quarta-feira, 30 de abril de 2008

CASSIANO RICARDO (3)



RELÓGIO
(Cassiano Ricardo)




Diante de coisa tão doida
conservemo-nos serenos.

Cada minuto de vida
nunca é mais, é sempre menos.

Ser é apenas uma face
do não ser, e não do ser.

Desde o instante em que se nasce
já se começa a morrer.






CASSIANO RICARDO. Antologia Poética.Seleção de Rubem Braga. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cassiano_Ricardo

terça-feira, 29 de abril de 2008

GUY DEBORD (2)



Guy Debord
Em
A Sociedade do Espetáculo







“A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social levou, na definição de toda a realização humana, a uma evidente degradação do ser em ter.
A fase presente da ocupação total da vida social em busca da acumulação de resultados econômicos conduz a uma busca generalizada do ter e do parecer, de forma que todo o “ter” efetivo perde o seu prestígio imediato e a sua função última.
Assim, toda a realidade individual se tornou social e diretamente dependente do poderio social obtido.
Somente naquilo que ela não é, lhe é permitido aparecer”.


“À medida que a necessidade se encontra socialmente sonhada, o sonho torna-se necessário.
O espetáculo é o mau sonho da sociedade moderna acorrentada, que ao cabo não exprime senão o seu desejo de dormir.
O espetáculo é o guardião deste sono”.


“A alienação de espectador em proveito do objeto contemplado (que é o resultado da sua própria atividade inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos ele compreende a sua própria existência e o seu próprio desejo.
A exterioridade do espetáculo em relação ao homem que age aparece nisto, os seus próprios gestos já não são seus, mas de um outro que lhos apresenta.

Eis porque o espectador não se sente em casa em parte alguma, porque o espetáculo está em toda a parte”.






DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Tradução em português: www.terravista.pt/IlhadoMel/1540. Parafrase em português do Brasil: Railson Sousa Guedes.
Disponível em:
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/socespetaculo.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guy_Debord

JOHN CLEM CLARKE


Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Washington D.C.

Copley – Governor and Mrs. Thomas Mifflin
1969 – oleo sobre tela – 264,3 x 208,4 cm
Autor: JOHN CLEM CLARKE


Sobre o autor:
http://www.biddingtons.com/content/creativeclarke.html

segunda-feira, 28 de abril de 2008

JUNG



Prefácio de C. G. Jung
pra a Introdução ao Zen-Budismo de D. T. Suzuki


(trecho)




“Cada acontecimento espiritual é uma representação e uma imaginação.
Não fosse assim, não haveria consciência nem fenomenalidade na ocorrência.
A própria imaginação é também uma ocorrência psíquica, e portanto pouco importa seja uma iluminação chamada de real ou imaginária.
O homem iluminado, ou que alega sê-lo, julga em qualquer dos casos que o seja.
O que outros pensam desse estado nada significa para ele, em relação a sua própria experiência.
Ainda que tivesse mentido, sua mentira seria um fato espiritual.
Sim, mesmo que todos os relatos religiosos nada mais fossem do que falsificações e invenções conscientes, um tratado psicológico muito interessante a respeito dessas mentiras poderia ser escrito com o mesmo tratamento científico com o qual se apresenta a psicopatologia das ilusões.
O fato é que a existência de um movimento religioso pelo qual inúmeras e brilhantes inteligências trabalharam durante muitos séculos é uma razão suficiente para fazer uma tentativa séria, capaz de trazer esses acontecimentos para dentro do reino da compreensão científica”.






SUZUKI, Daisetz Teitaro. Introdução ao Zen-budismo. Tradução de Murilo Nunes de Azevedo. Rio de Janeiro; Ed. Civilização Brasileira, 1961.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung

sábado, 26 de abril de 2008

ANACREONTE (3)



LÍRIOS E ROSAS...
(Anacreonte)





Oh! Não me fujas, bela moça,
Porque está branco o meu cabelo
E a tua cor é semelhante
A flor no seu viçar mais belo!...
Oh! Não desprezes meus delírios,
Só porque tens cores mimosas:
Vê – nos diademas em que há lírios,
Que bem resplendem junto às rosas!





