terça-feira, 30 de dezembro de 2008

FELIZ 2009


Caros leitores:

Mais um ano brincando juntos, e eu confesso que adorei!

Este ano de 2008 me trouxe grandes alegrias, uma delas foi o nosso blog Reflexões.

Mais uma vez, preciso agradecer a todos os que me ajudam nesse projeto:
- Ao excelente trabalho das equipes do Blogger e do Google;
- Ao pessoal do Sitemeter, por me mostrar, a qualquer tempo, a existência dos leitores discretos (sempre sem comentários); os leitores diários; os que dedicaram longos minutos de seu tempo; enfim, me proporcionando alguns dos grandes prazeres de quem quer comunicar;
- E, muito especialmente, a vocês pela companhia, pela forma carinhosa e paciente que receberam este projeto em seus mundos virtuais, e pelos comentários e sugestões.
Espero continuar por aqui...

Feliz Ano Novo e Divirtam-se!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

CABEÇALHOS DO REFLEXÕES






Um pouco de história:
Aproveitando o período da passagem para uma nova fase, vamos lembrar um pouco de nosso "vasto" passado, revendo imagens que já foram parte de nossos dias: os cabeçalhos.
O terceiro, utilizado de março de 2007 até março de 2008, foi improvisado por mim com algumas correções do artista plático Eduardo Lunardelli.
O segundo, com foto e projeto gráfico cedidos pelo mencionado artista, vigorou de março de 2008 até meados de dezembro de 2008.
O primeiro modelo, em uso na data desta postagem, foi presenteado pela designer (e filha) Bárbara Emanuel.
Perdão leitores, o editor está romântico...




FERNANDO PESSOA (12)



A guerra que aflige com seus esquadrões
(Alberto Caeiro)






A guerra, que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.

A guerra, como tudo humano, quer alterar.
Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito.
E alterar depressa.

Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por nós.
Tendo por conseqüência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer-alterar.

Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs.

Tudo é orgulho e inconsciência.
Tudo é querer mexer-se, fazer coisas, deixar rasto.
Para o coração e o comandante dos esquadrões
Regressa aos bocados o universo exterior.

A química directa da Natureza
Não deixa lugar vago para o pensamento.

A humanidade é uma revolta de escravos.
A humanidade é um governo usurpado pelo povo.
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito.

Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural!
Paz a todas as coisas pré-humanas, mesmo no homem,
Paz à essência inteiramente exterior do Universo!





Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/wk000221.pdf

sábado, 27 de dezembro de 2008

HERMANN HESSE



Hermann Hesse
Em
Sidarta.








“– Dize-me se o rio também te comunicou o misterioso fato de que o tempo não existe? – perguntou-lhe Sidarta certa feita.

O rosto de Vasudeva iluminou-se num vasto sorriso.

– Sim, Sidata – respondeu. – Acho que te referes ao fato de que o rio se encontra ao mesmo tempo em toda a parte, na fonte tanto como na foz, nas cataratas e na balsa, nos estreitos, no mar e na serra, em toda a parte, ao mesmo tempo; de que para ele há apenas o presente, mas nenhuma sombra de passado, nem de futuro.
Não é isso que queres dizer?

– Isso mesmo – tornou Sidarta. – E quando me veio essa percepção, contemplei a minha vida, e ela também era um rio.
O menino Sidarta não estava separado do homem Sidarta e do ancião Sidarta, a não ser por sombras, porém nunca por realidades.
Nem tampouco eram passado os nascimentos anteriores de Sidarta, como não fazia parte do porvir a sua morte, com o retorno ao Brama.
Nada foi, tudo é, tudo tem existência presente.

Sidarta falava com entusiasmo, sentindo profunda felicidade em face dessa iluminação.
Ah, sim! Todo o sofrimento pertencia ao tempo, da mesma forma que todos os receios e tormentos com que as pessoas se afligiam a si próprias”.






HESSE, Hermann. Sidarta – Um poema indiano. Tradução de Herbert Caro. Ilustrações de Hans Ernie. Rio de Janeiro: Editora Delta, 1966.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermann_Hesse

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

DIVIRTAM-SE


FELIZ NATAL!
Dias 24, 25 e 26 de dezembro: pausa para esperar Papai Noel e brincar com os brinquedos novos.
Divertam-se!

JUAN LUÍS VIVES (3)



Juan Luís Vives
Em
Introdução À Sabedoria.








“O homem está composto de corpo e de alma.
O nosso corpo é de terra e desses elementos que vemos e tocamos, semelhante nisso aos corpos dos outros animais.

A alma, dom de Deus, divinamente nos é dada semelhante aos anjos e ao mesmo Deus; pelo qual se julga e se forma o homem, e ainda ela, só, sem respeito do corpo, teria de ser chamada o homem, segundo o parecer dos mais excelentes filósofos que, antigamente, trataram esta matéria.

No corpo, há formosura, boa disposição, sanidade, firmeza, integridade, força, desenvoltura, ligeireza, deleite; e os seus contrários, fealdade, enfermidade, manqueira, fraqueza, acanhamento, pesadume, dor e outras coisas que, ao corpo, ou são proveitosas ou danosas.

Na alma, há saber e virtude; e os seus contrários, ignorância e vício”.





“Não deixes repousar a memória; que ela gosta que a trabalhes e te sirvas dela; e, assim, melhora e aumenta.
Não deixes passar dia em que não na encarregues de guardar alguma coisa.

Quanto mais a encarregares, tanto o guardará com mais facilidade; quanto menos te servires dela, tanto mais infiel será”.








VIVES, Juan Luís. Introdução À Sabedoria. In. PÉREZ, David J. (Org.). Moralistas Espanhóis. Tradução de Acácio França. Rio de Janeiro/São Paulo/Porto Alegre: W. M. Jackson Inc. Editores, 1952.


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Lu%C3%ADs_Vives

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

DE GÉRANDO (2)



Joseph-Marie De Gérando
Em
Dos Signos e da Arte de Pensar







“O homem que possuísse um diário minucioso em que fosse consignada a história de seus próprios pensamentos preveniria, desde sua origem, quase todos os preconceitos do hábito”.



“Se os hábitos acarretam os mais funestos efeitos, quando antecedem o trabalho da razão, possuem, entretanto uma utilidade muito grande quando o sucedem, embora não façam mais do que se apropriar de uma boa análise.

Então eles são apenas, se assim me posso exprimir, os ministros da filosofia, e os executores de seus decretos.

Conservam na memória as verdades obtidas; ajudam-nos a reencontrá-las com mais segurança, a aplicá-las com mais rapidez.

Se quando quero andar, por exemplo, não confiasse nos hábitos de meu olhar para avaliar as distâncias e a situação dos objetos, se fosse necessário pensar cada passo antes de dá-lo, poderia eu gozar o prazer de passear?”




“Não destruamos, pois, de modo algum, os hábitos, mas esforcemo-nos por somente formar os bons”.








DE GÉRANDO, Joseph Marie de. Dos Signos e da Arte de Pensar. Tradução de Franklin Leopoldo e Silva e Victor Knoll. In. CIVITA, Victor (editor) Textos Escolhidos: Condillac/ Helvetius/ Degerando. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os pensadores)

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Joseph_Marie,_baron_de_G%C3%A9rando

Ver também:
http://www.newadvent.org/cathen/06465a.htm

sábado, 20 de dezembro de 2008

EPICURO (5)



Epicuro
Em
Antologia de Textos.






“Habitua-te a pensar que a morte nada é para nós, visto que todo o mal e todo o bem se encontram na sensibilidade: e a morte é a privação da sensibilidade”.


“É verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aquilo que apreendemos mediante intuição mental”.



“Não temos tanta necessidade da ajuda dos amigos como de confiança na sua ajuda”.



“Há também mundos infinitos, ou semelhantes a este ou diferentes.
Com efeito, sendo os átomos infinitos em número, como já se demonstrou, são levados aos espaços mais distantes,
Realmente, tais átomos, dos quais pode surgir ou formar-se um mundo, não se esgotam nem em um nem num número infinito de mundos, quer sejam semelhantes quer sejam diversos destes.
Por isso nada impede a infinidade dos mundos”.




“Todos se dissolvem de novo, alguns mais lentamente e outros mais rapidamente, sofrendo um umas ações e outros outras”.







EPICURO. Antologia de Textos de Epicuro. Tradução e notas de Agostinho da Silva. In. CIVITA, Victor (Editor). Epicuro, Lucrécio, Cícero, Sêneca, M. Aurélio. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os Pensadores).

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Epicuro

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

ÉMILE DURKHEIM



Émile Durkheim
Em
Educação e Sociologia.







“É preciso saber que as vantagens duma sólida cultura intelectual nem sempre foram reconhecidas por todos os povos.
A ciência, o espírito crítico, que hoje tão alto colocamos, durante muito tempo foram tidos como perigosos.
Não conhecemos o dito que proclama bem-aventurados os pobres de espírito?
Convém não acreditar que esta indiferença para o saber tenha sido artificialmente imposta aos homens, com violação de sua própria natureza.

