sábado, 29 de novembro de 2008

JOHN STUART MILL (2)



John Stuart Mill
Em
Da Liberdade.







“Aquele que deixa o mundo ou sua própria porção dele moldar-lhe o plano de vida não tem necessidade de qualquer outra faculdade senão a de imitação, como os macacos.

Quem escolhe para si o próprio plano faz uso de todas as faculdades.

Tem de empregar a observação para ver, o raciocínio e o julgamento para prever, a atividade para reunir materiais para decisão, discriminação para decidir, e quando decidiu, firmeza e autocontrole para manter a decisão deliberada”.




“Espíritos não originais não podem sentir a utilidade da originalidade.

Não são capazes de perceber que importância poderá ter para eles: como lhes seria possível?

Se pudessem perceber o que faria por eles, deixaria de ser originalidade.

O primeiro serviço que pode prestar é abrir-lhes os olhos: o que, uma vez inteiramente conseguido, dar-lhes-ia uma oportunidade de serem por sua vez originais”.




“A média geral dos homens é não só moderada em inteligência, como também em inclinações; não têm gostos ou desejos bastante fortes para incliná-los a fazer algo desusado, e em conseqüência não compreendem os que os têm, classificando todos estes como desmiolados e descomedidos, que estão acostumados a desprezar”.






MILL, John Stuart. Da Liberdade. Tradução de E. Jacy Monteiro. São Paulo: IBRASA, 1963.

Sobre o autor:

http://en.wikipedia.org/wiki/John_Stuart_Mill

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

PIERRE WEIL (2)



Pierre Weil
Em
A Experiência Mística.







“Ainda que apelemos simplesmente ao nosso bom senso, é evidente que se aquilo que denominamos espírito foi o que dominou a energia atômica e descobriu os princípios que nos permitem viajar para outros planetas, esse espírito, evidentemente, é mais poderoso do que as energias que ele observa ou manipula.

Não será, portanto, o conhecimento da natureza do espírito o verdadeiro caminho que nos possibilitará conhecer a natureza da Natureza?

É exatamente isso que afirmam todas as tradições espirituais ao insistirem no preceito “conhece-te a ti mesmo”.

Tomando contato direto com esse microcosmo que somos é que temos acesso ao macrocosmo, pois o primeiro vem a ser uma miniatura do segundo; com efeito, eles são tão inseparáveis quanto são as folhas ou os galhos de uma árvore, ou as ondas do mar”.







WEIL, Pierre. Antologia do Êxtase. Tradução de Patrícia Cenacchi. São Paulo: Palas Athena, 1993.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_Weil

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

OLAVO BILAC (2)



A Avó
(Olavo Bilac)






A avó, que tem oitenta anos,
Está tão fraca e velhinha...
Teve tantos desenganos!
Ficou branquinha, branquinha,
Com os desgostos humanos.

Hoje, na sua cadeira,
Repousa, pálida e fria,
Depois de tanta canseira:
E cochila todo o dia,
E cochila a noite inteira.

Às vezes, porém, o bando
Dos netos invade a sala...
Entram rindo e papagueando:
Este briga, aquele fala,
Aquela dança, pulando...

A velha acorda sorrindo,
E a alegria a transfigura;
Seu rosto fica mais lindo,
Vendo tanta travessura,
E tanto barulho ouvindo.

Chama os netos adorados,
Beija-os, e, tremulamente,
Passa os dedos engelhados,
Lentamente, lentamente,
Por seus cabelos dourados.

Fica mais moça, e palpita,
E recupera a memória,
Quando um dos netinhos grita:
“Oh vovó! Conte uma história!
Conte uma história bonita!”

Então, com frases pausadas,
Conta histórias de quimeras,
Em que há palácios de fadas,
E feiticeiras, e feras,
E princesas encantadas...

E os netinhos estremecem,
Os contos acompanhando,
E as travessuras esquecem,
– Até que, a fonte inclinando
Sobre seu colo, adormecem...







WERNECK, Eugênio. Antologia Brasileira: Coletânea Em Prosa E Verso de Escritores Nacionais. 22ª. Ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1942.
Disponível em:

http://books.google.com.br/books?id=z7lVAAAAMAAJ&printsec=titlepage&source=gbs_summary_r&cad=0

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Olavo_Bilac

terça-feira, 25 de novembro de 2008

THOMAS PAINE



Thomas Paine
Em
Senso Comum.






“Alguns escritores de tal modo confundiram sociedade e governo que entre os dois deixaram pouca ou nenhuma distinção, apesar de, além de diferentes, possuírem origens diversas.

A sociedade é produzida pelas nossas necessidades, e o governo pela nossa maldade; a primeira promove positivamente a nossa ventura, unindo os nossos afetos, enquanto o segundo o faz negativamente refreando os nossos vícios.