ANACREONTE. Odes de Anacreonte. Tradução de Almeida Cousin. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anacreonte

RABISCOS NO BLOCO

sexta-feira, 25 de abril de 2008

ARISTÓFANES



ARISTÓFANES
Em
As Nuvens





Personagens do trecho:
Estrepsíades, rico lavrador endividado.
Fidípides, jovem dissipador e estróina, filho de Estrepsíades.

Recomposição do cenário:
No fundo da Orquestra duas casas: à direita, a de Estrepsíades, com dois leitos; à esquerda, a de Sócrates, o Pensatório, com uma porta baixa e estreita fechada.



TRECHO



Estrepsíades – Muda o mais rapidamente possível de vida e vai aprender o que vou aconselhar.

Fidípedes – Dize lá, o que mandas?

Estrepsíades – E me obedecerás?

Fidípedes – Obedecerei, por Dioniso.

Estrepsíades – Olha então para ali. Vês esta portinha e esta casinha?

Fidípedes – Vejo. Que é isso afinal, pai?

Estrepsíades – Este é o Pensatório das almas sábias.
Habitam-na homens que falando sobre o céu, nos convencem ser ele um forno colocado em torno de nós e nós as suas brasas.
Ensinam, mediante pagamento, a triunfar as causas justas e injustas.

Fidípedes – Quem são?

Estrepsíades – Não sei exatamente o seu nome: são “pensadores-inquiridores”, gente honesta.

Fidípedes – Ora! Charlatães, eu sei. Falas desses impostores, de faces pálidas e descalços, de que fazem parte Sócrates e Querofonte.

Estrepsíades – Psiu ! Cala-te. Estás dizendo besteira. Mas, se te preocupas com o pão de teu pai, torna-te um deles e deixa de cavalgar.

Fidípedes – Não, por Dioniso, mesmo que me desses os faisões criados por Leógoras.

Estrepsíades – Vai, eu te suplico, ó mais querido dos seres, vai aprender.

Fidípede – Vou aprender o quê?

Estrepsíades – Dizem que eles possuem dois argumentos, um, realmente forte, e o fraco.
Um destes dois argumentos, o fraco, vence nas disputas as causas injustas.
Se me aprenderes esse argumento injusto, não teria que pagar a ninguém um só óbulo das dívidas que fiz por tua causa.







ARISTÓFANES. As Nuvens. Tradução do grego por Junito de Souza Brandão. Rio de Janeiro: Grifo, 1976.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3fanes



quinta-feira, 24 de abril de 2008

ANTERO DE QUENTAL



AMOR VIVO
(Antero de Quental)






AMAR! mas d’um amor que tenha vida...
Não sejam sempre tímidos arpejos,
Não sejam só delírios e desejos
D’uma doída cabeça escandecida...


Amor que viva e brilhe! luz fundida
Que penetre o meu ser – e não só beijos
Dados no ar – delírios e desejos –
Mas amor... dos amores que têm vida...


Sim, vivo e quente! e já a luz do dia
Não virá dissipá-lo nos meus braços
Como névoa da vaga fantasia...


Nem murchará o sol à chama erguida...
Pois que podem os astros dos espaços
Contra uns débeis amores.. se têm vida?






QUENTAL, Antero de. Antologia. Organização de José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000027.pdf



Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antero_de_Quental

Mais do mesmo:
Biblioteca Nacional Digital

quarta-feira, 23 de abril de 2008

EPICTETO (7)



EPICTETO





MÁXIMA 115

”Teu amigo, teu filho, partiram, abandonaram-te, e tu choras.
Não sabias que o homem era viajante?
Sofres o castigo da tua loucura.
Crês que terás sempre perto de ti os objetos dos teus prazeres e que gozarás sempre dos lugares e das coisas que te são agradáveis?
Quem te prometeu?”


