sexta-feira, 30 de novembro de 2007

NIETZSCHE (10)



Friedrich Nietzsche
Em
O Viajante e sua sombra.






39 – Origem dos direitos

“Os direitos remontam geralmente a um costume, o costume a uma convenção momentaneamente estabelecida.

Ocorre uma ou outra vez ficar satisfeito, de parte e de outra, com conseqüências que resultam de uma convenção formalizada e ocorre também ficar com preguiça de renovar formalmente essa convenção; continua-se assim a viver como se esta tivesse sido sempre renovada e, aos poucos, quando o esquecimento lançou seu véu sobre a origem, acredita-se possuir um edifício sagrado e inabalável, sobre o qual cada geração deve continuar a construir.

O costume se tornou então uma coação, mesmo quando não tivesse mais utilidade que se via primitivamente, no momento em que a convenção havia sido estabelecida.

– Nisso os fracos encontraram, desde sempre, sua sólida fortaleza: estão inclinados a eternizar a convenção aceita uma vez, eternizar o privilégio que lhes foi transmitido”.






NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. O Viajante e sua Sombra. Tradução: Antonio Carlos Braga e Ciro Miranda. São Paulo: Editora Escala, 2007.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

PABLO NERUDA (5)



Pablo Neruda
Em
Ainda




XVIII


Os dias não se descartam nem se somam, são abelhas
que arderam de doçura ou enfureceram
o aguilhão: o certame continua,
vão e vêm as viagens do mel à dor.
Não, não se desfia a rede dos anos: não há rede.
Não caem gota a gota de um rio: não há rio.
O sonho não divide a vida em duas metades,
nem a ação, nem o silêncio, nem a virtude:
a vida foi como uma pedra, um só movimento,
uma única fogueira que reverberou na folhagem,
uma flecha, uma só, lenta ou ativa, um metal
que subiu e desceu queimando-se em teus ossos.





NERUDA, Pablo. Ainda. Tradução de Olga Savary. 2a. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1977.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

VOLTAIRE (3)



Voltaire
Em
Tratado de Metafísica





“O mesmo motivo que faz com que não sejamos todos igualmente esclarecidos, igualmente robustos, faz com que haja homens mais livres do que outros.
A liberdade é a saúde da alma e em poucas pessoas é completa e inalterável.
Nossa liberdade é fraca e limitada como todas as nossas outras faculdades. Nós a fortificamos acostumando-nos a refletir, e este exercício torna a alma um pouco mais vigorosa.
Mas quaisquer que sejam os esforços que façamos, nunca podemos chegar a tornar nossa razão soberana de todos os nossos desejos; haverá sempre movimentos involuntários em nossa alma como em nosso corpo.
Somos livres, sábios, fortes, sãos e espirituais num grau muito reduzido.
Se fossemos sempre livres, seríamos o que Deus é.
Contentamo-nos com uma partilha conveniente ao lugar que ocupamos na natureza. Mas não imaginemos que nos faltam as coisas que fruímos, nem renunciemos às faculdades de um homem por não termos os atributos de um Deus”.





VOLTAIRE, F. Tratado de Metafísica. Tradução de Marilena de Souza Chaut Berlinck. In. _______ Voltaire / Diderot. 1a. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os pensadores)


Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Voltaire

terça-feira, 27 de novembro de 2007

MARIO QUINTANA (7)



OS DEGRAUS
(Mario Quintana)





Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos – onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...





QUINTANA, Mario. Baú de espantos. 4a. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1988.

RABISCOS NO BLOCO


segunda-feira, 26 de novembro de 2007

D. T. SUZUKI (2)



D. T. Suzuki
Em
O Zen Ilógico





“O Zen quer que adquiramos um ponto de vista inteiramente novo, a fim de que possamos olhar os mistérios da vida e os segredos da natureza. Isto porque o Zen chegou à conclusão definida de que o processo lógico comum é impotente para satisfazer as nossas necessidades espirituais mais profundas”.



