sexta-feira, 31 de outubro de 2008

ALBINO FORJAZ DE SAMPAIO (2)



Albino Forjaz de Sampaio
Em
Mais além da Morte e do Amor.






“Há duas qualidades de homens que as mulheres não toleram: - os mudos, e os castrados”.


“Amemo-nos uns aos outros”
Digo isto a todas as mulheres”.


“O casamento!
É às vezes desejo de um homem prender uma mulher – que só se casa para ser livre”.


“Viver com todos é fácil e é difícil.
Fácil, porque dispensa a gente de ter opinião.
Difícil, porque é preciso que todos julguem que temos a sua”.


“O segredo da atração dos homens que têm muitas mulheres é que sabem escutar todas e não acreditar em nenhuma”.


“Se a história fosse escrita pelos que a representaram, então é que se veria como as grandes coisas e as ações heróicas não foram mais do que sórdidos apetites ou incontidos interesses”.






SAMPAIO, Albino Forjaz de. Mais além da Morte e do Amor. 2ª edição augmentada. Lisboa: Guimarães & Cia. Editores, 1923.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Albino_Forjaz_de_Sampaio


Esta foi a postagem No. 700: estamos todos de parabéns!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

PIERRE CLASTRES



Pierre Clastres
Em
A Sociedade Contra o Estado.







“Chefia e linguagem estão, na sociedade primitiva, intrinsecamente ligadas; a palavra é o único poder concedido ao chefe: mais do que isso, a palavra é para ele um dever.

Mas há uma outra palavra, um outro discurso, articulado não pelos chefes, mas por esses homens que, nos séculos XV e XVI, arrastavam atrás de si milhares de índios em loucas migrações em busca da pátria dos deuses: é o discurso do karai, é a palavra profética, palavra virulenta, eminentemente subversiva que chama os índios a empreender o que se deve reconhecer como a destruição da sociedade.

O apelo dos profetas para o abandono da terra má, isto é, da sociedade tal como ela era, para alcançar a Terra sem Mal a sociedade da felicidade divina, implicava a condenação à morte da estrutura da sociedade e do seu sistema de normas.

Ora, a essa sociedade se impunha cada vez mais fortemente a marca da autoridade dos chefes, o peso de seu poder político nascente.

Talvez então possamos dizer que, se os profetas, surgidos do coração da sociedade, proclamavam mau o mundo em que os homens viviam, é porque eles revelavam a infelicidade, o mal, nessa morte lenta à qual a emergência do poder condenava, num prazo mais ou menos longo, a sociedade tupi-guarani, como sociedade primitiva, como sociedade sem Estado.

Habitados pelo sentimento de que o antigo mundo selvagem tremia em seu fundamento, perseguidos pelo pressentimento de uma catástrofe sócio-cósmica, os profetas decidiram que era preciso mudar o mundo, que era preciso mudar de mundo, abandonar o dos homens e ganhar o dos deuses”.







CLASTRES, Pierre. A Sociedade Contra o Estado. Tradução de Theo Santiago. 4ª. Ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_Clastres

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

EINSTEIN (4)



Albert Einstein
Em
Como Vejo o Mundo.






“A História das descobertas científicas e técnicas revela-nos quanto o espírito humano carece de idéias originais e de imaginação criadora.
E mesmo quando as condições exteriores e científicas para o aparecimento de uma idéia já existem há muito, será preciso, na maioria dos casos, uma outra causa exterior a fim de que se chegue a se concretizar.
O homem tem, no sentido literal da palavra, que se chocar contra o fato para que a solução lhe apareça”.




“Vou lhes fazer uma confidência muito pessoal: o esforço pelo conhecimento representa uma dessas metas independentes, sem as quais, para mim, não existe uma afirmação consciente da vida para o homem que declara pensar”.




“Quase se poderia dizer que o individualismo intelectual e a pesquisa científica nascem juntos historicamente e depois nunca mais se separam”.




“Hume bem compreendia que conceitos, julgados essenciais por nós – por exemplo, a relação causal – , não podem ser obtidos a partir da matéria fornecida pelos sentidos.
Esta compreensão o levou ao ceticismo intelectual diante de qualquer conhecimento.
Quando se lêem suas obras, fica-se espantado de que depois dele tantos filósofos, em geral bem considerados, tenham podido redigir tantas páginas tão confusas e encontrado leitores gratos”.






EINSTEIN, Albert. Como vejo o mundo. Tradução: H. P. de Andrade. São Paulo: Circulo do Livro, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Einstein

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 28 de outubro de 2008

FRANCISCO RODRIGUES LOBO



SONETOS
(Francisco Rodrigues Lobo)


I


Que amor sigo? Que busco? Que desejo?
Que enleio é este vão de fantasia?
Que tive? Que perdi? Quem me queria?
Quem me faz guerra? Contra quem pelejo?

Foi por encantamento o meu desejo
E por sombra passou minha alegria;
Mostrou-me Amor, dormindo, o que não via.
E eu ceguei do que vi, pois já não vejo.

