terça-feira, 30 de dezembro de 2008

FELIZ 2009


Caros leitores:

Mais um ano brincando juntos, e eu confesso que adorei!

Este ano de 2008 me trouxe grandes alegrias, uma delas foi o nosso blog Reflexões.

Mais uma vez, preciso agradecer a todos os que me ajudam nesse projeto:
- Ao excelente trabalho das equipes do Blogger e do Google;
- Ao pessoal do Sitemeter, por me mostrar, a qualquer tempo, a existência dos leitores discretos (sempre sem comentários); os leitores diários; os que dedicaram longos minutos de seu tempo; enfim, me proporcionando alguns dos grandes prazeres de quem quer comunicar;
- E, muito especialmente, a vocês pela companhia, pela forma carinhosa e paciente que receberam este projeto em seus mundos virtuais, e pelos comentários e sugestões.
Espero continuar por aqui...

Feliz Ano Novo e Divirtam-se!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

CABEÇALHOS DO REFLEXÕES






Um pouco de história:
Aproveitando o período da passagem para uma nova fase, vamos lembrar um pouco de nosso "vasto" passado, revendo imagens que já foram parte de nossos dias: os cabeçalhos.
O terceiro, utilizado de março de 2007 até março de 2008, foi improvisado por mim com algumas correções do artista plático Eduardo Lunardelli.
O segundo, com foto e projeto gráfico cedidos pelo mencionado artista, vigorou de março de 2008 até meados de dezembro de 2008.
O primeiro modelo, em uso na data desta postagem, foi presenteado pela designer (e filha) Bárbara Emanuel.
Perdão leitores, o editor está romântico...




FERNANDO PESSOA (12)



A guerra que aflige com seus esquadrões
(Alberto Caeiro)






A guerra, que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.

A guerra, como tudo humano, quer alterar.
Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito.
E alterar depressa.

Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por nós.
Tendo por conseqüência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer-alterar.

Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs.

Tudo é orgulho e inconsciência.
Tudo é querer mexer-se, fazer coisas, deixar rasto.
Para o coração e o comandante dos esquadrões
Regressa aos bocados o universo exterior.

A química directa da Natureza
Não deixa lugar vago para o pensamento.

A humanidade é uma revolta de escravos.
A humanidade é um governo usurpado pelo povo.
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito.

Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural!
Paz a todas as coisas pré-humanas, mesmo no homem,
Paz à essência inteiramente exterior do Universo!





Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/wk000221.pdf

sábado, 27 de dezembro de 2008

HERMANN HESSE



Hermann Hesse
Em
Sidarta.








“– Dize-me se o rio também te comunicou o misterioso fato de que o tempo não existe? – perguntou-lhe Sidarta certa feita.

O rosto de Vasudeva iluminou-se num vasto sorriso.

– Sim, Sidata – respondeu. – Acho que te referes ao fato de que o rio se encontra ao mesmo tempo em toda a parte, na fonte tanto como na foz, nas cataratas e na balsa, nos estreitos, no mar e na serra, em toda a parte, ao mesmo tempo; de que para ele há apenas o presente, mas nenhuma sombra de passado, nem de futuro.
Não é isso que queres dizer?

– Isso mesmo – tornou Sidarta. – E quando me veio essa percepção, contemplei a minha vida, e ela também era um rio.
O menino Sidarta não estava separado do homem Sidarta e do ancião Sidarta, a não ser por sombras, porém nunca por realidades.
Nem tampouco eram passado os nascimentos anteriores de Sidarta, como não fazia parte do porvir a sua morte, com o retorno ao Brama.
Nada foi, tudo é, tudo tem existência presente.

Sidarta falava com entusiasmo, sentindo profunda felicidade em face dessa iluminação.
Ah, sim! Todo o sofrimento pertencia ao tempo, da mesma forma que todos os receios e tormentos com que as pessoas se afligiam a si próprias”.






HESSE, Hermann. Sidarta – Um poema indiano. Tradução de Herbert Caro. Ilustrações de Hans Ernie. Rio de Janeiro: Editora Delta, 1966.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermann_Hesse

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

DIVIRTAM-SE


FELIZ NATAL!
Dias 24, 25 e 26 de dezembro: pausa para esperar Papai Noel e brincar com os brinquedos novos.
Divertam-se!