A primeira encoraja o intercâmbio, o segundo cria distinções.

A primeira é uma patrocinadora, o segundo um punidor”.





“A sociedade em qualquer estado é uma benção, enquanto o governo, mesmo no seu melhor estado, não passa de mal necessário, sendo, no pior estado, um mal intolerável.

Porque, quando sofremos ou ficamos expostos, por um governo, às mesmas misérias que poderíamos esperar em um país sem governo, a nossa calamidade aumenta pela reflexão de que nós é que fornecemos os meios pelos quais sofremos.

O governo, como a vestimenta, é o emblema da inocência perdida; os palácios dos reis erguem-se sobre as ruínas das choupanas do paraíso”.






PAINE, Thomas. “Senso Comum”. Tradução de A. Della Nina. In. CIVITA, V. (Editor). Federalistas. Textos selecionados por Francisco C. Weffort. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Os Pensadores)

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Paine

CURT HERRMANN


Neue Galerie – Kassel


Bildnis Otto Muller (Efígie de Otto Muller)
1914 – óleo sobre tela – 47 x 35,5 cm.
Autor: Curt Herrmann



Sobre o autor:
http://www.curt-herrmann.com/

MONTAIGNE (2)



Montaigne
Em
Ensaios: Livro primeiro.






“Demócrito e Heráclito eram dois filósofos.

O primeiro, achando que a condição humana é vã e ridícula, apresentava-se sempre em público a rir e motejar.

Heráclito, tomado de piedade por essa mesma humanidade, andava permanentemente triste e de lágrimas nos olhos: “Logo que punham o pé fora de casa, um ria e o outro chorava”.

Prefiro o primeiro, não porque seja mais agradável rir do que chorar, mas porque sua atitude é testemunha de seu desdém, porque ela nos condena mais do que a outra e acho que nunca podemos ser desprezados quanto o merecemos.

Piedade e comiseração misturam-se a alguma estima por aquilo que temos dó; o de que se caçoa, consideramo-lo sem valor.

Penso que há em nós mais vaidade do que infelicidade, mais tolice do que malícia, mais vazio do que maldade, mais vileza do que miséria”.





“Sou de opinião que aos vinte anos nosso espírito já se desenvolveu completamente, já é o que será e mostra de que é capaz.

O espírito que até essa idade não deu demonstração evidente de sua fortaleza, nunca o dará mais tarde”.






MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. Tradução de Sérgio Milliet. 1ª Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1972. (Os Pensadores)

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Eyquem_de_Montaigne

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

FILOLAU DE CROTONA



Filolau de Crotona

(Fragmentos)

Tradução de Isis L. Borges.





”Com natureza e harmonia, dá-se o seguinte: a essência das coisas, que é eterna, e a própria natureza requerem conhecimento divino e não-humano, e seria absolutamente impossível que alguma das coisas existentes se tornasse conhecida por nós, se não existisse a essência das coisas das quais se constituiu o cosmos, tanto das limitadas como das ilimitadas.

Mas, visto que estes princípios não são iguais, nem de iguais famílias, já seria impossível criar-se um cosmos com eles, se não acrescentasse a harmonia, de qualquer maneira que ela tenha vindo a ser.

As coisas iguais e de iguais famílias em nada precisam, pois, de harmonia; mas as desiguais, não de famílias iguais e não igualmente dispostas, são necessariamente fechadas em tal harmonia que se destinam a se conter numa ordem”.





“A harmonia é a unificação de muitos (elementos) misturados e a concordância dos discordantes”.




“Há certos pensamentos mais fortes que nós”.






SOUSA, José Cavalcante de (seleção de textos e supervisão). Os Pré-socráticos. Dados biográficos de Remberto Francisco Kuhnen; traduções de José Cavalcante de Souza... (et al.). 2ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores)

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Filolau

sábado, 22 de novembro de 2008

MANO DÉCIO DA VIOLA / SILAS DE OLIVEIRA



Amor aventureiro
(Mano Décio da Viola / Silas de Oliveira)
(samba, 1975)





Eu inspiro aventura
Respiro com loucura
Oh Deus!
É inocente a criatura

Ajudai-me a esquecer
É um botão em flor
Jamais poderia ser
Meu grande amor

Não!
Não deixe que a tentação
E a malícia
Venham seduzir meu coração

Venham arrebatar a minh’alma
Daí perdida toda a calma
Levam como são
A criatura a perdição







Sobre Mano Décio da Viola:
http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?tabela=T_FORM_A&nome=Mano+D%E9cio+da+Viola


Sobre Silas de Oliveira:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Silas_de_Oliveira

Escute com a Dona Ivone Lara, clicando no linque abaixo:
http://www.goear.com/listen/618e45f/Amor-aventureiro-(Mano-Décio-Silas-de-Oliveira))

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

GIUSEPPE MAZZINI



Giuseppe Mazzini
Em
Deveres do Homem.