Fez à sua medida o pensamento
Aquela estranha e nova fermosura
E aquele parecer quase divino;

Ou imaginação, sombra, ou figura,
É certo e verdadeiro meu tormento:
Eu morro do que vi, do que imagino.



II


Fermosos olhos, quem ver-vos pretende
A vista dera em preço, se vos vira,
Que inda por perder-vos a sentira,
A perda de não ver-vos não se entende;

A graça dessa luz não na compreende
Quem, qual ao Sol, a vós seus olhos vira,
Que o cego Amor, que cego deles tira,
Com vossos próprios raios a defende.

Não pode a vista humana conhecer
Qual seja a vossa cor, que a luz forçosa
Não consente mostrar tanta beleza;

Se eu, que em vendo-a ceguei, pude ainda ver,
Uma cor vi, porém, cor tão fermosa
Que não me pareceu da natureza.






MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa – através dos textos. 5ª. Ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1972.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Rodrigues_Lobo

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

BACHELARD (4)



Gaston Bachelard
Em
Conceito de Fronteira







“Do ponto de vista filosófico, toda fronteira absoluta proposta à ciência é sinal de problema mal formulado.

É impossível pensar fecundamente uma impossibilidade.

Desde que uma fronteira epistemológica pareça nítida, é que ela se arroga o direito de decidir a propósito de intuições primeiras.

Ora, as intuições primeiras são sempre intuições a retificar.

Quando um método de pesquisa científica perde sua fecundidade, é que o ponto de partida é demasiado intuitivo, demasiadamente esquemático; é que a base de organização é demasiado estreita.

O dever da filosofia científica parece então muito claro.

É preciso romper de todos os lados as limitações iniciais, reformar o conhecimento não científico que obstrui sempre o conhecimento científico.

A filosofia científica deve, de algum modo, destruir sistematicamente os limites que a filosofia tradicional impusera à ciência”.





BACHELARD, Gaston. Epistemologia. Trechos escolhidos por Dominique Lecourt. Tradução de Nathanael C. Carneiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Gaston_Bachelard

sábado, 25 de outubro de 2008

SUETÔNIO



Suetônio
Em
A Vida dos Doze Césares.






Sobre Caio César Calígula:

“Perguntou, em certa oportunidade, a um cidadão que voltava de longo exílio, que costumava fazer lá.

Este, para adulá-lo, respondeu: “Pedia sempre aos deuses que matassem Tibério (o que se realizou) e te entregassem o império”.

Desta maneira persuadiu-se de que todos os que haviam sido proscritos desejavam também a sua morte e enviou soldados, de ilha em ilha, para degolá-los todos”.





“Quase não matava suas vítimas senão a pequenos golpes reiterados e era-lhe bem conhecida a opinião, que não cessava de repetir: “Bate-lhe, mas de maneira que ele se sinta morrer”.


.


Sobre Nero Cláudio César:

“Prostituiu seu pudor a tal ponto, maculados quase todos os membros do seu corpo, imaginou, enfim, como uma espécie de divertimento, cobrir-se com uma pele de fera e fazer-se encerrar num cubículo, de onde se lançava, ao sair, às virilhas de homens e mulheres atados a um poste.

Depois de saciada a sua raiva, abandonava-se ao seu liberto Dorífero, que chegou a ser sua mulher, como Esporo o fora também; e imitava, com gritos e gemidos, as virgens que estão sendo violentadas.

Contaram-me que ele estava persuadido de que não existia homem algum casto ou puro em algum ponto do seu corpo.

Eis a razão por que ele perdoava todos aqueles que lhe confessavam as obscenidades praticadas”.






SUETÔNIO. A Vida dos Doze Césares. Tradução de Sady Garibaldi. 5ª. Ed. São Paulo: Atena Editora, s/data.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Suet%C3%B3nio

THE LIGHTBRINGER








Song: LightBringer by Killing Joke
Pics from www.Starcitygames.com
Forgotten Lore of Proxification thread

De: TeamVacaville

MELHOR COM HEADPHONES!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

ROGER GARAUDY



Roger Garaudy
Em
Apelo Aos Vivos.






“Em sociedades onde, como escrevíamos em nosso Projet espérance, o crescimento é o deus oculto, e a publicidade, sua liturgia demente; em sociedades onde a maioria se vê privada daquilo que o sistema em sua totalidade convida a gozar, a violência torna-se tanto a lei dos indivíduos como dos grupos, vivendo uns e outros de acordo com a lei do imoralismo dos sofistas atenienses, em que já se encontra a transposição para os indivíduos da expansão da força brutal, característica do imperialismo da Atenas de então: “O bem é ter os desejos mais fortes possíveis e encontrar os meios para satisfazê-los.”




"Sobre esta perversão fundamental do homem descansa hoje nosso sistema econômico de crescimento cego, de crescimento pelo crescimento.