JUAN LUÍS VIVES (3)



Juan Luís Vives
Em
Introdução À Sabedoria.








“O homem está composto de corpo e de alma.
O nosso corpo é de terra e desses elementos que vemos e tocamos, semelhante nisso aos corpos dos outros animais.

A alma, dom de Deus, divinamente nos é dada semelhante aos anjos e ao mesmo Deus; pelo qual se julga e se forma o homem, e ainda ela, só, sem respeito do corpo, teria de ser chamada o homem, segundo o parecer dos mais excelentes filósofos que, antigamente, trataram esta matéria.

No corpo, há formosura, boa disposição, sanidade, firmeza, integridade, força, desenvoltura, ligeireza, deleite; e os seus contrários, fealdade, enfermidade, manqueira, fraqueza, acanhamento, pesadume, dor e outras coisas que, ao corpo, ou são proveitosas ou danosas.

Na alma, há saber e virtude; e os seus contrários, ignorância e vício”.





“Não deixes repousar a memória; que ela gosta que a trabalhes e te sirvas dela; e, assim, melhora e aumenta.
Não deixes passar dia em que não na encarregues de guardar alguma coisa.

Quanto mais a encarregares, tanto o guardará com mais facilidade; quanto menos te servires dela, tanto mais infiel será”.








VIVES, Juan Luís. Introdução À Sabedoria. In. PÉREZ, David J. (Org.). Moralistas Espanhóis. Tradução de Acácio França. Rio de Janeiro/São Paulo/Porto Alegre: W. M. Jackson Inc. Editores, 1952.


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Lu%C3%ADs_Vives

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

DE GÉRANDO (2)



Joseph-Marie De Gérando
Em
Dos Signos e da Arte de Pensar







“O homem que possuísse um diário minucioso em que fosse consignada a história de seus próprios pensamentos preveniria, desde sua origem, quase todos os preconceitos do hábito”.



“Se os hábitos acarretam os mais funestos efeitos, quando antecedem o trabalho da razão, possuem, entretanto uma utilidade muito grande quando o sucedem, embora não façam mais do que se apropriar de uma boa análise.

Então eles são apenas, se assim me posso exprimir, os ministros da filosofia, e os executores de seus decretos.

Conservam na memória as verdades obtidas; ajudam-nos a reencontrá-las com mais segurança, a aplicá-las com mais rapidez.

Se quando quero andar, por exemplo, não confiasse nos hábitos de meu olhar para avaliar as distâncias e a situação dos objetos, se fosse necessário pensar cada passo antes de dá-lo, poderia eu gozar o prazer de passear?”




“Não destruamos, pois, de modo algum, os hábitos, mas esforcemo-nos por somente formar os bons”.








DE GÉRANDO, Joseph Marie de. Dos Signos e da Arte de Pensar. Tradução de Franklin Leopoldo e Silva e Victor Knoll. In. CIVITA, Victor (editor) Textos Escolhidos: Condillac/ Helvetius/ Degerando. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os pensadores)

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Joseph_Marie,_baron_de_G%C3%A9rando

Ver também:
http://www.newadvent.org/cathen/06465a.htm

sábado, 20 de dezembro de 2008

EPICURO (5)



Epicuro
Em
Antologia de Textos.






“Habitua-te a pensar que a morte nada é para nós, visto que todo o mal e todo o bem se encontram na sensibilidade: e a morte é a privação da sensibilidade”.


“É verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aquilo que apreendemos mediante intuição mental”.



“Não temos tanta necessidade da ajuda dos amigos como de confiança na sua ajuda”.



“Há também mundos infinitos, ou semelhantes a este ou diferentes.
Com efeito, sendo os átomos infinitos em número, como já se demonstrou, são levados aos espaços mais distantes,
Realmente, tais átomos, dos quais pode surgir ou formar-se um mundo, não se esgotam nem em um nem num número infinito de mundos, quer sejam semelhantes quer sejam diversos destes.
Por isso nada impede a infinidade dos mundos”.




“Todos se dissolvem de novo, alguns mais lentamente e outros mais rapidamente, sofrendo um umas ações e outros outras”.