“Hoje, sabemos que a lei da Vida é o Progresso; progresso para o indivíduo, progresso para a Humanidade.
A Humanidade cumpre essa Lei na terra; o indivíduo, na terra e fora dela.
Um só Deus; uma só Lei.
Essa Lei se cumpre lentamente, inevitavelmente, na Humanidade, desde o seu primeiro nascimento.
A verdade jamais se manifestou toda ou de golpe.
Uma revelação contínua manifesta, de época em época, um fragmento da Verdade, uma palavra da Lei.
Cada uma dessas palavras modifica profundamente, no caminho do Melhor, a vida humana, e constitui uma crença, uma Fé.
O desenvolvimento da Idéia religiosa é, pois, indefinidamente progressivo; e, como colunas de um templo, as crenças sucessivas, desenvolvendo e purificando cada vez mais essa Idéia, constituirão um dia o Panteon.

São essas algumas das verdades contidas na palavra Progresso, da qual sairá a Religião do Futuro.
Somente nela pode realizar-se a vossa emancipação”.






MAZZINI, Giuseppe. “Deveres do Homem”. Tradução de Antônio Piccarolo e Leonor de Aguiar. In. Pensadores Italianos. Prefácio de Adolfo Rava. Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre: W. M. Jackson Inc. Editores, 1950.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Giuseppe_Mazzini

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

BAUDELAIRE (4)



Charles Baudelaire
Em
O Dândi






“Esses seres não têm outra ocupação senão cultivar a idéia do belo em suas próprias pessoas, satisfazer suas paixões, sentir e pensar.

Possuem, a seu bel-prazer e em larga medida, tempo e dinheiro, sem os quais a fantasia, reduzida ao estado de devaneio passageiro, dificilmente pode ser traduzida em ação.

Infelizmente, é bem verdade que, sem o tempo e o dinheiro, o amor não pode ser mais do que uma orgia de plebeu ou o cumprimento de um dever conjugal.

Em vez da fantasia ardente ou sonhadora, torna-se uma repugnante utilidade”.




“Se falo de amor a propósito do dandismo, é porque o amor é a ocupação natural dos ociosos”.




“Se me referi ao dinheiro, é porque o dinheiro é indispensável aos que cultuam as próprias paixões; mas o dândi não aspira ao dinheiro como a uma coisa essencial; um crédito ilimitado poderia lhe bastar: ele deixa essa grosseira paixão aos vulgares mortais”.




“É antes de tudo a necessidade ardente de alcançar uma originalidade dentro dos limites da conveniência”.



“É o prazer de provocar admiração e a satisfação orgulhosa de jamais ficar admirado”.




“O dandismo é um sol poente; como o astro que declina, é magnífico, sem calor e cheio de melancolia”.






BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade. Sem indicação de tradutor. São Paulo / Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Baudelaire

Sobre “dandismo”:
http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/D/dandismo.htm

terça-feira, 18 de novembro de 2008

LUCRÉCIO



Lucrécio
Em
Da Natureza.






“É bom quando os ventos revolvem a superfície do grande mar, ver da terra os rudes trabalhos por que estão passando os outros; não porque haja qualquer prazer na desgraça de alguém, mas porque é bom presenciar os males que não se sofrem.
É bom também contemplar os grandes combates da guerra travados pelos campos sem que haja de nossa parte qualquer perigo.

Mas nada há de mais agradável do que ocupar os altos e serenos lugares fortificados pelas doutrinas dos sábios, donde se podem ver os mais errar por um lado e outro e procurar ao acaso o caminho da vida, lutar à força de talento, ter rivalidades de nobreza e esforçar-se, com trabalho de dias e de noites, por alcançar as maiores riquezas e apoderar-se do governo.

Ó pobres espíritos humanos, ó cegos corações!
Através de que trevas e perigos se passa o pouco tempo de vida!
Não sente cada um o que a natureza a gritos proclama que esteja sem dor o corpo e goze a mente, fora de medo e de cuidado, de um agradável sentimento?”




“Por isso, visto em nada serem os tesouros úteis ao corpo, nem a nobreza nem a glória de mandar, o que falta é pensar que também não são úteis ao espírito”.








CARO, Tito Lucrécio. “Da Natureza”; Tradução e notas de Agostinho da Silva. Estudos introdutórios de E. Joyau e G. Ribbeck. In. CIVITA, Victor (Editor). Epicuro, Lucrécio, Cícero, Sêneca, M. Aurélio. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os Pensadores)

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lucr%C3%A9cio

ALFREDO VOLPI


Coleção MAC USP

CRiSTO
s/data – óleo sobre têmpera – 81 x 59,5 cm
Autor: Alfredo Volpi

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfredo_Volpi

FERNANDO PESSOA (11)



Fernando Pessoa
Em
Escritos autobiográficos, automáticos e de reflexão pessoal.







