segunda-feira, 30 de junho de 2008

NIETZSCHE (15)



Nietzsche
Em
Genealogia da Moral





“ – A rebelião escrava na moral começa quando o próprio ressentimento se torna criador e gera valores: o ressentimento dos seres aos quais é negada a verdadeira reação, a dos atos, e que apenas por uma vingança imaginária obtém reparação.

Enquanto toda moral nobre nasce de um triunfante Sim a si mesma, já de início a moral escrava diz Não a um “fora”, um “outro”, um “não-eu” – e este Não é seu ato criador.

Esta inversão do olhar que estabelece valores – este necessário dirigir-se para fora, em vez de voltar-se para si – é algo próprio do ressentimento: a moral escrava sempre requer, para nascer, um mundo oposto e exterior, para poder agir em absoluto – sua ação é no fundo reação.

O contrário sucede no modo de valoração nobre: ele age e cresce espontaneamente, busca seu oposto apenas para dizer Sim a si mesmo com ainda mais júbilo e gratidão – seu conceito negativo, o “baixo”, “comum”, “ruim”, é apenas uma imagem de contraste, pálida e posterior, em relação ao conceito básico, positivo, inteiramente perpassado de vida e paixão, “nós, os nobres, nós, os bons, os belos, os felizes”.







NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. Tradução, Notas e Posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Cia. Das Letras, 1998.

HENRI CARTIER-BRESSON


New York: The Metropolitan Museum of Art


BARRIO CHINO
Barcelona/Espanha

1933 – fotografia – 34.6 x 23.5 cm.
Autor: HENRI CARTIER-BRESSON


Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Henri_Cartier-Bresson

sábado, 28 de junho de 2008

JEAN GENET



Jean Genet
Em
Diário de um Ladrão






“Dou o nome de violência a uma audácia em repouso apaixonada pelo perigo.
Pode ser percebida num olhar, num andar, num sorriso, e é dentro de nós que ela produz redemoinhos.
Ela nos desmonta.
Essa violência é uma calma que nos agita”.


“A cultura das feridas, pelos mendigos, para eles é também o meio de ter um pouco de dinheiro – para viver –, mas se foram levados a isso por uma fraqueza na miséria, o orgulho que é preciso para sustentar-se fora do desprezo é uma virtude viril: como uma rocha a um rio, o orgulho fura e divide o desprezo, arrebenta-o”.


“Falar do meu trabalho de escritor seria um pleonasmo”.


“Mais que os seus beicinhos, é o sorriso das crianças que me encanta.
Fico a contemplá-lo às vezes por muito tempo, fascinado.
Ele se torna uma coisa destacada do rosto, animado por uma alma particular.
Mais se parece com um animal precioso, de vida dura e todavia frágil, é uma quimera adorável.
Se eu conseguisse recorta-lo, tira-lo do rosto onde brinca, leva-lo no meu bolso, a sua ironia maliciosa me faria realizar prodígios.
Às vezes tento me enfeitar com ele – o que é um desejo de me proteger dele – mas é inútil.
Este sorriso é o verdadeiro ladrão”.


“Deus: o meu tribunal intimo.
A santidade: a união com Deus.
Dar-se-á quando cessar aquele tribunal, isto é, quando o juiz e o julgado estiverem confundidos.
O tribunal separa o bem e o mal. Pronuncia uma sentença, aplica uma pena.
Deixarei de ser o juiz e o réu”.








GENET, Jean. Diário de um Ladrão. Tradução de Jacqueline Laurence e Roberto Lacerda. Rio de Janeiro: Editora Rio Gráfica, 1986.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Genet

sexta-feira, 27 de junho de 2008

CRUZ E SOUSA (3)



Cruz e Sousa
Em
O Livro Derradeiro





AMOR



Nas largas mutações perpétuas do universo
O amor é sempre o vinho enérgico, irritante...
Um lago de luar nervoso e palpitante...
Um sol dentro de tudo altivamente imerso.

Não há para o amor ridículos preâmbulos,
Nem mesmo as convenções mais superiores;
E vamos pela vida assim como noctâmbulos
à fresca exaltação salúbrica das flores...

E somos uns completos, célebres artistas
Na obra racional do amor – na heroicidade,
Com essa intrepidez dos sábios transformistas.

Cumprimos uma lei que a seiva nos dirige
E amamos com vigor e com vitalidade,
A cor, os tons, a luz que a natureza exige!





Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000075.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_e_Sousa

RABISCOS NO BLOCO


quinta-feira, 26 de junho de 2008

SÊNECA (3)



Sêneca
Em
Da Tranqüilidade da Alma





XV

“Mas não adianta nada ter eliminado as causas da tristeza pessoal, pois algumas vezes acontece que um desgosto pelo gênero humano se apossa de nós, quando percebemos quão grande é a quantidade de crimes felizes; quando refletimos até que ponto é rara a retidão e desconhecida a inocência e a sinceridade, desde que ela não convenha; quando notamos os lucros e as dissipações da paixão desregrada, igualmente odiados, e a ambição que vai além de seus próprios limites, a ponto de procurar seu esplendor através da baixeza.

Então mergulha o espírito em noite escura; e destas virtudes assim transformadas, que em ninguém se espera ver, nem são de utilidade alguma para quem as tem, se originam densas trevas,

Assim devemos aplicar-nos a não considerar odiosos, mas ridículos, os vícios dos homens e a imitar Demócrito antes que Heráclito: este não podia aparecer em público sem chorar, o outro sem rir; um não via a não ser a miséria em todas as ações dos homens, o outro só tolices.

Aceitemos, pois, todas as coisas superficialmente e suportemos com bom humor; pois está mais em conformidade com a natureza humana, rir-se da existência do que lamentar-se dela”.





SÊNECA, Lúcio Aneu. Obras. Tradução de G. D. Leoni. São Paulo: Atena Editora, 1955.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9neca

quarta-feira, 25 de junho de 2008

LA ROCHEFOUCAUD (8)



La Rochefoucauld
Em Reflexões e Máximas Morais






Máxima 1

“O que tomamos por virtude não passa, comumente, de um conjunto de diversos atos e vários interesses que a sorte ou nossa habilidade sabem arranjar, e não é sempre por coragem ou por pudor que os homens são arrojados e as mulheres castas”.

Máxima 2

“O amor-próprio é o maior de todos os aduladores”.

Máxima 6

“A paixão torna freqüentemente louco o homem mais astuto e quase sempre astutos os mais tolos”.

Máxima 36

“Parece que a natureza que tão sabiamente dispôs os orgãos de nosso corpo para nos fazer felizes, nos deu também o orgulho para nos poupar a dor de conhecer nossas imperfeições”.

Máxima 38

“Prometemos de acordo com as nossas esperanças e cumprimos segundo nossos temores”.

Máxima 48

“A felicidade está no gosto e não nas coisas; e é por ter o que se ama que se é feliz e não por ter o que os outros julgam agradável”.






François de La Rochefoucauld foi um nobre que escreveu apenas dois livros. Um de memórias e outro de máximas. Filho do duque de Poitou, suas máximas foram publicadas pela primeira vez em 1664, anônimas. Retrabalhadas reapareceriam em 1678. La Rochefoucauld faleceu em 1688.

LA ROCHEFOUCAUD, François VI de. Reflexões e Máximas Morais. Tradução de Alcântara Silveira. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1969.

FABERGÉ

Ovos Fabergé
Autor: Peter Carl Fabergé

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Carl_Faberg%C3%A9

terça-feira, 24 de junho de 2008

DAVID HUME



David Hume
Em
Ensaio Sobre o Entendimento Humano







“A FILOSOFIA MORAL, ou ciência da natureza humana, pode ser tratada de duas maneiras diferentes; cada uma delas tem seu mérito peculiar e pode contribuir para o entretenimento, instrução e reforma da humanidade”.


“A primeira considera o homem como nascido principalmente para a ação; como influenciado em suas avaliações pelo gosto e pelo sentimento; perseguindo um objeto e evitando outro, segundo o valor que esses objetos parecem possuir e de acordo com a luz sob a qual eles próprios se apresentam.
Como se admite que a virtude seja o mais valioso dos objetos, os filósofos desta classe pintam-na com as mais agradáveis cores e, valendo-se da poesia e da eloqüência discorrem acerca do assunto de maneira fácil e clara: o mais adequado para agradar a imaginação e cativar as inclinações.
Escolhem na vida cotidiana, as observações e exemplos mais notáveis, colocam os caracteres opostos num contrate adequado e, atraindo-nos para os caminhos da virtude com visões de glória e de felicidade, dirigem nossos passos nestes caminhos com os mais sadios preceitos e os mais ilustres exemplos”.


“Os filósofos da outra classe consideram o homem mais um ser racional que um ser ativo e procuram formar seu entendimento em lugar de melhorar-lhes os costumes.
Consideram a natureza humana objeto de especulação e examinam-na com rigoroso cuidado a fim de encontrar os princípios que regulam nosso entendimento, excitam nossos sentimentos e fazem-nos aprovar ou censurar qualquer objeto particular, ação ou conduta.
Julgam uma desgraça para toda a literatura que a filosofia não tenha estabelecido, além da controvérsia, o fundamento da moral, do raciocínio e da crítica, e que sempre tenha que falar da verdade e da falsidade, do vício e da virtude, da beleza e da fealdade, sem ser capaz de determinar a fonte destas distinções”.







