terça-feira, 30 de setembro de 2008

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (6)



SOCIEDADE
(Carlos Drummond de Andrade)






O homem disse para o amigo:
- Breve irei a tua casa
e levarei minha mulher.

O amigo enfeitou a casa
e quando o homem chegou com a mulher,
soltou uma dúzia de foguetes.

O homem comeu e bebeu.
A mulher bebeu e cantou.
Os dois dançaram.
O amigo estava muito satisfeito.

Quando foi a hora de sair,
o amigo disse para o homem:
- Breve irei a tua casa.
E apertou a mão dos dois.

No caminho o homem resmunga:
- Ora essa, era o que faltava.
E a mulher ajunta: - Que idiota.

- A casa é um ninho de pulgas.
- Reparaste o bife queimado?
O piano ruim e a comida pouca.

E todas as quintas-feiras
eles voltam à casa do amigo
que ainda não pode retribuir a visita.






ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. Rio de Janeiro: Record, 1993.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

WILHELM REICH (2)



Wilhelm Reich
Em
A Função do Orgasmo






”A saúde psíquica depende da potência orgástica, i.e., do ponto até o qual o indivíduo pode entregar-se, e pode experimentar o clímax de excitação no ato sexual natural”.

“As enfermidades psíquicas são o resultado de uma perturbação da capacidade natural de amar”.

“A formação das massas no sentido de serem cegamente obedientes à autoridade se deve não ao amor parental mas à autoridade da família. A supressão da sexualidade nas crianças pequenas e nos adolescentes é a principal maneira de se conseguir essa obediência”.

“A unidade e congruência de cultura e natureza, trabalho e amor, moralidade e sexualidade – desejada desde tempos imemoriais – continuará a ser um sonho enquanto o homem continuar a condenar a exigência biológica da satisfação sexual natural (orgástica)”.

“Deve atribuir-se à universal alienação da vida que os fatos, e as suas relações por mim descobertos tenham sido negligenciados, ou persistentemente ocultados”.






REICH, Wilhelm. A Função do Orgasmo. Tradução: Maria da Glória Novak. 7ª. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_Reich

ELVIRA BACH


Galerie & Edition Bode
GmbHNürnberg-Deutschland


LIEGENDE DIVA
2005 – acrílica sobre tela – 30 x 40 cm
Autora: ELVIRA BACH

sábado, 27 de setembro de 2008

MARTIN HEIDEGGER (2)



HEIDEGGER
Em
Que é metafísica?







“Acontece no ser-aí do homem semelhante disposição de humor na qual ele seja levado à presença do próprio nada?



Este acontecer é possível e também real – ainda que bastante raro – apenas por instantes, na disposição de humor fundamental da angústia.

Por esta angústia não entendemos a assaz freqüente ansiedade que, em última análise, pertence aos fenômenos do temor que com tanta facilidade se mostram.

A angústia é radicalmente diferente do temor.

Nós nos atemorizamos sempre diante deste ou daquele ente determinado que, sob um ou outro aspecto determinado, nos ameaça.

O temor de... sempre teme por algo determinado.

Pelo fato de o temor ter como propriedade a limitação de seu “de” (Wovor) e de seu “por” (Worum), o temeroso e o medroso são retidos por aquilo que nos amedronta.

Ao esforçar-se por se libertar disto – de algo determinado –, toma-se, quem sente o temor, inseguro com relação às outras coisas, isto é, perde literalmente a cabeça.




A angústia não deixa mais surgir tal confusão.

Muito antes, perpassa-a uma estranha tranqüilidade.

Sem dúvida, a angústia é sempre angústia diante de..., mas não angústia diante disto ou aquilo.

O caráter de indeterminação daquilo diante de e por que nos angustiamos, contudo, não é apenas uma simples falta de determinação, mas a essencial impossibilidade de determinação.

Um exemplo conhecido nos pode revelar esta impossibilidade.




Na angústia – dizemos nós – “a gente sente-se estranho”.

O que suscita tal estranheza e quem é por ela afetado?

Não podemos dizer diante de que a gente se sente estranho.

A gente se sente totalmente assim.

Todas as coisas e nós mesmos afundamo-nos numa indiferença.

Isto, entretanto, não no sentido de um simples desaparecer, mas em se afastando elas se voltam para nós.

Este afastar-se do ente em sua totalidade, que nos assedia na angústia, nos oprime.

Não resta nenhum apoio.

Só resta e nos sobrevém – na fuga do ente – este “nenhum”.

A angústia manifesta o nada”.