EPICURO. Antologia de Textos de Epicuro. Tradução e notas de Agostinho da Silva. In. CIVITA, Victor (Editor). Epicuro, Lucrécio, Cícero, Sêneca, M. Aurélio. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os Pensadores).

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Epicuro

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

ÉMILE DURKHEIM



Émile Durkheim
Em
Educação e Sociologia.







“É preciso saber que as vantagens duma sólida cultura intelectual nem sempre foram reconhecidas por todos os povos.
A ciência, o espírito crítico, que hoje tão alto colocamos, durante muito tempo foram tidos como perigosos.
Não conhecemos o dito que proclama bem-aventurados os pobres de espírito?
Convém não acreditar que esta indiferença para o saber tenha sido artificialmente imposta aos homens, com violação de sua própria natureza.

Por si mesmos eles não teriam nunca desejo algum de ciência, simplesmente porque as sociedades de que faziam parte não sentiam dela necessidade absolutamente nenhuma.
Pelo contrário, para poder viver, eles tinham, antes de tudo, necessidade de tradições fortes e integralmente respeitadas.
Ora, a tradição não desperta, mas tende até a excluir o pensamento e a reflexão”.




“Ainda que tais qualidades pareçam, à primeira vista, desejáveis por si mesmas, o indivíduo não as procura senão quando a sociedade o leve a isso, e o faz da maneira pela qual ela lhe prescreve”.






DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. Tradução do Prof. Lourenço Filho. 11ª. Ed. São Paulo: Melhoramentos; [Rio de Janeiro]: Fundação Nacional de Material Escolar, 1978.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

MARCO AURÉLIO



Marco Aurélio
Em
Meditações.






“Estima o pouco de ciência que aprendeste e descansa.
Passa o resto da vida como quem confiou aos deuses de todo coração, tudo que é seu e não fez de nenhum homem seu tirano nem seu escravo”.



“Pensa continuamente no mundo como vivente único, com uma só substância e uma só alma, e em como tudo reverte a uma percepção única, a dele; como tudo ele faz sob um impulso único; como tudo é concausa de todo acontecimento e como é feita a urdidura e a meada”.



“Tenhas um só deleite e contentamento, o de passar dum ato social a outro ato social, com o pensamento em Deus”.



“Quem viu o presente viu tudo, não só o que existiu desde a eternidade como tudo o que haverá no tempo infinito, pois tudo tem a mesma origem e o mesmo aspecto”.



“Todas as coisas estão entretecidas; seus laços são sagrados, e, a bem dizer, não há uma estranha a outra; estão coordenadas e, juntas, compõem a ordem do próprio mundo.
O mundo é único, composto de todas as coisas; única a divindade, disseminada por todas as coisas; única a substância; única a lei; comum a razão de todos os viventes inteligentes; única a verdade, posto que única a perfeição dos seres da mesma espécie e dos viventes que compartilham a mesma razão”.






MARCO AURÉLIO. Meditações. Tradução e notas de Jaime Bruna. In. CIVITA, Victor (Editor). Epicuro, Lucrécio, Cícero, Sêneca, M. Aurélio. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (os Pensadores).

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marco_Aur%C3%A9lio

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

FLORBELA ESPANCA (8)



ERRANTE
(Florbela Espanca)






Meu coração da cor dos rubros vinhos
Rasga a mortalha do meu peito brando
E vai fugindo, e tonto vai andando
A perder-se nas brumas dos caminhos.

Meu coração o místico profeta,
O paladino audaz da desventura,
Que sonha ser um santo e um poeta,
Vai procurar o Paço da Ventura...

Meu coração não chega lá decerto...
Não conhece o caminho nem o trilho,
Nem há memória desse sítio incerto...

Eu tecerei uns sonhos irreais...
Como essa mãe que viu partir o filho,
Como esse filho que não voltou mais!





ESPANCA, Florbela. A Mensageira das Violetas.
Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/
Fonte:
ESPANCA, Florbela. A mensageira das violetas: antologia. Seleção e edição de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 1999.

JOAQUIM TORRES-GARCIA



Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Washington D.C.