MÁXIMA 119

“Nada tens que não tenhas recebido.
Quem te deu tudo, tira-te uma coisa.
Resistindo-lhe, além de louco, és ingrato e injusto”.


MÁXIMA 120

“As coisas que de nós dependem são livres pela sua natureza; nada pode detê-las nem lhes levantar obstáculos, e as que de nós não dependem são débeis, escravas, dependentes, sujeitas a mil inconvenientes e obstáculos, e inteiramente estranhas”.





Epicteto: filósofo da escola dos estóicos, vivendo entre a Grécia e Roma nos meados do primeiro século da era cristã. Foi escravo, em Roma, na época de Nero.


EPICTETO. Máximas. Tradução de Alberto Denis. São Paulo: Ed. E Pub. Brasil Editora, 1960.

MAX BECKMANN


Düsseldorf, Kunstsammlung Nordrhein-Westfalen


A NOITE
(Die Nacht)
1918-19 – óleo sobre tela – 134,8 x 154,3 cm
Autor: MAX BECKMANN

terça-feira, 22 de abril de 2008

SCHOPENHAUER (5)



Artur Schopenhauer
Em
Dores do Mundo







“O inferno do mundo excede o inferno de Dante, no ponto em que cada um é o diabo do seu vizinho; há também um arquidiabo superior a todos os outros, é o conquistador que dispõe milhares de homens em frente uns dos outros e lhes brada: “Sofrer, morrer, é o vosso destino; portanto fuzilem-se, canhoneiem-se mutuamente!” e eles assim procedem”.


“Se um Deus fez este mundo, eu não gostaria de ser esse Deus: a miséria do mundo esfacelar-me-ia o coração”.


“Imaginando-se um demônio criador, ter-se-ia portanto o direito de lhe gritar mostrando-lhe a sua obra: “Como ousaste interromper o repouso sagrado do nada, para fazer surgir uma tal massa de desgraças e de angústias”.


“Na realidade, qualquer religião positiva é a usurpação do trono que pertence à filosofia.
Por isso os filósofos hão-de estar sempre em hostilidade com ela, embora tenham de a considerar como um mal necessário, um amparo para a fraqueza mórbida do espírito da maior parte dos homens”.






SCHOPENHAUER, Artur. Dores do Mundo. Tradução revista por José Souza de Oliveira. 3a. Ed. São Paulo: Edições e Publicações Brasil Editora S. A., 1959.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Schopenhauer

segunda-feira, 21 de abril de 2008

CASTORIADIS (2)



Cornelius Castoriadis
Em
INSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE E RELIGIÃO







“A humanidade emerge do Caos, do Abismo, do Sem-Fundo.

Ela emerge enquanto psique: ruptura da organização regulada do vivente, fluxo representativo / afetivo / intencional que tende a reportar tudo a si, e existe precisamente enquanto sentido continuamente procurado.

Sentido essencialmente solipsista, monádico – ou ainda: prazer de tudo reportar a si.

Essa procura, quando permanece absoluta e radical, só pode fracassar, e levar à morte do suporte vivente da psique e da própria psique.

Desviada de sua exigência originária total, essencialmente alterada, formada / deformada, canalizada, ela pode ser semi-satisfeita mediante a fabricação social do indivíduo.

Radicalmente inapta à vida, a espécie humana sobrevive criando a sociedade, e a instituição.

A instituição permite a sobrevivência da psique ao impor-lhe a forma social do indivíduo, ao lhe propor e impor uma outra origem e outra modalidade do sentido: a significação imaginária social, a identificação mediatizada com esta (com suas articulações), a possibilidade de tudo reportar a ela”.