HEIDEGGER, Martin. Que é metafísica? Tradução de Ernildo Stein.
Disponível em:

http://www.livrosparatodos.net/livros-downloads/que-e-metafisica.html


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Heidegger

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

ANTÔNIO VIEIRA



Antônio Vieira
Em
Sermão do Mandato






“Quatro ignorâncias podem concorrer com um amante, que diminuam muito a perfeição e merecimento de seu amor.

Ou porque não se conhecesse a si; ou porque não conhecesse a quem amava; ou porque não conhecesse o amor; ou porque não conhecesse o fim onde há de parar, amando.

Se não conhecesse a si, talvez empregaria o seu pensamento onde o não havia de por, se se conhecera.

Se não conhecesse a quem amava, talvez quereria com grandes finezas a quem havia de aborrecer, se não o ignorava.

Se não conhecesse o amor, talvez se empenharia cegamente no que não havia de empreender, se o soubera.

Se não conhecesse o fim em que havia de parar, amando, talvez chegaria a padecer os danos a que não havia de chegar, se o previra”.





VIEIRA, Antônio. Sermões. (organizado por) Eugênio Gomes. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Agir, 1985.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Vieira

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

RAUL SEIXAS (2)



METRÔ LINHA 743
(Raul Seixas)
(canção)






Ele ia andando pela rua meio apressado
Ele sabia que estava sendo vigiado
Cheguei para ele e disse:
– Ei amigo! Você pode me ceder um cigarro?
Ele disse: – Eu dou, mas vá fumar lá do outro lado
Dois homens fumando juntos pode ser muito arriscado!
Disse: – O prato mais caro do melhor banquete
É o que se come cabeça de gente que pensa
E os canibais de cabeça descobrem aqueles que pensam
Porque quem pensa, pensa melhor parado!
Desculpe minha pressa, fingindo atrasado
Trabalho em cartório, mas sou escritor,
Perdi minha pena nem sei qual foi o mês
Metrô linha 743



O homem apressado me deixou e saiu voando
Aí eu me encostei num poste e fiquei fumando
Três outros chegaram com pistola na mão,
Um gritou: – Mão na cabeça malandro, se não quiser levar chumbo quente nos cornos!
Eu disse: – Claro, pois não, mas o que é que eu fiz?
Se é documento eu tenho aqui...
Outro disse: – Não interessa, pouco importa, fique aí!
Eu quero é saber o que você estava pensando
Eu avalio o preço me baseando no nível mental
Que você anda por aí usando...
E aí eu lhe digo o preço que sua cabeça agora está custando
Minha cabeça caída, solta no chão
Eu vi meu corpo sem ela pela primeira e última vez
Metrô linha 743



Jogaram minha cabeça oca no lixo da cozinha
E eu era agora um cérebro, um cérebro vivo à vinagrete
Meu cérebro logo pensou: que seja, mas nunca fui tiéte
Fui posto à mesa com mais dois
E eram três pratos raros, e foi o mestre quem pôs
Senti horror ao ser comido com desejo por um senhor alinhado
Meu último pedaço, antes de ser engolido ainda pensou grilado:
Quem será este desgraçado dono desta zorra toda?
Já tá tudo armado, o jogo dos caçadores canibais
Mas o negócio é que tá muito bandeira
Tá bandeira demais meu Deus!
Cuidado brother, cuidado sábio senhor
É um conselho sério pra vocês
Eu morri e nem sei mesmo qual foi aquele mês
Ah! Metrô linha 743





Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Raul_Seixas

RABISCOS NO BLOCO


quarta-feira, 24 de setembro de 2008

LANGSTON HUGHES



ASPIRAÇÃO
(Langston Hughes)






Estirar os braços
Ao sol nalgum lugar
E até que morra o dia
Dançar, pular, cantar!
Depois sob uma árvore,
Quando já entardeceu,
Enquanto a noite vem
– Negra como eu –
Descansar... É o que quero!


Estirar os braços
Ao sol nalgum lugar,
Cantar, pular, dançar
Até que a tarde caia!
E dormir sob uma árvore
– Este o desejo meu –
Quando a noite baixar
Negra como eu.





(Tradução de Manuel Bandeira)




LISBOA, Henriqueta. Antologia Poética para a Infância e a Juventude. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1969.

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Langston_Hughes

terça-feira, 23 de setembro de 2008

JEAN GENET (2)



Jean Genet
Em
Diário de um Ladrão





“Não conheço nenhum malandro que não seja criança.
Que espírito “sério”, ao passar diante de uma joalheria, um banco, inventaria, minuciosamente e com gravidade, os detalhes de um ataque ou de um assalto?
A idéia de uma associação de companheiros fundada – não sobre o interesse dos associados – num acordo cúmplice próximo da amizade, para se fazer ajudar, onde poderia ele encontrá-la senão numa espécie de sonho, de jogo gratuito, que chamam de romanesco?”