New York Street Scene
1920 – óleo sobre papel montado em madeira – 46,6 x 65,8 cm.
Autor: Joaquim Torres-Garcia



Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Joaquin_Torres_Garcia

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

MAX WEBER



Max Weber
Em
Ensaios de Sociologia.







“Não há, absolutamente, nenhuma religião “coerente”, funcionando como uma força vital que não é compelida em algum ponto, a exigir o credo non quod, sed quia absurdum – o “sacrifício do intelecto”.


Não é necessário, e seria impossível, tratar detalhadamente dos estágios da tensão entre a religião e o conhecimento intelectual.

A religião redentora defende-se do ataque do intelecto auto-suficiente.

E assim o faz, decerto, rigorosamente baseada em princípios, formulando a pretensão de que o conhecimento religioso se move numa esfera diferente e que a natureza e significado do conhecimento religioso são totalmente diferentes das realizações do intelecto.

A religião pretende oferecer uma posição última em relação ao mundo através de uma percepção direta do “significado” do mundo.

Não quer oferecer o conhecimento intelectual relativo ao que é ou que deveria ser.

Pretende revelar o sentido do mundo não por meio do intelecto, mas em virtude de um carisma da iluminação.

Esse carisma, ao que se diz, só é transmitido aos que fazem uso da respectiva técnica e se libertam das substituições enganosas e errôneas, apresentadas como conhecimento pelas impressões confusas dos sentidos e as abstrações vazias do intelecto.

A religião que elas são, na verdade, irrelevantes para a salvação.

Libertando-se delas, o homem religioso prepara-se para a recepção da percepção importantíssima do significado do mundo e de sua própria existência”.






WEBER, Max. “Ensaios de Sociologia (Capítulo XIII)”. In. ___________ Ensaios de Sociologia e Outros Estudos. Seleção de Maurício Tragtenberg. Tradução da versão inglesa por Waltensir Dutra. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Os Pensadores)


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

ESPINOSA (3)



Espinosa
Em
Tratado Político.






“Os filósofos concebem as emoções que se combatem entre si, em nós, como vícios em que os homens caem por erro próprio; é por isso que se habituaram a ridicularizá-los, deplora-los, reprová-los ou, quando querem parecer mais morais, detestá-los.

Julgam assim agir divinamente e elevar-se ao pedestal da sabedoria, prodigalizando toda espécie de louvores a uma natureza humana que em parte alguma existe, e atacando através dos seus discursos a que realmente existe.

Concebem os homens, efetivamente, não tais como são, mas como eles próprios gostariam que fossem.

Daí, por conseqüência, que quase todos, em vez de uma ética, hajam escrito uma sátira, e não tinham sobre política vistas que possam ser postas em prática, devendo a política, tal como a concebem, ser tomada por quimera, ou como respeitando ao domínio da utopia ou da idade de ouro, isto é, a um tempo em que nenhuma instituição era necessária.

Portanto, entre todas as ciências que têm uma aplicação, é a política o campo em que a teoria passa por diferir mais da prática, e não há homens que se pense menos próprios para governar o Estado do que os teóricos, quer dizer, os filósofos”.






ESPINOSA, Benedictus de. “Tratado Político”. Tradução de Manuel de Castro. In. ___________ Pensamentos metafísicos; Tratado da correção do intelecto; Ética; Tratado político; Correspondência. Seleção de textos de Marilena de Souza Chuaí. Traduções de Marilena da Souza Chuaí [et al.] 2ª. Edição. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bento_de_Espinosa

TERTÚLIAS VIRTUAIS: BRASIL




Brasil 6-2 Portugal

Jogo amistoso disputado em Gama, arredores de Brasília, na noite de 19 de novembro de 2008.


Este post faz parte do "Tertúlias Virtuais" proposta do Varal de Idéias e do Expresso da Linha, que ocorre todo dia 15 de cada mês.

Mais participantes do Tertúlia Virtual, aqui

sábado, 13 de dezembro de 2008

RAINER MARIA RILKE (2)



Rainer Maria Rilke
Em
Cartas a um poeta.







“Uma só coisa é necessária: a solidão, a grande solidão interior.

Caminhar em si próprio e, durante horas, não encontrar ninguém – é a isto que é preciso chegar.

