quinta-feira, 31 de julho de 2008

ESPINOSA (2)



Espinosa
Em
Ética – Parte IV







“A glória não repugna à Razão, mas pode nascer dela”.


“Aquilo a que se chama a vanglória é um contentamento que é alimentado somente pela opinião do vulgo; cessando esta, cessa o contentamento, isto é, o bem supremo, que cada um ama; donde se segue que aquele que se gloria com a opinião do vulgo, atormentado por um temor cotidiano, se esforça, se agita e tenta conservar essa fama.

Com efeito, o vulgo é mutável e inconstante e, por conseguinte, se se não conserva a fama, ela apaga-se depressa.


Mais ainda, visto que todos desejam ganhar os aplausos do vulgo, facilmente um rebaixa a fama do outro; e como eles lutam pelo bem que se julga ser soberano, daí vem o imenso desejo de se oprimirem uns aos outros, seja de que maneira for.


Aquele que, por fim, sai vencedor gloria-se mais por ter prejudicado outrem que por ter feito bem a si mesmo.


Portanto, esta glória ou contentamento é, de fato, vã, porque não existe”.







ESPINOSA, Benedictus de. Ética – Parte IV. Tradução de Antônio Simões. In. ___________ Pensamentos metafísicos; Tratado da correção do intelecto; Ética; Tratado político; Correspondência. Seleção de textos de Marilena de Souza Chuaí. Traduções de Marilena da Souza Chuaí [et al.] 2ª. Edição. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bento_de_Espinosa

quarta-feira, 30 de julho de 2008

FLORBELA ESPANCA (7)



Florbela Espanca
Em
He hum não querer mais que bem querer





X


Eu queria mais altas as estrelas,
Mais largo o espaço, o Sol mais criador,
Mais refulgente a Lua, o mar maior,
Mais cavadas as ondas e mais belas;

Mais amplas, mais rasgadas as janelas
Das almas, mais rosais a abrir em flor,
Mais montanhas, mais asas de condor,
Mais sangue sobre a cruz das caravelas!

E abrir os braços e viver a vida:
- Quanto mais funda e lúgrube a descida,
Mais alta é a ladeira que não cansa!

E, acabada a tarefa… em paz, contente,
Um dia adormecer, serenamente,
Como dorme no berço uma criança!






ESPANCA, Florbela. Sonetos. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2005.

Sobre a autora:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca

AMADEU DE SOUZA-CARDOSO


Museu Municipal Souza-Cardoso Amarante, Portugal

Retrato de Francisco Cardoso
c. 1912 – óleo sobre cartão – 35 x 27 cm.
Autor: Amadeu de Souza-Cardoso

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Amadeo_de_Souza-Cardoso



terça-feira, 29 de julho de 2008

LEON ELIACHAR (2)



Leon Eliachar
Em
O Homem Ao Zero






“O fuzilamento é um processo de matar o sujeito que escapa da guerra – ao invés de morrer distraído, morre prevenido”.

“Existem guerras famosas: a de 14, porque sobraram catorze; a dos Cem Anos, que quando acabou só tinha velhinho, e a de 39 – que todo mundo pensa que acabou”.

“Democracia é essa forma de governo onde todos concordam em discordar um do outro, mas não convém discordar muito, senão acaba a democracia”.

“Num julgamento, o réu fica horas assistindo à discussão de dois advogados, sendo que um deles lhe faz uma série de acusações que ele nunca praticou enquanto o outro lhe atribui uma série de qualidades que ele nunca mereceu”.

“Alguns homens são tão espertos que conseguem burlar a mulher e burlar a lei – e acabam se burlando a si próprios, pois casam de novo”.

“Pediatra é um sujeito de profissão difícil: tem de agradar as mães sem prejudicar a saúde das crianças”.






ELIACHAR, Leon. O Homem Ao Zero. São Paulo: Círculo do Livro, 1963.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Leon_Eliachar

segunda-feira, 28 de julho de 2008

KEN KNABB



Ken Knabb
Em
A Alegria da Revolução






“Examinados mais detalhadamente, sem dúvida, a maior parte dos exemplos de opressão de uma minoria não se deve ao domínio da maioria, mas ao domínio encoberto de uma minoria, uma situação em que uma elite dominante joga com antagonismos raciais ou culturais de forma a dirigir as frustrações das massas exploradas umas contra as outras.

Quando as pessoas têm poder real sobre suas próprias vidas surgem coisas mais importantes do que perseguir minorias”

.


“Escrever te permite desenvolver idéias em teu próprio ritmo, sem se preocupar com tua habilidade oratória ou medo do público.

Podes expressar uma idéia de uma vez por todas em vez de ter de repeti-la constantemente.

Se for necessária a discrição, um texto pode ser lançado anonimamente.