“Conheço a calma extraordinária no momento de realizar o roubo e o temor que a acompanha.
Na vitrine de um joalheiro: enquanto não estou dentro, não acredito que vou roubar.
Mal entro, tenho a certeza de que sairei com uma jóia: um anel ou as algemas.
Essa certeza se traduz por um longo arrepio que me deixa imóvel, mas vai da nuca aos calcanhares.
Ele se exaure nos meus olhos cujos contornos seca.
As minhas células, me parece, transmitem umas às outras uma onda, um movimento ondulatório que é a própria substância da calma.
Penso-me do calcanhar à nuca.
Acompanho a onda.
Ela nasceu do medo.
Sem ela, não existiria essa calma em que o meu corpo mergulha – que o meu corpo atinge”.








GENET, Jean. Diário de um Ladrão. Tradução de Jacqueline Laurence e Roberto Lacerda. Rio de Janeiro: Editora Rio Gráfica, 1986.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Genet

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

PIERRE LÉVY



Pierre Lévy
Em
Por um pensamento-imagem







“Costuma-se dizer que vivemos em uma civilização da imagem ou do audiovisual.
Enquanto o tempo destinado à leitura tende a diminuir entre as novas gerações, verifica-se que o tempo dedicado a assistir à televisão e ouvir música gravada não para de crescer”.




“Como reconciliar com os prazeres da inteligência gerações orientadas para as imagens animadas e telas interativas?

Em vez de se agastar em defender o impresso clássico, por que não transformar a própria imagem animada em tecnologia intelectual?, por que não inventar uma escrita em fase com a nova ecologia cognitiva da era audiovisual?”




"Atenção! Não se trata de recorrer à imagem para ilustrar ou enfeitar o texto clássico, mas de realmente inaugurar uma nova escrita: um instrumento de conhecimento e de pensamento que seja também e intrinsecamente imagem animada”.




“Fazer da imagem animada uma tecnologia intelectual plena é contribuir para inventar uma cultura informático-midiática crítica e imaginativa, é esboçar outro caminho que não o da sociedade do espetáculo, voltada ao cintilar sem memória da televisão e a gestão “racional” pelos sistemas de informação”.



“Utopia? Sim. Reivindicamos a utopia em detrimento da preguiça e do “realismo” conformista”.







LÉVY, Pierre. A ideografia dinâmica. Tradução: Marcos Marcionilo e Saulo Krieger. 2ª Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_L%C3%A9vy

DAVID ALFARO SIQUEIROS



Museo de Arte Moderno, Conaculta – INBA, México, DF.

EL DIABLO EN LA IGLESIA
1947 – piroxilina sobre celotex – 219 x 156 cm
Autor: DAVID ALFARO SIQUEIROS

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/David_alfaro_siqueiros





sábado, 20 de setembro de 2008

NIETZSCHE (17)



Friedrich Nietzsche
Em
O Viajante e sua sombra.







298 – Da prática do sábio

“Para se tornar sábio, é necessário querer viver certas experiências, portanto, lançar-se na goela dos acontecimentos.
É verdade que é muito perigoso; muitos “sábios” foram assim devorados”.




299 – A fadiga do espírito

“Nossa indiferença e nossa frieza passageiras com relação aos homens, que são interpretadas como dureza e falta de caráter, muitas vezes não passam de uma fadiga do espírito; quando estamos nesse estado, os outros nos são indiferentes ou importunos, exatamente como o somos para conosco mesmo”.






NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. O Viajante e sua Sombra. Tradução: Antonio Carlos Braga e Ciro Miranda. São Paulo: Editora Escala, 2007.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

JACQUES MARITAIN



Jacques Maritain
Em
O Homem e o Estado






“O fato fundamental é a interdependência, já hoje indiscutível, das nações, fato esse que não é garantia alguma de paz, como muita gente por certo tempo acreditou, por querer acreditar, mas antes uma expectativa de guerra.

Porque isso?

Porque essa interdependência das nações é, por excelência, uma interdependência econômica, não uma interdependência politicamente organizada, desejada e construída.

Em outros termos, é por ter surgido essa interdependência em virtude de processos meramente técnicos ou materiais e não em conseqüência de um processo simultâneo genuinamente político ou racional”.






“Uma interdependência essencialmente econômica, sem nenhuma reforma fundamental correspondente das estruturas morais e políticas da existência humana, só pode impor, em virtude de necessidades materiais, uma interdependência política parcial e fragmentária e de crescimento muito lento.

Essa forma de interdependência será recebida com relutância e hostilidade, porque navega contra o vento da natureza enquanto as nações viverem na suposição de sua plena autonomia política.