HUME, David. Ensaio Sobre o Entendimento Humano. Tradução de Anoar Aiex. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000027.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Hume

segunda-feira, 23 de junho de 2008

MAX NORDAU (2)



Max Nordau
Em
Mentira Política






“O excesso moderno de governo, os documentos, os protocolos e funcionalismo, as proibições e licenças sem fim, não protegem a vida e a propriedade do indivíduo mais do que faria a ausência de todo esse aparelho complicado.
Em troca de todos os sacrifícios de sangue, de dinheiro e de liberdade que o cidadão faz ao Estado, não recebe deste outros auxílios senão a justiça por toda a parte demasiado lenta e dispendiosa, e a instrução, que está longe de ser acessível a todos no mesmo grau”.


“Dizer que a liberdade do indivíduo é enfraquecida em atenção aos direito de outrem, é mau gracejo, essa suposta atenção não impede que os indivíduos sejam oprimidos e priva todos da maior parte da sua liberdade natural, a lei exerce de improviso e constantemente sobre todo o cidadão o constrangimento que, sem ela, algumas naturezas impetuosas exerceriam somente talvez, em casos excepcionais, sobre alguns”.


“A qualidade necessária para tornar-se chefe de partido é à vontade.
É dom que nada tem em comum com a inteligência, a fantasia, a previdência, a grandeza da alma.
A vontade poderosa pode caminhar de par com o espírito acanhado, a baixeza de sentimentos, a deslealdade, o egoísmo e a malvadeza; é a força orgânica que pode pertencer a um facínora, como o homem mais insignificante ou mais corrupto pode ter estatura alta e grande força muscular.
Demais sejam quais forem suas qualidades, o homem que possui vontade mais poderosa será necessariamente o primeiro em uma assembléia, o chefe e o senhor”.








NORDAU, Max. As Mentiras Convencionais da Nossa Civilização. Tradução e revisão: Joaquim de Araújo. 3a.Ed. São Paulo: Edições e Publicações Brasil Editora, 1960.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Nordau

sábado, 21 de junho de 2008

COMEÇO DO FIM



COMEÇO DO FIM
(Moacyr dos Santos e Lourival dos Santos)





Para cantar gostoso
De longe eu vim
Modinha bonita
Tem que ser para mim
O fim do começo
Tem de ser assim
O que tem começo
Tem que ter um fim

Lá no fim do Sul
É o começo do Norte
No fim da colheita
Começa o transporte
O fim da boiada
Começa no corte
O fim do azar
É o começo da sorte

É no fim do cabo
O começo do relho
É no fim da rédea
O começo do freio
No fim da confiança
Começa o receio
O fim da metade
É o começo do meio

No fim da cachaça
Começa a gandaia
É no fim do mar
O começo da praia
O fim do artista
É o começo da vaia
O fim do joelho
É o começo da saia

No fim do bandido
Começa o xerife
O fim do dinheiro
É o começo do “pife”
É o fim do boi
O começo do bife
O fim da cabeça
É o começo do chifre





Sobre Moacyr dos Santos:
http://paginas.terra.com.br/arte/boamusicabrasileira/comppoet_23.html#moacyrdossantos


Sobre Lourival dos Santos:
http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?nome=Lourival%20dos%20Santos&tabela=T_FORM_A

Tá bom... pode escutar:
http://www.goear.com/listen.php?v=6ef0b82

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 20 de junho de 2008

MATIAS AIRES (3)



Matias Aires
Em
Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens


Reflexão 67



“Todos conhecemos os delírios, a que a vaidade nos incita, mas nem por isso deixamos de os seguir.

Parece que cada um de nós tem duas vontades sempre opostas entre si; ao mesmo tempo queremos, e não queremos; ao mesmo tempo condenamos, e aprovamos; ao mesmo tempo buscamos e fugimos; amamos e aborrecemos.

Temos uma vontade pronta para conhecer, e detestar o vício; mas também temos outra pronta para o abraçar; uma vontade nos inclina, a outra arrasta-nos: a vontade dominante é a que segue o partido da vaidade; por mais que queiramos ser humildes, e que tenhamos vontade de desprezar o fausto, a vontade contrária sempre vence.

E se acaso se conforma, a violência com que o faz, é um sacrifício.

A vaidade é uma espécie de concupiscência, não se lhe resiste com as forças do corpo, com as do espírito sim; a carne não é frágil só por um princípio, mas por muitos, e a vaidade não é o menor deles”.