As pessoas podem lê-lo em seu próprio ritmo, parar e pensar sobre ele, voltar atrás e revisar pontos específicos, reproduzi-lo, adapta-lo, recomenda-lo a outros, etc.

O discurso falado pode gerar uma reação mais rápida e precisa, mas pode também dispersar tua energia, te impedir de se concentrar e de executar tuas idéias.

Aqueles que são escravos da mesma rotina que te escraviza tendem a resistir a teus esforços por escapar porque teu êxito desafiaria a passividade deles”.







KNABB, Ken. A Alegria da Revolução. Versão em língua portuguesa de The Joy of Revolution (visions of a liberated society and how we might get there). 1997. Tradução de Railton Sousa Guedes. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/eb000006.pdf



Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Ken_Knabb

RABISCOS NO BLOCO


sábado, 26 de julho de 2008

DAVID HUME (2)



David Hume
Em
Ensaio Sobre o Entendimento Humano







“O mero filósofo é geralmente uma personalidade pouco admissível no mundo, pois se supõe que ele em nada contribui para o benefício ou para o prazer da sociedade, porquanto vive distante de toda comunicação com os homens e envolto em princípios e noções igualmente distantes de sua compreensão.

Por outro lado, o mero ignorante é ainda mais desprezado, pois não há sinal mais seguro de um espírito grosseiro, numa época e uma nação em que as ciências florescem, do que permanecer inteiramente destituído de toda espécie de gosto por estes nobres entretenimentos.

Supõe-se que o caráter mais perfeito se encontra entre estes dois extremos: conserva igual capacidade e gosto para os livros, para a sociedade e para os negócios; mantém na conversação discernimento e delicadeza que nascem da cultura literária; nos negócios, a probidade e a exatidão que resultam naturalmente de uma filosofia conveniente”.







HUME, David. Ensaio Sobre o Entendimento Humano. Tradução de Anoar Aiex. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000027.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Hume

sexta-feira, 25 de julho de 2008

MANUEL BANDEIRA (12)



NÃO SEI DANÇAR
(Manuel Bandeira)






Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria...
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.

Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.
Perdi a saúde também.
É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.

Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda.

Mistura muito excelente de chás...
Esta foi açafata...
- Não, foi arrumadeira.
E está dançando com o ex-prefeito municipal.
Tão Brasil!

De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil...

Há até a fração incipiente amarela
Na figura de um japonês.
O japonês também dança maxixe:
Acugêlê banzai!
A filha do usineiro de Campos
Olha com repugnância
Para a crioula imoral.

No entanto o que faz a indecência da outra
É dengue nos olhos maravilhosos da moça.
E aquele cair de ombros...
Mas ela não sabe...
Tão Brasil!

Ninguém se lembra de política...
Nem dos oito mil quilômetros de costa...
O algodão do Seridó é o melhor do mundo?... Que me importa?
Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.
A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
Eu tomo alegria!






BANDEIRA, Manuel Estrela da Vida Inteira. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1979.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

VICTOR HUGO



Victor Hugo
Em
O Último dia de um condenado à morte






“O que podem alegar a favor da pena de morte?”


“Os que julgam e condenam dizem a pena de morte necessária.
Em primeiro lugar, porque é importante eliminar da comunidade social um membro que já prejudicou e que poderia prejudicá-la outra vez.
Se se tratasse apenas disso, a prisão perpétua seria suficiente.
Para que a morte?
Retrucam que se pode escapar de uma prisão?
Melhorem as rondas!
Se não têm confiança na solidez das grades, como ousam manter feras em cativeiro?

Nada de carrasco onde basta o carcereiro.

Mas, objetam eles – é preciso que a sociedade se vingue, que a sociedade puna.
– Nem uma coisa nem outra.
A vingança cabe ao indivíduo, a punição a Deus.

A sociedade está entre os dois.
O castigo está acima dela, a vingança abaixo.
Nada tão grande nem tão pequeno lhe convém.
Não deve “punir para vingar-se”; deve corrigir para melhorar”.


“– Tem que haver exemplos!
Tem que apavorar pelo espetáculo da sorte reservada aos criminosos aqueles que poderiam cair na tentação de imitá-los!

Esta é quase textualmente a eterna frase cujas variações mais ou menos sonoras ouvimos em todos os requisitórios dos quinhentos tribunais da França!
Pois bem!
Primeiro, negamos que haja exemplo.
Negamos que o espetáculo dos suplícios produza o efeito esperado.
Longe de edificar o povo, desmoraliza-o e arruína nele qualquer sensibilidade, portanto qualquer virtude”.