Enquanto essa interdependência essencialmente econômica se basear na estrutura e sobre o fundo daquela autonomia política plena e subentendida das nações, não fará senão exasperar as exigências competitivas e o orgulho das nações”.







MARITAIN, Jacques. O Homem e o Estado. Tradução de Alceu Amoroso Lima. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1952.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_Maritain

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

CRUZ E SOUSA (4)



ETERNO SONHO
(Cruz e Sousa)






Talvez alguém estes meus versos lendo
Não entenda que amor neles palpita,
Nem que saudade trágica, infinita
Por dentro deles sempre está vivendo.

Talvez que ela não fique percebendo
A paixão que me enleva e que me agita,
Como de uma alma dolorosa, aflita
Que um sentimento vai desfalecendo.

E talvez que ela ao ler-me, com piedade,
Diga, a sorrir, num pouco de amizade,
Boa, gentil e carinhosa e franca:

– Ah! Bem conheço o teu afeto triste...
E se em minha alma o mesmo não existe,
É que tens essa cor e é que eu sou branca!






Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000089.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_e_Sousa

RABISCOS NO BLOCO


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

CRÍTIAS



CRÍTIAS de Atenas

(Fragmentos)






“Houve um tempo em que a vida dos homens era desordenada, cruel e escrava da força, quando nenhum prêmio havia para os bons, nem castigo para os maus.

E parece-me que, mais tarde, os homens tenham estabelecido as leis punitivas, para que a justiça reinasse soberana sobre todos igualmente, e tivesse como sua servidora a força; e castigava a quem pecasse.

E, como depois as leis impediam que cometessem abertamente atos violentos, eles os faziam ocultamente; parece-me, então, que um homem prudente e de espírito sábio inventou, para os homens, o temor aos Deuses, para que os malvados temessem até no fazer, dizer ou pensar ocultamente.

E (com isto) acabou com as violações às leis”.





Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%ADtias



SANSON, Victorino Félix. Textos de Filosofia. Edição provisória para uso interno. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 1974.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

ANTONIN ARTAUD



Antonin Artaud
Em
O Teatro e seu duplo.





“Mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência nunca salvou uma pessoa de ter fome e da preocupação de viver melhor, quanto extrair, daquilo que se chama cultura, idéias cuja força viva é idêntica à da fome”.



“Se o signo da época é a confusão, vejo na base dessa confusão uma ruptura entre as coisas e as palavras, as idéias, os signos que são a representação dessas coisas”.



“Julga-se um civilizado pelo modo como se comporta; mas já quanto à palavra civilizado reina a confusão; para todo mundo, um civilizado culto é um homem bem informado sobre os sistemas e que pensa em sistemas, em formas, em signos, em representações.

É um monstro no qual se desenvolveu até o absurdo essa faculdade que temos de extrair pensamentos de nossos atos ao invés de identificar nossos atos com nossos pensamentos”.



“Por mais que exijamos a magia, porém, no fundo temos medo de uma vida que se desenvolveria toda sob o signo da verdadeira magia”.



“Romper a linguagem para tocar na vida é fazer ou refazer o teatro; e o importante é não acreditar que esse ato deva ser algo sagrado, isto é, reservado.
O importante é crer que todos podem fazê-lo e que para isso é preciso uma preparação.

Isto leva à rejeição das limitações habituais do homem e dos poderes do homem e a tornar infinitas as fronteiras do que chamamos de realidade”.






ARTAUD, Antonin. O Teatro e seu duplo. Tradução e Posfácio de Teixeira Coelho. São Paulo: Editora Max Limonad, 1987.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonin_Artaud



segunda-feira, 15 de setembro de 2008

NOEL ROSA



ÚLTIMO DESEJO
(Noel Rosa)
(canção)






Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão

Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo
Mas meu último desejo
Você não pode negar

Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação

Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é um botequim
Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim





Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Noel_Rosa

TERTÚLIAS VIRTUAIS: SOLIDARIEDADE

Sobre o Alemão:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Complexo_do_alem%C3%A3o


Este post faz parte do "Tertúlias Virtuais" proposta do Varal de Idéias e do Expresso da Linha, que ocorre todo dia 15 de cada mês.

sábado, 13 de setembro de 2008

ALBINO FORJAZ DE SAMPAIO



Albino Forjaz de Sampaio
Em
Mais além da Morte e do Amor.







“O meu próximo é quase sempre uma criatura que o meu prazer é ver distante”.


“Há animais que quando se defendem segregam um líquido viscoso com que atordoam o inimigo.
Lembrei-me disto vendo-te chorar.
É banal, eu sei.
Mas, se não fosse à banalidade, como o original seria estúpido!...”


