sábado, 31 de outubro de 2009

MANUEL DA COSTA (atribuído)



Anônimo (atribuído a Manuel da Costa)
Em
A Arte de Furtar.





“E se os ladrões não tiverem arte, busquem outro ofício, por mais que a este os leve e ajude a natureza, se não alentarem esta com os documentos da arte, terão mais certas perdas que ganhos, nem se poderão conservar contra as invasões de infinitas contrariedades que os perseguem.

E, quando os vejo continuar no ofício ilesos, não posso deixar de o atribuir à destreza de sua arte, que os livra até da justiça mais vigilante, deslumbrando-a por mil modos ou obrigando-a que os largue e tolere, porque até para isso têm os ladrões arte”.






“Traz a guerra consigo muitos perigos, trabalhos e gastos; e por isso nenhum príncipe a deve fazer, salvo quando as condições da paz são mais prejudiciais a seu estado e reputação.

Sendo necessário fazer-se, se considerar os danos que dela resultam, nunca se resolverá em a fazer; e não se resolvendo acrescentará as forças ao inimigo e debilitará as suas.

E, assim, convém que resolvendo-se em tomar armas, se resolvam todos a vencer ou morrer com elas.

Meça primeiro em Conselho suas forças com as do inimigo.

E conhecê-las-a em sabendo qual tem mais dinheiro, porque este é o nervo da guerra, que a começa e a acaba.

Três coisas lhe são muito necessárias para a vitória e sem elas não trate da batalha, porque será vencido.

A primeira é dinheiro, a segunda dinheiro e a terceira mais dinheiro.

Com a primeira, terá quanta gente quiser da peleja e, tendo mais gente que o inimigo, vencerá mais facilmente.

Com a segunda, terá armas de sobejo e, quem as tem melhores, assegura a vitória.

Com a terceira, terá mantimentos e, exército bem provido, tarde e nunca é vencido”.








ANÔNIMO. A Arte de Furtar. 3ª. Ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1978.

Sobre A Arte de Furtar clique no linque abaixo:
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_da_Costa

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

FRANCIS BACON (2)



Francis Bacon
Em
Novum Organum.





XII

“A lógica tal como é hoje usada mais vale para consolidar e perpetuar erros, fundados em noções vulgares, que para a indagação da verdade, de sorte que é mais danosa que útil”.


XXI

“O intelecto, deixado a si mesmo, na mente sóbria, paciente e grave, sobretudo se não está impedida pelas doutrinas recebidas, tenta algo na outra via, na verdadeira, mas com escasso proveito.
Porque o intelecto não regulado e sem apoio é irregular e de todo inábil para superar a obscuridade das coisas”.


XXX

“Mesmo que se reunissem, se combinassem e se conjugassem os engenhos de todos os tempos, não se lograria grande progresso nas ciências, através de antecipações, porque os erros radicais perpetrados na mente, na primeira disposição, não se curariam nem pela excelência das operações nem pelos remédios subseqüentes”.


XXXII

“A glória dos antigos, como a dos demais, permanece intata, pois não se estabelecem comparações entre engenhos e capacidades, mas de métodos.
Não nos colocamos no papel de juiz, mas de guia”.


XLI

“Os ídolos da tribo estão fundados na própria natureza humana, na própria tribo ou espécie humana.
É falsa a asserção de que os sentidos do homem são a medida das coisas.
Muito ao contrário, todas as percepções, tanto dos sentidos como da mente, guardam analogia com a natureza humana e não com o universo.
O intelecto humano é semelhante a um espelho que reflete desigualmente os raios das coisas e, dessa forma, as distorce e corrompe”.










BACON, Francis. Novum Organum – Nova Atlântida. Tradução e notas de José Aluysio de Andrade. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural: 1973.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Bacon_(fil%C3%B3sofo)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

MERLEAU-PONTY (2)

Maurice Merleau-Ponty
Em
O Visível e o Invisível.





“Vemos as coisas mesmas, o mundo é aquilo que vemos – fórmulas desse gênero exprimem uma fé comum ao homem natural e ao filósofo desde que abre os olhos, remetem para uma camada profunda de “opiniões” mudas, implícitas em nossa vida.

Mas essa fé tem isto de estranho: se procurarmos articulá-la numa tese ou num enunciado, se perguntarmos o que é este nós, o que é este ver e o que é esta coisa ou este mundo, penetramos num labirinto de dificuldades e contradições”.




“A Filosofia não é ciência, porque a ciência acredita poder sobrevoar seu objeto, tendo por adquirida a correlação do saber e do ser, ao passo que a Filosofia é o conjunto das questões onde aquele que questiona é, ele próprio, posto em causa pela questão.

Uma Física, porém, que aprendeu a situar fisicamente o físico, uma Psicologia que aprendeu a situar o psicólogo no mundo sócio-histórico perderam a ilusão do sobrevôo absoluto; elas não apenas toleram mas impõem, antes de toda ciência, o exame radical de nossa pertencença ao mundo”.