Por si mesmos eles não teriam nunca desejo algum de ciência, simplesmente porque as sociedades de que faziam parte não sentiam dela necessidade absolutamente nenhuma.
Pelo contrário, para poder viver, eles tinham, antes de tudo, necessidade de tradições fortes e integralmente respeitadas.
Ora, a tradição não desperta, mas tende até a excluir o pensamento e a reflexão”.




“Ainda que tais qualidades pareçam, à primeira vista, desejáveis por si mesmas, o indivíduo não as procura senão quando a sociedade o leve a isso, e o faz da maneira pela qual ela lhe prescreve”.






DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. Tradução do Prof. Lourenço Filho. 11ª. Ed. São Paulo: Melhoramentos; [Rio de Janeiro]: Fundação Nacional de Material Escolar, 1978.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

MARCO AURÉLIO



Marco Aurélio
Em
Meditações.






“Estima o pouco de ciência que aprendeste e descansa.
Passa o resto da vida como quem confiou aos deuses de todo coração, tudo que é seu e não fez de nenhum homem seu tirano nem seu escravo”.



“Pensa continuamente no mundo como vivente único, com uma só substância e uma só alma, e em como tudo reverte a uma percepção única, a dele; como tudo ele faz sob um impulso único; como tudo é concausa de todo acontecimento e como é feita a urdidura e a meada”.



“Tenhas um só deleite e contentamento, o de passar dum ato social a outro ato social, com o pensamento em Deus”.



“Quem viu o presente viu tudo, não só o que existiu desde a eternidade como tudo o que haverá no tempo infinito, pois tudo tem a mesma origem e o mesmo aspecto”.



“Todas as coisas estão entretecidas; seus laços são sagrados, e, a bem dizer, não há uma estranha a outra; estão coordenadas e, juntas, compõem a ordem do próprio mundo.
O mundo é único, composto de todas as coisas; única a divindade, disseminada por todas as coisas; única a substância; única a lei; comum a razão de todos os viventes inteligentes; única a verdade, posto que única a perfeição dos seres da mesma espécie e dos viventes que compartilham a mesma razão”.






MARCO AURÉLIO. Meditações. Tradução e notas de Jaime Bruna. In. CIVITA, Victor (Editor). Epicuro, Lucrécio, Cícero, Sêneca, M. Aurélio. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (os Pensadores).

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marco_Aur%C3%A9lio

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

FLORBELA ESPANCA (8)



ERRANTE
(Florbela Espanca)






Meu coração da cor dos rubros vinhos
Rasga a mortalha do meu peito brando
E vai fugindo, e tonto vai andando
A perder-se nas brumas dos caminhos.

Meu coração o místico profeta,
O paladino audaz da desventura,
Que sonha ser um santo e um poeta,
Vai procurar o Paço da Ventura...

Meu coração não chega lá decerto...
Não conhece o caminho nem o trilho,
Nem há memória desse sítio incerto...

Eu tecerei uns sonhos irreais...
Como essa mãe que viu partir o filho,
Como esse filho que não voltou mais!





ESPANCA, Florbela. A Mensageira das Violetas.
Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/
Fonte:
ESPANCA, Florbela. A mensageira das violetas: antologia. Seleção e edição de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 1999.

JOAQUIM TORRES-GARCIA



Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Washington D.C.


New York Street Scene
1920 – óleo sobre papel montado em madeira – 46,6 x 65,8 cm.
Autor: Joaquim Torres-Garcia



Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Joaquin_Torres_Garcia

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

MAX WEBER



Max Weber
Em
Ensaios de Sociologia.







“Não há, absolutamente, nenhuma religião “coerente”, funcionando como uma força vital que não é compelida em algum ponto, a exigir o credo non quod, sed quia absurdum – o “sacrifício do intelecto”.


Não é necessário, e seria impossível, tratar detalhadamente dos estágios da tensão entre a religião e o conhecimento intelectual.

A religião redentora defende-se do ataque do intelecto auto-suficiente.

E assim o faz, decerto, rigorosamente baseada em princípios, formulando a pretensão de que o conhecimento religioso se move numa esfera diferente e que a natureza e significado do conhecimento religioso são totalmente diferentes das realizações do intelecto.

A religião pretende oferecer uma posição última em relação ao mundo através de uma percepção direta do “significado” do mundo.

Não quer oferecer o conhecimento intelectual relativo ao que é ou que deveria ser.

Pretende revelar o sentido do mundo não por meio do intelecto, mas em virtude de um carisma da iluminação.

Esse carisma, ao que se diz, só é transmitido aos que fazem uso da respectiva técnica e se libertam das substituições enganosas e errôneas, apresentadas como conhecimento pelas impressões confusas dos sentidos e as abstrações vazias do intelecto.

A religião que elas são, na verdade, irrelevantes para a salvação.

Libertando-se delas, o homem religioso prepara-se para a recepção da percepção importantíssima do significado do mundo e de sua própria existência”.






WEBER, Max. “Ensaios de Sociologia (Capítulo XIII)”. In. ___________ Ensaios de Sociologia e Outros Estudos. Seleção de Maurício Tragtenberg. Tradução da versão inglesa por Waltensir Dutra. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Os Pensadores)


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

ESPINOSA (3)



Espinosa
Em
Tratado Político.






“Os filósofos concebem as emoções que se combatem entre si, em nós, como vícios em que os homens caem por erro próprio; é por isso que se habituaram a ridicularizá-los, deplora-los, reprová-los ou, quando querem parecer mais morais, detestá-los.

Julgam assim agir divinamente e elevar-se ao pedestal da sabedoria, prodigalizando toda espécie de louvores a uma natureza humana que em parte alguma existe, e atacando através dos seus discursos a que realmente existe.

Concebem os homens, efetivamente, não tais como são, mas como eles próprios gostariam que fossem.

Daí, por conseqüência, que quase todos, em vez de uma ética, hajam escrito uma sátira, e não tinham sobre política vistas que possam ser postas em prática, devendo a política, tal como a concebem, ser tomada por quimera, ou como respeitando ao domínio da utopia ou da idade de ouro, isto é, a um tempo em que nenhuma instituição era necessária.

Portanto, entre todas as ciências que têm uma aplicação, é a política o campo em que a teoria passa por diferir mais da prática, e não há homens que se pense menos próprios para governar o Estado do que os teóricos, quer dizer, os filósofos”.






ESPINOSA, Benedictus de. “Tratado Político”. Tradução de Manuel de Castro. In. ___________ Pensamentos metafísicos; Tratado da correção do intelecto; Ética; Tratado político; Correspondência. Seleção de textos de Marilena de Souza Chuaí. Traduções de Marilena da Souza Chuaí [et al.] 2ª. Edição. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bento_de_Espinosa

TERTÚLIAS VIRTUAIS: BRASIL




Brasil 6-2 Portugal

Jogo amistoso disputado em Gama, arredores de Brasília, na noite de 19 de novembro de 2008.


Este post faz parte do "Tertúlias Virtuais" proposta do Varal de Idéias e do Expresso da Linha, que ocorre todo dia 15 de cada mês.

Mais participantes do Tertúlia Virtual, aqui

sábado, 13 de dezembro de 2008

RAINER MARIA RILKE (2)



Rainer Maria Rilke
Em
Cartas a um poeta.







“Uma só coisa é necessária: a solidão, a grande solidão interior.

Caminhar em si próprio e, durante horas, não encontrar ninguém – é a isto que é preciso chegar.

Estar só – como a criança está só quando as pessoas crescidas se agitam, ocupadas com coisas que lhe parecem grandes e importantes pelo simples fato de preocuparem os adultos e ela nada compreender do que estes fazem.

No dia em que percebemos que essas preocupações são áridas e mesquinhas, essas ocupações sem relação real com a vida, como não continuar a considerá-las uma coisa estranha, tal como a criança do âmago do seu mundo, do fundo de sua grande solidão, que é, afinal, trabalho, aprendizagem, conhecimento?

Para que substituir o sensato “não-compreender” da criança por luta e desespero, se não compreender é aceitar a solidão, – se lutar e desprezar são duas formas de tomar parte nas próprias coisas que desejamos ignorar?

Aplique, caro senhor, os seus pensamentos ao mundo que traz dentro de si e dê o nome que entender a esses pensamentos.

Mas, quer se trate de recordações de sua infância ou da necessidade apaixonada de se realizar, concentre-se sobre tudo o que germinar em si, dando-lhe a primazia sobre tudo o que germinar em si, dando-lhe a primazia sobre tudo o que observou à sua volta.

Os seus acontecimentos interiores merecem todo o seu amor”.