“Há mulheres para quem o amante ideal é aquele que lhes deixa ter todos os dias um amante novo.
Outras há para quem o amante ideal é o amante novo, se lhes deixa conservar o amante de todos os dias”.


“A Política!
Grande coisa.
Por ela tem sido falada muita gente que, de outra forma, não conseguiria nunca que se falasse nela”.


“Quando a mulher perde a vergonha, ganha suspeitas de que ela não servia para nada”.


“A Justiça!
É uma mulher vendada para não saber a quem é vendida”.







SAMPAIO, Albino Forjaz de. Mais além da Morte e do Amor. 2ª edição augmentada. Lisboa: Guimarães & Cia. Editores, 1923.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Albino_Forjaz_de_Sampaio

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

BRONISLAW BACZKO (4)



Bronislaw Baczko
Em
Imaginação social







“A geração dos símbolos e ritos revolucionários é uma das facetas mais significativas da produção intensa de imaginários sociais”.



“... em nenhum caminho da sua história, nem mesmo caminhos da revolução, seja ela “burguesa” ou outra, os homens passeiam nus.

Precisam de “fatos”, de signos e imagens, de gestos e figuras, a fim de comunicarem entre si e se reconhecerem ao longo do caminho.

Os sonhos e as esperanças sociais, freqüentemente vagos e contraditórios, procuram cristalizar-se e andam em busca de uma linguagem e de modos de expressão que os tornem comunicáveis.

Os princípios e conceitos abstratos só se transformam em idéias-força quando são capazes de se constituir como pólos em torno dos quais a imaginação coletiva se organiza”.




“Na grande maioria dos casos, verifica-se a mesma tendência: os símbolos expontâneos tornaram-se obrigatórios, impostos.

As minorias militantes, para não dizer o próprio poder, fazem deles um instrumento efetivo a fim de implantar novos valores, transformar as almas e ligá-las à nova ordem política e social”.




“O nascimento e a difusão dos signos imaginados e dos ritos coletivos traduzem a necessidade de encontrar uma linguagem e um modo de expressão que correspondam a uma comunidade de imaginação social, garantindo às massas, que procuram reconhecer-se e afirmar-se nas suas ações, um modo de comunicação.”





BACZKO, Bronislaw. Imaginação social. In: ROMANO, Ruggiero (org.). Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1985. v. 5


VER TAMBÉM:

REFLEXÕES: BRONISLAW BACZKO


REFLEXÕES: BRONISLAW BACZKO (2)


REFLEXÕES: BRONISLAW BACZKO (3)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

JEAN PAUL SARTRE



Jean Paul Sartre
Em
A Imaginação







“Olho esta folha branca sobre minha mesa; percebo sua forma, sua cor, sua posição.

Essas diferentes qualidades têm características comuns: em primeiro lugar, elas se dão a meu olhar como existências que apenas posso constatar e cujo ser não depende de forma alguma do meu capricho.

Elas são para mim, não são eu.

Mas também não são outrem, isto é, não dependem de nenhuma espontaneidade, nem da minha, nem da de outra consciência.
São, ao mesmo tempo, presentes e inertes.

Essa inércia do conteúdo sensível, freqüentemente descrita, é a existência em si.

De nada serve discutir se esta folha se reduz a um conjunto de representações ou se é ou deve ser mais do que isso.

O certo é que o branco que constato não pode ser produzido por minha espontaneidade.

Esta forma inerte, que está aquém de todas as espontaneidades conscientes, que devemos observar, conhecer pouco a pouco, é o que chamamos uma coisa.

Em hipótese alguma minha consciência seria capaz de ser uma coisa, porque seu modo de ser em si é precisamente um ser para si.

Existir, para ela, é ter consciência de sua existência.
Ela aparece como uma pura espontaneidade em face do mundo das coisas que é pura inércia.

Podemos, pois, colocar desde a origem dois tipos de existência: é, com efeito, na medida em que são inertes que as coisas escapam ao domínio da consciência; é sua inércia que as salvaguarda e que conserva sua autonomia”.







SARTRE, Jean Paul. A Imaginação. Tradução de Luiz Roberto Salinas Fortes. 5ª Ed. São Paulo - Rio de Janeiro: DIFEL, 1980.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Paul_Sartre

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

RAUL BOPP (2)



DIAMBA
(Raul Bopp)







Negro velho fuma diamba
para amassar a memória

O que é bom fica lá longe...