“A vida é uma arte, e como uma arte perfeita tem de esquecer a si própria, não pode haver qualquer traço de esforço ou sensação dolorosa.
A vida para o zen deve ser vivida da mesma forma que o pássaro voa pelo ar, ou o peixe nada no seio das águas.
Logo que houver sinais de elaboração, um homem se escravisa, não é mais um ser livre. Não estás vivendo como deves viver, estás sofrendo a tirania das circunstâncias, sentindo uma espécie de restrição e perdendo a tua independência.
O Zen trata de preservar tua vitalidade, a liberdade nativa, e acima de tudo a integralidade do teu ser.
Em outras palavras, o Zen quer viver de dentro. Não ser preso a regras e sim criar as próprias regras.
Esta é a espécie de vida que o Zen está tentando nos fazer viver. Daí as suas afirmativas ilógicas, ou melhor superlógicas”.






SUZUKI, Daisetz Teitaro. Introdução ao Zen-budismo. Tradução de Murilo Nunes de Azevedo. Rio de Janeiro; Ed. Civilização Brasileira, 1961.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Daisetz_Teitaro_Suzuki

domingo, 25 de novembro de 2007

EINSTEIN



Albert Einstein
Em
EDUCAÇÃO EM VISTA DE UM PENSAMENTO LIVRE






“Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do que a uma criatura harmoniosamente desenvolvida. Deve aprender a compreender as motivações dos homens, suas quimeras e suas angústias para determinar com exatidão seu lugar exato em relação a seus próximos e à comunidade”.

“Estas reflexões essenciais, comunicadas à jovem geração graças aos contactos vivos com os professores, de forma alguma se encontram escritas nos manuais. É assim que se expressa e se forma de início toda a cultura”.

“É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma educação perfeita, desenvolver o espírito crítico na inteligência do jovem. Ora, a sobrecarga do espírito pelo sistema de notas entrava e necessariamente transforma a pesquisa em superficialidade e falta de cultura. O ensino deveria ser assim: quem o receba o recolha como um dom inestimável, mas nunca como uma obrigação penosa”.




EINSTEIN, Albert. Como vejo o mundo. Tradução: H. P. de Andrade. São Paulo: Circulo do Livro, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Einstein

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

BENJAMIN PÉRET



Benjamin Péret
Em
AMOR SUBLIME





“Dois tipos de mulheres parecem-me aptos a viver o amor sublime, porque encarnam dois aspectos da feminilidade, cujos traços são nitidamente discerníveis, o que as isola de todos os tipos possíveis: a mulher-criança e a feiticeira, a primeira figurando a expressão otimista do amor e a segunda, sua face pessimista.
Suas personalidades, de contornos perfeitamente nítidos, opõem-nas unicamente a homens cuja virilidade adquiriu características distintivas igualmente precisas”.


“A mulher-criança suscita o amor do homem totalmente viril, pois ela o completa traço a traço. Este amor a revela a si mesma, projetando-a num mundo maravilhoso, e por isso se abandona inteiramente a ele.
Ela figura a vida que desperta em pleno dia, a primavera explodindo de flores e cantos. Instrumento ideal do amor sublime que soube vencer todos os obstáculos, apresentando-se como única capaz de exaltar seu amante, pois o amor a deslumbrou.
Ela é levada pelo seu coração, sem esforço e sem desconfiança, “ao outro lado do espelho”.
Esperava o amor como o broto aguarda o sol, e o acolhe como um presente inesperado, mais suntuoso do que ela poderia ter sonhado.
É portadora do amor sublime em potencial, mas é preciso que ele lhe seja revelado. É toda felicidade, em qualquer condição que seu amor a coloque, pois ele ilumina sua vida: ela é o amor salvador”.


