segunda-feira, 9 de junho de 2008

ERASMO DE ROTERDAM (4)



Erasmo de Roterdam
Em
Elogio da Loucura






“Se a prudência consiste no uso comedido das coisas, eu desejaria saber qual dos dois merece mais ser honrado com o título de prudente: o sábio, que, parte por modéstia, parte por medo, nada realiza, ou o louco, que nem o pudor (pois não o conhece) nem o perigo (porque não o vê) podem demover de qualquer empreendimento.

O sábio absorve-se no estudo dos autores antigos; mas que proveito tira ele dessa constante leitura?
Raros conceitos espirituosos, alguns pensamentos requintados, algumas simples puerilidades – eis todo o fruto de sua fadiga.

O louco, ao contrário, tomando a iniciativa de tudo, arrostando todos os perigos, parece-me alcançar a verdadeira prudência.

Homero, embora cego, enxergava muito bem essas verdades: “O tolo – disse ele – aprende à própria custa e só abre os olhos depois de fato.”

Duas coisas, sobretudo, impedem que o homem saiba ao certo o que deve fazer: uma é a vergonha, que cega a inteligência e arrefece a coragem; a outra é o medo, que, indicando o perigo, obriga a preferir a inércia à ação.
Ora, é próprio da Loucura dirimir todas essas dificuldades.

Raros são os que sabem que, para fazer fortuna, é preciso não ter vergonha de nada e arriscar tudo.

Quero observar-vos, além disso, que os que preferem a prudência fundada no julgamento das coisas estão muito longe de possuírem a verdadeira prudência”.





Erasmo de Roterdam Elogio da Loucura.Tradução de Paulo M. de Oliveira. São Paulo: Atena Editora, 1955.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Erasmo_de_Roterd%C3%A3o

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