Estar só – como a criança está só quando as pessoas crescidas se agitam, ocupadas com coisas que lhe parecem grandes e importantes pelo simples fato de preocuparem os adultos e ela nada compreender do que estes fazem.

No dia em que percebemos que essas preocupações são áridas e mesquinhas, essas ocupações sem relação real com a vida, como não continuar a considerá-las uma coisa estranha, tal como a criança do âmago do seu mundo, do fundo de sua grande solidão, que é, afinal, trabalho, aprendizagem, conhecimento?

Para que substituir o sensato “não-compreender” da criança por luta e desespero, se não compreender é aceitar a solidão, – se lutar e desprezar são duas formas de tomar parte nas próprias coisas que desejamos ignorar?

Aplique, caro senhor, os seus pensamentos ao mundo que traz dentro de si e dê o nome que entender a esses pensamentos.

Mas, quer se trate de recordações de sua infância ou da necessidade apaixonada de se realizar, concentre-se sobre tudo o que germinar em si, dando-lhe a primazia sobre tudo o que germinar em si, dando-lhe a primazia sobre tudo o que observou à sua volta.

Os seus acontecimentos interiores merecem todo o seu amor”.








RILKE, Rainer Maria. Cartas a um poeta. Tradução de Fernanda de Castro. Lisboa: Portugália Editora, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rainer_Maria_Rilke

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

AGÜENTANDO O VELHO GALHO



Agüentando O Velho Galho
(Composição: Heitor Catumbi)
(Samba-choro gravado por Jorge Veiga em 1961)






Eu vou contar a minha vida agora
Tempos de verdadeiras malandragens
Quando eu morava nas casas de cômodos
E freqüentava um milhão de estalagens

Na gafieira era conhecido
Como o malandro maioral do Rio
Tinha prazer em ser um bagunceiro
E possuir o nome de vadio

Nunca fiz força, “nerusca” de batente
Bancando o inteligente nunca trabalhava
E tinha sempre uma cabrocha boa
Que me dava tudo que eu precisava

Trajava “chique” como um deputado
Ia em todo lado, tinha um capanga
E quantas vezes banquei o delegado
Pra fazer farol nos bailes da Kananga

Se hoje em dia eu sou um homem sério
Não é que a isso seja obrigado
Mas é que tudo nesta vida cansa
E da malandragem eu já estou cansado

Alem do que arranjei uma branca
Que tem a “granoscópia” e já não é criança
Estou tapeando e agüentando o velho galho
Pra ver se ela morre pra eu entrar na herança






Sobre Heitor Catumbi:
http://music.aol.com/artist/heitor-catumbi/biography/1446979

Sobre Jorge Veiga:
http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?nome=Jorge%20Veiga&tabela=T_FORM_A

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

JUNG (3)



C. G. Jung
Em
Memórias, Sonhos, Reflexões.






“Se admitirmos que haja uma continuação no “além”, só poderemos conceber um modo de existência que seja psíquico; pois a vida da psique não tem necessidade de espaço ou tempo.
A existência psíquica – e sobretudo as imagens interiores de que nos ocupamos desde agora – oferecem matéria para todas as especulações míticas sobre uma vida no além, e esta eu represento como um caminhar progressivo através do mundo das imagens.
Desse modo a psique poderia ser essa existência na qual se situa o “além” ou o “país dos mortos”.
Inconsciente e “país dos mortos” seriam, nessa perspectiva, sinônimos”.




“Em geral as representações que os homens fazem do além são determinadas por seus desejos e preconceitos.
É por este motivo que freqüentemente representações claras e serenas são associadas ao além.
Mas isso não me convence.
Custa-me imaginar que após nossa morte aterrisaremos em suaves campinas floridas.
Se tudo fosse claro e bom no além, deveria haver amistosas comunicações entre nós e os numerosos espíritos bem-aventurados, e, por conseguinte, veríamos descer sobre nós em estado pré-natal, efusões de beleza e bondade.
O que acontece não é isso.
Por que esta insuperável barreira entre os mortos e os vivos?
A metade, pelo menos, das narrações de encontros com espíritos dos mortos versa sobre episódios aterradores e a regra é que na morada dos mortos reina um silêncio glacial, um desprezo pela dor dos abandonados”.