“Opostamente, a feiticeira é a mulher fatal que desencadeia a paixão, não para exaltar a vida, mas para se lançar à catástrofe e aí conduzir seu amante.
Ela só é amor contido aspirando a explodir. Muitas vezes arrebata o homem de sua escolha. Possui, portanto, certos traços viris, ao contrário da mulher-criança.
É este duplo aspecto que fascina tantos homens. Ela tira seu poder do eco recebido por seu apelo, endereçado ao elemento feminino que jaz em todo homem”.


“Se a mulher-criança oferece um objetivo imediato às relações do homem e da mulher, a feiticeira mostra a impossibilidade de atingir este objetivo nas condições atuais. Ao mesmo tempo que desdobra os maiores esforços para que triunfe seu amor, age como se pensasse que ele não era destinado a esse mundo, mas a um outro além da morte”.




PÉRET, Benjamin. Amor sublime: ensaio e poesia. Organização: Jean Puyade. Tradução: Sérgio Lima, Pierre Clemens. São Paulo: Brasiliense, 1985.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Benjamin_P%C3%A9ret

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

NAPOLEÃO (2)



MÁXIMAS DE NAPOLEÃO


Máxima No. 56

“Um bom general, um bom corpo de oficiais, uma organização adequada, uma instrução bem conduzida e uma disciplina eficiente permitem formar uma tropa aguerrida, independente da causa pela qual se bate.
Apesar disso, o fanatismo, o amor da pátria, a glória nacional são outros tantos fatores que inspiram as forças armadas, especialmente se elas contém gente moça em suas fileiras”.


Máxima No. 68

“Os soberanos, os povos e os generais não mais terão garantias se autorizarem os oficiais a capitular em campanha e depuserem armas em vista de um acordo feito com o inimigo, mas em completa oposição com os interesses do exército.
Quem foge destarte ao perigo e cria uma situação de crise para seus camaradas é um covarde, cuja conduta deve ser severamente castigada, levando mesmo, em certos casos, à pena de morte.
Generais, oficiais e soldados que salvam suas vidas com uma capitulação, devem desaparecer.
Aquele que ordena a deposição das armas, e os que obedecem-no, são traidores e merecem a pena capital”.


Máxima No. 95

“A guerra é cheia de surpresas.
Enquanto um general segue seus princípios raramente perde oportunidade deles tirar proveito.
E nisso repousa o gênio.
Na guerra há sempre um momento propício e o gênio se aproveita dele”.




LANZA, Conrad H. Napoleão e a Guerra Moderna. Tradução de Paulo Enéas Ferreira da Silva. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1955.

EGON SCHIELE


Coleção particular.


Selbstpoträt
(Auto-retrato)
1912 – lápis, aquarela e têmpera – 46,5 cm x 31,5 cm
Autor: Egon Schiele


Sobre o autor:

TORQUATO NETO (2)



Go back
(Torquato Neto)




Você me chama
Eu quero ir pro cinema
você reclama
meu coração não contenta
você me ama
mas de repente a madrugada mudou
e certamente
aquele trem já passou
e se passou
passou daqui pra melhor
foi!

Só quero saber
do que pode dar certo
não tenho tempo a perder
Você me pede
quer ir pro cinema
agora é tarde
se nenhuma espécie
de pedido
eu escutar agora
agora é tarde
tempo perdido
mas se você não mora, não morou
é porque não tem ouvido
que agora é tarde
– eu tenho dito –
o nosso amor mixou
(que pena) o nosso amor, amor
e eu não estou a fim de ver cinema
(que pena)
já que a morte está partida
um dia depois do outro
numa casa enlouquecida
digo de novo
quero dizer
agora é na hora
agora é aqui
e ali e você
digo de novo
quero dizer
a morte não é vingança
beija e balança


e atrás dessa reticência
queremos
quero viver.




Torquato Neto. Torquatália: obra reunida de Torquato Neto. Organização de Paulo Roberto Pires. v. 1. Do lado de dentro. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Torquato_Neto

terça-feira, 20 de novembro de 2007

OSCAR WILDE (10)



OSCAR WILDE
Em
A DECADÊNCIA DA MENTIRA




“A Arte só expressa a si mesma. Tem uma vida independente, como tem o Pensamento, e se desenrola simplesmente em um sentido que lhe é peculiar.