RILKE, Rainer Maria. Cartas a um poeta. Tradução de Fernanda de Castro. Lisboa: Portugália Editora, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rainer_Maria_Rilke

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

AGÜENTANDO O VELHO GALHO



Agüentando O Velho Galho
(Composição: Heitor Catumbi)
(Samba-choro gravado por Jorge Veiga em 1961)






Eu vou contar a minha vida agora
Tempos de verdadeiras malandragens
Quando eu morava nas casas de cômodos
E freqüentava um milhão de estalagens

Na gafieira era conhecido
Como o malandro maioral do Rio
Tinha prazer em ser um bagunceiro
E possuir o nome de vadio

Nunca fiz força, “nerusca” de batente
Bancando o inteligente nunca trabalhava
E tinha sempre uma cabrocha boa
Que me dava tudo que eu precisava

Trajava “chique” como um deputado
Ia em todo lado, tinha um capanga
E quantas vezes banquei o delegado
Pra fazer farol nos bailes da Kananga

Se hoje em dia eu sou um homem sério
Não é que a isso seja obrigado
Mas é que tudo nesta vida cansa
E da malandragem eu já estou cansado

Alem do que arranjei uma branca
Que tem a “granoscópia” e já não é criança
Estou tapeando e agüentando o velho galho
Pra ver se ela morre pra eu entrar na herança






Sobre Heitor Catumbi:
http://music.aol.com/artist/heitor-catumbi/biography/1446979

Sobre Jorge Veiga:
http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?nome=Jorge%20Veiga&tabela=T_FORM_A

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

JUNG (3)



C. G. Jung
Em
Memórias, Sonhos, Reflexões.






“Se admitirmos que haja uma continuação no “além”, só poderemos conceber um modo de existência que seja psíquico; pois a vida da psique não tem necessidade de espaço ou tempo.
A existência psíquica – e sobretudo as imagens interiores de que nos ocupamos desde agora – oferecem matéria para todas as especulações míticas sobre uma vida no além, e esta eu represento como um caminhar progressivo através do mundo das imagens.
Desse modo a psique poderia ser essa existência na qual se situa o “além” ou o “país dos mortos”.
Inconsciente e “país dos mortos” seriam, nessa perspectiva, sinônimos”.




“Em geral as representações que os homens fazem do além são determinadas por seus desejos e preconceitos.
É por este motivo que freqüentemente representações claras e serenas são associadas ao além.
Mas isso não me convence.
Custa-me imaginar que após nossa morte aterrisaremos em suaves campinas floridas.
Se tudo fosse claro e bom no além, deveria haver amistosas comunicações entre nós e os numerosos espíritos bem-aventurados, e, por conseguinte, veríamos descer sobre nós em estado pré-natal, efusões de beleza e bondade.
O que acontece não é isso.
Por que esta insuperável barreira entre os mortos e os vivos?
A metade, pelo menos, das narrações de encontros com espíritos dos mortos versa sobre episódios aterradores e a regra é que na morada dos mortos reina um silêncio glacial, um desprezo pela dor dos abandonados”.




“O mundo em que entramos após a morte será grandioso e assustador, à semelhança da divindade e da natureza que conhecemos”.






JUNG, C. G. Memórias, Sonhos, Reflexões. Compilação e Prefácio de Aniela Jaffé. Tradução de Dora Ferreira da Silva. 12ª. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

THORSTEIN VEBLEN



Thorstein Veblen
Em
A Teoria da Classe Ociosa.







“Para a grande maioria das pessoas de qualquer comunidade moderna, a razão imediata dos gastos além do necessário ao conforto físico não é tanto um esforço consciente de se exceder nas despesas de seu consumo visível, como um desejo de manter um padrão convencional de decência quanto ao grau e quantidade dos bens consumidos.

Este desejo não é ditado por um padrão rigorosamente fixo, que deve ser alcançado e, além do qual, não há incentivo para progredir.

O padrão é flexível; e é especialmente de extensibilidade indefinida, contanto que haja tempo de se habituar a qualquer aumento na capacidade pecuniária e de adaptar-se à nova e mais ampla escala de gastos, que se segue a um tal aumento.

É muito mais difícil diminuir a escala de gastos, já adotada, do que estendê-la em resposta a um aumento da riqueza”.




“É notoriamente tão difícil abandonar um padrão de vida “elevado” como baixar um padrão que já é relativamente baixo, apesar de no primeiro caso, a dificuldade ser de ordem moral, enquanto no último poderá significar a dedução (redução) material dos confortos físicos da existência”.




“A gradação na facilidade com que se formam os diferentes hábitos em diversas pessoas, assim como a relutância em abandoná-los, indica que a formação de hábitos específicos não é simplesmente questão de sua duração.

Tendência e características de temperamento herdadas valem tanto quanto o tempo de habituação para determinar quais os hábitos que virão a dominar um esquema de vida individual.

E o tipo prevalecente das tendências transmitidas ou, em outras palavras, o tipo de temperamento peculiar ao elemento étnico dominante de qualquer comunidade, terá muito que dizer sobre o escopo e forma de expressão dos hábitos e da vida desta comunidade”.







VEBLEN, Thorstein Bunde. “A Teoria da Classe Ociosa”. Tradução de Olívia Krähenbühl. In. CIVITA, Victor (editor). Veblen. 2ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1985. (Os Pensadores).

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Thorstein_Veblen

ALBRECH DÜRER



Musée du Louvre, Paris

Selbstportät mit Blume
(Auto-retrato com flores)
1493 – óleo sobre tela – 57 x 45 cm.
Autor: Albrech Dürer


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Albrecht_D%C3%BCrer

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

PAULO FREIRE (2)



Paulo Freire
Em
Pedagogia do Oprimido.







“Precisamos estar convencidos de que o convencimento dos oprimidos de que devem lutar por sua libertação não é doação que lhes faça a liderança revolucionária, mas resultado de sua conscientização.



É necessário que a liderança revolucionária descubra esta obviedade: que seu convencimento da necessidade de lutar, que constitui uma dimensão indispensável do saber revolucionário, não lhe foi doado por ninguém, se é autêntico.

Chegou a este saber, que não é algo parado ou possível de ser transformado em conteúdo a ser depositado nos outros, por um ato total, de reflexão e de ação.



Foi a sua inserção lúcida na realidade, na situação histórica, que a levou à crítica desta mesma situação e ao ímpeto de transformá-la”.






FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 6ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

ARISTÓTELES (4)



ARISTÓTELES
Em
Arte Retórica.







“A maior parte dos desejos vão acompanhados de algum prazer; quer nos recordemos de tê-los experimentado, quer esperemos vir a experimentá-los, gozamos uma espécie de prazer.
Assim os que têm febre e são atormentados pela sede sentem prazer, tanto em se lembrarem que beberam, como em pensar que hão de beber.

E os apaixonados, quer falem, quer escrevam em prosa ou em verso sobre a pessoa amada, não deixam de tirar daí alguma satisfação; em todas estas circunstâncias, a memória lhes faz crer que se encontram na presença dela.
Mais do que isso, é sinal de começo de amor para com uma pessoa, quando não só se sente prazer em sua presença, mas mesmo, quando ausente, ela está presente à lembrança.

Por isso, se nos afligimos por não a termos a nosso lado, sentimos certa complacência nessa aflição e lamentações.
A tristeza de não a ter à nossa disposição associa-se o prazer de nos lembrarmos dela; de a ver de algum modo, de recordar seus atos e qualidades”.







ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1969.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles

sábado, 6 de dezembro de 2008

WALT WHITMAN



Walt Whitman
Em
Folhas de Relva.







EM MEIO À MULTIDÃO

Em meio à multidão de homens e mulheres
percebo alguém a chamar-me através de sinais secretos e
divinos,
ninguém mais reconhecendo, pai, esposa ou esposo, irmão ou
ninguém mais próximo do que estou;
alguns se confundem, mas esse não – esse alguém me conhece.

Ah amante e igual sem falha,
sabia eu que me havias de descobrir com tão débeis disfarces
e quando te encontrei soube que te descobria pela mesma
coisa em ti.




PENSAMENTO

Da obediência, da fé, do proselitismo:
enquanto fico de parte e olho, há para mim algo profundamente
impressionante nas grandes massas de homens que seguem
a liderança daqueles que não fazem fé nos homens.





REVERSAIS

Que passe para trás quem se encontrava na frente,
que passe para a frente quem estava lá atrás,
que os doidos, apaixonados, sujeitos mal comportados,
encaminhem novas proposições,
que sejam postas de lado as proposições antigas,
que um homem busque o prazer em toda parte exceto nele
próprio,
que uma mulher busque a felicidade em toda parte exceto nela
própria.







WHITMAN, Walt. Folhas de Relva. Seleção e tradução de Geir Campos. Ilustrações de Darcy Penteado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Walt_Whitman

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

JEAN BAUDRILLARD (2)



Jean Baudrillard
Em
Cool Memories II.