Atentados, suicídios de adolescentes, tanto mais numerosos quanto mais ricos os países, dos Estados Unidos à Suécia, assaltos, destruições, seqüestros, todas as formas de terrorismo de indivíduos ou de grupos não passam de trocado miúdo da violência maciça, institucionalizada”.





GARAUDY, Roger. Apelo Aos Vivos. Tradução de H. P. de Andrade. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Roger_Garaudy

E ainda:
http://www.luiznogueira.com.br/ensaios/garaudy.htm

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

ALAN WATTS (7)



Alan Watts
Em
Psicoterapia Oriental & Ocidental.







“Desde Freud a psicoterapia tem-se ocupado da violência causada ao organismo humano e a suas funções pela repressão social.

Sempre que o terapeuta se coloca ao lado da sociedade, ele interpreta o seu trabalho como sendo ajustar o indivíduo e encaminhar os seus “impulsos inconscientes” para a respeitabilidade social.

Mas essa “psicoterapia oficial” carece de integridade e se transforma em instrumento obediente de exércitos, burocracias, igrejas, empresas e de toda instituição que exija lavagem cerebral dos indivíduos.

Por outro lado, o terapeuta interessado em ajudar o indivíduo é forçado à crítica social.

Isso não quer dizer que ele tenha de se empenhar diretamente em revolução política; significa que ele tem de ajudar o indivíduo a se libertar de várias formas de condicionamento social, liberta-lo inclusive do ódio contra esse condicionamento – pois odiar é uma forma de se escravizar ao objeto odiado”.




“As normas de comunicação não são necessariamente as normas do universo, e o homem não é a função ou a identidade que a sociedade lhe impõe”.






Alan Watts foi um dos grandes divulgadores do pensamento zen-budista nos Estados Unidos e na Inglaterra. Recebeu o grau de mestre do Seabury-Western Theological Seminary, em Illinois, e um doutorado honorário em divindade da University of Vermont. Nasceu na Inglaterra, em 1915 e morreu em 1973 nos Estados Unidos.


WATTS, Alan W. Psicoterapia Oriental & Ocidental. Tradução de José Veiga. Rio de Janeiro: Editora Record, s/data (original 1961).

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Alan_Watts

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

ODAIR JOSÉ



Eu vou tirar você deste lugar
(Composição de Odair José)






Olha...

A primeira vez que eu estive aqui
Foi só pra me distrair
Eu vim em busca do amor

Olha...

Foi então que eu te conheci
Naquela noite fria
Em seus braços
meus problemas esqueci

Olha...

A segunda vez que eu estive aqui
Já não foi pra distrair
Eu senti saudade de você

Olha...

Eu precisei do seu carinho
Pois eu me sentia tão sozinho
Já não podia mais lhe esquecer


Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
E não interessa
O que os outros vão pensar
Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
E não interessa
O que os outros vão pensar

Eu sei...

Que você tem medo de não dar certo
Pensa que o passado vai estar sempre perto
E que um dia eu posso me arrepender

Eu quero

Que você não pense nada triste
Pois quando o amor existe
Não existe tempo pra sofrer


Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
E não interessa
O que os outros vão pensar
Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
E não interessa
O que os outros vão pensar
Eu vou tirar você desse lugar




Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Odair_Jos%C3%A9

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 21 de outubro de 2008

CHATEAUBRIAND (3)



Chateaubriand
Em
Harmonias Morais.






“Seríamos lastimáveis, se querendo submeter tudo às regras da razão, condenássemos com rigor essas crenças que auxiliam o povo a suportar as mágoas da vida, e lhe ensinam uma moral que as melhores leis jamais lhe ensinariam.

É bom, é belo, digam o que disserem, que todas as nossas ações sejam cheias de Deus, e que sem cessar nos acerquemos de seus milagres”.




“O povo é mais sábio que os filósofos”.



“Para o homem de fé a natureza é um constante prodígio”.




“Felizes, mil vezes felizes os que crêem!

Sorriem sem temer que o sorriso lhes fuja; choram, cuidando que não chorarão jamais.

Não são, porém, perdidos os seus prantos; a religião recolhe-os na sua urna, e ao Eterno os oferece.

Os passos do verdadeiro crente nunca são desacompanhados: um bom anjo lhe vai a par, e o aconselha em sonhos, e o defende do anjo mau.

Tão devotado lhe é este amigo celestial, que, em bem dele, consente exilar-se na terra”.







CHATEAUBRIAND, François-René de. O Gênio do Cristianismo. v.2. Tradução de Camilo Castelo Branco. Rio de Janeiro/São Paulo/ Rio/ Porto Alegre: W. M. Jackson Inc. Editores, 1952.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois-Ren%C3%A9_de_Chateaubriand

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

HIPÓLITO DA COSTA



Hipólito da Costa
Em
Diário da minha viagem para Filadélfia (1798-1799)







“Uma prova da pobreza das famílias nos Estados Unidos, apesar do grande luxo externo, é a grande quantidade de boardings e lodgings que há em New York, quase todas as casas admitem gente para morar e comer, por uma certa paga: ora, isso não aconteceria se eles tivessem dinheiro; além de que muitas e talvez a maior parte dos borders ou pessoas que vivem nessas casas estranhas são naturais de New York, ora muito poucos trastes e bens têm eles quando se sujeitam a viver em um quarto só, e comigo moram dois que se tratam cavalheiramente e um deles é negociante e os seus bens e trastes se encerram em uma caixa, qualquer que sejam”.