Os olhos vão-se-embora pra longe
O ouvido de repente parou

Com mais uma pitada
o chão perdeu o fundo
Negro escorregou
Caiu no meio da África

Então apareceu no fundo da floresta
uma tropa de elefantes enormes
trotando
Cinqüenta elefantes
puxando uma lagoa

– Para onde vão levar esta lagoa?
Está derramando água no caminho

A água do caminho juntou
correu correu
Fez o rio Congo

Águas tristes gemeram
e as estrelas choraram

– Aquele navio veio buscar o rio Congo!
Então as florestas se reuniram
e emprestaram um pouco de sombras pro rio Congo dormir

Os coqueiros debruçaram-se na praia
pra dizer adeus






BOPP, Raul. Putirum. Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1968.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Raul_Bopp

KARL HORST HÖDICKE


Coleção Particular


ADAM ET EVE (d’après GRANACH)
1977 – acrílica sobre tela – 190 x 130 cm
Autor: KARL HORST HÖDICKE
Sobre o autor:
http://www.kettererkunst.com/bio/karl-horst-hodicke-1938.shtml






terça-feira, 9 de setembro de 2008

JEAN-JACQUES ROUSSEAU



Jean-Jacques Rousseau
Em
Discurso sobre as ciências e as artes






“Antes de a arte modelar as nossas maneiras e ensinar as nossas paixões a falar uma linguagem apurada, nossos costumes eram rústicos, porém naturais: e a diferença dos procedimentos anunciava, ao primeiro golpe de vista, a dos caracteres.

A natureza humana, no fundo, não era melhor: mas, os homens encontravam sua segurança na facilidade de se penetrarem reciprocamente: e essa vantagem, cujo valor não sentimos, lhes evitava muitos vícios”.




“Hoje, que pesquisas mais sutis e um gosto mais fino reduziram a arte de agraciar a princípios, reina nos costumes uma vil e enganadora uniformidade, parecendo que todos os espíritos foram atirados num mesmo molde: a polidez sempre exige, o decoro ordena; sem cessar, todos seguem os usos, jamais o seu próprio gênio.

Ninguém mais ousa parecer aquilo que é; e, nesse constrangimento perpétuo, os homens que formam esse rebanho chamado sociedade colocados nas mesmas circunstâncias farão todos as mesmas coisas, se motivos mais poderosos não os desviarem.

Jamais saberemos bem a quem nos dirigimos: precisamos, pois, para conhecer um amigo, esperar as grandes ocasiões, isto é esperar que não haja mais tempo, pois que é precisamente nesse tempo que seria essencial conhece-lo”.






ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências e as artes. Sem indicação do tradutor. Apresentação: Nélson Jahr Garcia. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000012.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

JOSÉ INGENIEROS (2)



José Ingenieros
Em
ÁUREA MEDIOCRITAS?







“Para conceber uma perfeição, é mister possuir certo nível ético, e é indispensável alguma educação intelectual. Sem isso, podem ter-se fanatismos e superstições; ideais, nunca”.




“Os que vivem abaixo desse nível, e não adquirem essa educação, permanecem sujeitos a dogmas que os outros lhes impõem, escravos de fórmulas paralisadas pela ferrugem do tempo.

Suas rotinas e seus preconceitos parecem-lhe eternamente invariáveis; sua obtusa imaginação não concebe perfeições passadas, nem vindouras; o estreito horizonte de sua experiência constitui o limite obrigatório de sua mente.

Não podem formar um ideal.

Encontrarão nos alheios, uma chispa capaz de incendiar suas paixões; serão sectários, podem sê-los.

E não advertirão, sequer, a ironia dos que os convidam a se arrebanharem, em nome de ideais que podem servir, mas não compreendem.

Todo sonho, seguido pelas multidões é pensado apenas por poucos visionários, que são seus amos”.





“Não concebemos o aperfeiçoamento social como produto da uniformidade de todos os indivíduos, senão, como combinação harmônica de originalidades incessantemente multiplicadas.

Todos os inimigos da diferença o são também do progresso; é natural, portanto, que considerem a originalidade como um defeito imperdoável”.






INGENIEROS, José. O Homem Medíocre. Sem indicação do tradutor. Nova edição autorizada. Rio de Janeiro: Edições Spiker, sem data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Ingenieros

sábado, 6 de setembro de 2008

CATULLO DA PAIXÃO CEARENSE (2)



Catullo da Paixão Cearense
Em
A Promessa

(trecho)






Era barulho inferná !


Serafina Beja-Frô,
Reimundinha das Inháca,
Girtrude do Zé dos Covo,
e Mariquinha Macaca,
Vitôca, Chica Bemvinda,
Maria da Cunceição,
Lolóca, frô das viola...
Quitéra dos Maracá...
Imquanto um bando gritava: –
Viva! Viva o Bacatuba!
Logo o outro arrespondia: –
Viva o Pedro Sabiá!!!