MERLEAU-PONTY, Maurice. O Visível e o Invisível. Tradução: José Artur Gianotti e Armando Mora d’Oliveira. 3ª. Ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.

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FRIEDERICH WILHELM MURNAU






Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens (Nosferatu, Uma Sinfonia de Horrores), de 1922. Dirigido por F. W. Murnau.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

CARLOS DRMMOND DE ANDRADE (8)



O ENTERRADO VIVO
(Carlos Drummond de Andrade)




É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábioa a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.






ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética. 16 Ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1983.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

ANSELMO DE CANTUÁRIA



Anselmo de Cantuária
Em
Monológio.






“Para todo ser que possui a razão, fica certamente claro que aquele [espírito supremo] não tem memória de si e não compreende a si mesmo porque ama a si mesmo, mas, ao contrário, ama a si mesmo porque tem memória de si, e compreende a si mesmo porque não poderia amar a si mesmo se não tivesse a memória e a inteligência de si mesmo.
Nenhuma coisa, na verdade, pode ser amada se não tem memória e inteligência dela, embora seja possível ter a memória e compreender muitas coisas que não se amam.

É, pois, evidente que o amor do espírito supremo procede do fato de que ele se recorda de si mesmo e compreende a si mesmo.
Por isso, se aqui por memória entendemos o pai e por inteligência o filho, é evidente que o amor do espírito supremo procede igualmente do pai e do filho”.



“Se, porém, o espírito supremo ama a si mesmo, não há dúvida de que também o pai ama a si mesmo, o filho ama a si mesmo e cada um deles ama ao outro, porque o pai, individualmente, é o espírito supremo, e o filho, individualmente, é o espírito supremo, e ambos são um só espírito.
E, como cada um deles recorda simultaneamente, de si mesmo e do outro, compreende a si mesmo e ao outro; e porque, tanto o pai como o filho, aquele que ama é também aquele que é amado, decorre necessariamente que cada um ama a si mesmo e ama ao outro com amor igual”.









Santo Anselmo de Cantuária. “Monológio”. Tradução e notas de Ângelo Ricci. In. CIVITA, Victor (Editor). Santo Anselmo de Cantuária, Pedro Abelardo. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os Pensadores).

Sobre Santo Anselmo de Cantuária clique no linque abaixo:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anselmo_de_Cantu%C3%A1ria

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

DEMÓCRITO DE ABDERA (3)



Demócrito de Abdera

Fragmentos.





“Escolher os bens da alma é escolher os bens divinos; contentar-se com os bens do corpo é contentar-se com os bens humanos”.


“Belo é conter o homem injusto; ou ao menos não participar de sua injustiça”.


“As esperanças dos homens educados valem mais do que as riquezas dos ignorantes”.


“Aquele que comete injustiça é mais desgraçado do que quem a sofre”.


“Punível é deixar-se dominar por um homem inferior”.


“Muito pensar e não muito saber é o importante”.


“Para os desprovidos de entendimento melhor é serem dominados do que dominar”.










BORNHEIM, Gerd A. Os Filósofos Pré- Socráticos. 2ª. Ed. Sem indicação de tradutor. São Paulo: Cultrix, 1972.

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GEORGES BRAQUE

National Galleries of Scotland, Edinburgh



Le Bougeoir
1911 – óleo sobre tela – 46,2 x 38,2 cm.
Autor: Georges Braque

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sábado, 24 de outubro de 2009

KARL POPPER



Karl Popper
Em
Lógica das Ciências Sociais.






“É um erro admitir que a objetividade de uma ciência dependa da objetividade do cientista.

E é um erro acreditar que a atitude do cientista natural é mais objetiva que a do cientista social.

O cientista natural é tão partidário quanto as outras pessoas, e a não ser que pertença aos poucos que estão, constantemente, produzindo novas idéias, ele está, infelizmente muito inclinado, em geral, a favorecer suas idéias preferidas de um modo parcial e unilateral.

Vários dos físicos contemporâneos de maior projeção têm fundado, também, escolas que estabelecem uma resistência poderosa a novas idéias”.




“O que pode ser descrito como objetividade científica é baseado unicamente sobre uma tradição crítica que, a despeito da resistência, frequentemente torna possível criticar um dogma dominante”.











POPPER, Karl. Lógica das Ciências Sociais. Traduções de Estevão de Rezende Martins, Apio Claudio Muniz Acquarone Filho e Vilma de Oliveira Moraes e Silva. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1978.

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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

BERNARDO GUIMARÃES



À sepultura de um escravo
(Bernardo Guimarães)




Também do escravo a humilde sepultura
Um gemido merece de saudade:
Uma lágrima só corra sobre ela
De compaixão ao menos...
Filho da África, enfim livre dos ferros
Tu dormes sossegado o eterno sono
Debaixo dessa terra que regaste
De prantos e suores.

