTUAIS: O TEMPO


Espinosa
Em
Pensamentos Metafísicos



O que é a duração?


“A duração é o atributo sob o qual concebemos a existência das coisas criadas, enquanto perseveram em sua atualidade.
Disso decorre claramente que entre a duração e a existência total de uma coisa há apenas uma distinção de Razão.
Quanto mais se subtrai a duração de uma coisa, tanto mais se subtrai, necessariamente, sua existência.
Para determinar a duração nós a comparamos com a duração daquelas coisas que possuem um movimento certo e determinado.
Essa comparação chama-se tempo”.


Que é o tempo.


Assim, o tempo não é uma afecção das coisas, mas apenas um modo de pensar, ou, como já dissemos, um ente de Razão.
Com efeito, é um modo de pensar que serve para explicar a duração”.





ESPINOSA, Benedictus de. Pensamentos metafísicos. Tradução e notas de Marilena de Souza Chuaí. In. ___________ Pensamentos metafísicos; Tratado da correção do intelecto; Ética; Tratado político; Correspondência. Seleção de textos de Marilena de Souza Chuaí. Traduções de Marilena da Souza Chuaí [et al.] 2ª. Edição. São Paulo:Abril Cultural, 1979.

Sobre Espinosa clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bento_de_Espinosa



Todos os trabalhos de Espinosa entraram no Index Librorum Prohibitorum (Lista Dos Livros Proibidos) da Igreja Católica.


Este post faz parte do "Tertúlias Virtuais" proposta do Varal de Idéias e do Expresso da Linha, que ocorre todo dia 15 de cada mês.

Mais participantes do Tertúlia Virtual, aqui

sábado, 14 de fevereiro de 2009

JOÃO DO RIO



João do Rio
Em
A Alma encantadora das ruas.






“Se a rua é para o homem urbano o que a estrada foi para o homem social, é claro que a preocupação maior, associada a todas as outras idéias do ser das cidades, é a rua.

Nós pensamos sempre na rua.

Desde os mais tenros anos ela se resume para o homem todos os ideais, os mais confusos, os mais antagônicos, os mais estranhos, desde a noção de liberdade e de difamação – idéias gerais – até a aspiração de dinheiro, de alegria e de amor, idéias particulares.

Instintivamente, quando a criança começa a engatinhar, só tem um desejo: ir para a rua!

Ainda não fala e já a assustam: se você for para a rua encontra o bicho!

Se você sair apanha palmadas!

Qual! Não há nada!

É pilhar um portão aberto que o petiz não se lembra mais de bichos nem de pancadas!

Sair só é a única preocupação das crianças até uma certa idade.

Depois continuar a sair só.

E quando já para nós esse prazer se usou, a rua é a nossa própria existência.

Nela se fazem negócios, nela se fala mal do próximo, nela mudam as idéias e as convicções, nela surgem as dores e os desgostos, nelas sente o homem a maior emoção”.






RIO, João do. A Alma encantadora das ruas. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000039.pdf


Sobre João do Rio clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_do_Rio

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

ALEISTER CROWLEY



Aleister Crowley
Em
O Livro da Lei.






I-41.
“A palavra de Pecado é Restrição.
Ó homem!
Não recuses tua esposa, se ela quer!
Ó amante, se tu queres, parte!
Não existe laço que possa unir o dividido senão o amor: tudo mais é maldição.
Amaldiçoado!
Amaldiçoado seja isto pelos aeons!
Inferno”.


I-62.
“Em todos os meus encontros convosco deverá a sacerdotisa dizer – e seus olhos deverão arder com desejo enquanto ela se mantém nua e regozijante em meu templo secreto – A mim! A mim! Chamando para fora a chama dos corações de todos em seu cântico de amor”.


II-9
“Lembrai-vos todos vós que a existência é puro gozo; que todos os amargores são como que sombras; eles passam e se vão mas existe aquilo que permanece”.






CROWLEY, Aleister. O Livro da Lei. Sem indicação de tradutor. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000011.pdf


Sobre Aleister Crowley clique no linque abaixo:
http://en.wikipedia.org/wiki/Aleister_Crowley

RABISCOS NO BLOCO


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

SCHOPENHAUER (6)



Schopenhauer
Em
Fragmentos sobre a história da filosofia.






“Nos livros de matemática a exatidão da solução de um problema costuma manifestar-se em seu resultado inteiro, ou seja, no fato de não deixar resto.

Com a solução do enigma do mundo ocorre algo semelhante.

Todos os sistemas são cálculos que não dão um resultado inteiro:
deixando um resto ou, caso se prefira uma comparação química, um precipitado insolúvel.

Este último consiste no fato de que, se tiramos conclusões lógicas de suas proposições, os resultados não correspondem ao mundo real que se nos apresenta, tampouco se harmonizam com ele; ao contrário, muitos de seus aspectos permanecem completamente inexplicáveis”.





SCHOPENHAUER, Arthur. Fragmentos sobre a história da filosofia. Tradução de Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

Sobre Schopenhauer clique no linque abaixo
:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Schopenhauer

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

ÁLVARES DE AZEVEDO



A LAGARTIXA
(Álvares de Azevedo)





A lagartixa ao sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida,
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.