AIRES, Matias. Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens. Introdução de Alceu Amoroso Lima. Ilustrações de Santa Rosa. São Paulo: Livraria Martins Editora S. A., 1955.


Texto Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002989.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Matias_Aires

quinta-feira, 19 de junho de 2008

BERTRAND RUSSELL



Bertrand Russell
Em
A filosofia entre a religião e a ciência.





“Todo conhecimento definido – eu o afirmaria – pertence à ciência: e todo dogma quanto ao que ultrapassa o conhecimento definido, pertence à teologia.
Mas entre a teologia e a ciência existe uma Terra de Ninguém, exposta aos ataques de ambos os campos: essa Terra de Ninguém é a filosofia”.


“A ciência diz-nos o que podemos saber, mas o que podemos saber é muito pouco e, se esquecemos quanto nos é impossível saber, tornamo-nos insensíveis a muitas coisas sumamente importantes.
A teologia, por outro lado, nos induz à crença dogmática de que temos conhecimento de coisas que na realidade ignoramos e, por isso, gera uma espécie de insolência impertinente com respeito ao universo”.


“Desde que o homem se tornou capaz de livre especulação, suas ações, em muitos aspectos importantes, têm dependido de teorias relativas ao mundo e à vida humana, relativas ao bem e ao mal.
Isto é tão verdadeiro em nossos dias como em qualquer época anterior.
Para compreender uma época ou uma nação, devemos compreender sua filosofia e, para que compreendamos sua filosofia, temos de ser, até certo ponto, filósofos”.





RUSSELL, Bertrand. A filosofia entre a religião e a ciência. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000061.pdf

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertrand_Russell

GEORGE GROSZ

Dallas Museum of Art, Texas


NAZI INTERROGATION
1936 – aquarela sobre papel – 43,18 x 55,24 cm.
Autor: George Grosz

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/George_Grosz



quarta-feira, 18 de junho de 2008

OMAR KHÁYYÁM (3)



OMAR KHÁYYÁM
Em
Rubáyát





82

Delicia-te, ó
meu irmão, com
todos os perfumes, todas
as cores, todas as músicas.

Envolve de carícias
todas as mulheres.

Lembra-te de que a vida
é fugaz e que breve
voltarãs ao pó.



114

Todas as
manhãs, o orvalho
pesa sobre as tulipas, os
jacintos e as violetas, até
que o sol venha alivia-los
desse belo fardo.

Todas as manhãs, sinto o
coração mais pesado no meu
peito, mas logo o teu olhar
dissipa a minha tristeza.





KHÁYYÁM, Omar. Rubáiyát. Versão portuguesa de Otávio Tarquínio de Souza. 14a.ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1969.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Omar_Khayy%C3%A1m

terça-feira, 17 de junho de 2008

CHUANG TZU (10)



Chuang Tzu
Em
Discussão Sobre Como Tornar Iguais Todas As Coisas






“Agora, vou fazer aqui uma declaração.
Não sei se ela se ajustará ou não à categoria das declarações de outras pessoas. Mas ajuste-se ou não à categoria delas, obviamente ajusta-se a alguma categoria. Com respeito a isso, portanto, esta declaração não é diferente das outras. Não obstante, deixem-me fazer essa declaração.


Há um início.
Há um ainda não início a se tornar início.
Há um ainda não início a se tornar um ainda não início a se tornar início.
Há existência.
Há não existência.
Há um ainda não início a se tornar uma não existência.
Há um ainda não início a se tornar um ainda não início a se tornar uma não existência.
De repente, há existência e não existência.
Mas entre essa existência e essa não existência, eu não sei de fato o que é existência e o que é não existência.
Ora, eu acabei de dizer algo.
Mas não sei se o que eu disse de fato disse algo ou se não dissa nada”.


“O Caminho jamais conheceu limites, a fala não tem constância”.


“O Grande Caminho não é denominado; as Grandes Discriminações não são pronunciadas; a Grande Benevolência não é benevolente; a Grande Modéstia não é humilde; a Grande Ousadia não ataca.
Se o Caminho for esclarecido, não é o Caminho”





CHUANG TZU, considerado o maior escritor taoista de cuja existência se tem notícia, escreveu sua obra no final do período clássico da filosofia chinesa, de 550 a 250 aC..



TZU, Chuang. Escritos Básicos. Segundo a versão inglesa de Burton Watson. Tradução de Yolanda Steidel de Toledo. São Paulo: Editora Cultrix, s/data.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

ROBERT LOUIS STEVENSON



Robert Louis Stevenson
Em
O Médico e o Monstro







“Entre os dois sentia que tinha agora de escolher.
As minhas duas naturezas tinham memória em comum, mas todas as outras faculdades eram distribuídas muito desigualmente entre elas”.