Certo, mais doce te seria agora
Jazer no meio lá dos teus desertos
À sombra da palmeira, não faltara
Piedoso orvalho de saudosos olhos
Que te regasse a campa;
Lá muita vez, em noites d’alva lua,
Canção chorosa, que ao tanger monótono
De rude lira teus irmãos entoam,
Teus manes acordara:
Mas aqui – tu aí jazes como a folha
Que caiu na poeira do caminho,
Calcada sob os pés indiferentes
Do viajor que passa.

Porém que importa – se repouso achaste,
Que em vão buscavas neste vale escuro,
Fértil de pranto e dores;
Que importa – se não há sobre esta terra
Para o infeliz asilo sossegado?
A terra é só do rico e poderoso,
E desses ídolos que a fortuna incensa,
E que, ébrios de orgulho,
Passam, sem ver que co’as velozes rodas
Seu carro d’ouro esmaga um mendigante
No lodo do caminho!...
Mas o céu é daquele que na vida
Sob o peso da cruz passa gemendo;
É de quem sobre as chagas do inditoso
Derrama o doce bálsamo das lágrimas;
E do órfão infeliz, do ancião pesado,
Que da indigência no bordão se arrima;
Do pobre cativo, que em trabalhos
No rude afã exala o alento extremo;
- O céu é da inocência e da virtude,
O céu é do infortúnio.

Repousa agora em paz, fiel escravo,
Que na campa quebraste os ferros teus,
No seio dessa terra que regaste
De prantos e suores.
E vós, que vindes visitar a morte
O lúgubre aposento,
Deixai cair ao menos uma lágrima
De compaixão sobre essa humilde cova;
Aí repousa a cinza do Africano,
- O símbolo do infortúnio.









GUIMARÃES, Bernardo J. da Silva. Canto da Solidão. 2ª. Ed. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000047pdf.pdf


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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

ARISTÓTELES (5)



Aristóteles
Em
A Ética.





“Nada, de fato, parece mais intimamente co-natural ao gênero humano, assim que se educam os jovens dirigindo-os com o prazer e com a dor; e nada importa mais à virtude dos costumes, quanto o provar deleite ou enfado naquilo que convém amar ou fugir.

Prazer e dor se estendem pela vida inteira, dando força e movimento à virtude e à vida feliz; pois que todos procuram as coisas agradáveis e fogem às dolorosas”.




“A natureza do homem não permite especular senão cuidando também do corpo e provendo-se de bens exteriores em medida suficiente.

O homem veramente feliz não será nem rico nem pobre, porque para fazer o bem basta pouco.
E se, como parece justo crer, os deuses têm das coisas humanas algum cuidado, eles amarão os homens virtuosos e principalmente os sapientes”.




“Alguns acreditam que os faça bons a natureza; outros o hábito; outros, enfim, o ensino.

Mas o que vem da natureza não depende de nós, antes é dado aos verdadeiramente felizes por certas causas divinas.

O ensinamento também não cativa a todos, mas somente àqueles já preparados pelo hábito, como terreno já disposto para receber a semente: onde a paixão domina, não se cede à palavra, mas à força”.










ARISTÓTELES. A Ética. Tradução e notícia histórico-biográfica: Cássio M. Fonseca. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, s/data.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles

RABISCOS NO BLOCO


Postado originalmente no REFLEXÕES: Agosto 2007

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

MARIA MONTESSORI (2)



Maria Montessori
Em
A Criança.







“As crianças pequenas revelam um amor característico pela ordem.

Já entre um ano e meio e dois anos de idade elas demonstram claramente, embora de forma confusa, sua exigência de ordem no ambiente.

A criança não pode viver na desordem porque esta lhe causa um sofrimento que se manifesta através do choro desesperado e até mesmo de uma agitação persistente que pode assumir o aspecto de verdadeira doença.

A criança pequena observa de imediato a desordem que os adultos e as crianças maiores ignoram com facilidade.

Evidentemente, a ordem no ambiente exterior toca-lhes uma sensibilidade que vai desaparecendo com a idade, uma das sensibilidades temporárias próprias aos seres em evolução, que nós denominamos períodos sensíveis.

Este é um dos períodos sensíveis mais importantes e mais misteriosos.



Se, porém, o ambiente não é adequado e a criança se encontra entre adultos, essas manifestações tão incessantes que se desenvolvem pacificamente podem converter-se em angústia, enigma e capricho”.







MONTESSORI, Maria. A Criança. Tradução de Luiz Horácio da Matta. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Editora Nórdica, s/d.

Sobre Maria Montessori clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Montessori

terça-feira, 20 de outubro de 2009

FREDERICK JACKSON TURNER



Frederick Jackson Turner
Em
O Espírito Ocidental Contra a Natureza.






“Ao velejar para as civilizações do Oriente, Cristóvão Colombo e seus sucessores invadiram regiões míticas inteiramente insuspeitadas; eles não tinham consciência nem de sua verdadeira destinação, nem dos motivos que inflavam suas velas.