CASTORIADIS, Cornelius. As Encruzilhadas do Labirinto / 2 – Os Domínios do Homem. Tradução: José Oscar Almeida Marques. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1987.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cornelius_Castoriadis

RABISCOS NO BLOCO


sábado, 19 de abril de 2008

NIETZSCHE (13)



NIETZSCHE
Em
AURORA






“As grandes guerras contemporâneas são o resultado dos estudos históricos”.


“Se tentarmos contemplar o espelho em si, acabamos por não descobrir senão os objetos que nele se refletem.
Se quisermos agarrar esses objetos, voltamos a ver somente o espelho.
- Essa é a história geral do conhecimento”.


“Só sabemos exprimir nossos pensamentos com as palavras que temos à mão.
Ou melhor, para exprimir todas as minhas suspeitas: a cada instante temos somente o pensamento para o qual temos presentes na memória as palavras que podem exprimi-lo aproximadamente”.


“Não basta provar uma coisa, é preciso induzir a isso os homens ou elevá-los até ela.
É por isso que o iniciado deve aprender a dizer sua sabedoria: e muitas vezes de maneira que soe como uma loucura!”






NIETZSCHE, F. Aurora. Tradução de Antonio Carlos Braga. São Paulo: Escala, 2007.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

HIPÓCRATES



Hipócrates


Aforismos





“O choro que verte o doente com motivo é bom sinal, o choro sem motivo é mau sinal”.


“O sono e a insônia, além da medida, são sinais de moléstia”.


“O vinho misturado com parte igual de água dissipa a ansiedade, o bocejo e o calafrio”.


“Quando o cérebro se esfacela, os doentes morrem em três dias; se excedem esse tempo, se curam”.


“Em conseqüência de uma fratura do crânio, se é penetrante, vem o delírio”.


“Os delírios de motivos alegres são mais benignos do que os de motivos sérios”.


“Os gagos são principalmente expostos às diarréias de longa duração”.


“Se numa mulher as regras faltam, sem febre nem calafrios, havendo ademais náuseas, ela está grávida”.








HIPÓCRATES. Aforismos – Antologia. Tradução: Dr. José Dias de Morais. São Paulo: Editora Martin Claret,2003.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3crates

quinta-feira, 17 de abril de 2008

LA BRUYÈRE (9)



La Bruyère
Em
Máximas “Dos Nobres”






9 “Geralmente é mais útil afastar-se dos nobres que queixar-se deles”.


12 “Os nobres desprezam as pessoas inteligentes que não têm mais que inteligência; as pessoas inteligentes desprezam os nobres que só têm nobreza. A gente de bem lamenta uns e outros quando eles têm nobreza ou inteligência sem nenhuma virtude”.


16 “A frieza ou a incivilidade que vem daqueles que estão acima de nós, faz-nos odiá-los; mas um sorriso ou um comprimento logo nos reconcilia com eles”.


18 “O desprezo que os nobres têm pelo povo torna-os indiferentes às lisonjas ou louvores que recebem, e modera sua vaidade. Assim também os príncipes, louvados infinitamente e sem descanso pelos nobres ou cortesãos, seriam ainda mais presunçosos se, por sua vez, apreciassem os que os louvam”.






Jean La Bruyère nasceu em 1645 em Paris e morreu em 1696. Faz parte, junto com La Rochefoucauld e outros, do grupo chamado de "moralistas”.


LA BRUYÈRE. Os Caracteres. Trad. Alcântara Silveira. São Paulo: Ed. Cultrix, 1965.