“O mundo em que entramos após a morte será grandioso e assustador, à semelhança da divindade e da natureza que conhecemos”.






JUNG, C. G. Memórias, Sonhos, Reflexões. Compilação e Prefácio de Aniela Jaffé. Tradução de Dora Ferreira da Silva. 12ª. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

THORSTEIN VEBLEN



Thorstein Veblen
Em
A Teoria da Classe Ociosa.







“Para a grande maioria das pessoas de qualquer comunidade moderna, a razão imediata dos gastos além do necessário ao conforto físico não é tanto um esforço consciente de se exceder nas despesas de seu consumo visível, como um desejo de manter um padrão convencional de decência quanto ao grau e quantidade dos bens consumidos.

Este desejo não é ditado por um padrão rigorosamente fixo, que deve ser alcançado e, além do qual, não há incentivo para progredir.

O padrão é flexível; e é especialmente de extensibilidade indefinida, contanto que haja tempo de se habituar a qualquer aumento na capacidade pecuniária e de adaptar-se à nova e mais ampla escala de gastos, que se segue a um tal aumento.

É muito mais difícil diminuir a escala de gastos, já adotada, do que estendê-la em resposta a um aumento da riqueza”.




“É notoriamente tão difícil abandonar um padrão de vida “elevado” como baixar um padrão que já é relativamente baixo, apesar de no primeiro caso, a dificuldade ser de ordem moral, enquanto no último poderá significar a dedução (redução) material dos confortos físicos da existência”.




“A gradação na facilidade com que se formam os diferentes hábitos em diversas pessoas, assim como a relutância em abandoná-los, indica que a formação de hábitos específicos não é simplesmente questão de sua duração.

Tendência e características de temperamento herdadas valem tanto quanto o tempo de habituação para determinar quais os hábitos que virão a dominar um esquema de vida individual.

E o tipo prevalecente das tendências transmitidas ou, em outras palavras, o tipo de temperamento peculiar ao elemento étnico dominante de qualquer comunidade, terá muito que dizer sobre o escopo e forma de expressão dos hábitos e da vida desta comunidade”.







VEBLEN, Thorstein Bunde. “A Teoria da Classe Ociosa”. Tradução de Olívia Krähenbühl. In. CIVITA, Victor (editor). Veblen. 2ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1985. (Os Pensadores).

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Thorstein_Veblen

ALBRECH DÜRER



Musée du Louvre, Paris

Selbstportät mit Blume
(Auto-retrato com flores)
1493 – óleo sobre tela – 57 x 45 cm.
Autor: Albrech Dürer


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Albrecht_D%C3%BCrer

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

PAULO FREIRE (2)



Paulo Freire
Em
Pedagogia do Oprimido.







“Precisamos estar convencidos de que o convencimento dos oprimidos de que devem lutar por sua libertação não é doação que lhes faça a liderança revolucionária, mas resultado de sua conscientização.



É necessário que a liderança revolucionária descubra esta obviedade: que seu convencimento da necessidade de lutar, que constitui uma dimensão indispensável do saber revolucionário, não lhe foi doado por ninguém, se é autêntico.

Chegou a este saber, que não é algo parado ou possível de ser transformado em conteúdo a ser depositado nos outros, por um ato total, de reflexão e de ação.



Foi a sua inserção lúcida na realidade, na situação histórica, que a levou à crítica desta mesma situação e ao ímpeto de transformá-la”.






FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 6ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

ARISTÓTELES (4)



ARISTÓTELES
Em
Arte Retórica.







“A maior parte dos desejos vão acompanhados de algum prazer; quer nos recordemos de tê-los experimentado, quer esperemos vir a experimentá-los, gozamos uma espécie de prazer.
Assim os que têm febre e são atormentados pela sede sentem prazer, tanto em se lembrarem que beberam, como em pensar que hão de beber.

E os apaixonados, quer falem, quer escrevam em prosa ou em verso sobre a pessoa amada, não deixam de tirar daí alguma satisfação; em todas estas circunstâncias, a memória lhes faz crer que se encontram na presença dela.
Mais do que isso, é sinal de começo de amor para com uma pessoa, quando não só se sente prazer em sua presença, mas mesmo, quando ausente, ela está presente à lembrança.