É impossível exagerar o seu erro.

O que logo ficou conhecido como “Novo Mundo” era na verdade o mundo velho, o mundo mais antigo jamais conhecido, o mundo que o Ocidente certa vez tinha sido.

A ânsia de avançar, inerente à história cristã, agora pôs uma civilização em contato com o seu passado psíquico e espiritual e essa civilização estava inteiramente despreparada para esse contato.

O conflito que se seguiu ainda não foi resolvido ou sequer compreendido”.








TURNER, F. J. O Espírito Ocidental Contra a Natureza. Tradução: José Augusto Drummond. Rio de Janeiro: Campus, 1990.

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http://en.wikipedia.org/wiki/Frederick_Jackson_Turner

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

THEODOR ADORNO (4)

Theodor Adorno
Em
Educação e Emancipação.





“Em primeiro lugar, compreendo “televisão como ideologia” simplesmente como o que pode ser verificado, sobretudo nas representações televisivas norte-americanas, cuja influência entre nós é grande, ou seja, a tentativa de incutir nas pessoas uma falsa consciência e um ocultamento da realidade, além de, como se costuma dizer tão bem, procurar-se impor às pessoas um conjunto de valores como se fossem dogmaticamente positivos, enquanto a formação a que nos referimos consistiria justamente em pensar problematicamente conceitos como estes que são assumidos meramente em sua positividade, possibilitando adquirir um juízo independente e autônomo a seu respeito.

Além disto, contudo, existe ainda um caráter ideológico-formal da televisão, ou seja, desenvolve-se uma espécie de vício televisivo em que por fim a televisão, como também outros veículos de comunicação de massa, converte-se pela sua simples existência no único conteúdo da consciência, desviando as pessoas por meio da fartura de sua oferta daquilo que deveria se constituir propriamente como seu objeto e sua proridade”.




“O embuste a que há pouco nos referimos consiste precisamente em que esta harmonização da vida e esta deformação da vida são imperceptíveis para as pessoas, porque acontecem nos bastidores.

Uso o termo “bastidores” num sentido amplo.

Eles são tão perfeitos, tão realistas, que o contrabando ideológico se realiza sem ser percebido, de modo que as pessoas absorvem a harmonização oferecida sem ao menos se dar conta do que lhes acontece.

Talvez até mesmo acreditem estar se comportando de um modo realista.

E justamente aqui é necessário resistir”.







ADORNO, Theodor. Educação e Emancipação. Tradução de Wolfgang Leo Maar. 3ª. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

Sobre ADORNO clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Theodor_Adorno

BOB WILLS




Bob Wills and his Texas Playboys
Interpretando Wake up Susan (Elmer Barton / Pete Sutherland ) e Liberty (Bob Wills ) na TV CBS (1951-1952).

Sobre Bob Wills clique no linque abaixo:

http://en.wikipedia.org/wiki/Bob_Wills

sábado, 17 de outubro de 2009

JOHANNES HESSEN



Johannes Hessen
Em
Filosofia dos Valores.






“Desde que a existência se acha penetrada e saturada de valores, o homem com o seu pensar e sentir, com todas as suas idéias e ambições, passa logo – sabido é – a achar-se muito bem instalado no meio das coisas finitas.

As realidades da vida facilmente se revestirão, então, das roupagens do divino, e ela, a vida, consciente ou inconscientemente, não tardará em divinizar-se.

A vida passa a ser para o homem o máximo bem a que ele pode aspirar, o mais alto e o último dos bens, para além do qual nada mais é possível desejar.

E assim, como que por encanto, toda idéia dum Além se oblitera e desaparece.

Toda a transcendência será afastada e, pelo contrário, a idéia do cá-deste-mundo, a idéia da mais rigorosa “imanência” da existência, passará a dominar e a determinar o pensar e o sentir, o fazer e o querer do homem.



É preciso notar que são as chamadas naturezas “harmônicas” as que prestam homenagem a esta concepção da vida e a aceitam.

Essas naturezas não conhecem o que é a luta entre o Espírito e a carne, entre o dever e a inclinação, entre a moral e a sensualidade.

Nada sabem do “demonismo” da paixão que dilacera o interno do homem e o arrasta permanentemente pela borda do abismo.

E é porque nunca se acharam junto da voragem destes que nunca as impressionou o desejo de devassarem a fonte primitiva e as últimas profundidades do ser”.











HESSEN, Johannes. Filosofia dos Valores. 4ª. Ed. Tradução e prefácio do Prof. L. Cabral de Moncada. Coimbra: Armênio Amado, Editor, Sucessor, 1974.