MAN RAY


J. Paul Getty Museum


LE VIOLON D’INGRES
1924 – Gelatin silver print - 29,52 x 22,7 cm.
Autor: MAN RAY

quarta-feira, 16 de abril de 2008

PABLO NERUDA (7)



Soneto LXIX
(Pablo Neruda)





Talvez não ser é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando o meio-dia
como uma flor azul, sem que caminhes
mais tarde pela névoa e os ladrilhos,

sem essa luz que levas na mão
que talvez outros não verão dourada,
que talvez ninguém soube que crescia
como a origem rubra da rosa,

sem que sejas, enfim, sem que viesses
brusca, incitante, conhecer minha vida,
aragem de roseira, trigo do vento,

e desde então sou porque tu és,
e desde então és, sou e somos
e por amor serei, serás, seremos.





NERUDA, Pablo. Cem Sonetos de Amor. Tradução de Carlos Nejar. Porto Alegre: L&PM, 1987.

terça-feira, 15 de abril de 2008

ADORNO / HORKHEIMER



Theodor Adorno e Max Horkheimer
Em
O Conceito de Esclarecimento






“No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posição de senhores.
Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal.
O programa do esclarecimento era o desenvolvimento do mundo.
Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber”.


“O horror mítico do esclarecimento tem por objeto o mito.
Ele não o descobre meramente em conceitos e palavras não aclarados, como presume a crítica da linguagem, mas em toda manifestação humana que não se situe no quadro teleológico da autoconservação”.


“Pela mediação da sociedade total, que engloba todas as relações e emoções, os homens se reconvertem exatamente naquilo contra o que se voltara a lei evolutiva da sociedade, o princípio do eu: meros seres genéricos, iguais uns aos outros pelo isolamento na coletividade governada pela força”.





ADORNO, T., HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antonio de Almeida. 2a. Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

Sobre os autores:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Theodor_Adorno

http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Horkheimer

RABISCOS NO BLOCO


segunda-feira, 14 de abril de 2008

BARÃO DE ITARARÉ (5)



Algumas máximas de Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé.





“O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso”.

“As pessoas de bem costumam falar mal dos vagabundos.
Mas não é por mal.
É por inveja”.

“Nada mais triste para um moço de caráter bem-formado que se casar por amor, puro e sincero, e verificar, depois de alguns dias de casado, que sua querida esposa não tem nem a metade da metade do dinheiro que ele supunha”.

“As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra”.

“Ao criticar a vaidade das mulheres, os homens se queixam do fogo que atiçaram”.






Itararé, Barão de. Máximas e Mínimas do Barão de Itararé. Seleção e organização Afonso Félix de Souza. Apresentação de Jorge Amado. 2q. ed. Rio de Janeiro: Record, 1986.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bar%C3%A3o_de_Itarar%C3%A9

sábado, 12 de abril de 2008

EMPÉDOCLES



Empédocles de Agrigento


Fragmentos




“É próprio dos espíritos baixos desconfiar dos mais fortes”
.

“Bem-aventurado o homem que adquiriu o tesouro da sabedoria divina; desgraçado o que guarda uma opinião obscura sobre os deuses”.


“Não nos é possível colocar (a divindade) ao alcance de nossos olhos ou apanhá-la com as mãos, principais caminhos pelos quais a persuasão penetra o coração do homem.
Pois o seu corpo (da divindade) não é provido de cabeça humana; dois braços não se erguem de seus ombros, nem tem pés, nem ágeis joelhos, nem partes cobertas de cabelos; é apenas um espírito; move-se, santo e sobre-humano, e atravessa todo o cosmos com rápidos pensamentos”.


“Os insensatos!
Seus esforços são destituídos de longos pensamentos, pois crêem que pode ser gerado o que não era ou que alguma coisa possa perecer totalmente e ser destruída”.


“Pois eu já fui moço, e moça, e planta, e pássaro, e um mudo peixe do mar”.


“Quando (os elementos) se compõem e chegam ao éter sob a forma de homem, de animais selvagens, de árvores ou de pássaros, então se diz terem sido gerados; e quando se separam, fala-se de morte dolorosa.
O que é justo não dizem; contudo, eu também falo deste modo, seguindo o costume”.