“Aqueles que sofrem, aqueles que se consomem, desejam descanso; não desejam o horror da continuação de uma vida pessoal, o ilusório e horrível escárnio do credo cristão.

Todos os homens desejam descanso, repouso.

O descanso, o repouso, é pois a condição da felicidade.

Mas ai! A matéria está em perpétuo movimento.

Quando um homem se mata, não o faz, não pode fazê-lo, na esperança de continuar a viver com a mesma personalidade.

Pode dizer isso, pode agir nesse sentido, mas implicitamente, ao suicidar-se, espera apenas e verdadeiramente anular a sua personalidade, entrar no eterno não – ser.

Ou então alcançar uma vida melhor.

Não é felicidade fugir à personalidade”.





PESSOA, Fernando. Escritos autobiográficos, automáticos e de reflexão pessoal. Edição e colaboração de Richard Zenith, com a colaboração de Manuela Parreira da Silva. Traduções do inglês de Manuela Rocha. São Paulo: Editora Girafa, 2006.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ÓSCAR RIBAS



Óscar Ribas
Em
Ilundu. Espíritos e Ritos Angolanos.






“A ciência de quimbanda, ou seja, a umbanda, transmite-se em sonho quando houve um parente que professou esse ministério.
O predestinado sonha com o mato – o grande reservatório medicinal – e então vê as plantas curativas, os lugares para determinadas funções, as encruzilhadas imprescindíveis a certos ritos.
E com essa umbanda, designada de mufji, isto é, de família, o indivíduo torna-se quimbanda.
E bom.
Quando trabalha, tudo lhe ocorre sobrenaturalmente.
Segredos que egoisticamente os mestres ocultam aos aprendizes, tudo, neste caso, lhe é revelado.

- Não esgotes as conversas no coração. – Diz uma sentença popular.

Os guias tutelares também se manifestam em sonho.
A visão e o efeito não diferem da revelação anterior.
A umbanda assim alcançada chama-se de miondona, ou, portuguesmente, de guias tutelares.

A doação por possessão dá-se por morte de um quimbanda.
Mal acaba de falecer, ou mesmo um breve tempo depois, a sua alma actua sobre quem mais lhe agradou em vida – parente ou não.
Toda a sabedoria e corte de espíritos são-lhe legados inteiramente”.





RIBAS, Óscar Bento. Ilundu. Espíritos e Ritos Angolanos. União dos Escritores Angolanos, 1989.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Oscar_Bento_Ribas

sábado, 15 de novembro de 2008

R. D. LAING



R. D. Laing
Em
O Eu e os Outros.






“A identidade da pessoa não pode ser completamente abstraída de sua identidade-para-os-outros; de sua identidade-para-si-mesma; da identidade que os outros lhe atribuem; da identidade que ela atribui aos outros; da identidade ou identidades que julga que lhe atribuem, ou que pensa que eles pensam que ela pensa que eles pensam...

“Identidade” é aquilo pelo qual a pessoa se sente a mesma, neste lugar, neste momento, como naquele momento e naquele lugar, no passado ou no futuro; é aquilo pelo qual se identifica.
Tenho a impressão de que a maioria das pessoas tende a achar que são os mesmos seres contínuos, desde o nascimento até a morte.
E esta “identidade”, quanto mais fantasiosa, tanto mais defendida será.

A “identidade” torna-se às vezes um “objeto” que alguém possui ou julga que perdeu e se põe a procurar.
Inúmeras fantasias primitivas estão ligadas à identidade e sua objetificação.
A busca de “identidade” tão freqüentemente hoje invocada não passa às vezes de um cenário de fantasia.

Intensa frustração resulta do fracasso na busca daquele “outro” exigido para o estabelecimento de uma “identidade” satisfatória”.






LAING, Ronald David. O Eu e os Outros. O Relacionamento Interpessoal. Tradução de Áurea Brito Weissenberg. Petrópolis, Vozes, Lisboa, Centro dói Livro Brasileiro, 1972.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/R._D._Laing

TERTÚLIAS VIRTUAIS: MEU ÍDOLO


Brasão do Barão de Itararé

Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé

Meu ídolo!

Autor da reflexão:

“O que se leva dessa vida é a vida que se leva”.


Sobre o Barão:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bar%C3%A3o_de_Itarar%C3%A9

Ver também:
http://www.culturabrasil.pro.br/itarare.htm
:
Este post faz parte do "Tertúlias Virtuais" proposta do Varal de Idéias e do Expresso da Linha, que ocorre todo dia 15 de cada mês.

Mais participantes do Tertúlia Virtual, aqui

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

PEDRO ABELARDO



Pedro Abelardo
Em
A História das Minhas Calamidades.