Sobre Johannes Hessen clique no linque abaixo:
http://es.wikipedia.org/wiki/Johannes_Hessen

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ARY BARROSO (2)



INQUIETAÇÃO
(Composição: Ary Barroso)





Quem se deixou escravizar
E, no abismo, despencar
De um amor qualquer

Quem, no aceso da paixão
Entregou o coração
A uma mulher

Não soube o mundo compreender
E nem a arte de viver
Nem chegou mesmo de leve, a perceber

Que o mundo é sonho, fantasia
Desengano, alegria
Sofrimento, ironia

Nas asas brancas da ilusão
Nossa imaginação
Pelo espaço vai, vai, vai
Sem desconfiar
Que mais tarde cai
Para nunca mais voar

Quem se deixou escravizar
E, no abismo, despencar
De um amor qualquer

Quem, no aceso da paixão
Entregou o coração
A uma mulher

Não soube o mundo compreender
E nem a arte de viver
Nem chegou mesmo de leve, a perceber

Que o mundo é sonho, fantasia
Desengano, alegria
Sofrimento, ironia





Sobre Ary Barroso clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ary_Barroso

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

VARAL DE IDÉIAS

4)Da série OMELETE enviado por Claudio Boczon, do blog Porão Abaixo
Nº 2




Primeira tarefa de outubro:

Visitando o Varal de Idéias, blog inscrito imediatamente antes do meu, escolhi a postagem:”Para se fazer uma omelete, é preciso...”

1) Escolhi por gostar muito dos trabalhos do Claudio Boczon.
2) O tema é do meu agrado. Artistas que propõem, que não toleram a mesmice.
3) Sou freqüentador diário.
5) Não saberia descrever o Varal de Idéias como ele merece, mas todos os inscritos sabem sua importância. Destaco a generosidade do autor para com os internautas de hoje e do futuro.

FULTON J. SHEEN (2)



Fulton J. Sheen
Em
Angústia e Paz.






“Se as almas não forem salvas, nada se salvará.
Não poderá haver paz no mundo, se não houver paz da alma.
As guerras mundiais não passam de projeções dos conflitos travados dentro das almas dos homens modernos, pois nada acontece no mundo exterior que não haja primeiro acontecido dentro duma alma”.



“A popularidade da psicanálise já quase convenceu a todos da necessidade de alguma espécie de confissão para a paz do espírito”.



“Como pode ser o próprio psicanalista a fonte do novo e necessário poder de curar, particularmente se ele mesmo tem tido necessidade de ser psicanalisado?
Como disse Nosso Senhor, se o cego conduz o cego, então ambos cairão dentro do poço.
E quem foi que estabeleceu o psicanalista como protótipo da normalidade para qualquer homem?
A psicanálise baseada numa filosofia materialista não pode oferecer norma, ideal, motivação, dinamismo, objetivo na vida.
Não tem nada disso para dar”.



“Na realidade, nenhum teólogo moral nega a validez e necessidade da psiquiatria, mas, uma vez que muitos analistas negam os domínios da moral, do divino e do sobrenatural, é importante continuar a insistir na diferença existente entre os dois campos”.











SHEEN, Fulton J. Angústia e Paz. Tradução de Oscar Mendes. 7ª. Ed. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1959.

Sobre Fulton J. Sheen clique no linque abaixo:
http://en.wikipedia.org/wiki/Fulton_J._Sheen

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ARQUITAS DE TARENTO



ARQUITAS DE TARENTO


Fragmento.



“Quando se conseguiu encontrar a razão, esta aumenta a concórdia fazendo cessar a rebelião.

Já não há lugar para a competição, pois reina a igualdade.

Por seu intermédio podemos reconciliar-mos com nossas obrigações.

Devido a ela, recebem os pobres dos poderosos e os ricos dão aos necessitados, pois ambos confiam em possuir mais tarde com igualdade.

Regra e obstáculo dos injustos faz desistir os que sabem raciocinar, antes de cometerem injustiça, convencendo-os de que não podem permanecer neutros quando voltarem ao mesmo lugar; aos que não compreendem, revela-lhes a sua injustiça, impedindo-os de cometê-la”.








BORNHEIM, Gerd A. Os Filósofos Pré- Socráticos. 2ª. Ed. Sem indicação de tradutor. São Paulo: Cultrix, 1972.

Sobre Arquitas de Tarento clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arquitas_de_Tarento

PINTURA VERMELHA (cerâmica)


Tarquinia Museum


Europa e o Touro
c.480 aC. – pintura vermelha em cerâmica.

Sobre pintura vermelha clique

http://pt.wikipedia.org/wiki/Registro_de_pintura_vermelha_em_cer%C3%A2mica_grega

terça-feira, 13 de outubro de 2009

OLEGÁRIO MARIANO



ESPERA
(Olegário Mariano)





Esperei-te toda a noite
Em crescente exaltação;
Os meus braços te acenavam,
Os meus lábios te chamavam,
E enquanto esperava, em vão,
Os ramos garajutavam,
Ao luar, teu nome no chão.

Quando veio a madrugada,
Eu tinha a face molhada...
Era de orvalho? Não sei.
Se a água do orvalho é salgada,
Foi engano. Eu não chorei.