“Preferi, então, o doutor já envelhecido e insatisfeito, mas rodeado de amigos e a alimentar honestas esperanças.
Dei um resoluto adeus à liberdade, à relativa juventude, ao passo leve, aos impulsos saltitantes e aos prazeres secretos que gozara na máscara de Hyde.
Talvez fizesse essa escolha com alguma reserva inconsciente, porque não desisti da casa em Soho, nem destruí as roupas de Eduard Hyde que tenho sempre prontas no meu gabinete.
Porém durante dois meses fui fiel à minha resolução.
Levei durante esses dois meses uma vida de tal severidade como nunca tinha levado, e gozei as compensações de uma boa consciência.
Logo o tempo começou afinal a obliterar o frescor de meu alarma.
Os louvores da consciência passaram a ser uma questão de hábito.
Comecei a ficar torturado com dores e anseios.
Era Hyde que lutava pela liberdade.
Finalmente, numa hora de fraqueza moral, compus mais uma vez e mais uma vez engoli a droga metamorfoseante”.


“Meu demônio, que por muito tempo tinha estado engaiolado, saiu rugindo.
No momento em que tomei a droga fiquei consciente de uma propensão mais desenfreada e furiosa para o mal.
Devia ter sido isto, suponho, que desencadeou na minha alma a tempestade de impaciência com que ouvi as cortesias de minha infeliz vítima”.






STEVENSON, R. L. O Médico e o Monstro. Tradução de Joaquim Machado. São Paulo: Edições Melhoramentos, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Louis_Stevenson

RABISCOS NO BLOCO


sábado, 14 de junho de 2008

GREGÓRIO DE MATOS (3)



PINTURA ADMIRÁVEL DE UMA BELEZA
(Gregório de Matos)





Vês esse sol de luzes coroado?
Em pérolas a aurora convertida?
Vês a lua de estrelas guarnecida?
Vês o céu de planetas adorado?

O céu deixemos; vês naquele prado
A rosa com razão desvanecida?
A açucena por alva presumida?
O cravo por galã lisonjeado?

Deixa o prado; vem cá, minha adorada:
Vês desse mar a esfera cristalina
Em sucessivo aljôfar desatada?

Parece aos olhos ser de prata fina?
Vês tudo isto bem? Pois tudo é nada
À vista do teu rosto, Catarina.





(Aljofar: s.m. Pérola pequena. / Gota de água; orvalho)


MATOS, Gregório de. Poemas Escolhidos. Organização, seleção e notas: José Miguel Wisnik. São Paulo: Cultrix, 1976.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Gregório_de_Matos

sexta-feira, 13 de junho de 2008

PAULO FREIRE



Paulo Freire
Em
Pedagogia do Oprimido





“Para haver desenvolvimento, é necessário:
1) Que haja um movimento de busca, de criatividade, que tenha no ser mesmo que o faz, o seu ponto de decisão;
2) Que esse movimento se dê não só no espaço, mas no tempo próprio do ser, do qual tenha consciência.


Daí que, se todo desenvolvimento é transformação, nem toda transformação é desenvolvimento.


A transformação que se processa no ser de uma semente que, em condições favoráveis germina e nasce, não é desenvolvimento.
Do mesmo modo, a transformação do ser de um animal não é desenvolvimento.
Ambos se transformam determinados pela espécie a que pertencem e num tempo que não lhes pertence, pois que é tempo dos homens.


Estes, entre os seres inconclusos, são os únicos que se desenvolvem.
Como seres históricos, como “seres para si”, autográficos, sua transformação, que é desenvolvimento, se dá no tempo que é seu, nunca fora dele.


Esta é a razão pela qual, submetidos a condições concretas de opressão em que se alienam, transformados em “seres para outro” do falso “ser para si” de quem dependem, os homens também já não se desenvolvem autenticamente.
É que, assim roubados na sua decisão, que se encontra no ser dominador, seguem suas prescrições.


Os oprimidos só começam a desenvolver-se quando, superando a contradição em que se acham, se fazem “seres para si”.




FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 6ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire

DI CAVALCANTI


Coleção Particular

MENINA COM GATO E PIANO
1965 – óleo sobre tela – 62 x 51 cm.
Autor: EMILIANO DI CAVALCANTI

quinta-feira, 12 de junho de 2008

DIA DOS NAMORADOS (2)



São Gonçalo do Amarante
(Jaguarão / Leonel)






Mandei chamar São Gonçalo
Que viesse nesta hora
Que viesse nesta casa
Com a virgem Nossa Senhora

Mandei chamar São Gonçalo
Que viesse a toda pressa
Que viesse nesta casa
Receber sua promessa

Ai vem o São Gonçalo
Entre flor e maravilha
Quem dançar pra São Gonçalo
Há de amanhecer o dia

São Gonçalo do Amarante
Casamenteiro das velhas
Porque não casai as moças
Que mal lhe fizeram elas?