HUGO, Victor-Marie. O Último dia de um condenado à morte. Tradução de Annie Paulette Maria Cambe. Rio de Janeiro: Newton Compton Brasil, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Victor_Hugo

JAMES ABBOT Mc NEILL WHISTLER


The Taft Museum of Art , Cincinnati, Ohio


AT THE PIANO
1858-59 – óleo sobre tela – 67 x 91,6 cm
Autor: JAMES ABBOT McNEILL WHISTLER

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/James_Abbott_McNeill_Whistler

quarta-feira, 23 de julho de 2008

THOMAS MERTON



Thomas Merton
Em
Homem Algum É Uma Ilha







“A verdade, que eu amo ao amar meu irmão, não pode ser uma coisa meramente abstrata e filosófica.
Deve ser, ao mesmo tempo, sobrenatural e concreta, prática e sensível.
Não entendo estes termos em sentido metafórico.
A verdade que devo amar em meu irmão é Deus mesmo, vivo nele.
Devo buscar a vida do Espírito de Deus que nele respira.
E só posso discernir e seguir esta vida misteriosa, graças à ação do mesmo espírito santo, vivo e atuando nas profundezas do meu coração”.


“O meu livre arbítrio, ao coordenar livremente a sua ação com a vontade dos outros, consolida e aperfeiçoa a sua própria autonomia.
Algo há na própria natureza da minha liberdade, que me inclina a amar, a fazer o bem, a dedicar-me a outrem.
Tenho um instinto que me diz que sou menos livre quando estou vivendo para mim só.
A razão é que eu não posso ser de todo independente.
Desde que não me basto a mim mesmo, dependo de algum outro para minha plenitude.
A minha liberdade não é completamente livre quando entregue a si mesma.
Ela só se torna tal, quando posta em justa relação com a liberdade de outro”.






MERTON, Thomas. Homem Algum É Uma Ilha. Tradução de Timóteo Amoroso Anastácio O. S. B. 2ª.Ed. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1958.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Merton

Ver também:
http://www.reflexoes-merton.blogspot.com/

terça-feira, 22 de julho de 2008

ABADE DE JAZENTE (homenagem à Dercy Gonçalves)



Soneto Ascoroso
(Abade de Jazente)






Piolhos cria o cabelo mais dourado;
Branca remela o olho mais vistoso;
Pelo nariz do rosto mais formoso
O monco se divisa pendurado:

Pela boca do rosto mais corado
Hálito sai, às vezes bem ascoroso;
A mais nevada mão é sempre forçoso
Que de sua dona o cu tenha tocado;

Ao pé dele a melhor natura mora,
Que deitando no mês podre gordura,
Fétido mijo lança a qualquer hora:

Caga o cu mais alvo merda pura:
Pois se é isto o que tanto se namora,
Em ti mijo, em ti cago, oh formosura!






Disponível em:
http://pt.wikisource.org/wiki/Piolhos_cria_o_cabelo_mais_dourado

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Abade_de_Jazente

Ver também:
http://www.cm-amarante.pt/pageGen.asp?SYS_PAGE_ID=818690

RABISCOS NO BLOCO


segunda-feira, 21 de julho de 2008

CARNAP (2)



CARNAP
Em
Sentido e Verificação






“Cometemos o erro de pensar que conhecemos o sentido de uma frase ou sentença, ou seja, que a compreendemos como uma proposição, quando estamos familiarizados com todos os termos que nela ocorrem.
Não conduzirá isto a confusão ou erro enquanto permanecermos no âmbito da vida de cada dia que formou as nossas palavras e para o qual estas são adequadas; entretanto, tornar-se-à fatal no momento em que tentarmos refletir sobre problemas abstratos com os mesmos termos, sem fixar diligentemente o seu significado para a nova finalidade.


Com efeito, cada palavra tem um determinado sentido ou significação somente dentro de um contexto definido no qual foi inserida e ao qual foi adaptada; em qualquer outro contexto carecerá inteiramente de significação, a não ser que formulemos novas normas para o emprego da palavra no mesmo caso; ora, isto pode ser feito, ao menos em princípio, de maneira muito arbitrária”.


“Dessa forma, toda vez que fazemos, com respeito a uma frase, a pergunta, “Que significa ela?”, o que esperamos é uma indicação das circunstâncias nas quais a frase deve ser empregada; desejamos uma descrição das condições em que a frase ou sentença formará uma proposição verdadeira, e das condições em que a proposição é falsa”.


“Enunciar o sentido de uma frase equivale a estabelecer as normas segundo as quais a frase deve ser empregada, o que significa enunciar a maneira pela qual se pode constatar a sua verdade (ou a sua falsidade).
O significado de uma proposição constitui o método da sua verificação”.







