quarta-feira, 31 de outubro de 2007

FERNANDO PESSOA (7)

Lisbon Revisited
(Álvaro de Campos)




Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas complexos, não me enfileirem conquistas.
Das ciências (das ciências. Deus meu, das ciências!) –
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo direito a sê-lo.
Com todo direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.

Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim.
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

O céu azul – o mesmo da minha infância –
Eterna verdade vazia e perfeita!
O macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu não sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!





PESSOA, Fernando. Poemas Escolhidos. Seleção e organização de Frederico Barbosa. São Paulo: O Estado de S. Paulo/Klick Editora, 1996.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

HEGEL (2)

Hegel
Em
Introdução à História da Filosofia




“A filosofia desponta num determinado momento de desenvolvimento da cultura. Contudo, os homens não criam uma filosofia ao acaso: é sempre uma determinada filosofia que surge no seio dum povo, e a determinação do ponto de vista do pensamento é idêntica à que se apodera de todas as demais manifestações históricas do espírito desse povo, está em íntima relação com elas e delas constitui o fundamento”.


“Sempre que o espírito alcançou determinado grau da sua autoconsciência, elabora e faz penetrar este princípio em toda a riqueza das suas múltiplas relações.
Este rico espírito dum povo é um organismo, semelhante a uma catedral que, composta de numerosas abóbadas, naves, colonadas e vestíbulos, é sempre manifestação dum todo, duma unidade, cujas partes se coadunam para um fim.
A filosofia é uma forma destes múltiplos aspectos”.


“Enquanto a filosofia está no espírito do seu tempo, este é o seu conteúdo determinado; mas, simultaneamente, como saber, pelo fato de o ter situado em frente de si (como problema), já o ultrapassou; mas este progresso limita-se à forma, visto que na realidade não possui outro conteúdo”.







HEGEL, G. W. F. “Introdução À História Da Filosofia”. Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. In. _________ Hegel. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os pensadores)


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Wilhelm_Friedrich_Hegel

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

NIETZSCHE (9)



Friedrich Nietzsche
Em
O Viajante e sua sombra.






277 – A má conclusão

“Que más conclusões tiramos nas áreas que não nos são familiares, quando na qualidade de homens de ciência, temos o hábito de tirar boas conclusões!

É vergonhoso dize-lo.

É claro que, nas coisas da política, em tudo o que os acontecimentos de cada dia têm de repentino e de apressado, é precisamente essa espécie de conclusão defeituosa que decide; ninguém se adapta logo e totalmente às coisas novas que brotaram numa noite; mesmo nos maiores homens de Estado, toda política é de improvisação ao acaso dos acontecimentos”.





NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. O Viajante e sua Sombra. Tradução: Antonio Carlos Braga e Ciro Miranda. São Paulo: Editora Escala, 2007.

sábado, 27 de outubro de 2007

OSCAR WILDE (9)

OSCAR WILDE
Em
O RETRATO DE DORIAN GRAY



“Podemos sempre ser bons para com as pessoas que nada representam para nós”.


“A cor da vida pode interessar, mas os pormenores nunca devem ser considerados. São sempre vulgares”.


“ - Mas as mulheres admiram a crueldade, a crueldade absoluta, mais que tudo.
Elas possuem admiráveis instintos primitivos.
Nós as emancipamos, mas mesmo assim, elas continuam sendo escravas, à procura de um senhor.
Gostam de ser dominadas”.




WILDE, Oscar O Retrato de Dorian Gray. In.__________ Obra Completa. Tradução de Oscar Mendes. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, Ltda., 1961.

KLIMT


Osterreichisches Museum fur Angewandte Kunst

JUDITH I
1901 – oleo sobre tela – 84 x 42 cm.
Autor: Gustav Klimt

Sobre o autor:

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

ARISTÓTELES

ARISTÓTELES
Em
Arte Retórica


“A Retórica é útil, porque o verdadeiro e o justo são, por natureza, melhores que seus contrários. Donde se segue que se as decisões não forem proferidas como convém, o verdadeiro e o justo serão necessariamente sacrificados: resultado este digno de censura.
Acresce que, em presença de certos ouvintes, mesmo que estejamos de posse da mais rigorosa ciência, seria difícil extrair desta provas convincentes para nossos discursos “.


“Admitamos que amar é querer para outrem aquilo que reputamos serem bens, e isto não em nosso interesse, mas no interesse dele; é também, na medida de nossas forças, agir para proporcionar-lhe essas vantagens”.


“A cólera é seguida necessariamente de certo prazer, proveniente da esperança que se tem de se vir a vingar”.