São Gonçalo desceu do céu
Com a sua viola no peito
Quem dançar pra São Gonçalo
Há de amanhecer o dia

São Gonçalo do Amarante
Casamenteiro das velhas
Porque não casai as moças
Que mal lhe fizeram elas?

São Gonçalo desceu do céu
Com a sua viola no peito
Quem dançar pra São Gonçalo
Dance com todo o respeito

São Gonçalo do Amarante
O fazedor de pau-de-pinho
Que me de força nas pernas
Que nem São Gonçalo tinha

São Gonçalo desceu do céu
Sentado numa tripeça
Terminado esses versos
Já cumpri minha promessa





Sobre São Gonçalo do Amarante:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Beato_Gon%C3%A7alo_de_Amarante

quarta-feira, 11 de junho de 2008

FERNANDO PESSOA (10)



Fernando Pessoa
Em
O Banqueiro Anarquista







- O mal verdadeiro, o único mal, são as convenções e as ficções sociais, que se sobrepõem às realidades naturais - tudo, desde a família ao dinheiro, desde a religião ao Estado.

A gente nasce homem ou mulher - quero dizer, nasce para ser, em adulto, homem ou mulher; não nasce, em boa justiça natural, nem para ser marido, nem para ser rico ou pobre, como também não nasce para ser católico ou protestante, ou português ou inglês.

É todas estas coisas em virtude das ficções sociais.

Ora essas ficções sociais são más por quê?
Porque são ficções, porque não são naturais.

Tão mau é o dinheiro como o Estado, a constituição de família como as religiões.

Se houvesse outras, que não fossem estas, seriam igualmente más, porque também seriam ficções, porque também se sobreporiam e estorvariam as realidades naturais.

Ora qualquer sistema que não seja o puro sistema anarquista, completamente, é uma ficção também.

Empregar todo o nosso desejo, todo o nosso esforço, toda a nossa
inteligência para implantar, ou contribuir para implantar, uma ficção social em vez de outra, é um absurdo, quando não seja mesmo um crime, porque é fazer uma perturbação social com o fim expresso de deixar tudo na mesma.

Se achamos injustas as ficções sociais, porque esmagam e oprimem o que é natural no homem, para que empregar o nosso esforço em substituir-lhes outras ficções, se o podemos empregar
para as destruir todas?





PESSOA, Fernando. O Banqueiro Anarquista. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pe000007.pdf

terça-feira, 10 de junho de 2008

CLAUSEWITZ (3)



Clausewitz
Em
O Estratagema






“O estratagema envolve um propósito escondido; é usado nas guerras para enganar e confundir o inimigo.
É o oposto da ação às claras, do mesmo modo que a sagacidade é o oposto da prova direta.
Não tem nenhuma similaridade com meios de persuasão, interesse próprio, força, mas tem a ver com fraude, que, da mesma forma, tem um objetivo escondido.
É semelhante à fraude no momento em que é executado, porém, ao mesmo tempo é diferente do que costumamos vulgarmente chamar de fraude, porque não existe quebra direta de palavra.
Alguém que comete fraude por estratagema leva a pessoa a quem quer enganar a cometer erros de entendimento, que, no final, desembocam em um determinado resultado, que causa uma repentina mudança na forma como essa pessoa vê as coisas em questão.
Então, podemos dizer que a esperteza é um ardil com idéias e conceitos, e o estratagema é um ardil com ações”.


“À primeira vista, parece que não foi inadequadamente que a estratégia derivou o seu nome de estratagema; e que, mesmo com todas as mudanças, verdadeiras e aparentes, que toda a estrutura da guerra sofreu desde a época dos gregos, esse termo ainda aponta para o seu real caráter”.


“Se considerarmos que cabe à tática a real aplicação do golpe, a batalha propriamente dita, e à estratégia, a arte de usar estes meios com perícia, então, além das forças de caráter, tais como a ambição exorbitante, que sempre pressiona como uma mola, uma força de vontade férrea, que dificilmente dobra-se etc., não parece haver nenhuma outra qualidade subjetiva mais propícia para guiar e inspirar a atividade estratégica, do que o estratagema”.