CARNAP, R. “Sentido e Verificação”. In. Schlick e Carnap. Seleção de Paulo Rubén Mariconda. Traduções de Luís João Baraúnas e Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Editora Abril, 1980. (Os Pensadores)

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rudolf_Carnap

sábado, 19 de julho de 2008

DOLORES DURAN



A Noite do meu bem
(canção)
(Dolores Duran)







Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero paz de criança dormindo
E o abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ah! Eu quero amor, o amor mais profundo
Eu quero toda beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem

Ah! Como esse bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda a ternura que eu quero lhe dar






Sobre a autora:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dolores_Duran

sexta-feira, 18 de julho de 2008

NIETZSCHE (16)



Friedrich Nietzsche
Em
A Minha Irmã e Eu






“A mim próprio pergunto: acaso eu teria odiado com tanto ardor e afinco o cristianismo se não me rendesse tão completamente aos seus afagos, nos inocentes dias da infância?”


“Se eu tivesse cedido aos apelos dessa natureza primária que há em todos os homens e querer estar em paz com o status quo, tanto poderia ter sido músico como teólogo.
Mas em qualquer das coisas chegaria, por certo, a ser muito medíocre.
A escolha final, que me converteu em filósofo, é realmente um ato de profunda covardia.
Em primeiro lugar, eu tinha medo de nunca poder chegar à grandeza de um Wagner; em segundo lugar, não me admitia como segundo violino de nada, nem mesmo de Deus”.


“Nunca deixei de me educar, e mesmo de pés para a cova e enquanto o fluxo da transfiguração persistir, o meu juízo sobre a vida vai se alternando com o tumulto dos fatos que me rodeiam.
A minha mortalha está em curso e pouco falta para me juntar aos antepassados, mas o meu cérebro ainda trabalha e agita idéias complexas”.


“Durante toda a vida lutei contra este conceito de igualdade; travei um desesperado combate para manter o espaço social, a sensação de distancia entre mim e os meus inferiores.
Agora, porém, que homem na terra me é inferior?
Tenho os membros paralisados, o cérebro fendido e esta grande cabeça, a maior desde Aristóteles, a ser amassada com a massa da imbecilidade”.


“Tudo isto é magnífico e nobre, mas realmente desejo uma mulher, seja ela quem for”.






NIETZSCHE, F. A Minha Irmã e Eu. Tradução de Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Ed. Moraes Ltda.1992.

OTTO DIX

Metropolitan Museum of Art Nova York


Nelly
1924 – litogravura – 28,3 x 20,3 cm.
Autor: Otto Dix

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Otto_Dix

quinta-feira, 17 de julho de 2008

MÁRIO QUINTANA (9)



O RIO
(Mário Quintana)





A morte é um rio onde a gente
Embarca de olhos fechados.
Se queres partir contente
Nada deixes deste lado.
É deste lado de cá
Que moram nossos cuidados.
Penas que amor nos deixou
São penas que o vento trouxe
São penas pelo vento levadas.
Fecha os olhos bem fechados
Basta de tantas rimas em “ados”
Dorme o teu sono profundo
Longe, cada vez mais longe
Deste mundo e seus cuidados.





QUINTANA, Mário. A Cor Do Invisível. Rio de Janeiro: Globo, 1989.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

MIKHAIL BAKUNIN (3)



Mikhail Bakunin
Em
A ilusão do sufrágio universal







“Toda decepção com o sistema representativo está na ilusão de que um governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular devem e podem representar a verdadeira vontade do povo.

Instintiva e inevitavelmente, o povo espera duas coisas: a maior prosperidade possível combinada com a maior liberdade de movimento e ação.

Isto significa a melhor organização dos interesses econômicos populares, e a completa ausência de qualquer organização política ou de poder, já que toda organização política se destina à negação da liberdade.

Estes são os desejos básicos do povo.

Os instintos dos governantes, sejam legisladores ou executores das leis, são diametralmente opostos por estarem numa posição excepcional.

Por mais democráticos que sejam seus sentimentos e suas intenções, atingida uma certa elevação de posto, vêem a sociedade da mesma forma que um professor vê seus alunos, e entre professor e os alunos não há igualdade”.




“Quem fala de poder político, fala de dominação.

Quando existe dominação, uma grande parcela da sociedade é dominada e os que são dominados geralmente detestam os que dominam, enquanto estes não têm escolha, a não ser subjugar e oprimir aqueles que dominam”.



“Isto é, o que também explica como e porque os democratas mais radicais, os rebeldes mais violentos, se tornam os conservadores mais cautelosos assim que obtêm o poder.
Tais retratações são geralmente consideradas atos de traição, mas isto é um erro.
A causa principal é apenas a mudança de perspectiva”.