SANSON, Victorino Félix. Textos de Filosofia. Edição provisória para uso interno. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 1974.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Emp%C3%A9docles

sexta-feira, 11 de abril de 2008

MARIO QUINTANA (8)




A TROVA
(Mário Quintana)

Trova: soneto do povo,
Flor de nostálgico encanto...
Todo o infinito do amor
Numa só gota de pranto.



TROVA
(Mário Quintana)

Estes seios que te vieram
Decerto são meus filhinhos...
Maria, que gosto vê-los
Cada dia maiorzinhos!





QUINTANA, Mário. A Cor Do Invisível. Rio de Janeiro: Globo, 1989.

MILTON DACOSTA


Coleção Particular

VÊNUS
1968 – óleo sobre tela – 80 x 100 cm.
Autor: MILTON DACOSTA


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Milton_Dacosta

quinta-feira, 10 de abril de 2008

NORBERT ELIAS



Norbert Elias
Em
O Processo Civilizador






“O conceito de “civilização” refere-se a uma grande variedade de fatos: ao nível da tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos, às idéias religiosas e aos costumes.
Pode se referir ao tipo de habitações ou a maneira como homens e mulheres vivem juntos, à forma de punição determinada pelo sistema judiciário ou ao modo como são preparados os alimentos.
Rigorosamente falando, nada há que não possa ser feito de forma “civilizada” ou “incivilizada”.
Daí ser sempre difícil sumariar em algumas palavras tudo o que se pode descrever como civilização.

Mas se examinarmos o que realmente constitui a função geral do conceito de civilização, e que qualidade comum todas essas várias atitudes e atividades humanas a serem descritas como civilizadas, partimos de uma descoberta muito simples: este conceito expressa a consciência que o Ocidente tem de si mesmo”.




ELIAS, N. O Processo Civilizador: Uma História dos Costumes. Tradução de Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Norbert_Elias

quarta-feira, 9 de abril de 2008

BACHELARD (2)



Gaston Bachelard
Em
A Filosofia do não.
(trechos)





“Para o filósofo que, por profissão, encontra em si verdades primeiras, o objeto tomado em bloco não tem dificuldade em confirmar princípios gerais.
As perturbações, as flutuações, as variações também não perturbam o filósofo.
Ou ele as despreza como pormenores inúteis, ou as amontoa para se convencer da irracionalidade fundamental do dado.
Em qualquer dos casos, o filósofo está preparado para desenvolver, a propósito da ciência, uma filosofia clara, rápida, fácil, mas que continua a ser uma filosofia de filósofo”.


“Para o filósofo, as metodologias, tão diversas, tão móveis nas diferentes ciências, dependem apesar disso de um método inicial, de um método geral que deve dar forma a todo o saber, que deve tratar da mesma forma todos os objetos.
Sendo assim, uma tese como a nossa que considera o conhecimento como uma evolução do espírito, que aceita variações, respeitantes à unidade e à perenidade do eu penso, deve perturbar o filósofo”.


“E no entanto é a essa conclusão que devemos chegar se quisermos definir a filosofia do conhecimento científico como uma filosofia aberta, como a consciência de um espírito que se funda trabalhando sobre o desconhecido, procurando no real aquilo que contradiz conhecimentos anteriores.
Antes de mais, é preciso tomar consciência do fato de que a experiência nova diz não à experiência antiga; se isso não acontecer, na se trata, evidentemente, de uma experiência nova”.


“A cultura científica deve determinar modificações profundas do pensamento”.







BACHELARD, Gaston. A filosofia do não ; O novo espírito científico ; A Poética do espaça / Gaston Bachelard. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Traduções de Joaquim José Moura Ramos... (et al.) – 2a. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gaston_Bachelard

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 8 de abril de 2008

MARIANO JOSÉ PEREIRA DA FONSECA (2)



Mariano José Pereira da Fonseca
(Marquês de Maricá)
Em
MÁXIMAS, PENSAMENTOS E REFLEXÕES







“O interesse explica os fenômenos mais difíceis e complicados da vida social”.