CLAUSEWITZ, Carl von. Da Guerra: a arte da estratégia. Tradução de Pilar Satierra. São Paulo: Tahyu, 2005.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_von_Clausewitz

RABISCOS NO BLOCO


segunda-feira, 9 de junho de 2008

ERASMO DE ROTERDAM (4)



Erasmo de Roterdam
Em
Elogio da Loucura






“Se a prudência consiste no uso comedido das coisas, eu desejaria saber qual dos dois merece mais ser honrado com o título de prudente: o sábio, que, parte por modéstia, parte por medo, nada realiza, ou o louco, que nem o pudor (pois não o conhece) nem o perigo (porque não o vê) podem demover de qualquer empreendimento.

O sábio absorve-se no estudo dos autores antigos; mas que proveito tira ele dessa constante leitura?
Raros conceitos espirituosos, alguns pensamentos requintados, algumas simples puerilidades – eis todo o fruto de sua fadiga.

O louco, ao contrário, tomando a iniciativa de tudo, arrostando todos os perigos, parece-me alcançar a verdadeira prudência.

Homero, embora cego, enxergava muito bem essas verdades: “O tolo – disse ele – aprende à própria custa e só abre os olhos depois de fato.”

Duas coisas, sobretudo, impedem que o homem saiba ao certo o que deve fazer: uma é a vergonha, que cega a inteligência e arrefece a coragem; a outra é o medo, que, indicando o perigo, obriga a preferir a inércia à ação.
Ora, é próprio da Loucura dirimir todas essas dificuldades.

Raros são os que sabem que, para fazer fortuna, é preciso não ter vergonha de nada e arriscar tudo.

Quero observar-vos, além disso, que os que preferem a prudência fundada no julgamento das coisas estão muito longe de possuírem a verdadeira prudência”.





Erasmo de Roterdam Elogio da Loucura.Tradução de Paulo M. de Oliveira. São Paulo: Atena Editora, 1955.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Erasmo_de_Roterd%C3%A3o

sábado, 7 de junho de 2008

MARIANA ALCOFORADO



Mariana Alcoforado
Em
Primeira Carta






“Considera, meu amor, até que ponto foste imprevidente!
Oh!, infeliz, que foste enganado e a mim enganaste também com esperanças ilusórias.
Uma paixão sobre a qual tinhas feito tantos projetos de prazeres não te causa agora mais do que um mortal desespero, só comparável à crueldade da ausência que o provoca.
E esta ausência, para a qual a minha dor, por mais que se esforce, não consegue encontrar um nome assaz funesto, há de então privar-me para sempre de fitar esses olhos onde eu via tanto amor, esses olhos que me faziam saborear emoções que me cumulavam de alegria, que eram o meu tudo, a tal ponto que deles só precisava para viver?

Ai de mim!
Os meus encontram-se privados da única luz que os animava e só lhes restam as lágrimas; não os tenho usado senão para chorar incessantemente desde que soube que estavas decidido a um afastamento que não posso suportar e me fará morrer em pouco tempo.

Parece-me, contudo, que chego até a prezar as desgraças de que és a única causa: dediquei-te a minha vida assim que te vi e sinto algum prazer sacrificando-a a ti”.






ALCOFORADO, Mariana. Cartas Portuguesas. Porto Alegre: L&PM, 1997.

Sobre a autora:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mariana_Alcoforado

EDUARD MUNCH


1910 – têmpera s/prancha – 83,5 x 66 cm.
Autor: EDUARD MUNCH

sexta-feira, 6 de junho de 2008

MICHEL FOUCAULT (2)



Michel Foucault
Em
O Círculo Antropológico






“O último grito de Nietzsche, proclamando-se ao mesmo tempo Cristo e Dioniso, não está nos confins da razão e do desatino, nas linhas de fuga da obra, seu sonho comum, enfim tocado e que logo desaparece, de uma reconciliação dos “pastores da Arcádia e dos pescadores de Tiberíades”; é bem o próprio aniquilamento da obra, aquilo a partir do que ela se torna impossível, é onde deve calar-se; o martelo acabou de cair das mãos do filósofo”.


“A loucura é ruptura absoluta da obra; ela constitui o momento constitutivo de uma abolição, que fundamenta no tempo a verdade da obra; ela esboça a margem exterior desta, a linha de desabamento, o perfil contra o vazio”.


“A loucura não é mais o espaço de indecisão onde podia transparecer a verdade originária da obra, mas a decisão a partir da qual ela irrevogavelmente cessa, permanecendo acima da história, para sempre”.


“Isso não significa que a loucura seja a única linguagem comum à obra e ao mundo moderno (perigo do patético das maldições, perigo inverso e simétrico das psicanálises); mas isso significa que, através da loucura, uma obra que parece absorver-se no mundo, que parece revelar aí seu não-senso e aí transfigurar-se nos traços apenas do patológico, no fundo engaja nela o tempo do mundo, domina-o e o conduz; pela loucura que a interrompe, uma obra abre um vazio, um tempo de silêncio, uma questão sem resposta, provoca um dilaceramento sem reconciliação onde o mundo é obrigado a interrogar-se.
O que existe de necessariamente profanador numa obra retorna através disso e, no tempo dessa obra que desmorona no silêncio, o mundo sente sua culpabilidade”.