Não é necessariamente realista em uma época realista, nem espiritualista em uma época de fé.

Longe de ser criação de seu tempo, está geralmente em oposição direta a ele, e a única história que nos oferece é a do seu próprio progresso. Por vezes volta sobre seus passos e ressuscita alguma forma antiga, como sucedeu no movimento arcaico da última arte grega e no movimento pré-rafaelista contemporâneo.

Outras vezes adianta-se absolutamente à sua época e produz uma obra que outro século posterior compreenderá, apreciará e gozará.
Em caso algum representa sua época.

Passar a arte de uma época para a própria época é o grande erro que cometem todos os historiadores. “




WILDE, Oscar A Decadência da Mentira. In. __________ Obra Completa. Tradução de Oscar Mendes. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, Ltda., 1961”.

RABISCOS NO BLOCO


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

EPICURO (4)



Epicuro
Em
Carta a Meneceu





“Devemos começar a filosofar desde a mocidade, porém sem deixarmos de o fazer, cansados, na velhice.
Para realizar algo em prol da saúde espiritual, ninguém é demasiadamente moço nem muito velho; mas quem, porventura, supuser que, para filosofar, está moço ou velho em demasia, dirá do mesmo modo que o instante exato da sua felicidade ainda não chegou ou já se foi.
Portanto, ambos devem filosofar: o moço e o velho; este, para que permaneça jovem, no grato gozo do bem que lhe oferecera o passado; aquele, para que possa encarar sem receios o futuro, e com isso conseguir ser, a um tempo, moço e velho.
Verdade é que é necessário praticar desde cedo aquilo que confere felicidade, pois com ela possuímos tudo, e a quem ela faltar, tudo fará para adquiri-la”.




EPICURO. Pensamentos. Tradução de Johannes Mewaldt e outros. São Paulo: Editora Martin Claret, 2005.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Epicuro

domingo, 18 de novembro de 2007

PEDRO BLOCH (2)



Pedro Bloch
Em
OS MODELOS DA CRIANÇA





A criança não só imita a voz e o ritmo com que lhe falam como se deixa influenciar pelo que a voz trai. Se uma pessoa usa a voz tensa, a criança fica nervosa, mesmo que as palavras, aparentemente, queiram exprimir amor e tranqüilidade. A criança capta, com rara facilidade, o clima emocional de quem lhe fala.

Por isso é extremamente importante que as mães lhes falem tranqüilamente, não representando a tranqüilidade mas sentindo-se realmente tranqüilas.

Por isso é de tão grande importância que professoras de jardins de infância e de curso primário tenham boa voz e boa maneira de falar, personalidade ajustada, condições condizentes com a profissão; que realmente amem a criança e a profissão a que se dedicam.

A voz e a fala revelarão o ambiente do lar em que é criada a criança e as virtudes da escola que freqüenta. Dirão se tem segurança e se lhe é oferecido o indispensável carinho. Toda e qualquer modificação da voz e da palavra revela a presença de problemas que devem ser examinados e orientados.





BLOCH, Pedro. Criança Diz Cada Uma!. Ilustrações de Luiz Sá. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1963.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Bloch

sábado, 17 de novembro de 2007

MANUEL BANDEIRA (8)



O BEIJO
(Manuel Bandeira)



Quando a moça lhe estendeu a boca
(A idade da inocência tinha voltado,
Já não havia na árvore maçãs envenenadas),
Ele sentiu, pela primeira vez, que a vida era um dom fácil
De insuspeitáveis possibilidades.

Ai dele!
Tudo fora pura ilusão daquele beijo.
Tudo tornou a ser cativeiro, inquietação, perplexidade:

- No mundo só havia de verdadeiramente livre aquele beijo.




BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1979.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

ARISTÓTELES (2)



ARISTÓTELES
Em
Arte Retórica




“Os jovens, mercê do caráter, são propensos aos desejos e capazes de fazer o que desejam. Entre os desejos do corpo, a principal inclinação é para os desejos amorosos, e não conseguem dominá-los. São inconstantes e depressa se enfastiam do que desejaram; desejam-se intensamente, depressa cessam de desejar”.

“Gostam das honras, mais ainda da vitória, pois a juventude é ávida de superioridade e a vitória constitui uma espécie de superioridade”.

“Mais do que acontece em outras idades, gostam dos amigos e companheiros; porque sentem prazer em viver em sociedade e não estão habituados a julgar as coisas pelo critério do interesse, nem, por conseguinte a avaliar os amigos pelo mesmo critério”.

“Pensam que sabem tudo e defendem com valentia suas opiniões, o que é ainda uma das causas de seus excessos em todas as coisas”.

“Enfim, gostam de rir, e daí o serem levados a gracejar, porque o gracejo é uma espécie de insolência polida”.

“Como todos os ouvintes escutam de bom grado os discursos conformes com seu caráter, não resta dúvida sobre a maneira como devemos falar, para que, tanto nós, como nossas palavras, assumam a aparência desejada”.






ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética.Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1969.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles

CARAVAGGIO


Galeria dos Uffizi, Florença, Itália.

Bacchus

c. 1597; óleo sobre tela, 95cm x 85cm
Autor: Michelangelo Merisi da Caravaggio


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caravaggio

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

VINICIUS DE MORAES (3)



POÉTICA (1)
(Vinicius de Moraes)




De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.




MORAES, Vinicius de. Soneto de Fidelidade e outros poemas. 2 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

FREUD



Sigmund Freud
Em
O mal-estar na civilização




“O serviço prestado pelos veículos intoxicantes na luta pela felicidade e no afastamento da desgraça é tão altamente apreciado como um benefício, que tanto indivíduos quanto povos lhes concederam um lugar permanente na economia de sua libido.
Devemos a tais veículos não só a produção imediata de prazer, mas também um grau altamente desejado de independência do mundo externo, pois se sabe que, com o auxílio desse “amortecedor de preocupações”, é possível, em qualquer ocasião, afastar-se da pressão da realidade e encontrar refúgio num mundo próprio, com melhores condições de sensibilidade ”.


“Pode-se supor que a formação de famílias deveu-se ao fato de ter ocorrido um momento em que a necessidade de satisfação genital não apareceu mais como um hóspede que surge repentinamente e do qual, após a partida, não mais se ouve falar por longo tempo, mas que, pelo contrário, se alojou como um inquilino permanente.
Quando isso aconteceu, o macho adquiriu um motivo para conservar a fêmea junto de si, ou, em termos mais gerais, seus objetos sexuais, a seu lado, ao passo que a fêmea, não querendo separar-se de seus rebentos indefesos, viu-se obrigada, no interesse deles, a permanecer com o macho mais forte ”.


“Quando, outrora, o Apóstolo Paulo postulou o amor universal entre os homens como o fundamento de sua comunidade cristã, uma extrema intolerância por parte da cristandade para com os que permaneceram fora dela tornou-se uma conseqüência inevitável.
Para os romanos, que não fundaram no amor sua vida comunal como Estado, a intolerância religiosa era algo estranho, embora, entre eles, a religião fosse do interesse do Estado e este se achasse impregnado dela.
Tampouco constituiu uma possibilidade inexeqüível que o sonho de um domínio mundial germânico exigisse o anti-semitismo como seu complemento, sendo, portanto, compreensível que a tentativa de estabelecer uma civilização nova e comunista na Rússia encontre o seu apoio psicológico na perseguição aos burgueses.
Não se pode senão imaginar, com preocupação, sobre o que farão os soviéticos depois que tiverem eliminado seus burgueses “.




FREUD, Sigmund. O Mal-Estar Na Civilização. Tradução de José Octávio de Aguiar Abreu. Revisão técnica de Walderedo Ismael de Oliveira. In.__________Freud. Seleção de textos de Jayme Salomão. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os pensadores).