“Os suicídios são muito comuns na América e outro dia um matou a mulher e a si mesmo, não é único nem raro aqui este fenômeno”.



“As mulheres em New York são mais bonitas que em Filadélfia, tendo geralmente bons dentes, o que é raro entre as filadelfianas, porém são muito mais desengraçadas, passeiam com as pontas dos pés para diante, com largas passadas e depressa... Se as senhoras de Lisboa fossem à metade tão lindas, como são as yorkenses, com o seu garbo, seriam umas perfeitas belezas, mas a natureza divide estes dons para os equilibrar”.







COSTA PEREIRA, Hipólito José da. Diário da minha viagem para Filadélfia (1798-1799). Brasília: Senado Federal, 2004.
Disponível em:

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/sf000034.pdf


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3lito_Jos%C3%A9_da_Costa

Sobre Lodgings:
http://en.wikipedia.org/wiki/Lodging

sábado, 18 de outubro de 2008

VINICIUS DE MORAES (8)



Vinicius de Moraes
Em
SCHMIDT, na sua morte.






“ELE era poeta como quem se afoga.

Nas suas noites, sempre a poesia, subitamente a vazar de encanamentos mal soldados em suas pernas e seus braços, e a invadir-lhe a casa, perseguindo-o da sala para o quarto, do quarto para o banheiro, do banheiro para o escritório, onde, exausto, ele acabava por se trancar.

E seu corpo outrora vasto, já agora reduzido pelas dolências, subia boiando com o nível das águas até o emparedamento total e a asfixia, como nos antigos suplícios por afogamento em recinto fechado.

E ele morria em seu noturno aquário, esmagado pelo teto do infinito, náufrago de si mesmo – um poeta como quem se afoga”.






MORAES, Vinicius de. Para Uma Menina Com Uma Flor. 3ª. Ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1966.

PAUL GAUGUIN


Musée d'Orsay , Paris



FEMMES DE TAHITI (SUR LA PLAGE)
1891 – óleo sobre tela – 69 x 91 cm
Autor: PAUL GAUGUIN

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

LA ROCHEFOUCAULD (9)



LA ROCHEFOUCAULD




Máxima 14

“Os homens não estão sujeitos somente a perder a lembrança dos benefícios e das injúrias; eles odeiam mesmo aqueles que os obsequiam e deixam de odiar os que os ultrajaram.
O empenho em recompensar o bem e em vingar-se do mal lhes parece uma servidão, à qual recusam se sujeitar”.


Máxima 34

“Se não tivéssemos nenhum orgulho, não nos queixaríamos do dos outros”.


Máxima 42

“Não temos força suficiente para seguir inteiramente nossa razão”.


Máxima 45

“Os caprichos de nosso temperamento são ainda mais extravagantes que os da sorte”.


Máxima 57

“Por mais que os homens se orgulhem de suas grandes ações, estas não são, freqüentemente, os resultados dum desejo ardente, mas efeitos do acaso”.


Máxima 59

“Não existem acidentes, por mais infelizes, dos quais os astutos não extraiam alguma vantagem, nem acidentes, por mais venturosos, que os imprudentes não consigam faze-los voltar-se contra si mesmo”.







François de La Rochefoucauld foi um nobre que escreveu apenas dois livros. Um de memórias e outro de máximas. Filho do duque de Poitou, suas máximas foram publicadas pela primeira vez em 1664, anônimas. Retrabalhadas reapareceriam em 1678. La Rochefoucauld faleceu em 1688.


LA ROCHEFOUCAUD, François VI de. Reflexões e Máximas Morais. Tradução de Alcântara Silveira. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1969.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

LEANDRO GOMES DE BARROS



O VALOR DA MULHER
(Leandro Gomes de Barros)
(cordel)



(trecho)



“A mulher é um anjo sem segundo
é a luz que melhor beleza encerra
sem mulher todo homem nesta terra
detestava os prazeres deste mundo
pois a terra seria um vácuo fundo
se faltasse a mulher que nela habita
sem mulher toda terra era esquisita
sem mulher não havia riso e festa
sem mulher neste mundo nada presta
se mulher é a prenda mais bonita


Bastará para haver grande harmonia
cada casa ter dentro uma mulher
pois não há casa alguma com mister
se faltar-lhe a mulher para alegria
se a mulher faz nascer a poesia
sem mulher não há gosto nem vantagem
sem mulher nem 1 homem tem coragem
sem mulher não há festa nem brinquedo
sem mulher todo riso finda cedo
sem mulher vive o homem sem imagem