LOUSADA, Wilson. Cancioneiro do Amor: os mais belos versos da poesia brasileira. Simbolistas e contemporâneos. Seleção e notas: Wilson Lousada. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1952.

Sobre Olegário Mariano clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Oleg%C3%A1rio_Mariano

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

PIERRE LECOMTE DU NOÜY



Pierre Lecomte du Noüy
Em
A Dignidade Humana.





“Nem a instrução nem a razão bastam para calar no homem certas tendências ancestrais revoltantes, nem tão pouco para matar essa crueldade que se oculta no indivíduo, que estala logo que em volta dele a multidão lhe assegura o anonimato.

As idéias morais que se encontram na base das sociedades civilizadas, qualquer que seja a origem que se lhes atribua, terão sempre de lutar contra estranhos inimigos enraizados no fundo do homem, desde o seu aparecimento sobre a terra”.




“Felizmente as idéias saltam por vezes no homem como essas bolhas que vêm desfazer-se a superfície de um lago.

Importa nota-las no próprio instante, de contrário não nos deixam no espírito mais do que fugidia impressão – tão efêmera como as ondas concêntricas que por um momento deformaram as imagens refletidas pelo espelho da água.

Essas idéias vêm do mais fundo de nós próprios, desse subconsciente que é talvez o eco da vontade divina modelada pelas recordações acumuladas pela espécie no decurso das eras”.














Lecomte de Noüy, P. A Dignidade Humana. Tradução de Cruz Malpique. 3ª. Ed. Porto: Editora Educação Nacional, 1955.

Sobre Pierre Lecomte du Noüy clique no linque abaixo:
http://en.wikipedia.org/wiki/Pierre_Lecomte_du_No%C3%BCy

sábado, 10 de outubro de 2009

AGOSTINHO DE HIPONA (2)



Agostinho de Hipona
Em
Diálogo sobre a felicidade.





“Mas se quiserdes saber, no entanto, o que é a sabedoria (coisa em que a razão, na medida do possível, tem meditado) dir-vos-ei que ela consiste na moderação da alma, isto é, na sua própria ponderação a fim de que nada se derrame, nem de mais, nem de menos, do que o exige a plenitude.

A alma derrama-se na luxúria, nas ambições e no orgulho e outros excessos deste gênero, com que as almas dos desregrados e infelizes julgam obter prazeres e poderios.

E, por outro lado, ela reduz-se com a mesquinhez, os medos, a tristeza, a cobiça e outras, sejam elas quais forem, com as quais os homens infelizes admitem viver na infelicidade”.








Santo Agostinho. Diálogo sobre a felicidade. Tradução do original latino, Introdução e Notas de Mário A. Santiago de Carvalho. Lisboa: Edições 70, 1988.

Sobre Agostinho de Hipona clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_de_Hipona

RABISCOS NO BLOCO


Postado originalmente no REFLEXÕES: Julho 2007

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

JEAN BAUDRILLARD (5)



Jean Baudrillard
Em
À sombra das maiorias silenciosas.







“Bombardeadas de estímulos, de mensagens e de testes, as massas não são mais do que um jazigo opaco, cego, como os amontoados de gases estelares que só são conhecidos através da análise do seu espectro luminoso – espectro de radiações equivalente às estatísticas e às sondagens.

Mais exatamente: não é mais possível se tratar de expressão ou de representação, mas somente de simulação de um social para sempre inexprimível e inexprimido.

Esse é o sentido do seu silêncio.

Mas esse silêncio é paradoxal – não é um silêncio que fala, é um silêncio que proíbe que se fale em seu nome.

E, nesse sentido, longe de ser uma forma de alienação, é uma arma absoluta.



Ninguém pode dizer que representa a maioria silenciosa, e esta é sua vingança.

As massas não são mais uma instância à qual se possa referir como outrora se referia à classe ou ao povo”.











BAUDRILLARD, Jean. À sombra das maiorias silenciosas. Tradução: Suely Bastos. São Paulo: Brasiliense, 1985.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Baudrillard

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

ANTERO DE QUENTAL (5)



Antero de Quental
Em
Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. Antônio Feliciano de Castilho.

(adaptação livre para grafia moderna)





“O contrário disto tudo é que é a bela, a imensa missão do escritor.

É um sacerdócio, um ofício público e religioso de guarda incorruptível das idéias, dos sentimentos, dos costumes, das obras e das palavras.

Para isso toda a altura, toda a nobreza interior são pouco ainda.

Para isso toda a independência de espírito, toda a despreocupação de vaidades, toda a liberdade de jugos impostos, de mestres, de autoridades, nunca será demais.

O mineiro quer os braços soltos para cavar buscando o ouro entre as areias grossas.

O piloto quer os olhos desvendados para ler nos astros o caminho da nau por entre as ondas incertas.

O sacerdote quer o coração limpo de paixões, de interesses, para aconselhar, guiar, julgar, imparcial e justo.

O escritor quer o espírito livre de jugos, o pensamento livre de preconceitos e respeitos inúteis, o coração livre de vaidades, incorruptível e intemerato.