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sigmund_Freud

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 13 de novembro de 2007

LUIZ MELODIA



FARRAPO HUMANO
(Luiz Melodia)



Eu canto suplico
lastimo não vivo contigo
sou santo sou franco
enquanto não caio não ligo
me amarro me encarno na sua
mas estou pra estourar estourar;
Eu choro tanto me escondo
e não digo viro um farrapo
tento o suicídio
com caco de telha
ou caco de vidro;
Só falo na certa repleta
de felicidade me calo
ouvindo o seu nome por entre a cidade
não choro só
só zango
eu fico no lugar;
Estou muito acabado
tão abatido minha companheira
que venha comigo
mas estou pra estourar.



Publicado por Torquato Neto em sua coluna Geléia Geral, no jornal Última Hora. {Rio de Janeiro, sábado, 11 de março de 1972}



Torquato Neto. Torquatália: obra reunida de Torquato Neto. Organização de Paulo Roberto Pires. v. 2. GÉLEIA geral. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Melodia

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

OMAR KHÁYYÁM



OMAR KHÁYYÁM
Em
Rubáyát



17

Os dias
passam rápido
como as águas do rio
ou o vento do deserto.

Dois há, em particular,
que me são indiferentes:
o que passou ontem,
o que virá amanhã.



26

Ninguém
desvendará
o que é misterioso.

Ninguém poderá ver o que
se oculta debaixo das
aparências.

Todas as nossas moradas
são provisórias, salvo a última,
no coração da terra.

Bebe o vinho amigo!

Basta de palavras supérfluas.




KHÁYYÁM, Omar. Rubáiyát. Versão portuguesa de Otávio Tarquínio de Souza. 14a.ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1969.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Omar_Khayy%C3%A1m

domingo, 11 de novembro de 2007

THOREAU



Henry Thoreau
Em
A VIDA SEM PRINCÍPIO



“A comunidade não dispõe de um suborno que possa tentar um homem sensato. Podeis levantar dinheiro bastante para escavar um túnel numa montanha, mas não conseguireis levantar dinheiro bastante para assoldadar um homem que esteja tratando de sua própria vida. Um homem eficiente e de valor faz o que pode, quer a comunidade o pague por isso, quer não. Os ineficientes oferecem sua ineficiência a quem dê o lance mais alto, e estão sempre à espera de serem contratados. Seria de se supor que raramente fossem desapontados”.


“Quase não conheço um homem intelectual de mentalidade tão arejada e verdadeiramente liberal que se possa pensar em voz alta em sua companhia. A maior parte daqueles com quem tentais conversar detêm-se ao chegar a alguma instituição a que parecem dar crédito – isto é, a alguma maneira específica, não universal, de encarar as coisas. A todo instante, interpõem seu próprio e baixo teto, com sua estreita clarabóia, entre vós e o céu, quando o que desejais contemplar são os céus desobstruídos. Digo-vos: fora do caminho com vossas teias de aranhas; lavai vossas vidraças!”.


“Os jornais são o poder dominante. Qualquer outro governo está reduzido a uns poucos fuzileiros navais no Forte Independence. Se um homem negligenciar a leitura do Daily Times, o governo irá até ele de joelhos, pois essa é a única traição nos dias que correm”.


“Tais coisas, que mais solicitam a atenção dos homens, como a política e a rotina diária, são, é bem verdade, funções vitais da sociedade humana; deveriam, porém, ser executadas inconscientemente, como as funções correspondentes do corpo físico. São infra – humanas, uma espécie de vegetação. Por vezes, chego a semiconsciência de que andam à minha volta, assim como um homem pode tornar-se, em estado mórbido, consciente do processo de digestão, e sofrer por isso de dispepsia, segundo a denominam”.




THOREAU, Henry David. A Desobediência Civil e outros ensaios. Seleção, tradução, prefácio e notas de José Paulo Paes. 9a. Ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1993.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_David_Thoreau

GUSTAVE COUBERT


Coleção particular.