Seu Bacatuba – o facêro –
Entonce cantou primêro.


(Desafio)


Bacatuba:

Minha viola morena
é uma gaiola de pinho,
adonde canta e soluça
tudo quanto é passarinho!

Sabiá:

Toda viola foi árve
que o machado derribou!
Prú via disso ela canta
O que dos pásso iscutou.

Bacatuba:

Isso é mintira, seu Pedro!
Vassuncê é um bôbaião!
A viola só acumpanha!
Quem chora é o meu coração!

Sabiá:

Eu arripito, sem mêdo,
que a viola, sim, sinhô,
já foi árve e agora canta
o que dos pásso iscutou.

Bacatuba:

Sem os dedos, que nas corda
sabe gemê com carinho,
que seria da viola?!
Gaiola sem passarinho!

Sabiá:

Seu Bacatuba, um violêro,
cumu é tu, que eu não sei, não,
não martráta uma viola,
que tem arma e coração

Bacatuba:

Si eu martratasse a viola,
inda tinha, duas mão,
pra pidi perdão às corda,
fazendo a minha oração

Sabiá:

Eu amo tanto a viola,
minha dô, minha alegria,
cumo adoro, rezo e canto
à Santa Virge Maria!

Bacatuba:

A viola que eu mais adoro,
a mais fermosa que eu vi,
é um coração de cabôca,
que não tá longe d’aqui!

Sabiá:

Cabôco, si tu é hôme,
cospe fora e abre a boca,
pra dize como si chama
o nome dessa cabôca.

Bacatuba:

Seu cabra, eu não tenho mêdo
da cobra mais venenosa;
essa cabôca si chama: –
Juvita Boca de Rosa...



Quando o cabra disse o nome
da cabôca mais quirida,
mais fermosa do sertão,
si apagou-se os candiêro!...
Virou tudo n’um sarcêro...

Foi tudo dos pé pras mão!








CEARENSE, Catullo da Paixão. Meu Sertão. Rio de Janeiro: Livraria Castilho, 1918.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Catulo_da_Paix%C3%A3o_Cearense

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 5 de setembro de 2008

MALINOWSKI



Bronislaw Malinowski
Em
Definição de Função






“Em todas as atividades verificamos que o uso de um objeto como parte de um comportamento técnico, legal ou ritualmente determinado leva os seres humanos à satisfação de alguma necessidade.

Os frutos ou raízes são apanhados, o peixe é pescado, os animais são caçados ou apanhados em armadilhas, o gado é ordenhado ou abatido, de modo a fornecer ma matérias primas para a despensa humana.

Esses alimentos são temperados, preparados e cozidos de modo a virem para a mesa. Tudo isso culmina numa refeição individual ou comunal.

A necessidade de nutrição controla uma multiplicidade extrema de processos. É um lugar-comum dizer que a humanidade progride sobre o estômago, que se pode conservar a multidão satisfeita dando-lhe pão assim como circo, e que o fator materialista do suprimento satisfatório de alimentos é um dos determinantes da história e da evolução humanas.

O funcionalismo acrescenta apenas que os motivos que controlam as partes desse processo e que se disseminaram na paixão pela lavoura e pela caça, no interesse ou cobiça por troca e comercialização adequadas, nos impulsos de generosidade e munificiência, devem ser totalmente analisados com referência ao principal impulso: o da fome.

A função global de todo o processo que constitui o aprovisionamento cultural de uma comunidade é a satisfação da necessidade primária biológica da nutrição”.






MALINOWSKI, Bronislaw. Uma Teoria Científica da Cultura. Tradução de José Auto. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1962.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bronis%C5%82aw_Malinowski

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

KAFKA (2)



Franz Kafka
Em
DAS PARÁBOLAS







“Muitos se queixam de que as palavras dos sábios percam-se em parábolas, sem emprego na vida cotidiana – afinal a única que nos é dada.

Quando o Sábio diz “Atravessai” – não quer dizer que a gente deva realmente passar para o outro lado, o que, aliás, poder-se-ia fazer quando valesse à pena a travessia; ele quer referir-se a um outro lado lendário, algo que não nos é dado conhecer, que mesmo para ele não é fácil pormenorizar e que para nós aqui de nada serve.

Todas essas parábolas em verdade querem dizer que não se pode conceber o inconcebível: isso é o que temos aprendido...

Aquilo com que todos os dias nos temos de preocupar, todavia, são outras coisas”.



“A propósito falou alguém: – “Por que relutais? Se houvésseis por bem seguir as parábolas, acabaríeis vós próprios integrados nelas e assim libertos das preocupações cotidianas!”

Outro replicou: – “Aposto que isso é uma parábola também!”.