“O problema atual da classe política é que não se trata mais de governar, mas de manter uma alucinação do poder, o que exige talentos muito particulares.
Produzir o poder como ilusão, é como fazer malabarismos com capitais flutuantes, é como dançar frente a um espelho.

E se não há mais poder, é que toda a sociedade passou para o lado da servidão voluntária.
Essa figura misteriosa sobre a qual nos interrogamos desde o século XVI, agora não é mais um mistério, já que se tornou a regra geral.
Mas de uma forma estranha: não mais como vontade de ser servo de sua própria vontade.
Intimados a querer, poder, saber, agir, vencer, todos nos dobramos a tudo isso, e os desígnios do político foram totalmente bem sucedidos: cada um de nós se transformou num sistema subjugado, auto-subjugado, tendo investido toda sua liberdade na vontade louca de tirar o máximo de si mesmo.

Mas então o poder não faz mais sentido, já que não se necessita dele para perpetrar essa forma misteriosa que é a servidão voluntária.
A partir do momento onde o poder não é mais a hipóstase, a transfiguração da servidão e que esta seja perfeitamente difusa pela sociedade, então só resta perecer como uma função inútil”.







BAUDRILLARD, Jean. Cool Memorie II. Crônicas 1987 – 1990. Tradução de Angel Bojadsen. São Paulo: Estação Liberdade, 1996.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Baudrillard

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

ANTÔNIO BARBOSA BACELAR



A uma ausência
(Antônio Barbosa Bacelar)





Sinto-me, sem sentir, todo abrasado
No rigoroso fogo que me alenta;
O mal, que me consome, me sustenta;
O bem, que me entretém, me dá cuidado.

Ando sem me mover, falo calado;
O que mais perto vejo, se me ausenta,
E o que estou sem ver, mais me atormenta;
Alegro-me de ver-me atormentado.

Choro no mesmo ponto em que me rio;
No mor risco me anima á confiança;
Do que menos se espera estou mais certo.

Mas se de confiado desconfio,
É porque, entre os receios da mudança,
Ando perdido em mim como em deserto.







MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa – através dos textos. 5ª. Ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1972.

Sobre o autor:
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/bacelar.htm

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

JOAQUIM NABUCO (3)



Joaquim Nabuco
Em
Pensamentos Soltos: Livro I.







22

“Crer é entregar-se inteiramente”.


45

“Não é a fonte que indica se o fio d’água será rio caudaloso ou estreita torrente.
Não vos orgulheis de ser fonte”.


54

“Não deixeis entrar nada em vós senão pela porta da gratidão”.


83

“O bem é uma sugestão divina; a única feita ao homem”.


123

“A verdadeira ciência nunca passará do andaime que o homem arma sobre aquilo que ele vê para tentar atingir aquilo que nunca poderá ver”.


151

“Para meditar, é preciso deixar o espírito encher-se de penumbra do lado do mundo, como se tivésseis por algum tempo os olhos fechados e, depois, nessa obscuridade, esperar que apagadas as vozes e os reflexos da vida, se forme em vós um ponto luminoso no qual pudésseis concentrar.
Mas muitos não conseguem interromper o cortejo de sonhos que se forma, uma vez cerradas as pálpebras”.






NABUCO, Joaquim. Pensamentos Soltos. Brasília: A. N. Editora, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Nabuco

BETTY BOOP


Betty Boop é uma personagem de desenho animado que apareceu nas séries de filmes Talkartoon e Betty Boop, produzidas por Max Fischer e distribuídas pela Paramount Pictures.


Sobre Betty Boop:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Betty_Boop

Betty Boop em Ritmo na Reserva [Dublado]:
http://www.youtube.com/watch?v=hHIMyZzNt38

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

NIETZSCHE (18)



Friedrich Nietzsche
Em
A Origem da Tragédia.







“Todo o homem que for dotado de espírito filosófico há de ter o pressentimento de que, atrás da realidade em que existimos e vivemos, se esconde outra muito diferente, e que, por conseqüência, a primeira não passa de uma aparição da segunda; e Schopenhauer define formalmente o sinal distintivo da aptidão filosófica na faculdade que alguns homens possuem de se representarem os seres vivos e as coisas inertes como puros fantasmas, imagens de sonho.

Pois bem: o homem dotado de sensibilidade artística comporta-se para com a realidade do sonho da mesma maneira que o filósofo se comporta perante a realidade da existência”.



“O encantamento é o pressuposto de toda a arte dramática”.



“A canção popular aparece-nos, antes de mais, como espelho musical do mundo, como melodia primordial que anda a procura da imagem de sonho que lhe seja irmã para a exprimir num poema”.



“Pois se é uma lei inflexível, aplicável a todas as coisas, que morre cedo o amado dos deuses, também é certo que morre para viver eternamente como os deuses”.






NIETZSCHE, Friedriche. A Origem da Tragédia. Tradução de Álvaro Ribeiro. 3ª. Ed. Lisboa: Guimarães Editores, 1982.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

CÉSAR BECCARIA



César Beccaria
Em
Dos Delitos e das Penas.






“Para que uma pena seja justa, deve ter apenas o grau de rigor bastante para desviar os homens do crime.
Ora, não há homem que possa vacilar entre o crime, mal grado a vantagem que este prometa, e o risco de perder para sempre a liberdade.

Assim, pois, a escravidão perpétua, substituindo a pena de morte, tem todo o rigor necessário para afastar do crime o espírito mais determinado.
Digo mais: encara-se muitas vezes a morte de modo tranqüilo e firme, uns por fanatismo, outros por essa vaidade que nos acompanha mesmo além do túmulo.
Alguns, desesperados, fatigados da vida, vêem na morte um meio de se livrar da miséria.
Mas, o fanatismo e a vaidade desaparecem nas cadeias, sob os golpes, em meio às barras de ferro.
O desespero não lhes põe fim aos males, mas os começa.

Nossa alma resiste mais à violência das dores extremas, apenas passageiras, do que ao tempo e à continuidade do desgosto.
Todas as forças da alma, reunindo-se contra males passageiros, podem enfraquecer-lhes a ação; mas, todas as molas acabam por ceder a penas longas e constantes”.







BECCARIA, César. “Dos Delitos e das Penas”. Tradução de Antônio Piccarolo e Leonor de Aguiar. In. Pensadores Italianos. Prefácio de Adolfo Rava. Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre: W. M. Jackson Inc. Editores, 1950.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Cesare,_Marquis_of_Beccaria

sábado, 29 de novembro de 2008

JOHN STUART MILL (2)



John Stuart Mill
Em
Da Liberdade.







“Aquele que deixa o mundo ou sua própria porção dele moldar-lhe o plano de vida não tem necessidade de qualquer outra faculdade senão a de imitação, como os macacos.

Quem escolhe para si o próprio plano faz uso de todas as faculdades.

Tem de empregar a observação para ver, o raciocínio e o julgamento para prever, a atividade para reunir materiais para decisão, discriminação para decidir, e quando decidiu, firmeza e autocontrole para manter a decisão deliberada”.




“Espíritos não originais não podem sentir a utilidade da originalidade.

Não são capazes de perceber que importância poderá ter para eles: como lhes seria possível?

Se pudessem perceber o que faria por eles, deixaria de ser originalidade.

O primeiro serviço que pode prestar é abrir-lhes os olhos: o que, uma vez inteiramente conseguido, dar-lhes-ia uma oportunidade de serem por sua vez originais”.




“A média geral dos homens é não só moderada em inteligência, como também em inclinações; não têm gostos ou desejos bastante fortes para incliná-los a fazer algo desusado, e em conseqüência não compreendem os que os têm, classificando todos estes como desmiolados e descomedidos, que estão acostumados a desprezar”.






MILL, John Stuart. Da Liberdade. Tradução de E. Jacy Monteiro. São Paulo: IBRASA, 1963.

Sobre o autor:

http://en.wikipedia.org/wiki/John_Stuart_Mill

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

PIERRE WEIL (2)



Pierre Weil
Em
A Experiência Mística.







“Ainda que apelemos simplesmente ao nosso bom senso, é evidente que se aquilo que denominamos espírito foi o que dominou a energia atômica e descobriu os princípios que nos permitem viajar para outros planetas, esse espírito, evidentemente, é mais poderoso do que as energias que ele observa ou manipula.

Não será, portanto, o conhecimento da natureza do espírito o verdadeiro caminho que nos possibilitará conhecer a natureza da Natureza?

É exatamente isso que afirmam todas as tradições espirituais ao insistirem no preceito “conhece-te a ti mesmo”.

Tomando contato direto com esse microcosmo que somos é que temos acesso ao macrocosmo, pois o primeiro vem a ser uma miniatura do segundo; com efeito, eles são tão inseparáveis quanto são as folhas ou os galhos de uma árvore, ou as ondas do mar”.