(trechos)





“Havia na cidade de Paris certa mocinha chamada Heloísa, sobrinha de um cônego chamado Fulberto, que quanto mais a amava tanto mais cuidadosamente procurava que ela se adiantasse em toda a ciência das letras, tanto quanto possível”.


“Acreditei que essa mocinha cederia diante de mim tanto mais facilmente quanto eu sabia que ela possuía e amava a ciência das letras”.


“Para que isso acontecesse, tratei com o mencionado tio da moça, por intermédio de alguns dos seus amigos, para que ele me recebesse em sua casa, que ficava próxima da minha escola, por um preço qualquer que ele estipulasse...”.


“Nessa matéria fiquei imensamente admirado com a sua grande ingenuidade, o que não me espantou menos que se ele confiasse uma tenra ovelha a um lobo faminto”.


“Que mais direi?
Primeiro nós nos juntamos numa casa e depois no espírito.
Assim, com a desculpa do ensino, nós nos entregávamos inteiramente ao amor, e ao estudo da lição nos proporcionava as secretas intimidades que o amor desejava”.


“E quanto mais essa volúpia me dominava, tanto menos eu podia consagrar-me à filosofia e ocupar-me da escola”.


“Com efeito, fato tão patente não poderia enganar senão a poucos ou a ninguém, creio, a não ser àquele para cuja vergonha isso concorria principalmente, a saber, o próprio tio da mocinha”.


“Mas o que se vem a saber por último, em todo o caso, sempre se acaba por saber, e não é fácil esconder de uma pessoa aquilo que todos já conhecem”.


”Não muito tempo depois, a mocinha verificou que estava grávida, e logo me escreveu a respeito disso com a maior alegria, querendo saber o que eu próprio resolvia sobre o que devia ser feito.
Assim, certa noite, enquanto o seu tio estava ausente, conforme combináramos, eu a tirei às escondidas da casa do tio e a conduzi sem demora para a minha terra natal, onde ficou a viver junto com minha irmã até quando deu à luz um filho chamado Astrolábio”.


“Enfim, bastante compadecido de sua excessiva inquietação e do engano que o amor lhe infligira como a maior traição, e acusando-me severamente a mim próprio, fui procurar o homem, suplicando-lhe e prometendo-lhe qualquer reparação por tudo isso e que ele próprio decidiria qual devia ser”.


“Ora, logo que nasceu o nosso filho, depois de tê-lo confiado à minha irmã, voltamos ocultamente a Paris e, depois de poucos dias, tendo passado a noite numa igreja entregues a uma secreta vigília de orações, aí mesmo, de madrugada, estando presentes o tio dela e alguns amigos seus e meus, fomos unidos pela benção nupcial”.


“O tio dela, porém, e seus familiares, procurando uma consolação para a sua desonra, começaram a divulgar o matrimônio que havíamos contraído e a violar a respeito disso a palavra que me haviam empenhado”.


“Quando me inteirei do que acontecia, enviei-a para certa abadia de monjas, perto de Paris, chamada Argentuil, onde ela outrora, quando menina, fora educada e instruída”.


“Tendo ouvido o que se passara, o tio dela e os seus parentes ou cúmplices acharam que eu já zombara imensamente deles e que, ao fazê-la monja, eu queria desembaraçar-me dela facilmente.
Donde, profundamente indignados e mancomunados contra mim, certa noite, enquanto eu repousava e dormia num quarto retirado da minha residência, tendo corrompido com dinheiro o meu servidor, puniram-me com a vingança mais cruel e vergonhosa, e de que o mundo tomou conhecimento com o maior espanto, isto é, cortaram aquelas partes do meu corpo com as quais eu havia perpetrado a façanha que eles lamentavam”.


“... mal ainda eu me restabelecera da ferida, que os clérigos vieram ter comigo, solicitando tanto ao meu abade quanto a mim, com súplicas contínuas, para que eu agora me consagrasse ao estudo pelo amor de Deus, já que até então eu só o fizera pela ambição do dinheiro e do louvor”.


“Eles observavam que eu agora reconheceria ter sido tocado pela mão do Senhor principalmente para que, mais livre dos prazeres carnais e afastado da vida tumultuosa do mundo, eu pudesse dedicar-me ao estudo das letras e tornar-me verdadeiramente um filósofo de Deus e não do mundo”.







ABELARDO, Pedro. “A História das Minhas Calamidades”. Tradução do Prof. Dr. Ruy Afonso da Costa Nunes. In. CIVITA, Victor (Editor). Santo Anselmo de Cantuária, Pedro Abelardo. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os Pensadores)


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Abelardo

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

AUGUSTO DOS ANJOS (2)



PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
(Augusto dos Anjos)






Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!







ANJOS, Augusto dos. Eu.
Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn00054a.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_dos_Anjos

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

OSWALD SPENGLER



Oswald Spengler
Em
A Decadência do Ocidente.