Só assim serão grandes e fecundas as suas obras: só assim merecerá o lugar de censor entre os homens, porque o terá alcançado, não pelo favor das turbas inconstantes e injustas, ou pelo patronato degradante dos grandes e ilustres, mas elevando-se naturalmente sobre todos pela ciência, pelo paciente estudo de si e dos outros, pela limpeza interior d’uma alma que só vê e busca o bem, o belo, o verdadeiro”.







QUENTAL, Antero de. Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. Antônio Feliciano de Castilho. Disponível AQUI!

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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ROLAND BARTHES

Roland Barthes
Em
O Prazer do Texto.





“O prazer do texto é esse momento em que meu corpo vai seguir suas próprias idéias – pois meu corpo não tem as mesmas idéias que eu”.


“O texto tem necessidade de sua sombra: essa sombra é um pouco de ideologia, um pouco de representação, um pouco de sujeito: fantasmas, bolsos, rastos, nuvens necessárias; a subversão deve produzir seu próprio claro-escuro”.


“Eu me interesso pela linguagem porque ela me fere ou me seduz”.


“A oposição (o gume do valor) não ocorre forçosamente entre contrários consagrados, nomeados (o materialismo e o idealismo, o reformismo e a revolução, etc.); mas ocorre sempre e em toda parte entre a exceção e a regra”.


“Mal se acabou de dizer uma palavra, em qualquer parte, sobre o prazer do texto, há logo dois policiais prontos a nos cair em cima: o policial político e o policial psicanalítico: futilidade e/ou culpabilidade, o prazer é ou ocioso ou vão, é uma idéia de classe ou uma ilusão”.








BARTHES, Roland. O Prazer do Texto. Tradução: J. Guinsburg. Revisão: Alice Kyoko Miyashiro. São Paulo: Perspectiva, 1987.

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L'AGE D'OR






Trechos de L’age D’or, filme de 1930 dirigido por Luis Buñuel, com argumento de Luis Buñuel e Salvador Dalí.


Sobre Luis Buñuel clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Luis_Bu%C3%B1uel



Sobre Salvador Dalí clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_Dal%C3%AD



Para assistir o filme completo, clique
http://www.youtube.com/view_play_list?p=9525468473D0422E

terça-feira, 6 de outubro de 2009

MAX WEBER (2)



Max Weber
Em
Ensaios de Sociologia.






“O mágico foi o precursor histórico do profeta, do profeta e salvador tanto exemplares como emissários.

Em geral, o profeta e salvador legitimaram-se através da posse de um carisma mágico.

Para eles, porém, isto foi apenas um meio de garantir o reconhecimento e conseguir adeptos para a significação exemplar, a missão, da qualidade de salvador de suas personalidades.

A substância da profecia do mandamento do salvador é dirigir o modo de vida para a busca de um valor sagrado.

Assim compreendida, a profecia ou mandamento significa, pelo menos relativamente, a sistematização e racionalização do modo de vida, seja em pontos particulares ou no todo.

Esta última significação tem ocorrido geralmente com todas as verdadeiras “religiões da salvação”, ou seja, com todas as religiões que prometem aos seus fiéis a libertação do sofrimento.

Isto é ainda mais provável quanto mais sublimada, mais interior e mais baseada em princípio é a essência do sofrimento, pois então é importante colocar o seguidor num estado permanente que o proteja intimamente contra o sofrimento.

Formulado abstratamente, o objetivo racional da religião redentora tem sido assegurar ao que é salvo um estado sagrado, e com isso o hábito que garante a salvação.

Isto toma o lugar de um estado agudo e extraordinário, e com isso sagrado, alcançado transitoriamente por meio de orgias, ascetismo ou contemplação”.







WEBER, Max. “Ensaios de Sociologia (Capítulo XIII)”. In. ___________ Ensaios de Sociologia e Outros Estudos. Seleção de Maurício Tragtenberg. Tradução da versão inglesa por Waltensir Dutra. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Os Pensadores)


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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

JAMES HARVEY ROBINSON (2)



James Harvey Robinson
Em
A Formação da Mentalidade.






“Enquanto deixávamos que o nosso livre pensamento nas ciências naturais transformasse o mundo velho, permitia-mos que a Igreja, as escolas e universidades continuassem a inculcar crenças e idéias de alguma valia no passado, mas hoje meros anacronismos.

Porque a “ciência social” ensinada em nossas escolas não passa duma apresentação do convencional, em vez do estudo dos fatos novos e desconcertantes que explodem em todas as direções”.




“A crítica às idéias dominantes sempre foi, e por muito tempo ainda será, considerada ofensiva.

Porque, afinal de contas, falar e escrever são formas de conduta; e, como toda conduta, são desagradáveis quando se afastam das normas da respeitabilidade dominante.

Dizer que nossas idéias de religião, de moralidade e propriedade são defeituosas e necessitam de revisão é na verdade mais chocante do que viola-las na vida diária.