WEIL, Pierre. Antologia do Êxtase. Tradução de Patrícia Cenacchi. São Paulo: Palas Athena, 1993.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_Weil

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

OLAVO BILAC (2)



A Avó
(Olavo Bilac)






A avó, que tem oitenta anos,
Está tão fraca e velhinha...
Teve tantos desenganos!
Ficou branquinha, branquinha,
Com os desgostos humanos.

Hoje, na sua cadeira,
Repousa, pálida e fria,
Depois de tanta canseira:
E cochila todo o dia,
E cochila a noite inteira.

Às vezes, porém, o bando
Dos netos invade a sala...
Entram rindo e papagueando:
Este briga, aquele fala,
Aquela dança, pulando...

A velha acorda sorrindo,
E a alegria a transfigura;
Seu rosto fica mais lindo,
Vendo tanta travessura,
E tanto barulho ouvindo.

Chama os netos adorados,
Beija-os, e, tremulamente,
Passa os dedos engelhados,
Lentamente, lentamente,
Por seus cabelos dourados.

Fica mais moça, e palpita,
E recupera a memória,
Quando um dos netinhos grita:
“Oh vovó! Conte uma história!
Conte uma história bonita!”

Então, com frases pausadas,
Conta histórias de quimeras,
Em que há palácios de fadas,
E feiticeiras, e feras,
E princesas encantadas...

E os netinhos estremecem,
Os contos acompanhando,
E as travessuras esquecem,
– Até que, a fonte inclinando
Sobre seu colo, adormecem...







WERNECK, Eugênio. Antologia Brasileira: Coletânea Em Prosa E Verso de Escritores Nacionais. 22ª. Ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1942.
Disponível em:

http://books.google.com.br/books?id=z7lVAAAAMAAJ&printsec=titlepage&source=gbs_summary_r&cad=0

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Olavo_Bilac

terça-feira, 25 de novembro de 2008

THOMAS PAINE



Thomas Paine
Em
Senso Comum.






“Alguns escritores de tal modo confundiram sociedade e governo que entre os dois deixaram pouca ou nenhuma distinção, apesar de, além de diferentes, possuírem origens diversas.

A sociedade é produzida pelas nossas necessidades, e o governo pela nossa maldade; a primeira promove positivamente a nossa ventura, unindo os nossos afetos, enquanto o segundo o faz negativamente refreando os nossos vícios.

A primeira encoraja o intercâmbio, o segundo cria distinções.

A primeira é uma patrocinadora, o segundo um punidor”.





“A sociedade em qualquer estado é uma benção, enquanto o governo, mesmo no seu melhor estado, não passa de mal necessário, sendo, no pior estado, um mal intolerável.

Porque, quando sofremos ou ficamos expostos, por um governo, às mesmas misérias que poderíamos esperar em um país sem governo, a nossa calamidade aumenta pela reflexão de que nós é que fornecemos os meios pelos quais sofremos.

O governo, como a vestimenta, é o emblema da inocência perdida; os palácios dos reis erguem-se sobre as ruínas das choupanas do paraíso”.






PAINE, Thomas. “Senso Comum”. Tradução de A. Della Nina. In. CIVITA, V. (Editor). Federalistas. Textos selecionados por Francisco C. Weffort. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Os Pensadores)

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Paine

CURT HERRMANN


Neue Galerie – Kassel


Bildnis Otto Muller (Efígie de Otto Muller)
1914 – óleo sobre tela – 47 x 35,5 cm.
Autor: Curt Herrmann



Sobre o autor:
http://www.curt-herrmann.com/

MONTAIGNE (2)



Montaigne
Em
Ensaios: Livro primeiro.






“Demócrito e Heráclito eram dois filósofos.

O primeiro, achando que a condição humana é vã e ridícula, apresentava-se sempre em público a rir e motejar.

Heráclito, tomado de piedade por essa mesma humanidade, andava permanentemente triste e de lágrimas nos olhos: “Logo que punham o pé fora de casa, um ria e o outro chorava”.

Prefiro o primeiro, não porque seja mais agradável rir do que chorar, mas porque sua atitude é testemunha de seu desdém, porque ela nos condena mais do que a outra e acho que nunca podemos ser desprezados quanto o merecemos.

Piedade e comiseração misturam-se a alguma estima por aquilo que temos dó; o de que se caçoa, consideramo-lo sem valor.

Penso que há em nós mais vaidade do que infelicidade, mais tolice do que malícia, mais vazio do que maldade, mais vileza do que miséria”.





“Sou de opinião que aos vinte anos nosso espírito já se desenvolveu completamente, já é o que será e mostra de que é capaz.

O espírito que até essa idade não deu demonstração evidente de sua fortaleza, nunca o dará mais tarde”.






MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. Tradução de Sérgio Milliet. 1ª Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1972. (Os Pensadores)

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Eyquem_de_Montaigne

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

FILOLAU DE CROTONA



Filolau de Crotona

(Fragmentos)

Tradução de Isis L. Borges.





”Com natureza e harmonia, dá-se o seguinte: a essência das coisas, que é eterna, e a própria natureza requerem conhecimento divino e não-humano, e seria absolutamente impossível que alguma das coisas existentes se tornasse conhecida por nós, se não existisse a essência das coisas das quais se constituiu o cosmos, tanto das limitadas como das ilimitadas.

Mas, visto que estes princípios não são iguais, nem de iguais famílias, já seria impossível criar-se um cosmos com eles, se não acrescentasse a harmonia, de qualquer maneira que ela tenha vindo a ser.

As coisas iguais e de iguais famílias em nada precisam, pois, de harmonia; mas as desiguais, não de famílias iguais e não igualmente dispostas, são necessariamente fechadas em tal harmonia que se destinam a se conter numa ordem”.





“A harmonia é a unificação de muitos (elementos) misturados e a concordância dos discordantes”.




“Há certos pensamentos mais fortes que nós”.






SOUSA, José Cavalcante de (seleção de textos e supervisão). Os Pré-socráticos. Dados biográficos de Remberto Francisco Kuhnen; traduções de José Cavalcante de Souza... (et al.). 2ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores)

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Filolau

sábado, 22 de novembro de 2008

MANO DÉCIO DA VIOLA / SILAS DE OLIVEIRA



Amor aventureiro
(Mano Décio da Viola / Silas de Oliveira)
(samba, 1975)





Eu inspiro aventura
Respiro com loucura
Oh Deus!
É inocente a criatura

Ajudai-me a esquecer
É um botão em flor
Jamais poderia ser
Meu grande amor

Não!
Não deixe que a tentação
E a malícia
Venham seduzir meu coração

Venham arrebatar a minh’alma
Daí perdida toda a calma
Levam como são
A criatura a perdição







Sobre Mano Décio da Viola:
http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?tabela=T_FORM_A&nome=Mano+D%E9cio+da+Viola


Sobre Silas de Oliveira:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Silas_de_Oliveira

Escute com a Dona Ivone Lara, clicando no linque abaixo:
http://www.goear.com/listen/618e45f/Amor-aventureiro-(Mano-Décio-Silas-de-Oliveira))

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

GIUSEPPE MAZZINI



Giuseppe Mazzini
Em
Deveres do Homem.






“Hoje, sabemos que a lei da Vida é o Progresso; progresso para o indivíduo, progresso para a Humanidade.
A Humanidade cumpre essa Lei na terra; o indivíduo, na terra e fora dela.
Um só Deus; uma só Lei.
Essa Lei se cumpre lentamente, inevitavelmente, na Humanidade, desde o seu primeiro nascimento.
A verdade jamais se manifestou toda ou de golpe.
Uma revelação contínua manifesta, de época em época, um fragmento da Verdade, uma palavra da Lei.
Cada uma dessas palavras modifica profundamente, no caminho do Melhor, a vida humana, e constitui uma crença, uma Fé.
O desenvolvimento da Idéia religiosa é, pois, indefinidamente progressivo; e, como colunas de um templo, as crenças sucessivas, desenvolvendo e purificando cada vez mais essa Idéia, constituirão um dia o Panteon.

São essas algumas das verdades contidas na palavra Progresso, da qual sairá a Religião do Futuro.
Somente nela pode realizar-se a vossa emancipação”.






MAZZINI, Giuseppe. “Deveres do Homem”. Tradução de Antônio Piccarolo e Leonor de Aguiar. In. Pensadores Italianos. Prefácio de Adolfo Rava. Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre: W. M. Jackson Inc. Editores, 1950.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Giuseppe_Mazzini

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

BAUDELAIRE (4)



Charles Baudelaire
Em
O Dândi






“Esses seres não têm outra ocupação senão cultivar a idéia do belo em suas próprias pessoas, satisfazer suas paixões, sentir e pensar.

Possuem, a seu bel-prazer e em larga medida, tempo e dinheiro, sem os quais a fantasia, reduzida ao estado de devaneio passageiro, dificilmente pode ser traduzida em ação.

Infelizmente, é bem verdade que, sem o tempo e o dinheiro, o amor não pode ser mais do que uma orgia de plebeu ou o cumprimento de um dever conjugal.