BAKUNIN, Mikhail. A Ilusão do Sufrágio Universal. Sem indicação de tradutor. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000067.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mikhail_Aleksandrovitch_Bakunin

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 15 de julho de 2008

HIPÓCRATES (2)



Hipócrates


Aforismos




“A vida é curta, a Arte é longa, a ocasião fugidia, a experiência enganadora, o julgamento difícil.
È preciso fazermos não somente o que é conveniente, mas, fazermos com que o doente, os assistentes e as coisas exteriores concorram para isto”.


“Uma dieta longa e restrita é perigosa, sempre, nas doenças longas e entre as doenças agudas, naquelas em que não é indicada.
A dieta levada ao extremo de atenuação é prejudicial, como as reparações ao extremo limite são também perigosas”.


“Numa dieta excessivamente rigorosa os doentes cometem infrações, sofrendo mais com isto, porque toda infração, seja qual for, é proporcionalmente maior do que nas dietas um pouco mais nutriente.
Mesmo em estado de saúde, as dietas muito rigorosas, reguladas e limitadas, não são viáveis, porque se suportam as infrações com mais dificuldade; de um modo geral, as dietas longas e restritas são menos eficientes do que as dietas um pouco mais nutrientes”.


“Os velhos suportam mais facilmente o jejum, depois os adultos, em seguida os jovens, as crianças suportam mais dificilmente, principalmente as que revelam mais vivacidade”.


“Deve-se considerar a quem convém dar alimentação uma ou duas vezes, em maior ou em menor quantidade, ou aos poucos, levando em conta o hábito, a estação, o lugar e a idade”.






HIPÓCRATES. Aforismos – Antologia. Tradução: Dr. José Dias de Moraes. São Paulo; Editora Martin Claret, 2003.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3crates

TERTÚLIAS VIRTUAIS: O MELHOR LUGAR DO MUNDO


br.geocities.com/arterealista/josilo2.html


O Grajaú: pequeno jardim na zona norte do Rio de Janeiro.
Onde há mais de trinta anos montamos nosso ninho.
Este post faz parte da "Tertúlia Virtual" proposta pelo Varal de Idéias e pelo Expresso da Linha, que ocorre todo dia 15 de cada mês.

domingo, 13 de julho de 2008

BRINCANDO É QUE SE BRINCA

Recebi o prêmio Dardos por indicação da amiga DINAH RAPHAELLUS do blog POESIA LILAZ-CARMIM.
Grato pelas palavras de incentivo. Indico este prêmio para os amigos presentes na lista de links.

sábado, 12 de julho de 2008

JUAN LUÍS VIVES (2)



Juan Luís Vives
Em
Introdução À Sabedoria






“O verdadeiro estudo, fim para que se devem encaminhar todos os outros estudos, e em que consiste o singular prêmio deles, é o daquela filosofia que dá remédios da alma.

Se temos grande cuidado de curar o corpo, tanto maior o havemos de ter de curar a alma, quanto as suas enfermidades são mais secretas e perigosas.

Não é sem causa que chamam a estas enfermidades tormentas, tempestades, fadigas, tormentos, feridas, fogos, fúrias da alma, que nos põem em grandíssima miséria e nos dão incríveis dores, quando reinam; e, pelo contrário, nos deixam em grandíssimo repouso e bem-aventurança, quando estão mansas e sujeitas.

Aqui vem parar tudo quanto homens de grandíssimo engenho e de doutrina hão, com singular agudeza, descoberto e deixado por escrito, tratando dessa matéria de vida e de costumes”.






VIVES, Juan Luís. Introdução À Sabedoria. In. PÉREZ, David J. (Org.). Moralistas Espanhóis. Tradução de Acácio França. Rio de Janeiro/São Paulo/Porto Alegre: W. M. Jackson Inc. Editores, 1952.


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Lu%C3%ADs_Vives

sexta-feira, 11 de julho de 2008

CATULLO DA PAIXÃO CEARENSE



Luar do Sertão
(Canção)
(Catullo da Paixão Cearense)






Oh, que saudade
do luar da minha terra,
lá na serra,
branquejando folhas secas
pelo chão!
Este luar, cá da cidade,
tão escuro,
não tem aquela saudade
do luar
lá do sertão.


(estribilho)
Não há,
ó gente,
oh, não,
luar,
como esse,
do sertão.
Não há,
ó gente,
oh, não,
luar,
como esse,
do sertão.


Se a lua nasce
por detrás da verde mata,
mais parece
um sol de prata,
prateando a solidão !
E a gente pega na viola,
que ponteia,
e a canção
é a lua cheia,
a nos nascer
do coração !


(estribilho)


Quando vermelha,
no sertão,
desponta a lua,
dentro dalma,
onde flutua,
também,
rubra,
nasce a dor !
E a lua sobe...
E o sangue muda
em claridade !
E a nossa dor
muda
em saudade...
branca
assim...
da mesma cor !!!