Por isso, se nos afligimos por não a termos a nosso lado, sentimos certa complacência nessa aflição e lamentações.
A tristeza de não a ter à nossa disposição associa-se o prazer de nos lembrarmos dela; de a ver de algum modo, de recordar seus atos e qualidades”.







ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1969.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles

sábado, 6 de dezembro de 2008

WALT WHITMAN



Walt Whitman
Em
Folhas de Relva.







EM MEIO À MULTIDÃO

Em meio à multidão de homens e mulheres
percebo alguém a chamar-me através de sinais secretos e
divinos,
ninguém mais reconhecendo, pai, esposa ou esposo, irmão ou
ninguém mais próximo do que estou;
alguns se confundem, mas esse não – esse alguém me conhece.

Ah amante e igual sem falha,
sabia eu que me havias de descobrir com tão débeis disfarces
e quando te encontrei soube que te descobria pela mesma
coisa em ti.




PENSAMENTO

Da obediência, da fé, do proselitismo:
enquanto fico de parte e olho, há para mim algo profundamente
impressionante nas grandes massas de homens que seguem
a liderança daqueles que não fazem fé nos homens.





REVERSAIS

Que passe para trás quem se encontrava na frente,
que passe para a frente quem estava lá atrás,
que os doidos, apaixonados, sujeitos mal comportados,
encaminhem novas proposições,
que sejam postas de lado as proposições antigas,
que um homem busque o prazer em toda parte exceto nele
próprio,
que uma mulher busque a felicidade em toda parte exceto nela
própria.







WHITMAN, Walt. Folhas de Relva. Seleção e tradução de Geir Campos. Ilustrações de Darcy Penteado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Walt_Whitman

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

JEAN BAUDRILLARD (2)



Jean Baudrillard
Em
Cool Memories II.







“O problema atual da classe política é que não se trata mais de governar, mas de manter uma alucinação do poder, o que exige talentos muito particulares.
Produzir o poder como ilusão, é como fazer malabarismos com capitais flutuantes, é como dançar frente a um espelho.

E se não há mais poder, é que toda a sociedade passou para o lado da servidão voluntária.
Essa figura misteriosa sobre a qual nos interrogamos desde o século XVI, agora não é mais um mistério, já que se tornou a regra geral.
Mas de uma forma estranha: não mais como vontade de ser servo de sua própria vontade.
Intimados a querer, poder, saber, agir, vencer, todos nos dobramos a tudo isso, e os desígnios do político foram totalmente bem sucedidos: cada um de nós se transformou num sistema subjugado, auto-subjugado, tendo investido toda sua liberdade na vontade louca de tirar o máximo de si mesmo.

Mas então o poder não faz mais sentido, já que não se necessita dele para perpetrar essa forma misteriosa que é a servidão voluntária.
A partir do momento onde o poder não é mais a hipóstase, a transfiguração da servidão e que esta seja perfeitamente difusa pela sociedade, então só resta perecer como uma função inútil”.







BAUDRILLARD, Jean. Cool Memorie II. Crônicas 1987 – 1990. Tradução de Angel Bojadsen. São Paulo: Estação Liberdade, 1996.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Baudrillard

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

ANTÔNIO BARBOSA BACELAR



A uma ausência
(Antônio Barbosa Bacelar)





Sinto-me, sem sentir, todo abrasado
No rigoroso fogo que me alenta;
O mal, que me consome, me sustenta;
O bem, que me entretém, me dá cuidado.

Ando sem me mover, falo calado;
O que mais perto vejo, se me ausenta,
E o que estou sem ver, mais me atormenta;
Alegro-me de ver-me atormentado.

Choro no mesmo ponto em que me rio;
No mor risco me anima á confiança;
Do que menos se espera estou mais certo.

Mas se de confiado desconfio,
É porque, entre os receios da mudança,
Ando perdido em mim como em deserto.







MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa – através dos textos. 5ª. Ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1972.

Sobre o autor:
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/bacelar.htm

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

JOAQUIM NABUCO (3)



Joaquim Nabuco
Em
Pensamentos Soltos: Livro I.







22

“Crer é entregar-se inteiramente”.