Em vez da fantasia ardente ou sonhadora, torna-se uma repugnante utilidade”.




“Se falo de amor a propósito do dandismo, é porque o amor é a ocupação natural dos ociosos”.




“Se me referi ao dinheiro, é porque o dinheiro é indispensável aos que cultuam as próprias paixões; mas o dândi não aspira ao dinheiro como a uma coisa essencial; um crédito ilimitado poderia lhe bastar: ele deixa essa grosseira paixão aos vulgares mortais”.




“É antes de tudo a necessidade ardente de alcançar uma originalidade dentro dos limites da conveniência”.



“É o prazer de provocar admiração e a satisfação orgulhosa de jamais ficar admirado”.




“O dandismo é um sol poente; como o astro que declina, é magnífico, sem calor e cheio de melancolia”.






BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade. Sem indicação de tradutor. São Paulo / Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Baudelaire

Sobre “dandismo”:
http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/D/dandismo.htm

terça-feira, 18 de novembro de 2008

LUCRÉCIO



Lucrécio
Em
Da Natureza.






“É bom quando os ventos revolvem a superfície do grande mar, ver da terra os rudes trabalhos por que estão passando os outros; não porque haja qualquer prazer na desgraça de alguém, mas porque é bom presenciar os males que não se sofrem.
É bom também contemplar os grandes combates da guerra travados pelos campos sem que haja de nossa parte qualquer perigo.

Mas nada há de mais agradável do que ocupar os altos e serenos lugares fortificados pelas doutrinas dos sábios, donde se podem ver os mais errar por um lado e outro e procurar ao acaso o caminho da vida, lutar à força de talento, ter rivalidades de nobreza e esforçar-se, com trabalho de dias e de noites, por alcançar as maiores riquezas e apoderar-se do governo.

Ó pobres espíritos humanos, ó cegos corações!
Através de que trevas e perigos se passa o pouco tempo de vida!
Não sente cada um o que a natureza a gritos proclama que esteja sem dor o corpo e goze a mente, fora de medo e de cuidado, de um agradável sentimento?”




“Por isso, visto em nada serem os tesouros úteis ao corpo, nem a nobreza nem a glória de mandar, o que falta é pensar que também não são úteis ao espírito”.








CARO, Tito Lucrécio. “Da Natureza”; Tradução e notas de Agostinho da Silva. Estudos introdutórios de E. Joyau e G. Ribbeck. In. CIVITA, Victor (Editor). Epicuro, Lucrécio, Cícero, Sêneca, M. Aurélio. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os Pensadores)

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lucr%C3%A9cio

ALFREDO VOLPI


Coleção MAC USP

CRiSTO
s/data – óleo sobre têmpera – 81 x 59,5 cm
Autor: Alfredo Volpi

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfredo_Volpi

FERNANDO PESSOA (11)



Fernando Pessoa
Em
Escritos autobiográficos, automáticos e de reflexão pessoal.







“Aqueles que sofrem, aqueles que se consomem, desejam descanso; não desejam o horror da continuação de uma vida pessoal, o ilusório e horrível escárnio do credo cristão.

Todos os homens desejam descanso, repouso.

O descanso, o repouso, é pois a condição da felicidade.

Mas ai! A matéria está em perpétuo movimento.

Quando um homem se mata, não o faz, não pode fazê-lo, na esperança de continuar a viver com a mesma personalidade.

Pode dizer isso, pode agir nesse sentido, mas implicitamente, ao suicidar-se, espera apenas e verdadeiramente anular a sua personalidade, entrar no eterno não – ser.

Ou então alcançar uma vida melhor.

Não é felicidade fugir à personalidade”.





PESSOA, Fernando. Escritos autobiográficos, automáticos e de reflexão pessoal. Edição e colaboração de Richard Zenith, com a colaboração de Manuela Parreira da Silva. Traduções do inglês de Manuela Rocha. São Paulo: Editora Girafa, 2006.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ÓSCAR RIBAS



Óscar Ribas
Em
Ilundu. Espíritos e Ritos Angolanos.






“A ciência de quimbanda, ou seja, a umbanda, transmite-se em sonho quando houve um parente que professou esse ministério.
O predestinado sonha com o mato – o grande reservatório medicinal – e então vê as plantas curativas, os lugares para determinadas funções, as encruzilhadas imprescindíveis a certos ritos.
E com essa umbanda, designada de mufji, isto é, de família, o indivíduo torna-se quimbanda.
E bom.
Quando trabalha, tudo lhe ocorre sobrenaturalmente.
Segredos que egoisticamente os mestres ocultam aos aprendizes, tudo, neste caso, lhe é revelado.

- Não esgotes as conversas no coração. – Diz uma sentença popular.

Os guias tutelares também se manifestam em sonho.
A visão e o efeito não diferem da revelação anterior.
A umbanda assim alcançada chama-se de miondona, ou, portuguesmente, de guias tutelares.

A doação por possessão dá-se por morte de um quimbanda.
Mal acaba de falecer, ou mesmo um breve tempo depois, a sua alma actua sobre quem mais lhe agradou em vida – parente ou não.
Toda a sabedoria e corte de espíritos são-lhe legados inteiramente”.





RIBAS, Óscar Bento. Ilundu. Espíritos e Ritos Angolanos. União dos Escritores Angolanos, 1989.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Oscar_Bento_Ribas

sábado, 15 de novembro de 2008

R. D. LAING



R. D. Laing
Em
O Eu e os Outros.






“A identidade da pessoa não pode ser completamente abstraída de sua identidade-para-os-outros; de sua identidade-para-si-mesma; da identidade que os outros lhe atribuem; da identidade que ela atribui aos outros; da identidade ou identidades que julga que lhe atribuem, ou que pensa que eles pensam que ela pensa que eles pensam...

“Identidade” é aquilo pelo qual a pessoa se sente a mesma, neste lugar, neste momento, como naquele momento e naquele lugar, no passado ou no futuro; é aquilo pelo qual se identifica.
Tenho a impressão de que a maioria das pessoas tende a achar que são os mesmos seres contínuos, desde o nascimento até a morte.
E esta “identidade”, quanto mais fantasiosa, tanto mais defendida será.

A “identidade” torna-se às vezes um “objeto” que alguém possui ou julga que perdeu e se põe a procurar.
Inúmeras fantasias primitivas estão ligadas à identidade e sua objetificação.
A busca de “identidade” tão freqüentemente hoje invocada não passa às vezes de um cenário de fantasia.

Intensa frustração resulta do fracasso na busca daquele “outro” exigido para o estabelecimento de uma “identidade” satisfatória”.






LAING, Ronald David. O Eu e os Outros. O Relacionamento Interpessoal. Tradução de Áurea Brito Weissenberg. Petrópolis, Vozes, Lisboa, Centro dói Livro Brasileiro, 1972.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/R._D._Laing

TERTÚLIAS VIRTUAIS: MEU ÍDOLO


Brasão do Barão de Itararé

Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé

Meu ídolo!

Autor da reflexão:

“O que se leva dessa vida é a vida que se leva”.


Sobre o Barão:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bar%C3%A3o_de_Itarar%C3%A9

Ver também:
http://www.culturabrasil.pro.br/itarare.htm
:
Este post faz parte do "Tertúlias Virtuais" proposta do Varal de Idéias e do Expresso da Linha, que ocorre todo dia 15 de cada mês.

Mais participantes do Tertúlia Virtual, aqui

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

PEDRO ABELARDO



Pedro Abelardo
Em
A História das Minhas Calamidades.


(trechos)





“Havia na cidade de Paris certa mocinha chamada Heloísa, sobrinha de um cônego chamado Fulberto, que quanto mais a amava tanto mais cuidadosamente procurava que ela se adiantasse em toda a ciência das letras, tanto quanto possível”.


“Acreditei que essa mocinha cederia diante de mim tanto mais facilmente quanto eu sabia que ela possuía e amava a ciência das letras”.


“Para que isso acontecesse, tratei com o mencionado tio da moça, por intermédio de alguns dos seus amigos, para que ele me recebesse em sua casa, que ficava próxima da minha escola, por um preço qualquer que ele estipulasse...”.


“Nessa matéria fiquei imensamente admirado com a sua grande ingenuidade, o que não me espantou menos que se ele confiasse uma tenra ovelha a um lobo faminto”.


“Que mais direi?
Primeiro nós nos juntamos numa casa e depois no espírito.
Assim, com a desculpa do ensino, nós nos entregávamos inteiramente ao amor, e ao estudo da lição nos proporcionava as secretas intimidades que o amor desejava”.


“E quanto mais essa volúpia me dominava, tanto menos eu podia consagrar-me à filosofia e ocupar-me da escola”.


“Com efeito, fato tão patente não poderia enganar senão a poucos ou a ninguém, creio, a não ser àquele para cuja vergonha isso concorria principalmente, a saber, o próprio tio da mocinha”.