É de acordo que o homem trate bem
da mulher que viver-lhe em companhia
para dar a beleza e a primazia
que a mulher bem decente sempre tem
se a mulher é o ente que convém
que o perfume das rosas viva nela
deverá ser tratada com cautela
para assim não perder sua beleza
pois que a mão da Divina Natureza
quando fez a mulher foi pra ser bela


Compreendo que Deus interessou-se
em fazer a mulher com perfeição
pois fazendo a primeira para Adão
deu-lhe muita candura e um riso doce
pois ao vê-la Adão logo contentou-se
e achou logo o mundo menos triste;
já por isto é que o homem não resiste
os carinhos e agrados da mulher;
e a mulher fará tudo que quizer
por ser ela o melhor anjo que existe


Faça o homem a questão que aprouver
contra Deus, contra lei e contra tudo
mas torna bondoso, calmo o mudo
contemplando o olhar de uma mulher
e se acaso a mulher logo lhe der
um jeitinho de amor com um sorriso
fica o homem vencido e indeciso
bem capaz de morrer logo por ela
pois o homem por uma mulher bela
já não teme questão nem prejuízo


Desde pois, que Jesus Cristo se fez
filho duma mulher sagrada e pura
viu-se que a mulher teve a ventura
de salvar todo mundo dessa vez
já portanto a mulher, sua honradez
está sempre no ponto mais sublime
sendo pois a mulher que ao mundo rime
deverá viver sempre respeitada
inda mesmo velhinha é lei sagrada
que o homem com gosto a ela estime


Honra o homem, a mulher ao seu lado
e portanto a mulher é um tesouro
pois quem mata o valor de todo ouro
a mulher com seu riso apaixonado
se a mulher é um ente delicado
ninguém deve causar-lhe 1 só desgosto
pois o homem só viverá composto
se tiver mulher em companhia
já que Deus para Adão com alegria
criou Eva e lhe deu com muito gosto


Inda mesmo uma esposa estando irada
contra os atos perjuros do esposo
mas possui sempre 1 coração bondoso
que chorando se torna comportada
já porque a mulher é ponderada
e dotada de grande paciência
e por isso tem toda competência
para ser estimada e bem querida
por isso a mulher se fez na vida
obra prima das mãos da Previdência


Louvarei a mulher por sumidade
pois sem ela não há ninguém feliz
e se o homem é quem rime seu país
a mulher é quem rime a humanidade
a mulher tem por si tanta bondade
que conforta o viver de um desgraçado
que se veja no mundo abandonado
sem recurso a sofrer mágoas sozinho
sua esposa, coitada, com carinho
viverá satisfeita ao seu lado


O amor de mulher tem riso e pranto
quando ri-se a mulher é sempre bela
quando chora, coitada, o pranto dela
vem tirar-lhe do rosto todo encanto
se a mulher tem no rosto um lírio santo
ninguém deve deixar ela chorar
se a mulher foi nascida para amar
deverá ser também correspondida
porque fica bastante constrangida
quando ver seu amor lhe desprezar


Em uma casa onde uma mulher chora
não poderá existir felicidade
mas não deixa de haver prosperidade
no lugar onde ri-se uma senhora
se a mulher tem consigo qualquer hora
o carinho, o amor e a compaixão
deverá viver cheia de razão
de perfume, de paz e de beleza
pois a mão da Divina Natureza
quis criar a mulher com proteção


(...)


Respeitada a mulher nunca é grosseira
adorada a mulher nunca é perjura
e enfeitada a mulher é criatura
que conserva a beleza a vida inteira
por estima a mulher é companheira
elegante, bonita e virtuosa
se a mulher é irmã gêmea da rosa
como a rosa, também tem seu espinho
que colhida de soco e sem carinho
fere a mão da pessoa desastrosa




Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jn000023.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Leandro_Gomes_de_Barros

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

PAUL VALÉRY (3)



Paul Valéry
Em
O Pensamento Vivo de Descartes





“Que leio, pois, no Discurso do Método?

Não são os princípios em si mesmos que aí nos podem deter por muito tempo.
O que atrai nossa atenção, a partir da encantadora narrativa de sua vida e das circunstâncias iniciais de sua pesquisa, é a presença dele mesmo nesse prelúdio duma filosofia.
É, se quiserem, o emprego do JE e do MOI numa obra desta espécie, e o som de sua voz humana; e talvez seja isto a que mais nitidamente se opõe à arquitetura escolástica.
O JE e o MOI explicitamente evocados devendo nos introduzir em maneiras de pensar duma inteira generalidade – eis o meu Descartes”.




VALÉRY, Paul. O Pensamento Vivo de Descartes. Tradução de Maria de Lourdes Teixeira. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1952.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Val%C3%A9ry

TERTÚLIAS VIRTUAIS: VOAR



TUTORIAL - pouso por VOR

Sobre VOR:
http://en.wikipedia.org/wiki/VHF_omnidirectional_range


Este post faz parte do "Tertúlias Virtuais" proposta do Varal de Idéias e do Expresso da Linha, que ocorre todo dia 15 de cada mês.