“Se Nietzsche houvesse observado os seus tempos, com maior liberdade de preconceitos, menos influenciado pelo romântico entusiasmo por certas criações éticas, teria notado que não existe em solo da Europa ocidental aquela moral da compaixão, supostamente cristã, tal como se lhe afigurava.

O texto literal de determinadas convicções humanas não nos deve iludir quanto ao seu significado real.

Só raras vezes um homem sabe o que crê”.





“A oposição primordial entre o elemento cósmico e o microcosmo determina também a relação entre o homem e a mulher.

A mulher é destino, é tempo, é a lógica orgânica do próprio devir.

A história sem cultura das gerações sucessivas é feminina.

O homem vive o destino e compreende a lógica do que deveio; concebe a causalidade conforme a motivações e efeitos.

Mas a luta entre o homem e a mulher realiza-se sempre pelo sangue, pela mulher.

A mulher é história, o homem faz história”.





“A história “feminina” é cósmica; a “masculina” é política”.







SPENGLER, Oswald. A Decadência do Ocidente. Edição condensada por Helmut Webner. Tradução de Herbert Caro. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Oswald_Spengler

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 11 de novembro de 2008

ZEZÉ DI CAMARGO



É O AMOR
(Composição de Zezé Di Camargo)





Eu não vou negar
Que sou louco por você
Tô maluco pra te ver
Eu não vou negar

Eu não vou negar
Sem você tudo é saudade
Você traz felicidade
Eu não vou negar

Eu não vou negar
Você é meu doce mel
Meu pedacinho de céu
Eu não vou negar

Você é minha doce amada
Minha alegria
Meu conto de fada, minha fantasia
A paz que eu preciso pra sobreviver

Eu sou o seu apaixonado
De alma transparente
Um louco alucinado
Meio inconseqüente
Um caso complicado de se entender

É o Amor
Que mexe com minha cabeça
E me deixa assim
Que faz eu pensar em você
E esquecer de mim
Que faz eu esquecer
Que a vida é feita pra viver

É o Amor
Que veio como um tiro certo
No meu coração
Que derrubou a base forte
Da minha paixão
E fez eu entender que a vida
É nada sem você







Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Zez%C3%A9_Di_Camargo

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

ALLAN KARDEC



Allan Kardec
Em
A Gênese






"O simples fato de poder o homem comunicar-se com os seres do mundo espiritual traz conseqüências incalculáveis da mais alta gravidade; é todo um mundo novo que se nos revela e que tem tanto mais importância, quanto a ele hão de voltar todos os homens, sem exceção.

O conhecimento de tal fato não pode deixar de acarretar, generalizando-se, profunda modificação nos costumes, caráter, hábitos, assim como nas crenças que tão grande influência exerceu sobre as relações sociais.

É uma revolução completa a operar-se nas idéias, revolução tanto maior, tanto mais poderosa, quanto não se circunscreve a um povo, nem a uma casta, visto que atinge simultaneamente, pelo coração, todas as classes, todas as nacionalidades, todos os cultos.

Razão há, pois, para que o Espiritismo seja considerado a terceira das grandes revelações".






KARDEC, Allan. A Gênese. Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro da 5a.edição francesa. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1995.
Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000018.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Allan_Kardec

sábado, 8 de novembro de 2008

GROUCHO MARX



Groucho Marx
Em
Memórias de um amante desastrado.






“Na medicina os estilos mudam quase tanto como as roupas femininas.
A panacéia da saúde de hoje torna-se a beladona fatal de amanhã”.



“Justiça seja feita, devo dizer que meu pai nunca, por um momento sequer, pensou seriamente em vender os filhos e fugir.
“O que me dariam por esses cinco garotos usados?”, sua voz ecoou por toda a velha mansão arruinada.
“Acho que vou ficar por aqui mesmo”.



“Nessa época, muito se especulava sobre a forma da Terra.
É claro, caro leitor, que este não é o lugar adequado para expor teorias próprias, e nem gostaria que as coisas que digo se espalhassem por aí, mas minha mente não tem dúvida de que a Terra é um perfeito triangulo.
E se é prova que você quer, tenho muitas.
Por que é que todos os peixes nadam debaixo d’água?
Por que é que as pessoas vão à Flórida no inverno e a Quebec no verão, ou vice-versa?
Por que é que uma pessoa nunca faz uma quadra de ases sem tirar três ases e meio da manga?
É só fazer essas perguntas a alguém que acha que o mundo é redondo, e ver o que ele responde.

Não espero que você entenda o significado do que acabo de escrever, até que tenha lido o parágrafo acima algumas vezes.
Pessoalmente, acho que você seria um idiota se o fizesse.
Eu mesmo o li seis vezes e ainda não entendi”.