“Mas o que se vem a saber por último, em todo o caso, sempre se acaba por saber, e não é fácil esconder de uma pessoa aquilo que todos já conhecem”.


”Não muito tempo depois, a mocinha verificou que estava grávida, e logo me escreveu a respeito disso com a maior alegria, querendo saber o que eu próprio resolvia sobre o que devia ser feito.
Assim, certa noite, enquanto o seu tio estava ausente, conforme combináramos, eu a tirei às escondidas da casa do tio e a conduzi sem demora para a minha terra natal, onde ficou a viver junto com minha irmã até quando deu à luz um filho chamado Astrolábio”.


“Enfim, bastante compadecido de sua excessiva inquietação e do engano que o amor lhe infligira como a maior traição, e acusando-me severamente a mim próprio, fui procurar o homem, suplicando-lhe e prometendo-lhe qualquer reparação por tudo isso e que ele próprio decidiria qual devia ser”.


“Ora, logo que nasceu o nosso filho, depois de tê-lo confiado à minha irmã, voltamos ocultamente a Paris e, depois de poucos dias, tendo passado a noite numa igreja entregues a uma secreta vigília de orações, aí mesmo, de madrugada, estando presentes o tio dela e alguns amigos seus e meus, fomos unidos pela benção nupcial”.


“O tio dela, porém, e seus familiares, procurando uma consolação para a sua desonra, começaram a divulgar o matrimônio que havíamos contraído e a violar a respeito disso a palavra que me haviam empenhado”.


“Quando me inteirei do que acontecia, enviei-a para certa abadia de monjas, perto de Paris, chamada Argentuil, onde ela outrora, quando menina, fora educada e instruída”.


“Tendo ouvido o que se passara, o tio dela e os seus parentes ou cúmplices acharam que eu já zombara imensamente deles e que, ao fazê-la monja, eu queria desembaraçar-me dela facilmente.
Donde, profundamente indignados e mancomunados contra mim, certa noite, enquanto eu repousava e dormia num quarto retirado da minha residência, tendo corrompido com dinheiro o meu servidor, puniram-me com a vingança mais cruel e vergonhosa, e de que o mundo tomou conhecimento com o maior espanto, isto é, cortaram aquelas partes do meu corpo com as quais eu havia perpetrado a façanha que eles lamentavam”.


“... mal ainda eu me restabelecera da ferida, que os clérigos vieram ter comigo, solicitando tanto ao meu abade quanto a mim, com súplicas contínuas, para que eu agora me consagrasse ao estudo pelo amor de Deus, já que até então eu só o fizera pela ambição do dinheiro e do louvor”.


“Eles observavam que eu agora reconheceria ter sido tocado pela mão do Senhor principalmente para que, mais livre dos prazeres carnais e afastado da vida tumultuosa do mundo, eu pudesse dedicar-me ao estudo das letras e tornar-me verdadeiramente um filósofo de Deus e não do mundo”.







ABELARDO, Pedro. “A História das Minhas Calamidades”. Tradução do Prof. Dr. Ruy Afonso da Costa Nunes. In. CIVITA, Victor (Editor). Santo Anselmo de Cantuária, Pedro Abelardo. 1ª. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os Pensadores)


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Abelardo

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

AUGUSTO DOS ANJOS (2)



PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
(Augusto dos Anjos)






Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!







ANJOS, Augusto dos. Eu.
Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn00054a.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_dos_Anjos

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

OSWALD SPENGLER



Oswald Spengler
Em
A Decadência do Ocidente.







“Se Nietzsche houvesse observado os seus tempos, com maior liberdade de preconceitos, menos influenciado pelo romântico entusiasmo por certas criações éticas, teria notado que não existe em solo da Europa ocidental aquela moral da compaixão, supostamente cristã, tal como se lhe afigurava.

O texto literal de determinadas convicções humanas não nos deve iludir quanto ao seu significado real.

Só raras vezes um homem sabe o que crê”.





“A oposição primordial entre o elemento cósmico e o microcosmo determina também a relação entre o homem e a mulher.

A mulher é destino, é tempo, é a lógica orgânica do próprio devir.

A história sem cultura das gerações sucessivas é feminina.

O homem vive o destino e compreende a lógica do que deveio; concebe a causalidade conforme a motivações e efeitos.

Mas a luta entre o homem e a mulher realiza-se sempre pelo sangue, pela mulher.

A mulher é história, o homem faz história”.





“A história “feminina” é cósmica; a “masculina” é política”.







SPENGLER, Oswald. A Decadência do Ocidente. Edição condensada por Helmut Webner. Tradução de Herbert Caro. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Oswald_Spengler

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 11 de novembro de 2008

ZEZÉ DI CAMARGO



É O AMOR
(Composição de Zezé Di Camargo)





Eu não vou negar
Que sou louco por você
Tô maluco pra te ver
Eu não vou negar

Eu não vou negar
Sem você tudo é saudade
Você traz felicidade
Eu não vou negar

Eu não vou negar
Você é meu doce mel
Meu pedacinho de céu
Eu não vou negar

Você é minha doce amada
Minha alegria
Meu conto de fada, minha fantasia
A paz que eu preciso pra sobreviver

Eu sou o seu apaixonado
De alma transparente
Um louco alucinado
Meio inconseqüente
Um caso complicado de se entender

É o Amor
Que mexe com minha cabeça
E me deixa assim
Que faz eu pensar em você
E esquecer de mim
Que faz eu esquecer
Que a vida é feita pra viver

É o Amor
Que veio como um tiro certo
No meu coração
Que derrubou a base forte
Da minha paixão
E fez eu entender que a vida
É nada sem você







Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Zez%C3%A9_Di_Camargo

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

ALLAN KARDEC



Allan Kardec
Em
A Gênese






"O simples fato de poder o homem comunicar-se com os seres do mundo espiritual traz conseqüências incalculáveis da mais alta gravidade; é todo um mundo novo que se nos revela e que tem tanto mais importância, quanto a ele hão de voltar todos os homens, sem exceção.

O conhecimento de tal fato não pode deixar de acarretar, generalizando-se, profunda modificação nos costumes, caráter, hábitos, assim como nas crenças que tão grande influência exerceu sobre as relações sociais.

É uma revolução completa a operar-se nas idéias, revolução tanto maior, tanto mais poderosa, quanto não se circunscreve a um povo, nem a uma casta, visto que atinge simultaneamente, pelo coração, todas as classes, todas as nacionalidades, todos os cultos.

Razão há, pois, para que o Espiritismo seja considerado a terceira das grandes revelações".






KARDEC, Allan. A Gênese. Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro da 5a.edição francesa. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1995.
Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000018.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Allan_Kardec

sábado, 8 de novembro de 2008

GROUCHO MARX



Groucho Marx
Em
Memórias de um amante desastrado.






“Na medicina os estilos mudam quase tanto como as roupas femininas.
A panacéia da saúde de hoje torna-se a beladona fatal de amanhã”.



“Justiça seja feita, devo dizer que meu pai nunca, por um momento sequer, pensou seriamente em vender os filhos e fugir.
“O que me dariam por esses cinco garotos usados?”, sua voz ecoou por toda a velha mansão arruinada.
“Acho que vou ficar por aqui mesmo”.



“Nessa época, muito se especulava sobre a forma da Terra.
É claro, caro leitor, que este não é o lugar adequado para expor teorias próprias, e nem gostaria que as coisas que digo se espalhassem por aí, mas minha mente não tem dúvida de que a Terra é um perfeito triangulo.
E se é prova que você quer, tenho muitas.
Por que é que todos os peixes nadam debaixo d’água?
Por que é que as pessoas vão à Flórida no inverno e a Quebec no verão, ou vice-versa?
Por que é que uma pessoa nunca faz uma quadra de ases sem tirar três ases e meio da manga?
É só fazer essas perguntas a alguém que acha que o mundo é redondo, e ver o que ele responde.

Não espero que você entenda o significado do que acabo de escrever, até que tenha lido o parágrafo acima algumas vezes.
Pessoalmente, acho que você seria um idiota se o fizesse.
Eu mesmo o li seis vezes e ainda não entendi”.






MARX, Julius Henry. Memórias de um Amante Desastrado. Tradução de José Simão e Bira Borges. 2ª. Edição. São Paulo: Marco Zero, 1990.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Groucho_Marx

THOMAS GAINSBOROUGH


Fitzwilliam Museum at the University of Cambridge, UK


Heneage Lloyd and his sister
c.1750 – óleo sobre tela – 64,1 x 81,0 cm.
Autor: Thomas Gainsborough


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Gainsborough

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

KAFKA (3)



Franz Kafka
Em
A Questão das Leis







“Nossas leis em geral não são conhecidas: constituem um segredo da pequena aristocracia que nos governa”.



“Estamos certos de que essas velhas leis são fielmente observadas, mas de qualquer modo é uma coisa extremamente desagradável a gente ser governada por leis que não conhece.