Mais participantes do Tertúlia Virtual, aqui

terça-feira, 14 de outubro de 2008

ANTERO DE QUENTAL (2)



SONHO ORIENTAL
(Antero de Quental)







SONHO-ME às vezes rei, n’alguma ilha,
Muito longe, nos mares do Oriente,
Onde a noite é balsâmica e fulgente
E a lua cheia sobre as águas brilha...

O aroma da magnólia e da baunilha
Paira no ar diáfano e dormente
Lambe a orla dos bosques, vagamente,
O mar com finas ondas de escumilha...

E enquanto eu na varanda de marfim
Me encosto, absorto n’um cismar sem fim,
Tu, meu amor, divagas ao luar,

Do profundo jardim pelas clareiras,
Ou descansas debaixo das palmeiras,
Tendo aos pés um leão familiar.






QUENTAL, Antero de. Antologia. Organização de José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000027.pdf


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antero_de_Quental

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

VOLTAIRE (6)



VOLTAIRE
Em
Igualdade






“Que é que deve um cão a outro cão, e um cavalo a outro cavalo?

Nada.

Nenhum animal depende do seu semelhante; mas por que o homem recebeu da Divindade um raio de luz que se chama razão, qual é o fruto disso?

É ser escravo em quase toda a terra”.






“Todos os homens nascem com uma tendência bastante violenta e pronunciada para o domínio e os prazeres, e uma queda acentuada para a preguiça: por conseguinte, qualquer homem gostaria de possuir o dinheiro e as mulheres ou as filhas dos outros, ser o amo deles, submete-los a todos os caprichos seus e não fazer nada ou, pelo menos, fazer apenas o que muito bem lhe apetecesse.

Já vêem que, com tão lindas disposições, é impossível que os homens sejam iguais, como é impossível que dois pregadores ou dois professores de teologia não tenham ciúmes e inveja um do outro”.






VOLTAIRE, F. Dicionário Filosófico. Tradução de Bruno da Ponte e João Lopes Alves. In. CIVITA, Victor (editor). Voltaire / Diderot. 1a. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os pensadores)


Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Voltaire

GRANDE NETUNO

Sobre o Milagre:
http://www.naufragiosdobrasil.com.br/nauftunamar.htm

sábado, 11 de outubro de 2008

ETIENNE DE LA BOÉTIE



Etienne de La Boétie
Em
O Discurso da Servidão Humana.







“Em primeiro lugar creio não haver dúvida de que, se vivêssemos com os direitos que a natureza nos deu e com as lições que nos ensina, seriamos naturalmente obedientes aos pais, sujeitos à razão e servos de ninguém.


Da obediência que cada um, sem outra advertência que a de sua natureza, presta a seus pai e mãe todos os homens testemunham, cada um por si.


Da razão que nasce conosco ou não, o que é uma questão debatida a fundo pelos acadêmicos e abordada por toda a escola dos filósofos, por ora não pensaria falhar ao dizer o seguinte: há em nossa alma alguma semente natural de razão que, mantida por bom conselho e costume, floresce em virtude e, ao contrário, freqüentemente sufocada, aborta, não podendo enfrentar os vícios sobrevindos.


Mas, por certo se há algo claro e notório na natureza, e ao qual não se pode ser cego é que a natureza, ministra de deus e governante dos homens, fez-nos todos da mesma forma e, ao que parece, na mesma fôrma, para que nos entreconhecêssemos todos como companheiros, ou melhor, como irmãos”.





“A primeira razão por que os homens servem de bom grado é que nascem servos e são criados como tais”.






LA BOÉTIE, Etienne de. O Discurso Sobre a Servidão Humana. Tradução de Laymert Garcia dos Santos. Comentários: Claude Lefort, Pierre Clastres e Marilena Chuaí. 3ª. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tienne_de_La_Bo%C3%A9tie

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

MÁRIO QUINTANA (10)



JARDIM INTERIOR
(Mário Quintana)


Todos os jardins deviam ser fechados,
Com altos muros de um cinza muito pálido,
onde uma fonte
pudesse cantar
sozinha
entre o vermelho dos cravos.
O que mata um jardim não é mesmo
alguma ausência
nem o abandono...
O que mata um jardim é esse olhar vazio
de quem por ele passa indiferente.




AH! OS RELÓGIOS
(Mário Quintana)


Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não conhece a vida – a verdadeira –
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém – ao voltar a si da vida –
acaso lhes indaga que horas são...





QUINTANA, Mário. Quintana de Bolso. Porto Alegre: L&PM Editores, 1997.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

CORNELIUS CASTORIADIS (3)



Cornelius Castoriadis
Em
As Encruzilhadas do Labirinto.







“Pensar não é sair da caverna nem substituir a incerteza das sombras pelos contornos nítidos das próprias coisas, a claridade
vacilante de uma chama pela luz do verdadeiro Sol.

É entrar no Labirinto, mais exatamente fazer ser e aparecer um Labirinto ao passo que se poderia ter ficado “estendido entre as flores, voltado para o céu”.