MARX, Julius Henry. Memórias de um Amante Desastrado. Tradução de José Simão e Bira Borges. 2ª. Edição. São Paulo: Marco Zero, 1990.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Groucho_Marx

THOMAS GAINSBOROUGH


Fitzwilliam Museum at the University of Cambridge, UK


Heneage Lloyd and his sister
c.1750 – óleo sobre tela – 64,1 x 81,0 cm.
Autor: Thomas Gainsborough


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Gainsborough

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

KAFKA (3)



Franz Kafka
Em
A Questão das Leis







“Nossas leis em geral não são conhecidas: constituem um segredo da pequena aristocracia que nos governa”.



“Estamos certos de que essas velhas leis são fielmente observadas, mas de qualquer modo é uma coisa extremamente desagradável a gente ser governada por leis que não conhece.

Não quero com isso referir-me às diferentes maneiras pelas quais pode ser feita a interpretação dos códigos, nem às desvantagens implícitas no fato de apenas uma minoria e não todo o povo ter direito de voz na respectiva interpretação; essas desvantagens talvez não sejam tão grandes.

Pois que as leis são muito antigas, a sua interpretação tem sofrido o rigor dos séculos e naturalmente adquiriu também força de lei; embora ainda seja possível certa liberdade ao interpretá-las, essa liberdade resulta muito limitada.

Mesmo porque os aristocratas não têm nenhuma razão plausível para se deixarem influenciar, na interpretação, por interesses pessoais contrários aos nossos – visto que as leis já foram feitas em favor dos aristocratas, desde o princípio, e eles próprios estão acima das leis, sendo possivelmente esta a razão pela qual têm a lei exclusivamente em suas mãos.

Decerto vai sabedoria nisso (quem poria em dúvida a sabedoria das vetustas leis?), mas também vai para conosco certa dureza, provavelmente inevitável”.







KAFKA, Franz. Parábolas e Fragmentos. Tradução e Introdução de Geir Campos. Ilustrações: POTY. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1967.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_Kafka

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

RICHELIEU



Richelieu
Em
Testamento Político.






“Não há peste tão capaz de arruinar um Estado, quanto os aduladores, maldizentes, e certos espíritos que não têm outro desígnio sanão formar cabalas e intrigas nas cortes em que vivem.
São tão industriosos a espalhar seu veneno, por diversas formas imperceptíveis, que é difícil obter-se garantia contra eles sem tomar cuidado de muito perto”.



“Não é suficiente aos grandes príncipes nunca abrirem a boca para mal falar seja de quem for, mas a razão requer que fechem os ouvidos às maledicências e às intrigas, banindo e expulsando àqueles que são autores, como pestes perigosas que envenenam as cortes e o coração dos príncipes, e o espírito de todos aqueles que dele se aproximam”.



“Assim, se se castigam todos aqueles que faltarem à satisfação de seus deveres e obrigações, castigados serão poucos porque poucos se encontram que de coração alegre se exponham à sua perda, quando a saibam inevitável, e, com a morte de poucos, a muitos se terá conservado a vida, bem como a ordem em todas as coisas”.






RICHELIEU. Testamento Político. Tradução e Apêndice de David Carneiro. São Paulo: Atena Editora, 1956.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cardeal_de_Richelieu

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

HEGEL (4)



HEGEL
Em
A Fenomenologia do Espírito.






“O elemento e conteúdo da filosofia não é o abstrato ou o inefetivo, mas o efetivamente real, o que se põe a si mesmo e é vivente em si, o existir no seu conceito.

O elemento da filosofia é o processo que produz os seus momentos e os percorre, e esse movimento total constitui o positivo e a verdade do mesmo positivo.

Tal positivo contém igualmente em si o negativo, que deveria ser chamado o falso, se o falso pudesse ser tratado como algo do qual se devesse abstrair.

Ao contrário, o que está desaparecendo é que deve ser tratado como essencial, não na determinação de algo fixo, separado do verdadeiro e que deve ser deixado fora dele, não se sabe bem onde, assim como o verdadeiro não deve ser considerado como o positivo morto, que jaz inerte da outra parte.

A aparição é o movimento do surgir e do passar que não surge e nem passa mas é em si, e constitui a efetividade e o movimento da vida da verdade.

O verdadeiro é, assim, o delírio báquico no qual não há membro que não esteja embriagado, e porque cada membro, na medida em que se separa, imediatamente se dissolve, é igualmente o repouso translúcido e simples.

No tribunal desse movimento as figuras singulares do Espírito, bem como os pensamentos determinados, não se mantêm, mas, do mesmo modo como existem negativamente e em vias de desaparecer, são também momentos positivos necessários.

No todo do movimento compreendido como repouso, o que se distingue no movimento e confere a si mesmo um existir particular é conservado como algo que se interioriza na recordação, cujo existir é o saber de si mesmo, do mesmo modo como esse saber é imediatamente existir”.