Não quero com isso referir-me às diferentes maneiras pelas quais pode ser feita a interpretação dos códigos, nem às desvantagens implícitas no fato de apenas uma minoria e não todo o povo ter direito de voz na respectiva interpretação; essas desvantagens talvez não sejam tão grandes.

Pois que as leis são muito antigas, a sua interpretação tem sofrido o rigor dos séculos e naturalmente adquiriu também força de lei; embora ainda seja possível certa liberdade ao interpretá-las, essa liberdade resulta muito limitada.

Mesmo porque os aristocratas não têm nenhuma razão plausível para se deixarem influenciar, na interpretação, por interesses pessoais contrários aos nossos – visto que as leis já foram feitas em favor dos aristocratas, desde o princípio, e eles próprios estão acima das leis, sendo possivelmente esta a razão pela qual têm a lei exclusivamente em suas mãos.

Decerto vai sabedoria nisso (quem poria em dúvida a sabedoria das vetustas leis?), mas também vai para conosco certa dureza, provavelmente inevitável”.







KAFKA, Franz. Parábolas e Fragmentos. Tradução e Introdução de Geir Campos. Ilustrações: POTY. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1967.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_Kafka

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

RICHELIEU



Richelieu
Em
Testamento Político.






“Não há peste tão capaz de arruinar um Estado, quanto os aduladores, maldizentes, e certos espíritos que não têm outro desígnio sanão formar cabalas e intrigas nas cortes em que vivem.
São tão industriosos a espalhar seu veneno, por diversas formas imperceptíveis, que é difícil obter-se garantia contra eles sem tomar cuidado de muito perto”.



“Não é suficiente aos grandes príncipes nunca abrirem a boca para mal falar seja de quem for, mas a razão requer que fechem os ouvidos às maledicências e às intrigas, banindo e expulsando àqueles que são autores, como pestes perigosas que envenenam as cortes e o coração dos príncipes, e o espírito de todos aqueles que dele se aproximam”.



“Assim, se se castigam todos aqueles que faltarem à satisfação de seus deveres e obrigações, castigados serão poucos porque poucos se encontram que de coração alegre se exponham à sua perda, quando a saibam inevitável, e, com a morte de poucos, a muitos se terá conservado a vida, bem como a ordem em todas as coisas”.






RICHELIEU. Testamento Político. Tradução e Apêndice de David Carneiro. São Paulo: Atena Editora, 1956.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cardeal_de_Richelieu

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

HEGEL (4)



HEGEL
Em
A Fenomenologia do Espírito.






“O elemento e conteúdo da filosofia não é o abstrato ou o inefetivo, mas o efetivamente real, o que se põe a si mesmo e é vivente em si, o existir no seu conceito.

O elemento da filosofia é o processo que produz os seus momentos e os percorre, e esse movimento total constitui o positivo e a verdade do mesmo positivo.

Tal positivo contém igualmente em si o negativo, que deveria ser chamado o falso, se o falso pudesse ser tratado como algo do qual se devesse abstrair.

Ao contrário, o que está desaparecendo é que deve ser tratado como essencial, não na determinação de algo fixo, separado do verdadeiro e que deve ser deixado fora dele, não se sabe bem onde, assim como o verdadeiro não deve ser considerado como o positivo morto, que jaz inerte da outra parte.

A aparição é o movimento do surgir e do passar que não surge e nem passa mas é em si, e constitui a efetividade e o movimento da vida da verdade.

O verdadeiro é, assim, o delírio báquico no qual não há membro que não esteja embriagado, e porque cada membro, na medida em que se separa, imediatamente se dissolve, é igualmente o repouso translúcido e simples.

No tribunal desse movimento as figuras singulares do Espírito, bem como os pensamentos determinados, não se mantêm, mas, do mesmo modo como existem negativamente e em vias de desaparecer, são também momentos positivos necessários.

No todo do movimento compreendido como repouso, o que se distingue no movimento e confere a si mesmo um existir particular é conservado como algo que se interioriza na recordação, cujo existir é o saber de si mesmo, do mesmo modo como esse saber é imediatamente existir”.





HEGEL, G. W. F. “A Fenomenologia do Espírito”. Seleção, tradução e notas de Henrique Cláudio de Lima Vaz. In. _________ Hegel. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os pensadores).

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Wilhelm_Friedrich_Hegel

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 4 de novembro de 2008

LUÍS DE CAMÕES (6)



SONETO 98
(Luís de Camões)






Verdade, Amor, Razão, Merecimento
Qualquer alma farão segura e forte,
Porém Fortuna, Caso, Tempo e Sorte
Têm do confuso mundo o regimento.

Efeitos mil revolve o pensamento,
E não sabe a que causa se reporte;
Mas sabe que o que é mais que vida e morte
Que não o alcança humano entendimento.

Doutos varões darão razões subidas,
Mas são experiências mais provadas,
E por isto é melhor ter muito visto.

Cousas há i que passam sem ser cridas,
E coisas cridas há sem ser passadas.
Mas o melhor de tudo é crer em Cristo.





CAMÕES, Luís de. Obra Completa. Organização, introdução, comentários e anotações do Prof. Antônio Salgado Júnior. Rio de Janeiro: Companhia Aguilar Editora, 1963.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

KRISHNAMURTI



Krishnamurti
Em
O medo.






“Assim, o homem que deseja compreender a morte tem de compreender a vida.
E o viver não é isso que chamamos “viver”, esse campo de batalha existente tanto em nosso interior como exteriormente.
O viver é coisa inteiramente diferente, na qual nenhum medo existe.
E para nos livrarmos do medo temos de estar livre desde o começo, para podermos examiná-lo, investigá-lo, penetrá-lo.
Vê-se então que viver é morrer, porque o viver é de momento em momento.
O que tem continuidade é o desespero e não o viver; e quando há desespero, é claro que há pensamento.
É desse modo que se cria o círculo vicioso do pensamento.
O problema da vida consiste unicamente em operar-se uma mutação, não numa data futura, porém imediatamente, instantaneamente; e essa mutação instantânea só pode verificar-se quando estais completamente atento”.



“Para compreenderes a vida, não podeis negar a vida.
Para compreendê-la, tendes de vivê-la.
E não podeis vivê-la se não sois livre, livre desde o começo, desde a infância mesmo, para olhar, observar, escutar, sentir.
Em virtude desses observar, escutar, olhar, a pessoa se torna delicada, afetuosa, atenciosa, cortês: Há então um próximo.
Onde há consideração há afeição, e esta não é produto do intelecto.
E, quando tendes tal afeição, talvez então daí provenha o amor – não no tempo, não amanhã”.







KRISHNAMURTI, Jiddu. Viagem por um Mar Desconhecido. Tradução de Hugo Veloso. São Paulo: Editora Três, 1973.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jiddu_Krishnamurti

sábado, 1 de novembro de 2008

GIBRAN KHALIL GIBRAN



Gibran Khalil Gibran
Em
Uma Lágrima e um Sorriso.




O Primeiro Beijo




“É o primeiro sorvo da taça que os deuses encheram com o elixir do amor.
É o limite que separa a dúvida que persegue e entristece o coração da certeza que o ilumina e alegra.
É o primeiro verão do poema da vida espiritual, e a primeira cena do maior dos dramas humanos.
É o traço de união entre um passado de expectativa e um futuro de esplendor, entre o silêncio dos sentimentos e suas canções.


É uma palavra que quatro lábios pronunciam ao mesmo tempo, fazendo do coração um trono, e do amor, um soberano, e da felicidade, uma coroa.
É uma carícia meiga, similar à passagem da brisa sobre as pétalas das rosas, uma carícia que é um suspiro prolongado e voluptuoso e um gemido leve e envolvente.
É o início de vibrações mágicas que transportam os enamorados dos mundos dos pesos e medidas ao mundo da inspiração e dos sonhos.
É a união da anêmona com a flor da romãzeira e a mistura de seus hálitos para a criação de um terceiro hálito...


E se o primeiro olhar se assemelha a uma semente que os deuses do amor plantam no coração humano, o primeiro beijo é como a primeira flor na ponta do primeiro ramo da árvore da vida”.





GIBRAN, Gibran Khalil. Uma Lágrima e um Sorriso. Tradução e apresentação de Mansur Chalita. Rio de Janeiro: Associação Cultural Internacional Gibran, 1977.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Khalil_Gibran

VICTOR EMIL JANSSEN



Kunsthalle, Hamburg


Selbstporträt vor der Staffelei
(Auto-Retrato na frente do cavalete)
c.1828 – óleo sobre tela – 57 x 32 cm.
Autor: Victor Emil Janssen

Sobre o autor:
Pintor alemão, nascido em 11 / 6 / 1807 em Hamburg, falecido na mesma cidade em 23 / 9 / 1845. Trabalhou em Münchem, Rom e Hamburg.