Disse o primeiro: – “Ganhaste”.

E o segundo: – “Só por parábola, infelizmente...”.

Disse o primeiro: – “Não, na realidade; por parábola, perdeste”.







KAFKA, Franz. Parábolas e Fragmentos. Tradução e Introdução de Geir Campos. Ilustrações: POTY. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1967.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_Kafka

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

RIBEIRO COUTO



O HERÓI QUE MATARA O REIZINHO INIMIGO
(Ribeiro Couto)






Volto da guerra magoado.
O povo diz-me: “Soldado,
és o mais bravo da terra!”
Como o povo anda enganado!
Volto magoado da guerra...

“Glória às tuas cicatrizes!
Nos mais remotos países,
feliz! Teu nome é aclamado!”
Ah! sou dos mais infelizes!
Volto da guerra magoado...

Venci a maior batalha
e deram-me esta medalha
que os meus remorsos encerra.
Meu Deus, por mais que ela valha...
Volto magoado da guerra...

Foi minha sorte e castigo
ver o reizinho inimigo
nestas mãos ensangüentado,
morrer chorando comigo...
Volto da guerra magoado...






LISBOA, Henriqueta. Antologia Poética para a Infância e a Juventude. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1969.

Sobre o autor:
http://www.academia.org.br/
Home > Acadêmicos > Ribeiro Couto

COMMODITY INCOMPREENDIDA


COMMODITY INCOMPREENDIDA

terça-feira, 2 de setembro de 2008

JEAN BAUDRILLARD



Jean Baudrillard
Em
Cool Memories II.






“Tudo nos empurra para a impaciência.
Talvez carreguemos o remorso de uma vida longa demais para nossa espécie, longa demais para o uso que fazemos dela”.


“A crença tem algo de uma ligeira demência, mas a convicção, que é sua cópia, ela sim, é francamente débil.
O convicto perde em debilidade apenas contra a estupidez vitoriosa”.


“Toda a arte do político hoje consiste em sublevar a indiferença do povo”.


“No ato de escrever, o momento mais cativante é o da condensação, da elipse, da rarefação.
Recriar núcleos cada vez mais densos, em torno dos quais a luz fica desorientada, e o pensamento também, já que perde o sentido de sua origem”.


“A radicalidade é um privilégio de fim de carreira”.






BAUDRILLARD, Jean. Cool Memorie II. Crônicas 1987 – 1990. Tradução de Angel Bojadsen. São Paulo: Estação Liberdade, 1996.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Baudrillard

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

GEORGE BERKELEY



George Berkeley
Em
Princípios do Conhecimento Humano







“É estranho, certamente, que prevaleça entre os homens a opinião de que as casas, as montanhas, os rios e, numa palavra, todos os objetos sensíveis têm uma existência natural ou real, diferente da de seu ser percebido pelo entendimento.
Mas por maior que seja a segurança e a aquiescência que no mundo se dá a este princípio, quem quer que faça questão dele no íntimo de seu coração se dará conta de que dito princípio implica uma contradição manifesta.
Pois, que são os objetos acima mencionados senão coisas percebidas pelo sentido?
E o que percebemos além de nossas próprias idéias ou sensações?”


“Vamos repeti-lo: o grande e o pequeno, o rápido e o lento não existem em nenhuma parte fora da mente, pois são inteiramente relativos e mudam segundo as variações de estrutura ou de posição dos órgãos dos sentidos.
Portanto, uma extensão que existisse fora da mente não seria grande nem pequena, e um movimento que existisse fora da mente não seria nem rápido nem lento, isto é, não seriam nada em absoluto”.


“A dureza ou a brandura, a cor, o sabor, a temperatura, a figura e outras qualidades semelhantes que, juntadas umas com as outras, constituem as diversas classes de provisões e vestidos, existem somente, como já se mostrou, na mente que as percebe”.


“Eu não estou argumentando na contramão da existência de qualquer coisa que possamos aprender, seja pelos sentidos ou pela reflexão.
Não faço a menor questão de, se as coisas que vejo com meus próprios olhos e toco com minhas mãos existem realmente.
A única coisa cuja existência negamos é isso que os filósofos chamam matérias ou substância corpórea.
E ao eliminá-la, o resto da humanidade não sofre o menor dano, nem tampouco me atrevo a dizer – não perderá nada”.


“Não estamos aqui advogando em favor de que um homem se torne cético e desacredite de seus sentidos.
Muito pelo contrário, estamos dando aos sentidos toda a força e apoio imagináveis”.






BERKELEY, George. Princípios do Conhecimento Humano. Tradução: André Campos Mesquita. São Paulo: Escala, 2006.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/George_Berkeley

RABISCOS NO BLOCO