“A cólera é seguida de um certo prazer, pela razão acima apontada e também porque o homem passa o tempo a vingar-se em pensamento; a imaginação entrando em ação causa-nos prazer, como o faz nos sonhos”.


“Em todos os casos, a convicção dos juízes resulta ora do estado em que conseguimos colocá-los, ora das disposições que eles conferem aos que falam, ora, finalmente, da demonstração que lhes foi apresentada”.





ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética.Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1969.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles

RABISCOS NO BLOCO


quinta-feira, 25 de outubro de 2007

PASCAL (6)

Pensamentos
(Blaise Pascal)



267 – A última tentativa da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Revelar-se-á fraca se não chegar a percebê-lo. Pois, se as coisas naturais a ultrapassam, que dizer das sobre naturais?




PASCAL, Blaise. Pensamentos. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Blaise_Pascal

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

PEDRO BLOCH

Pedro Bloch
Em
Sentimento De Inferioridade



Não sei se vocês se lembram daquela anedota do psicanalista a quem um paciente foi consultar por causa de um “complexo de inferioridade”. O médico o examinou de todas as formas, testou-o de mil maneiras e acabou concluindo:

- Quer saber de uma coisa? O senhor não sofre de nenhum complexo de inferioridade. O que acontece é que o senhor é inferior mesmo.

Isto na anedota. Na realidade a coisa não tem nada de risível e é Adler quem nos explica:

“O sentimento de inferioridade nem sempre tem como causa uma inferioridade orgânica. O mesmo sentimento se encontra em meninos com cargas pesadas, que cresceram na miséria ou sofreram reveses da sorte. Igualmente se acumulam dificuldades quando as crianças se vêem privadas de amor e afeto. Isto detém o desenvolvimento de seus sentimentos altruístas, de sua sociabilidade, assim como sua confiança nos seres humanos. Sempre estarão desiludidos e se crêem constantemente enganados e humilhados”.

Tornar uma criança feliz é a meta maior de qualquer família, de qualquer governo, de qualquer país. O maior dos crimes é roubar a infância de um ser humano.





BLOCH, Pedro. Criança Diz Cada Uma!. Ilustrações de Luiz Sá. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1963.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Bloch

terça-feira, 23 de outubro de 2007

PAUL VALÉRY

Dos Cadernos de Valéry



“Meu fácil me enfada. Meu difícil me guia”.


“As obras do homem me parecem excrementos – resíduos de atos. Eu só as amo por imaginar os atos formadores”.


“Horror da repetição, do trabalho isolado da invenção, da facilidade, da ambição fundada nos outros.
... tentar descobrir, liberar, eliminar tudo o que se repete, ou repete – Daí tantas buscas”.


“O verdadeiro pecado é escrever para o público”.


“Não cabe ao autor, mas ao outro fornecer os seus sentimentos. A finalidade de uma obra – honesta – é simples e clara: fazer pensar. Fazer pensar, a contragosto, o leitor. Provocar atos internos”.




CAMPOS, Augusto de. Paul Valéry: A serpente e o pensar. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Val%C3%A9ry

J. CARLOS

Capa da revista “CARETA”
De 6 de junho de 1908
Autoria: J. CARLOS

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/J.Carlos

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

STANISLAW PONTE PRETA (2)

Stanislaw Ponte Preta
Em
Máximas Inéditas De Tia Zulmira





“Entre as três coisas melhores desta vida, comer está em segundo e dormir em terceiro”.

“As estatísticas corretas nos deixam sempre uma falsa impressão”.

“Uma mulher no passado da gente dói muito mais do que duas”.

“Quem briga por causa de besteira não está psicologicamente preparado para ser gente”.

“Ou todos nos locupletamos ou restaure-se a moralidade”.




PONTE PRETA, Stanislaw. Máximas Inéditas De Tia Zulmira. Desenhos de Jaguar. Prefácio de Sergio Cabral. Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1976.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgio_Porto

domingo, 21 de outubro de 2007

MÁRIO QUINTANA (6)

O ÚLTIMO POEMA
(Mario Quintana)



Enquanto me davam a extrema unção,
Eu estava distraído...
Ah, essa mania incorrigível de estar
[pensando sempre a mesma coisa!
Aliás, tudo é sempre outra coisa
- segredo da poesia -
E, enquanto a voz do padre zumbia como um besouro,
Eu pensava era nos meus primeiros sapatos
Que continuavam andando, que continuam andando,
Até hoje
Pelos caminhos deste mundo.




QUINTANA, Mario Quintana de Bolso. Porto Alegre: L&PM, 1997.