HEGEL, G. W. F. “A Fenomenologia do Espírito”. Seleção, tradução e notas de Henrique Cláudio de Lima Vaz. In. _________ Hegel. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os pensadores).

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Wilhelm_Friedrich_Hegel

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 4 de novembro de 2008

LUÍS DE CAMÕES (6)



SONETO 98
(Luís de Camões)






Verdade, Amor, Razão, Merecimento
Qualquer alma farão segura e forte,
Porém Fortuna, Caso, Tempo e Sorte
Têm do confuso mundo o regimento.

Efeitos mil revolve o pensamento,
E não sabe a que causa se reporte;
Mas sabe que o que é mais que vida e morte
Que não o alcança humano entendimento.

Doutos varões darão razões subidas,
Mas são experiências mais provadas,
E por isto é melhor ter muito visto.

Cousas há i que passam sem ser cridas,
E coisas cridas há sem ser passadas.
Mas o melhor de tudo é crer em Cristo.





CAMÕES, Luís de. Obra Completa. Organização, introdução, comentários e anotações do Prof. Antônio Salgado Júnior. Rio de Janeiro: Companhia Aguilar Editora, 1963.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

KRISHNAMURTI



Krishnamurti
Em
O medo.






“Assim, o homem que deseja compreender a morte tem de compreender a vida.
E o viver não é isso que chamamos “viver”, esse campo de batalha existente tanto em nosso interior como exteriormente.
O viver é coisa inteiramente diferente, na qual nenhum medo existe.
E para nos livrarmos do medo temos de estar livre desde o começo, para podermos examiná-lo, investigá-lo, penetrá-lo.
Vê-se então que viver é morrer, porque o viver é de momento em momento.
O que tem continuidade é o desespero e não o viver; e quando há desespero, é claro que há pensamento.
É desse modo que se cria o círculo vicioso do pensamento.
O problema da vida consiste unicamente em operar-se uma mutação, não numa data futura, porém imediatamente, instantaneamente; e essa mutação instantânea só pode verificar-se quando estais completamente atento”.



“Para compreenderes a vida, não podeis negar a vida.
Para compreendê-la, tendes de vivê-la.
E não podeis vivê-la se não sois livre, livre desde o começo, desde a infância mesmo, para olhar, observar, escutar, sentir.
Em virtude desses observar, escutar, olhar, a pessoa se torna delicada, afetuosa, atenciosa, cortês: Há então um próximo.
Onde há consideração há afeição, e esta não é produto do intelecto.
E, quando tendes tal afeição, talvez então daí provenha o amor – não no tempo, não amanhã”.







KRISHNAMURTI, Jiddu. Viagem por um Mar Desconhecido. Tradução de Hugo Veloso. São Paulo: Editora Três, 1973.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jiddu_Krishnamurti

sábado, 1 de novembro de 2008

GIBRAN KHALIL GIBRAN



Gibran Khalil Gibran
Em
Uma Lágrima e um Sorriso.




O Primeiro Beijo




“É o primeiro sorvo da taça que os deuses encheram com o elixir do amor.
É o limite que separa a dúvida que persegue e entristece o coração da certeza que o ilumina e alegra.
É o primeiro verão do poema da vida espiritual, e a primeira cena do maior dos dramas humanos.
É o traço de união entre um passado de expectativa e um futuro de esplendor, entre o silêncio dos sentimentos e suas canções.


É uma palavra que quatro lábios pronunciam ao mesmo tempo, fazendo do coração um trono, e do amor, um soberano, e da felicidade, uma coroa.
É uma carícia meiga, similar à passagem da brisa sobre as pétalas das rosas, uma carícia que é um suspiro prolongado e voluptuoso e um gemido leve e envolvente.
É o início de vibrações mágicas que transportam os enamorados dos mundos dos pesos e medidas ao mundo da inspiração e dos sonhos.
É a união da anêmona com a flor da romãzeira e a mistura de seus hálitos para a criação de um terceiro hálito...


E se o primeiro olhar se assemelha a uma semente que os deuses do amor plantam no coração humano, o primeiro beijo é como a primeira flor na ponta do primeiro ramo da árvore da vida”.





GIBRAN, Gibran Khalil. Uma Lágrima e um Sorriso. Tradução e apresentação de Mansur Chalita. Rio de Janeiro: Associação Cultural Internacional Gibran, 1977.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Khalil_Gibran

VICTOR EMIL JANSSEN



Kunsthalle, Hamburg


Selbstporträt vor der Staffelei
(Auto-Retrato na frente do cavalete)
c.1828 – óleo sobre tela – 57 x 32 cm.
Autor: Victor Emil Janssen

Sobre o autor:
Pintor alemão, nascido em 11 / 6 / 1807 em Hamburg, falecido na mesma cidade em 23 / 9 / 1845. Trabalhou em Münchem, Rom e Hamburg.