45

“Não é a fonte que indica se o fio d’água será rio caudaloso ou estreita torrente.
Não vos orgulheis de ser fonte”.


54

“Não deixeis entrar nada em vós senão pela porta da gratidão”.


83

“O bem é uma sugestão divina; a única feita ao homem”.


123

“A verdadeira ciência nunca passará do andaime que o homem arma sobre aquilo que ele vê para tentar atingir aquilo que nunca poderá ver”.


151

“Para meditar, é preciso deixar o espírito encher-se de penumbra do lado do mundo, como se tivésseis por algum tempo os olhos fechados e, depois, nessa obscuridade, esperar que apagadas as vozes e os reflexos da vida, se forme em vós um ponto luminoso no qual pudésseis concentrar.
Mas muitos não conseguem interromper o cortejo de sonhos que se forma, uma vez cerradas as pálpebras”.






NABUCO, Joaquim. Pensamentos Soltos. Brasília: A. N. Editora, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Nabuco

BETTY BOOP


Betty Boop é uma personagem de desenho animado que apareceu nas séries de filmes Talkartoon e Betty Boop, produzidas por Max Fischer e distribuídas pela Paramount Pictures.


Sobre Betty Boop:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Betty_Boop

Betty Boop em Ritmo na Reserva [Dublado]:
http://www.youtube.com/watch?v=hHIMyZzNt38

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

NIETZSCHE (18)



Friedrich Nietzsche
Em
A Origem da Tragédia.







“Todo o homem que for dotado de espírito filosófico há de ter o pressentimento de que, atrás da realidade em que existimos e vivemos, se esconde outra muito diferente, e que, por conseqüência, a primeira não passa de uma aparição da segunda; e Schopenhauer define formalmente o sinal distintivo da aptidão filosófica na faculdade que alguns homens possuem de se representarem os seres vivos e as coisas inertes como puros fantasmas, imagens de sonho.

Pois bem: o homem dotado de sensibilidade artística comporta-se para com a realidade do sonho da mesma maneira que o filósofo se comporta perante a realidade da existência”.



“O encantamento é o pressuposto de toda a arte dramática”.



“A canção popular aparece-nos, antes de mais, como espelho musical do mundo, como melodia primordial que anda a procura da imagem de sonho que lhe seja irmã para a exprimir num poema”.



“Pois se é uma lei inflexível, aplicável a todas as coisas, que morre cedo o amado dos deuses, também é certo que morre para viver eternamente como os deuses”.






NIETZSCHE, Friedriche. A Origem da Tragédia. Tradução de Álvaro Ribeiro. 3ª. Ed. Lisboa: Guimarães Editores, 1982.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

CÉSAR BECCARIA



César Beccaria
Em
Dos Delitos e das Penas.






“Para que uma pena seja justa, deve ter apenas o grau de rigor bastante para desviar os homens do crime.
Ora, não há homem que possa vacilar entre o crime, mal grado a vantagem que este prometa, e o risco de perder para sempre a liberdade.

Assim, pois, a escravidão perpétua, substituindo a pena de morte, tem todo o rigor necessário para afastar do crime o espírito mais determinado.
Digo mais: encara-se muitas vezes a morte de modo tranqüilo e firme, uns por fanatismo, outros por essa vaidade que nos acompanha mesmo além do túmulo.
Alguns, desesperados, fatigados da vida, vêem na morte um meio de se livrar da miséria.
Mas, o fanatismo e a vaidade desaparecem nas cadeias, sob os golpes, em meio às barras de ferro.
O desespero não lhes põe fim aos males, mas os começa.

Nossa alma resiste mais à violência das dores extremas, apenas passageiras, do que ao tempo e à continuidade do desgosto.
Todas as forças da alma, reunindo-se contra males passageiros, podem enfraquecer-lhes a ação; mas, todas as molas acabam por ceder a penas longas e constantes”.







BECCARIA, César. “Dos Delitos e das Penas”. Tradução de Antônio Piccarolo e Leonor de Aguiar. In. Pensadores Italianos. Prefácio de Adolfo Rava. Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre: W. M. Jackson Inc. Editores, 1950.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Cesare,_Marquis_of_Beccaria