Porque estamos habituados a ter diante de nossos olhos, como coisa de sempre, o crime, o pecado e a má conduta, mas não sabemos tolerar nenhuma tentativa ideológica para a mudança do status-quo”.







ROBINSON, James Harvey. A Formação da Mentalidade. Tradução de Monteiro Lobato. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940.

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sábado, 3 de outubro de 2009

ADALGISA NERY



POEMA DE AMOR
(Adalgisa Nery)





Ouve-me com os teus olhos
Porque a minha queixa é muda.
Acaricia-me com o teu pensamento
Porque o meu corpo está imóvel.
Beija-me com as tuas mãos
Porque a minha boca te espera.
Fala-me com o silêncio dos momentos de amor
Porque os ouvidos da minha vida
Se abrirão como as flores
Na úmida e infinita madrugada.









LOUSADA, Wilson. Cancioneiro do Amor: os mais belos versos da poesia brasileira. Simbolistas e contemporâneos. Seleção e notas: Wilson Lousada. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1952.

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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

CELESTE ZENHA

IFCS (foto: leojorge)

Com imensa saudade registramos um ano do falecimento da Profª. Drª. Celeste Maria Baitelli Zenha Guimarães, nossa querida mestra no IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

CASSIRER (6)



Ernst Cassirer
Em
Ensaio sobre o homem.






“A despeito de todos os esforços do irracionalismo moderno, essa definição do homem como um animal rationale não perdeu sua força.
A racionalidade é de fato um traço inerente a todas as atividades humanas.
A própria mitologia não é uma massa grosseira de superstições ou ilusões crassas.
Não é meramente caótica, pois possui uma forma sistemática ou conceitual.
Mas por outro lado, seria impossível caracterizar a estrutura do mito como racional.
A linguagem foi com freqüência identificada à razão, ou a própria fonte da razão.
Mas é fácil perceber que essa definição não consegue cobrir todo campo, é uma pars pro toto; oferece-nos uma parte pelo todo.
Isso porque, lado a lado com a linguagem conceitual, existe uma linguagem emocional; lado a lado com a linguagem científica ou lógica, existe uma linguagem da imaginação poética.
Primeiramente, a linguagem não exprime pensamentos ou idéias, mas sentimentos e afetos.
E até mesmo uma religião “nos limites da razão pura”, tal como concebida e elaborada por Kant, não passa de mera abstração.
Transmite apenas a forma ideal, a sombra, do que é uma vida religiosa genuína e concreta.
Os grandes pensadores que definiram o homem como animal rationale não eram empiristas, nem pretenderam jamais dar uma explicação empírica da natureza humana.
Com essa definição, estavam antes expressando um imperativo moral fundamental.
A razão é um termo muito inadequado com o qual compreender as formas da vida cultural do homem em toda a sua riqueza e variedade.
Mas todas essas formas são formas simbólicas.
Logo em vez de definir o homem como animal rationale, deveríamos defini-lo como animal symbolicum.
Ao fazê-lo podemos designar sua diferença específica, e entender o novo caminho aberto para o homem – o caminho para a civilização”.










CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. Tradução de Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

MALBA TAHAN



Malba Tahan
Em
O homem que calculava.






“A geometria existe por toda parte.

Procure observar as formas regulares e perfeitas que muitos corpos apresentam.

As flores, as folhas e incontáveis animais revelam simetrias admiráveis que nos deslumbram o espírito.

A geometria repito existe por toda parte.

No disco do sol, na folha da tamareira, no arco-íris, na borboleta, no diamante, na estrela-do-mar e até num pequenino grão de areia.

Há, enfim, infinita variedade de formas geométricas espalhadas pela natureza.

Um corvo a voar lentamente pelo céu descreve com a mancha negra de seu corpo, figuras admiráveis; o sangue que circula nas veias do camelo não foge aos rigorosos princípios geométricos; a pedra que se atira no chacal importuno desenha no ar uma curva perfeita!

A abelha constrói seus alvéolos com a forma de prismas hexagonais e adota essa forma geométrica, segundo penso, para obter a sua casa com a maior economia possível de material.

A geometria existe, como já disse o filósofo, por toda parte.

É preciso, porém, olhos para vê-la, inteligência para compreendê-la e alma para admirá-la.

O beduíno rude vê as formas geométricas, mas, não as entende; o sunita entende-as, mas não as admira; o artista, enfim, enxerga a perfeição das figuras, compreende o Belo e admira a Ordem e a harmonia!

Deus foi o grande geômetra.

Geometrizou a Terra e o Céu”.










Malba Tahan. O Homem Que Calculava. Edição Integral. Ilustrações Sílvio Vitorino. Digitalização e Revisão Arlindo San. Disponível em:
http://www.scribd.com/doc/6740104/O-Homem-Que-Calculava-Malba-Tahan


Sobre Júlio César de Melo e Sousa (Malba Tahan) clique no linque abaixo:
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