Amo-te como o vinho e como o sono,
Tu és meu copo e amoroso leito...
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Travesseiro não há como teu peito.

Posso agora viver: para coroas
Não preciso no prado colher flores;
Engrinaldo melhor a minha fronte
Nas rosas mais gentis de teus amores.

Vale todo um harém a minha bela,
Em fazer-me ditoso ela capricha;
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Como ao sol de verão a lagartixa.






AZEVEDO, Álvares de. Poemas Irônicos, Venenosos e Sarcásticos. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000088.pdf


Sobre Álvares de Azevedo clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvares_de_Azevedo

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

MONTAIGNE (3)



Montaigne
Em
Ensaios: Livro segundo.






“Os que se dedicam à crítica das ações humanas jamais se sentem tão embaraçados como quando procuram agrupar e harmonizar sob uma mesma luz todos os atos dos homens, pois estes se contradizem comumente e a tal ponto que não parecem provir de um mesmo indivíduo”.



“Nossa maneira habitual de fazer está em seguir os nossos impulsos instintivos para a direita ou para a esquerda, para cima ou para baixo, segundo as circunstâncias.

Só pensamos no que queremos no próprio instante em que o queremos, e mudamos de vontade como muda de cor o camaleão”.



“Somos todos constituídos de peças e pedaços de maneira casual e diversa, e cada peça funciona independentemente das demais.

Daí ser tão grande a diferença entre nós e nós mesmos quanto entre nós e outrem”;






MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. Tradução de Sérgio Milliet. 1ª Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1972. (Os Pensadores)

Sobre Montaigne clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Eyquem_de_Montaigne

MÁRIO ELOY

Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão - Lisboa


A FUGA
1938-39 – óleo sobre tela – 100 x 80cm.
Autor: Mário Eloy de Jesus Pereira.

Sobre Mário Eloy clique no linque abaixo:
http://www.instituto-camoes.pt/cvc/figuras/meloy.html

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

ABRAHAM JOSHUA HESCHEL



Abraham Joshua Heschel
Em
O Schabat.







“Há um reino do tempo em que a meta não é ter, mas ser, não possuir, mas dar, não controlar, mas partilhar; não submeter, mas estar de acordo.

A vida vai mal quando o controle do espaço, a aquisição de coisas do espaço, torna-se nossa única preocupação”.




“Uma das mais notáveis palavras na Bíblia é cadosch, santo, uma palavra que, mais do que qualquer outra, é representativa do mistério e majestade do divino.

Pois bem, qual teria sido o primeiro objeto santo na história do mundo?

Teria sido uma montanha? Teria sido um altar?

De fato, é uma ocasião única aquela em que a notável palavra cadosch é usada pela primeira vez: no livro do Gênese, ao final da história da criação.

Quão extremamente significativo é o fato de ela ser aplicada ao tempo: “E Deus abençoou o sétimo dia e fê-lo santo”!

Não há referência a nenhum objeto no espaço que teria sido dotado com a qualidade de santidade”.



“Quando a história começou havia somente uma santidade no mundo, a santidade no tempo”.







HESCHEL, Abraham Joshua. O Schabat – Seu significado para o homem moderno. Tradução de Fany Kon e J. Guinsburg. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000.

Sobre Abraham Joshua Heschel clique no linque abaixo:
http://en.wikipedia.org/wiki/Abraham_Joshua_Heschel

sábado, 7 de fevereiro de 2009

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO



Mário de Sá-Carneiro
Em
A Confissão de Lúcio.





“E a minha vida, livre de estranhezas, é no entanto uma vida bizarra – mas de uma bizarria às avessas.
Com efeito, a sua singularidade encerrava-se, não em conter elementos que não se encontram nas vidas normais – mas sim em não conter nenhum dos elementos comuns a todas as vidas.
Eis pelo que nunca me sucedeu coisa nenhuma.
Nem mesmo o que sucede a toda a gente.
Compreende-me?


Eu compreendia sempre.
E ele fazia-me essa justiça.
Por isso as nossas conversas de alma se prolongavam em geral até de manhã; passeando nas ruas desertas, sem sentirmos frio nem cansaço, numa intoxicação mútua e arruivada”.







Sá-Carneiro, Mário de. As Confissões de Lúcio. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000238.pdf


Sobre Mário de Sá-Carneiro clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mário_de_Sá-Carneiro

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

BACHELARD (5)



Gaston Bachelard
Em
O Novo espírito científico.





“Um dos químicos contemporâneos que estabeleceu os métodos científicos minuciosos e mais sistemáticos, Urbain, não hesitou em negar a perenidade dos melhores métodos.

Para ele, não há método de pesquisa que não acabe por perder sua fecundidade primeira.

Sempre chega uma hora em que não se tem mais interesse em procurar o novo sobre os vestígios do antigo, em que o espírito científico não pode progredir se não criar métodos novos.

Os próprios conceitos científicos podem perder sua universalidade.