“Não é menos funesto aos homens um superlativo engenho, do que às mulheres uma extraordinária beleza: a mediocridade em tudo é uma garantia e penhor de segurança e tranqüilidade”.

“O direito mais legítimo para governar os homens é o de ser mais inteligente que os governados”.

“Os homens mais respeitados não são sempre os mais respeitáveis”.

“Na fermentação dos povos, como na dos líquidos, as escumas e impurezas sobrenadam e ficam de cima, por mais ou menos tempo, atá que descem ou se evaporam”.

“No trato da vida humana é mais importante a parcimônia nas palavras que no dinheiro”.








FONSECA, Mariano José Pereira da . MÁXIMAS, PENSAMENTOS E REFLEXÕES
Disponível em:
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/marica.pdf


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mariano_Jos%C3%A9_Pereira_da_Fonseca

segunda-feira, 7 de abril de 2008

SUN TZU (3)



Sun Tzu
Em
A Arte da Guerra




(NOVE FATORES VARIÁVEIS)



17 – Há cinco qualidades negativas no caráter de um general.

18 – Se é ousado, pode ser abatido.

19 – Se é covarde, pode ser capturado.

20 – Se é exaltado, pode fazer figura de louco.

21 – Se tem um sentido de honra demasiado delicado, pode ser caluniado.

22 – Se é de natureza misericordiosa, é fácil de perturbar.

23 – Estas cinco características são falhas graves num general, e sempre calamitosas em operações militares.





TZU, Sun. A Arte da Guerra. Tradução de Pietro Nasseti. São Paulo: Editora Martin Claret, 2006.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sun_Tzu

sábado, 5 de abril de 2008

HEGEL (3)



Hegel
Em
Estética – A Idéia e o Ideal





“Enquanto dotados de inteligência finita, impressionam-nos os objetos exteriores e interiores, observamo-los, recebemos deles uma percepção sensível, deixamo-los alcançar a nossa representação, a nossa intuição, as abstrações, até do nosso intelecto pensante que os transforma em generalidade abstrata.

O caráter finito e não livre de todas estas operações provém da consideração dos objetos como independentes.

Por esse motivo, nós vamos atrás dos objetos, deixamo-los, por assim dizer, andar e mantemos presa a nossa representação à crença nos objetos, persuadidos como estamos de que os objetos só podem ser corretamente percebidos quando nos comportamos em passividade para com eles e reduzimos toda a nossa atividade ao trabalho formal da atenção, quando permanecemos numa abstração negativa, perante o esforço da imaginação e nos despojamos de todo o preconceito, de toda a idéia preconcebida.

Entretanto, ao atribuir-se esta liberdade aos objetos, recusa-se qualquer liberdade à apreensão subjetiva.

Com efeito, o conteúdo torna-se para a última, em dado, de modo que a autodeterminação subjetiva é substituída pela simples recepção, simples percepção da objetividade existente.

Assim se pretende que a verdade só será atingida após a submissão da subjetividade”.







HEGEL, G. W. F. “Estética – A Idéia e o Ideal”. Tradução de Orlando Vitorino. In. _________ Hegel. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os pensadores).

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Wilhelm_Friedrich_Hegel

OSWALDO GUAYASAMIN


Coleção Particular


TORSO DESNUDO
1998 – óleo sobre tela – 70 x 70 cm
Autor: OSWALDO GUAYASAMIN

sexta-feira, 4 de abril de 2008

MANUEL BANDEIRA (11)



PARDALZINHO
(Manuel Bandeira)

O pardalzinho nasceu
Livre. Quebraram-lhe a asa,
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão:
A casa era uma prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos




NEOLOGISMO
(Manuel Bandeira)

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.






BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1979.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

MAX NORDAU



Max Nordau
Em
Harmonia Final






“É muito sensata a idéia que os hindus têm da felicidade, que eles representam sob a forma do Nirvana.

O Nirvana é o repouso absoluto; é a deliciosa tranqüilidade do espírito, que se origina quando ele deixa de ter desejos ou aspirações, quando não percebe mais fora de si próprio um só ponto que o atraia e o repila.

É estado de felicidade que o homem civilizado não pode mesmo figurá-lo a si próprio, ele que está perpetuamente em luta com um turbilhão de idéias.

Tal estado só pode ser alcançado de duas maneiras: pela ignorância absoluta, quando faltam ainda ao espírito órgãos necessários para perceber os pontos de atração e de repulsão que existem fora dele, ou pela noção absoluta, quando o espírito está tão amplo e tão altamente desenvolvido que compreenda em si tudo o que é, de sorte que fora dele não exista absolutamente mais nada que possa incitá-lo a um movimento, despertar-lhe um desejo, uma inspiração, um cuidado.

Este último estado é evidentemente para o homem ideal inacessível; ele nunca poderá chegar a possuir toda a verdade, a conciliar os fenômenos complexos com as suas leis simples e a ser um sábio absoluto aos olhos do qual a diversidade dos fenômenos universais confirma-se como racional e necessária".





NORDAU, Max. As Mentiras Convencionais da Nossa Civilização. Tradução e revisão: Joaquim de Araújo. 3a.Ed. São Paulo: Edições e Publicações Brasil Editora, 1960.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Max_Nordau

RABISCOS NO BLOCO


quarta-feira, 2 de abril de 2008

LUÍS DE CAMÕES (5)



Voltas a mote alheio. (1598)
(Luís de Camões)




Se me desta for
Eu vos levarei, amor.


Se me for, e vos deixar
(Ponho, por caso, que possa),
Esta alma minha, que é vossa,
Convosco me há de ficar.
Assi[m] que, só por levar
A minha alma, se me for,
Vos levarei meu amor.


Que mal pode maltratar-me
Que convosco seja mal?
Ou que bem pode ser tal
Que sem vós possa alegrar-me?
O mal não pode enojar-me,
O bem me será maior
Se vos levar, meu amor.





CAMÕES, Luís de. Obra Completa. Organização, introdução, comentários e anotações do Prof. Antônio Salgado Júnior. Rio de Janeiro: Companhia Aguilar Editora, 1963.

terça-feira, 1 de abril de 2008

THOREAU (4)



THOREAU
Em
Uma semana nos rios Concord e Merrimack






“A maioria das pessoas com quem converso, mesmo homens e mulheres inteligentes de certa originalidade, apresenta uma visão de mundo inteiramente previsível e seca – como é árido ouvir suas explicações, tão ressecadas que podem pegar fogo; as bordas são quebradiças e tudo se despedaça; elas colocam seus argumentos como obstáculos entre elas e você, até durante o mais curto dos diálogos; é uma estrutura arcaica e cambaleante, com todas as taboas soltas pela ação do vento.
Só falam apoiadas nesse estrado”.


“O mais sábio dos homens não se dedica a pregar doutrinas; ele não tem uma visão esquematizada; ao olhar para o céu ele não vê as vigas do telhado nem as teias das aranhas.
Ele enxerga o céu limpo.
Se é possível enxergar mais claramente do que o normal, então o meio que emprego para enxergar é o mais claro.
Imagine: olhar da terra para o céu e deparar com aquele velho esquema judaico, ainda parte fixa da paisagem?”


“Na minha curta experiência de vida humana, os obstáculos externos, se é que houve coisa assim, não têm sido homens vivos, mas sim as instituições criadas pelos mortos”.






THOREAU, Henry. Desobedecendo: Desobediência civil e outros escritos. Tradução e organização de José Augusto Drummond. Rio de Janeiro: Rocco, 1984.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_David_Thoreau