É perder-se em galerias que só existem porque as cavamos, incansavelmente, girar no fundo de um beco cujo acesso se fechou atrás de nossos passos – até que essa rotação, inexplicavelmente, abra, na parede, fendas por onde se pode passar.

Com toda certeza, o mito queria significar algo de importante, quando fazia do Labirinto a obra de Dédalo, um homem”.





“Penso aqui, agora: em função do que já foi pensado, dito, elaborado, feito, do que sei disso explicitamente (muito pouco) e implicitamente (um pouco mais).

Mas se “em função” quer dizer verdadeiramente em função, se o que penso é determinado de maneira unívoca pelo que já foi pensado, não penso nada, estou na simples repetição e não vale a pena prosseguir, se a história, e a história do pensamento, é verdadeiramente determinada, ela é apenas um vasto sistema tautológico”.





“Pensar é precisamente abalar a instituição perceptiva na qual todo lugar tem o seu lugar e todo momento tem a sua hora – assim como é abalar a instituição dada do mundo e da sociedade, as significações imaginárias sociais que essa instituição encerra”.







CASTORIADIS, Cornelius. As Encruzilhadas do Labirinto / 1. Tradução de Carmen Sylvia Guedes e Rosa Maria Boaventura. Revisão técnica de Denis Rosenfield. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cornelius_Castoriadis

RABISCOS NO BLOCO


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

ALBERT SCHWEITZER



Albert Schweitzer
Em
Cultura e Ética.







“Não há dúvida de que todas as épocas vivem das energias que se originaram no seu pensamento ético.

E todavia não se pode negar que as idéias éticas surgidas até agora têm perdido depois de algum tempo, cuja duração varia, a sua força persuasiva.

Como se explica o fato de que a fundamentação da Ética sempre se tem realizado parcial e temporariamente, mas nunca de forma definitiva?

Por que se nos afigura a história do pensamento ético da Humanidade como a história de estagnações e reveses inexplicáveis?

Por que não há, nesse ponto, nenhum progresso orgânico, devido ao qual cada época continue o trabalho construtor iniciado pelas suas predecessoras?

Por que vivemos no campo da Ética como se fosse uma cidade em ruínas, onde cada geração se abrigasse precariamente num ou noutro recanto?”





“De modo algum, o respeito à vida permitirá ao indivíduo perder o interesse pelo mundo.

Obrigá-lo-a sem cessar a preocupar-se com toda vida que o rodear e a sentir-se responsável perante ela.

Onde quer que se tratar de vidas cujo desenvolvimento possa ser influenciado por nós, a nossa preocupação e a nossa responsabilidade relativas a elas não somente se dirigirão para a conservação e o fomento de sua existência em si, como também visarão valoriza-las o mais possível e sob todos os aspectos”.






SCHWEITZER, Albert. Cultura e Ética. Tradução de Herbert Caro. São Paulo: Melhoramentos, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Schweitzer

terça-feira, 7 de outubro de 2008

LA BRUYÈRE (10)



La Bruyère – Máximas
“Dos Julgamentos”







39

“Sem uma grande firmeza e uma redobrada atenção a todas as palavras, corre-se o risco de dizer, em menos de uma hora, o sim e o não a propósito do mesmo fato ou de uma mesma pessoa, determinado apenas pelo espírito de sociabilidade e de convivência, que leva naturalmente a não contradizer este ou aquele que fala diferentemente”.


47

“Os vícios derivam duma depravação da alma; os defeitos, dum vício do temperamento; o ridículo, dum defeito do espírito”.


50

“A mesma palavra é, muitas vezes, na boca do homem inteligente, uma ingenuidade ou um dito de espírito e, na do tolo, uma tolice”.


51

“Se o tolo tivesse receio de dizer tolices, sairia do seu natural”.


52

“Um dos indícios da mediocridade de inteligência é estar sempre falando”.






LA BRUYÈRE. Os Caracteres. Tradução de Alcântara Silveira. São Paulo: Ed. Cultrix, 1965.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

GONÇALVES DIAS



CANÇÃO DO EXÍLIO
(Gonçalves Dias)






Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.


Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.


Em cismar sozinho à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.


Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.


Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras
Onde canta o sabiá.






LISBOA, Henriqueta. Antologia Poética para a Infância e a Juventude. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1969.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gon%C3%A7alves_Dias

ANTÔNIO POTEIRO

Coleção Particular

SANTA CEIA
1981 – óleo sobre tela – 85 x 100 cm.
Autor: Antônio Poteiro

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Poteiro

sábado, 4 de outubro de 2008

LOPE DE VEGA



SONETO
(Lope de Vega)




Lucinda, a loira, quando um’ave abria
Certa vez a gaiola, a prisioneira,
Da gaiola escapando-se ligeira,
Deixou confusa a moça... E esta dizia:

“Ave, por que me foges e erradia
Voas? Todavia no bosque forasteira,
Laço, armadilha ou bala traiçoeira
De fazer caçador te aguarde um dia!