Como o diz Jean Perrin, “todo conceito acaba perdendo sua utilidade, sua própria significação, quando nos afastamos progressivamente das condições experimentais em que foi formulado”.

Os conceitos e os métodos, tudo é função do domínio da experiência; todo o pensamento científico deve mudar diante duma experiência nova; um discurso sobre o método científico será sempre um discurso de circunstância, não descreverá uma constituição definitiva do espírito científico”.







BACHELARD, Gaston. A filosofia do não; O novo espírito científico; A Poética do espaça / Gaston Bachelard. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Traduções de Joaquim José Moura Ramos... (Et al.) – 2a. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984.

Sobre Bachelard clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gaston_Bachelard

RABISCOS NO BLOCO


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

JÚLIO RIBEIRO



Júlio Ribeiro
Em
A Carne.







“Era uma formosa mulher.

Morena-clara, alta, muito bem lançada, tinha braços e pernas roliços, musculosos, punhos e tornozelos finos, mãos e pés aristocraticamente perfeitos, terminados por unhas róseas, muito polidas.

Por sob os seios rijos, protraídos, afinava-se o corpo na cintura para alargar-se em uns quadris amplos, para arredondar-se de leve em um ventre firme, ensombrado inferiormente por velo escuro abundantíssimo.

Os cabelos pretos com reflexos azulados caíam em franjinhas curtas sobre a testa, indo frisar-se lascivamente na nuca, o pescoço era proporcionado, forte, a cabeça pequena, os olhos negros, vivos, o nariz direito, os lábios rubros, os dentes alvíssimos, na face esquerda tinha um sinalzinho de nascença, uma pintinha muito escura, muito redonda.


Lenita contemplava-se com amor-próprio satisfeito, embevecida, louca de sua carne. Olhou-se, olhou para o lago, olhou para a selva, como reunindo tudo para formar um quadro, uma síntese”.







RIBEIRO, Júlio. A Carne. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000112.pdf

Sobre Júlio Ribeiro clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Júlio_Ribeiro

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

DEMÓCRITO DE ABDERA



Demócrito de Abdera

Fragmentos.







“A união sexual é uma pequena apoplexia, pois o homem sai do homem e dele se arranca apartando-se como que por um golpe”.


“É preciso ser bom ou imitar quem o é”.


“É magnanimidade suportar com doçura a falta de tato”.


“Quem adverte aquele que pensa ser inteligente, trabalha em vão”.


“Dos tolos não a palavra, mas o infortúnio é o mestre”.


“Pequenos favores prestados no momento oportuno são os maiores para quem os recebe”.


“Os que gostam de censurar não têm disposição natural para a amizade”.








OS PRÉ-SOCRÁTICOS. Fragmentos, Doxografia e Comentários. Seleção de textos e supervisão do Prof. José Cavalcante de Souza. Traduções de José Cavalcante de Souza... (et al.). São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores)

Sobre Demócrito de Abdera clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dem%C3%B3crito_de_Abdera

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

JARDS MACALÉ / JOSÉ CARLOS CAPINAN



MOVIMENTO DOS BARCOS
(Jards Macalé e José Carlos Capinan)
(Canção – 1972)






Estou cansado de você também
Vou sair sem abrir a porta
E não voltar nunca mais
Desculpe a paz que eu lhe roubei
E o futuro esperado que eu não dei
É impossível levar um barco sem temporais
E suportar a vida como um momento além do cais
Que passa ao largo do nosso corpo

Não quero ficar dando adeus
As coisas passando, eu quero
É passar com elas, eu quero
E não deixar nada mais
Do que as cinzas de um cigarro
E a marca de um abraço no seu corpo

Não, não sou eu quem vai ficar no porto
Chorando, não
Lamentando o eterno movimento
Movimento dos barcos, movimento






Sobre Macalé clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jards_Macal%C3%A9

Sobre Capinan clique no linque abaixo:
http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?tabela=T_FORM_A&nome=Capinan

ANDRÉ DERAIN


The Metropolitan Museum of Art, New York


The Black Feather Boa
1935 – óleo sobre tela – 162,6 x 97,9 cm.
Autor: André Derain

Sobre o autor clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/André_Derain

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

JOSÉ INGENIEROS (3)



José Ingenieros
Em
Os homens sem personalidade.






“Individualmente considerada, a mediocridade poderia definir-se como uma ausência de características pessoais que permitam distinguir o indivíduo em sua sociedade”.


“A personalidade individual começa no ponto em que cada um se torna diferente dos demais; em muitos homens, esse ponto é simplesmente imaginário”.


“As existências vegetativas não têm biografia: na história da sua sociedade, só vive o que deixa rastros nas coisas ou nos espíritos”.


“A medida social do homem está na duração de suas obras: a imortalidade é o privilégio dos que se fazem capazes de sobreviver aos séculos, e por elas se mede”.


“Muitos nascem: poucos vivem”.







INGENIEROS, José. O Homem Medíocre. Sem indicação do tradutor. Nova edição autorizada. Rio de Janeiro: Edições Spiker, sem data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Ingenieros