Autoportrait en désespéré.
(1843-45).Óleo sobre tela. 45 x 54 cm
Autor: Gustave Coubert

Sobre o autor:

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

FLORBELA ESPANCA (5)



Rústica
(Florbela Espanca)



Ser a moça mais linda do povoado,
Pisar, sempre contente, o mesmo trilho,
Ver descer sobre o ninho aconchegado
A bênção do Senhor em cada filho.

Um vestido de chita bem lavado,
Cheirando a alfazema e a tomilho...
Com o luar matar a sede ao gado,
Dar às pombas o sol num grão de milho...

Ser pura como a água da cisterna,
Ter confiança numa vida eterna
Quando descer à “terra da verdade”...

Meu Deus, daí-me esta alma, esta pobreza!
Dou por elas meu trono de Princesa,
E todos os meus Reinos de Ansiedade.






ESPANCA, Florbela. Sonetos. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2005.

Sobre a autora:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

ANACREONTE

ANTES ÉBRIO!
(Anacreonte)




Enquanto Baco me possui,
Os meus desgostos dormem, sós.
Mais rico julgo-me que os Cresos
E desafio em canto e voz:
Deitado e de heras coroado,
Desprezo a todo o desprazer.
Quem lá quiser que se arme de ódios
Porque eu prefiro é bem beber!...
Traz-me uma taça, ó moço escravo!
Que, certamente, há mais conforto
E é bem melhor se estar deitado
Por estar ébrio do que morto!




ANACREONTE. Odes de Anacreonte. Tradução de Almeida Cousin. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anacreonte

RABISCOS NO BLOCO


quarta-feira, 7 de novembro de 2007

VICO (3)

Giambattista Vico
Em

Dos elementos




5 – A filosofia, para aproveitar ao gênero humano, deve soerguer e governar o homem decaído e débil, sem lhe destorcer a natureza nem abandoná-lo à sua corrupção.

14 – Natureza das coisas não é mais do que o seu nascimento em determinados tempos e conforme certos modos de ser. Eis que quais se constituíram, tais hão de manter-se e não de outra forma.

37 – O mais sublime ofício da poesia é o de conferir sentido e paixão às coisas insensatas.

47 – A mente humana naturalmente se inclina a deleitar-se no uniforme.




VICO, Giambattista Princípios De (Uma) Ciência Nova. Seleção, tradução e notas: Antonio Lázaro de Almeida Prado. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Giambattista_Vico

terça-feira, 6 de novembro de 2007

CASTORIADIS

Cornelius Castoriadis
Em
A Instituição Imaginária da Sociedade.




“Uma sociedade só pode existir se uma série de funções são constantemente preenchidas (produção, gestação e educação, gestão da coletividade, resolução dos litígios, etc.), mas ela não se reduz só a isso, nem suas maneiras de encarar seus problemas são ditadas uma vez por todas por sua “natureza”; ela inventa e define para si mesma tanto novas maneiras de responder às suas necessidades, como novas necessidades”.


“Tudo o que se nos apresenta, no mundo social-histórico, está indissociavelmente entrelaçado com o simbólico”.


“As instituições não se reduzem ao simbólico, mas elas só podem existir no simbólico, são impossíveis fora de um simbólico em segundo grau e constituem cada qual sua rede simbólica. Uma organização dada da economia, um sistema de direito, um poder instituído, uma religião existem socialmente como sistemas simbólicos sancionados”.


”A instituição é uma rede simbólica, socialmente sancionada, onde se combinam em proporções e em relações variáveis um componente funcional e um componente imaginário”.


“A história é impossível e inconcebível fora da imaginação produtiva, do que nós chamamos o imaginário radical tal como se manifesta ao mesmo tempo e indissoluvelmente no fazer histórico, e na constituição, antes de qualquer racionalidade explícita, de um universo de significações”.