(estribilho)


Quem me dera
que eu morresse lá na serra,
abraçado à minha terra
e dormindo de uma vez !
Ser enterrado
numa grota pequenina,
onde, à tarde,
a sururina
chora a sua viuvez !


(estribilho)


Diz uma trova,
que o sertão todo conhece,
que, se à noite,
o céu floresce,
nos encanta,
e nos seduz,
é porque rouba dos sertões
as flores belas
com que faz essas estrelas
lá do seu jardim de luz !!!


(estribilho)


Mas como é lindo ver,
depois,
por entre o mato,
deslizar,
calmo,
o regato,
transparente, como um véu,
no leito azul das suas águas,
murmurando,
ir, por sua vez,
roubando
as estrelas
lá do céu !!!


(estribilho)


A gente fria
dessa terra,
sem poesia,
não se importa com esta lua,
nem faz caso do luar !
Enquanto a onça
lá na verde capoeira,
leva uma hora
inteira,
vendo a lua,
a meditar !


(estribilho)


Coisa mais bela neste mundo
não existe,
do que ouvir
um galo
triste,
no sertão,
se faz luar !!!
Parece até que a alma da lua
é que descanta,
escondida
na garganta
desse galo,
a soluçar !


(estribilho)


Se Deus me ouvisse
com amor
e caridade,
me faria
essa vontade,
- o ideal do coração !
Era que a morte,
a descantar
me surpreendesse,
e eu morresse
numa noite
de luar,
no meu sertão !


Não há,
ó gente,
oh, não,
luar,
como esse,
do sertão.

Não há,
ó gente,
oh, não,
luar,
como esse,
do sertão.







CEARENSE, Catullo da Paixão. Poemas Escolhidos. Seleção organizada, anotada e revista por Guimarães Martins. 10ª.Ed. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1968.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Catulo_da_Paix%C3%A3o_Cearense

KARL HUBBUCH


Metropolitan Museum of Art Nova York


On The Street
1926 – aquarela, lápis e crayon sobre papéis – 64,1 x 31,8 cm.
Autor: Karl Hubbuch

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Karl_Hubbuch

quinta-feira, 10 de julho de 2008

D. T. SUZUKI (3)



D. T. Suzuki
Em
Satori






“O objetivo da disciplina Zen consiste na aquisição de um novo ponto de vista para olhar a essência das coisas.

Caso estejas habituado a pensar logicamente, de acordo com as regras do dualismo, liberta-te delas e chegarás a algo parecido com o ponto de vista Zen.

Suponhamos que tu e eu vivamos no mesmo mundo, mas quem poderá afirmar que aquela coisa comumente chamada de pedra e que está diante da minha janela é a mesma para nós dois?

Tu e eu bebemos uma xícara de chá.

Esse ato é aparentemente comum a nós dois, mas quem poderá dizer a ampla separação que subjetivamente existe entre o teu ato de beber e o meu?

Quando tu bebes, pode não haver Zen, mas enquanto eu o faço estou cheio dele.

A razão é a seguinte: “Tu moras num círculo lógico, ao passo que eu estou fora dele”.



“Satori pode ser definido como um olhar intuitivo no âmago das coisas, em contraposição à sua compreensão intelectual ou lógica”.



“No Zen tem de haver satori.
Tem de haver uma revolução que destrua as antigas acumulações de intelecto e lance novas fundações para uma nova vida”.






SUZUKI, Daisetz Teitaro. Introdução ao Zen-budismo. Tradução de Murilo Nunes de Azevedo. Rio de Janeiro; Ed. Civilização Brasileira, 1961.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Daisetz_Teitaro_Suzuki

quarta-feira, 9 de julho de 2008

J. D. SALINGER



J. D. Salinger
Em
O Apanhador no Campo de Centeio






“Esse é que é o problema todo.
Não se pode achar nunca um lugar quieto e gostoso, porque não existe nenhum.
A gente pode pensar que existe, mas, quando se chega lá e está completamente distraído, alguém entra escondido e escreve “Foda-se” bem na cara da gente.
É só experimentar.
Acho mesmo que, se um dia eu morrer e me enfiarem num cemitério, com uma lápide e tudo, vai ter a inscrição “Holden Caulfield”, mais o ano em que eu nasci e o ano em que morri e, logo abaixo, alguém vai escrever “Foda-se”.
Tenho certeza absoluta”.