“No instante em que, juntas, nascem e se realizam a obra e a loucura, tem-se o começo do tempo em que o mundo se vê determinado por essa obra e responsável por aquilo que existe diante dela”.






FOUCAULT, Michel. História da Loucura. Tradução: José Teixeira Coelho Neto. São Paulo: Editora Perspectiva, 1978.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Foucault

quinta-feira, 5 de junho de 2008

STANISLAW PONTE PRETA (4)



Stanislaw Ponte Preta
Em
Máximas Inéditas de Tia Zulmira







“Há oradores que, terminados os seus discursos deviam ser presos por terem roubado o tempo da gente”.


“Se o Diabo entendesse de mulher não tinha nem rabo nem chifre”.


“Em mulher não se bate nem com uma flor, mesmo porque não adianta nada”.


“Pelo jeito que a coisa vai, breve o terceiro sexo estará em segundo”.


“Quando eu perguntei se ele já tinha tido um caso com ela, ele pronunciou o “não” mais afirmativo que eu já ouvi na minha vida”.


“A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente que eles vêm lutando pelo progresso de nosso subdesenvolvimento”.





PONTE PRETA, Stanislaw. Máximas Inéditas De Tia Zulmira. Desenhos de Jaguar. Prefácio de Sergio Cabral. Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1976.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgio_Porto

quarta-feira, 4 de junho de 2008

KARL MARX



Karl Marx
Em
Miséria da Filosofia






"Uma classe oprimida é a condição vital de toda sociedade baseada no antagonismo das classes.
A libertação da classe oprimida, portanto, implica a criação de uma sociedade nova".


"Quer isso dizer que, após a queda da antiga sociedade, haverá uma nova dominação de classe, ou resumindo, novo poder político?
Não".


"A condição de libertação da classe laboriosa é a abolição de toda classe, assim como a condição de libertação do terceiro estado, da ordem burguesa, foi a abolição de todos os estados e de todas as ordens".


"A classe laboriosa substituirá, no decorrer de seu desenvolvimento, a antiga sociedade civil por uma associação que excluirá as classes e seu antagonismo, e não haverá mais poder político propriamente dito, visto que o poder político é exatamente o resumo oficial do antagonismo na sociedade civil".





MARX, Karl. Miséria da Filosofia. Tradução de Torriero Guimarães. São Paulo: Editora Martin Claret, 2007.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 3 de junho de 2008

MARTIN NIEMÖLLER



Primeiro vieram
( Martin Niemöller )





Primeiro vieram prender os judeus
E eu não levantei minha voz
Porque não era judeu.
Depois vieram prender os comunistas
E eu não levantei minha voz
Porque não era comunista.
Depois vieram prender os homossexuais
E eu não levantei minha voz
Porque não era homossexual.
Depois vieram prender os sindicalistas
E eu não levantei minha voz
Porque não era sindicalista.
Depois vieram prender-me
E já não havia mais ninguém
Que levantasse a voz por mim.




(Tradução de Namibiano Ferreira editor do Blog CORES & PALAVRAS )

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Niem%C3%B6ller

segunda-feira, 2 de junho de 2008

LAURINDO RABELO



A MINHA RESOLUÇÃO
(Laurindo Rabelo)





O que fazes, ó minh’alma?
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato,
Busca outro coração!

Corre o ribeiro suave
Pela terra brandamente,
Se o plano condescendente
Dele se deixa regar;
Mas, se encontra algum tropeço
Que o leve curso lhe prive,
Busca logo outro declive,
Vai correr noutro lugar.

Segue o exemplo das águas.
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras,
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato:
Busca outro coração!

Nasce a planta, a planta cresce,
Vai contente vegetando,
Só por onde vai achando
Terra própria a seu viver;
Mas, se acaso a terra estéril
As raízes lhe é veneno,
Ela vai noutro terreno
As raízes esconder.

Segue o exemplo da planta.
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato,
Busca outro coração!

Saiba a ingrata que punir
Também sei tamanho agravo:
Se me trata como escravo,
Mostrarei que sou senhor;
Como as águas, como a planta,
Fugirei dessa homicida;
Quero dar a um’alma fida
Minha vida e meu amor.





LOUSADA, Wilson (Org.) Cancioneiro do Amor. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1952.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Laurindo_Rabelo