CASTORIADIS, C. A instituição imaginária da sociedade. Tradução de Guy Reynaud. Revisão técnica de Luis Roberto Salinas Fortes. 3 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1991.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cornelius_Castoriadis

PETER TOSH

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

CECÍLIA MEIRELES (3)

MOTIVO
(Cecília Meireles)




Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gosto nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.




MEIRELES, Cecília. Antologia Poética. 3a.ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor,1966.

domingo, 4 de novembro de 2007

SCHOPENHAUER (3)

Schopenhauer
Em
Ensaio Acerca Das Mulheres



“Nas circunstâncias difíceis não se deve deixar de apelar, como outrora faziam os Germanos, para os conselhos das mulheres; porque elas têm um modo de conceber as coisas, inteiramente diferente do nosso”.


“Vão diretas ao fim pelo caminho mais curto, porque os seus olhares fixam-se, em geral, naquilo que têm à mão: enquanto que a nós, pelo contrário, o nosso olhar ultrapassa, sem se deter nelas, coisas que nos ferem os olhos, e procura mais além; precisamos ser chamados a um modo de ver mais simples e mais rápido”.


“Acrescente-se a isto que as mulheres têm decididamente um espírito mais assente, e não vêem nas coisas senão o que nelas há realmente; ao passo que, sob a impressão das nossas paixões excitadas, vemos aumentados os objetos, e imaginamos quimeras”.




SCHOPENHAUER, A. Amor, Mulheres e Casamento. Tradução de Fernandes Costa.Recife: Distribuidora de Publicações, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Schopenhauer

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

LA ROCHEFOUCAULD (5)

LA ROCHEFOUCAULD



Máxima 495
“É preciso que os jovens que entram para a sociedade tenham vergonha ou estabanamento: um ar de capacidade e circunspeção transforma-se geralmente em impertinência”.


Máxima 496
“As disputas não durariam tanto se o erro estivesse somente de um dos lados”.


Máxima 498
“Existem pessoas tão levianas e tão frívolas, que estão longe de ter verdadeiros defeitos e sólidas qualidades”.


Máxima 500
“Há pessoas tão apegadas a si próprias que, quando estão enamoradas, encontram um jeito de ocupar-se mais da sua paixão do que com o amado”.


Máxima 503
“O ciúme é o pior de todos os males e o que menos compaixão desperta nas pessoas que o causam”.




François de La Rochefoucauld foi um nobre que escreveu apenas dois livros. Um de memórias e outro de máximas. Filho do duque de Poitou, suas máximas foram publicadas pela primeira vez em 1664, anônimas. Retrabalhadas reapareceriam em 1678. La Rochefoucauld faleceu em 1688.

LA ROCHEFOUCAUD, François VI de. Reflexões e Máximas Morais. Tradução de Alcântara Silveira. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1969.

RABISCOS NO BLOCO


quinta-feira, 1 de novembro de 2007

JUNQUEIRA FREIRE

MARTÍRIO
(Junqueira Freire)




Beijar-te a fronte linda;
Beijar-te o aspecto altivo;
Beijar-te a tez morena;
Beijar-te o rir lascivo;

Beijar-te o ar que aspiras;
Beijar-te o pó que pisas;
Beijar-te a voz que soltas;
Beijar-te a luz que visas;

Sentir teus modos frios;
Sentir tua apatia;
Sentir até repudio;
Sentir essa ironia;

Sentir que me resguardas;
Sentir que me arreceias;
Sentir que me repugnas;
Sentir que até me odeias;

Eis a descrença e a crença,
Eis o absinto e a flor,
Eis o amor e o ódio,
Eis o prazer e a dor!

Eis o estertor da morte,
Eis o martírio eterno,
Eis o ranger de dentes,
Eis o penar do inferno!





LOUSADA, Wilson (Org.) Cancioneiro do Amor. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1952.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Jos%C3%A9_Junqueira_Freire

DIA MUNDIAL DA PAZ - John Lennon - Give Peace a Chance