SALINGER, J. D. O Apanhador no Campo de Centeio. Tradução de Álvaro Alencar, Antônio Rocha e Jório Dauster. 8º.Ed Rio de Janeiro: Editora do Autor, s]data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/J._D._Salinger

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 8 de julho de 2008

JUNG (2)



C. G. Jung
Em
Memórias, Sonhos, Reflexões.






“A vida sempre se me afigurou uma planta que extrai sua vitalidade do rizoma; a vida propriamente dita não é visível, pois jaz no rizoma.
O que se torna visível sobre a terra dura um só verão, depois fenece...
Aparição efêmera.
Quando se pensa no futuro e no desaparecimento infinito da vida e das culturas, não podemos nos furtar a uma impressão de total futilidade; mas nunca perdi o sentimento da perenidade da vida sob a eterna mudança.
O que vemos é a floração – e ela desaparece.
Mas o rizoma persiste”.


“A lembrança dos fatos exteriores de minha vida, em sua maior parte, esfumou-se em meu espírito ou então desapareceu.
Mas os encontros com a outra realidade, o embate com o inconsciente, se impregnaram de maneira indelével em minha memória”.


“Em última análise, só me parecem dignos de ser narrados os acontecimentos da minha vida através dos quais o mundo eterno irrompeu no mundo efêmero”.






JUNG, C. G. Memórias, Sonhos, Reflexões. Compilação e Prefácio de Aniela Jaffé. Tradução de Dora Ferreira da Silva. 12ª. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung

segunda-feira, 7 de julho de 2008

CHODERLOS DE LACLOS



Choderlos de Laclos
Em
As Relações Perigosas







CARTA V

DA MARQUESA DE MERTEUIL AO VISCONDE DE VALMONT


(trecho)


“Demais, vede os aborrecimentos que vos esperam!
Que rival ides combater?
Um marido!
Não vos sentis humilhado ante esta simples palavra?
Que vergonha se malogrardes!
E sem que o êxito vos outorgue a menor honra!
Digo mais: não espereis nenhum prazer.
Poderá haver prazer com as pudicas?
E refiro-me às de boa fé: reservadas até no próprio prazer, não vos oferecem senão meios gozos.
Esse inteiro abandono de si mesmo, esse delírio da volúpia em que o prazer se apura pelo excesso, esses bens do amor não os conhecem elas.
De antemão vos digo: na melhor das hipóteses, vossa presidenta imaginará tudo ter feito por vós em vos tratando como marido, e no mais terno colóquio conjugal sempre continuamos dois.
No caso, é bem pior ainda, vossa pudica é devota, e dessa devoção de mulher simples que condena a uma eterna infância.
Talvez supereis esse obstáculo, mas não vos jacteis de destruí-lo, vencedor do amor a Deus, não o sereis do medo ao diabo; e quando, com vossa amante nos braços, sentirdes palpitar-lhe o coração, será de temor e não de amor.
Talvez, se houvésseis conhecido esta mulher mais cedo, dela pudésseis fazer alguma coisa; mas isso já tem vinte e dois anos, e há quase dois está casada.
Acredite, visconde, quando uma mulher se embutiu a tal ponto, cumpre abandona-la à sua sorte; nunca passará de uma mulher vulgar”.





DE LACLOS, Pierre Choderlos. As Relações Perigosas. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Nova Cultural, 2002.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_Choderlos_de_Laclos

sábado, 5 de julho de 2008

PABLO NERUDA (8)



As moças
(Pablo Neruda)






Ó moças que buscáveis
o grande amor, o grande amor terrível,
o que aconteceu, moças?

Talvez
o tempo, o tempo!

Porque agora,
aqui está, vê como passa
assustando as pedras celestes,
destruindo as flores e as folhas,
com ruído de espumas açoitadas
contra todas as pedras de teu mundo,
com um cheiro de esperma e de jasmins,
perto da lua sangrente!

E agora
tocas a água com teus pés pequenos,
com seu pequeno coração
e não sabes o que fazer!

São melhores
certas viagens noturnas,
certos apartamentos,
certos divertidíssimos passeios,
certos bailes sem maior conseqüência
do que seguir a viagem!

Morre de medo ou de frio,
ou de dúvida,
que eu com meus grandes passos
a encontrarei
dentro de ti
ou longe de ti,
e ela me encontrará,
a que não tremerá diante do amor,
a que estará fundida
comigo
na vida ou na morte!






NERUDA, Pablo. Os Versos do Capitão. Tradução de Thiago de Mello. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992.

CÍCERO DIAS


Coleção Chateaubriand Bandeira de Mello

Mulher sentada com espelho
1944 – Óleo sobre tela – 55,3 x 46,7 cm
Autor: Cícero Dias

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%ADcero_Dias

Ver também:
http://www.cicerodias.com.br/

sexta-feira, 4 de julho de 2008

ISÓCRATES



ISÓCRATES
Em
A Nicoclés






“Muitas coisas contribuem para a educação dos simples particulares, em primeiro lugar, uma vida isenta de moleza e sensualidade e a obrigação de prover às necessidades cotidianas; em segundo lugar, as leis que a todos nos governam, a liberdade que têm os amigos de dirigirem reparos e os inimigos de acusarem pelas suas respectivas faltas; por fim, os preceitos relativos à condução da vida, deixado por alguns dos antigos poetas: coisas essas em que os particulares encontram naturalmente meios de aprimorar-se.