Por que ao risco e ao perigo dás a vida?
Por que...?” – Mas nisto, de queixosa, em pranto
Desfez-se toda a pálida senhora...

E a ave à gaiola volta comovida,
Comovida por vê-la chorar tanto,
Que tanto pode uma mulher que chora.





(Tradução de Raimundo Correia)





DE OLIVEIRA, Ary. (Seleção e Prefácio). Poesia – 1o. Volume. Rio de Janeiro/ São Paulo/ Porto alegre: W. M. Jackson Inc. Editores, 1950.


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/f%c3%A9lix_Lope_de_Vega

Sobre o tradutor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Raimundo_Correia

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

CHUANG TZU (11)



O INÚTIL
(Chuang Tzu)




Disse Hui Tzu a Chuang Tzu:
“Todo o seu ensinamento está baseado no que não tem utilidade”.


Replicou-lhe Chuang:
“Se você não aprecia o que não tem utilidade,
Não pode começar a falar sobre o que é útil.
Por exemplo, a terra é larga e vasta,
Mas de toda a sua extensão, o homem utiliza
Apenas algumas polegadas,
Sobre as quais se mantém de pé.
Suponhamos, agora, que você tire
Tudo o que ele realmente não usa
De modo que, ao redor de seus pés,
Um golfo se abra
E ele fica de pé no vazio,
Sem nada de sólido,
Com exceção do que se encontra bem debaixo de cada pé.
Por quanto tempo poderá utilizar o que está usando?”


Disse Hui Tzu: “Cessaria de servir a qualquer finalidade”.


Concluiu Chuang Tzu:
“Isto prova
A absoluta necessidade
Do que “não tem necessidade”.






CHUANG TZU, considerado o maior escritor taoista de cuja existência se tem notícia, escreveu sua obra no final do período clássico da filosofia chinesa, de 550 a 250 aC.

MERTON, Thomas. A Via de Chuang Tzu. Petrópolis: Editora Vozes, 1974.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

PAPUS



PAPUS
Em
Tratado de Ciências Ocultas







“Tudo é análogo, a lei que rege os mundos rege também a existência dos insetos.
Estudar a maneira como as células se agrupam para formar um órgão é estudar a maneira pela qual os reinos da natureza se agrupam para formar a Terra, este órgão do universo; é estudar a maneira como os indivíduos se agrupam para constituir a família, um órgão da humanidade.


Estudar a formação de um aparelho anatômico, composto de órgãos, é como aprender a formação do mundo pelos planetas, de uma nação por milhares de famílias.
Aprender, enfim, a constituição de um homem pelos aparelhos e sistemas, é conhecer a constituição do universo pelas galáxias e da humanidade pelas nações.


Tudo é análogo: conhecer o segredo da célula é conhecer o segredo de Deus.
O absoluto está contido em tudo”.





“Fato incontestável, no ciclo de civilizações a unidade do gênero humano no universo, a unidade do universo em Deus, a unidade de Deus em si mesmo, foram ensinadas como verdades absolutas, coroamento luminoso do conhecimento, e não como superstição primária ou crença obscurantista”.





PAPUS. Tratado de Ciências Ocultas (1). Tradução de Luis Carlos Lisboa. São Paulo: Editora Três, 1973.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Papus

RABISCOS NO BLOCO


quarta-feira, 1 de outubro de 2008

JOHN STUART MILL



John Stuart Mill
Em
A Sujeição das Mulheres






“Tudo o que a educação e a civilização estão fazendo para abolir as influências sobre o caráter da lei do poder e substituí-las pelo caráter da justiça, permanece simplesmente superficial, uma vez que a fortaleza do inimigo não é atacada.

O princípio do movimento moderno na moral e na política é que a conduta, e somente a conduta, dá direito ao respeito; ou seja, não é o que os homens são, mas o que eles fazem que constitui sua reivindicação por respeito, e, que acima de tudo, o mérito, e não o nascimento é a única reivindicação legítima de poder e autoridade.

Se nenhuma autoridade, nem em seu estado temporário, fosse exercida por um ser humano sobre o outro, a sociedade não estaria ocupada em estabelecer tendências de um lado, tendo que reprimi-las de outro.

A criança realmente seria, pela primeira vez na existência do homem na terra, educada da maneira como ela deveria agir durante sua vida, e quando ela ficasse mais velha, haveria uma chance de não se afastar desta educação.

Mas, enquanto o direito do mais forte em exercer seu poder sobre os mais fracos dominar o coração da sociedade, a tentativa de tornar o direito de igualdade dos mais fracos no princípio de ações visíveis será sempre uma árdua batalha, pois a lei da justiça, que também é a lei do Cristianismo, nunca terá a posse dos sentimentos íntimos dos homens; eles estarão trabalhando contra esta lei, mesmo quando forem submetidos a ela”.







MILL, John Stuart. A Sujeição das Mulheres. Tradução de Débora Ginza. São Paulo: Escala, 2006.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/John_Stuart_Mill