Já os reis não contam com os mesmos recursos, eles que, mais do que os outros homens, precisariam de aviso, vêem-se privados desses tão logo sentam no trono.


A maioria dos homens fica distante deles; os que deles privam só se aproximam para lisonjeá-los; e, transformados em donos das mais fartas riquezas e árbitros dos maiores interesses, fazem tão mau uso desses meios de poder que muitos se perguntam se não se deve preferir, à existência dos reis, uma condição vulgar e uma vida ilibada.


Sem dúvida, atentando somente para as honras, as riquezas, a autoridade, todos os homens julgam iguais a deuses aqueles que foram investidos da potência soberana; quando, entretanto, considerar-mos os seus receios, os perigos que correm e, lembrando o passado, os vemos ora sendo atacados por quem menos deveria ameaçar a sua vida, ora obrigados a punir seus entes mais amados, ora condenados a ambas as desgraças, somos levados a pensar que a mais modesta existência é preferível ao domínio de toda a Ásia, acompanhado de tamanhas calamidades”.







ISÓCRATES. A Nicoclés. Tradução do francês de Jean – François Cleaver. In. Isócrates – et al – Conselhos aos governantes. Brasília: Senado Federal, 1998.
Disponível em:

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/sf000031.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Is%C3%B3crates

quinta-feira, 3 de julho de 2008

KANT



Immanuel Kant
Em
Crítica da Razão Pura







“Porque devem existir mais percepções que as que em geral constitui o todo da nossa experiência possível, e pode, por conseguinte, existir outro campo diferente da matéria?

A respeito disso nada pode dizer o Entendimento, que apenas se ocupa da síntese do que está dado.

Além disso, a pobreza dos nossos raciocínios comuns com os quais criamos o grande império da possibilidade, do qual toda coisa real (todo objetiva de experiência) é somente uma mínima parte, é tão patente que salta à vista.

Tudo que é real é possível; resultando daí, naturalmente, segundo as leis da lógica da inversão, esta proposição particular: algumas coisas possíveis são reais.

O que também significa: existem muitas coisas possíveis que não são reais.

Parece, é certo, que pode ser posto o número do possível muito acima do real, porque é preciso acrescentar algo àquele para que resulte isto.

Mas desconheço esta adição ao possível, porque o que seria preciso acrescentar seria impossível”.





KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução de J. Rodrigues de Merege.

Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000016.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant

RABISCOS NO BLOCO


quarta-feira, 2 de julho de 2008

EU NÃO EXISTO SEM VOCÊ



Eu não existo sem você
(Tom Jobim / Vinicius de Moraes)







Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo
Levará você de mim
Eu sei e você sabe
Que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você


Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você





Sobre Tom Jobim:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tom_Jobim

Sobre Vinícius de Moraes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vin%C3%ADcius_de_Moraes

terça-feira, 1 de julho de 2008

THEODOR ADORNO (2)



Theodor Adorno
Em
Mínima Moralia






“O que mais tememos sem verdadeira razão, aparentemente possuídos de uma idéia fixa, tem a insolente tendência a acontecer.

A pergunta, que por nenhum preço gastaríamos de ouvir, um subalterno vem fazê-la com um interesse perfidamente amistoso; a pessoa que se deseja com tanta ansiedade manter distante da mulher amada virá certamente convidá-la, ainda que a três mil milhas de distância, graças a bem intencionadas recomendações, e suscitará aquela espécie de familiaridade de onde ameaça o perigo.

É difícil dizer até que ponto a gente mesmo não promove esses horrores; se a gente, através de um silêncio por demais cuidadoso, não põe aquela pergunta na boca de um interlocutor maldoso; se a gente não acaba provocando aquele contacto fatal, pedindo ao mediador com uma confiança tola e destrutiva que deixe de mediar.

A psicologia sabe que quem fica imaginando desgraças de algum modo as está querendo.
Mas por que vêm elas tão prontamente a seu encontro?

Há na realidade algo que responde à fantasia paranóica e que esta deforma.
O sadismo latente em cada um adivinha infalivelmente a fraqueza latente de cada um”.





ADORNO, Theodor. Mínima Moralia. Reflexões a partir da vida danificada. Tradução: Luiz Eduardo Bicca. Revisão da tradução: Guido de Almeida. São Paulo: Editora Ática, 1992.


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Theodor_Adorno