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 19 de outubro de 2007

VINICIUS DE MORAES (2)

Vinicius de Moraes
Em
A Mulher e o Signo




Libra


A mulher de Libra
Não tem muita fibra
Mas vibra.

Quer ver uma libriana contente?
Dê-lhe um presente.

Quando o marido a trai
A mulher de Libra
balança mas não cai.

Se você a paparica
Ela fica.

Com librium ou sem librium
Salve, venusina
Que guarda o equilíbrio
Na corda mais fina.





MORAES, Vinicius de. A Mulher e o Signo. Desenhos de Otávio F. de Araújo. Rio de Janeiro: Rocco, 1980.

SIDNEY MINTZ

Sidney Mintz
Em
Cultura: uma visão antropológica
.



“Não apenas a formulação “uma cultura para uma sociedade” confina nossas interpretações; ela também tende a falsear a forma de representação dos modos pelos quais uma cultura, enquanto um corpo de materiais historicamente derivados, está encarnada nos eventos sociais”.


“O exemplo que já mencionei dos trabalhos de campo de Eric Wolf e meu próprio implicam em algo sobre variabilidade dentro de um campo singular de materiais historicamente derivados, até o ponto que seja do interesse dos usuários. Ele introduz na discussão a noção de diferenças de várias espécies, incluindo diferenças muito importantes de destino econômico e oportunidades de vida, podendo modificar radicalmente quaisquer formas particulares entre as alternativas que pessoas de um sistema cultural possam empregar, bem como o significado que estas formas possam ter para elas.”


“... quando trabalhamos com o que é pretendido por atores em um sistema social, atores que empregam uma variante cultural em vez de outra em diversos pontos de suas vidas, parece necessário se dar ênfase em que a relação entre intenção, ato e conseqüência não é uma relação invariante. Pessoas em posições diferentes podem presumivelmente fazer a mesma coisa, significando coisas bem diferentes por terem feito aquilo, e provocando conseqüências bem diferentes por seus atos similares”.





MINTZ, Sidney W. Cultura: uma visão antropológica. Tradução de James Emanuel de Albuquerque. Tempo , 2010, vol.14, n.28, pp.223-237. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/40064637/Cultura-uma-visao-antropologica

Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Sidney_Mintz

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

STENDHAL (3)

STENDHAL
Em
DO AMOR



”As mulheres se prendem pelos favores. Como dezenove vigésimos de seus devaneios habituais são relativos ao amor, após a intimidade esses devaneios se agrupam em torno de um só objeto, e elas se pões a justificar um procedimento tão extraordinário, tão decisivo, tão contrário a todos os hábitos de pudor.

Esse trabalho não existe entre os homens; em conseqüência, a imaginação das mulheres pormenoriza à vontade momentos tão deliciosos.

Como o amor faz duvidar das coisas mais evidentes, a mulher que, antes da intimidade, estava segura de que seu amante era um homem acima do vulgar, logo que acredita não ter mais nada a lhe recusar, teme que ele não tenha procurado senão colocar uma mulher a mais em sua lista”.




STENDHAL Do Amor (Trechos Escolhidos). Seleção, Tradução e Prefácio de Wilson Lousada. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Stendhal

terça-feira, 16 de outubro de 2007

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (4)



Mudança
(Carlos Drummond de Andrade)

O que muda na mudança,
se tudo em volta é uma dança
no trajeto da esperança,
junto ao que nunca se alcança?



Lembrete
(Carlos Drummond de Andrade)

Se procurar bem, você acaba encontrando
não a explicação (duvidosa) da vida,
mas a poesia (inexplicável) da vida.




ANDRADE, Carlos Drummond de. Corpo. Rio de Janeiro: 10o ed, Record, 1987.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

ALAN WATTS (6)

Alan Watts
Em
Tabu





“Tal como o verdadeiro humor é rir de si mesmo, a verdadeira humanidade é o conhecimento de si mesmo.
As outras criaturas talvez também amem e riam, falem e pensem, mas a peculiaridade especial dos seres humanos parece ser seu raciocínio: pensam sobre o pensamento e sabem que sabem”.


“A consciência de si mesmo conduz à admiração e a admiração à curiosidade e à investigação, de maneira que nada interessa mais às pessoas do que as pessoas, mesmo que seja apenas a própria pessoa de cada um.
Todos os indivíduos inteligentes desejam saber o que é que os faz funcionar e, apesar disso, sentem-se fascinados e frustrados pelo fato de que seu próprio ser é o que existe de mais difícil para conhecer”.


“Aqueles a quem somos tentados a chamar de estúpidos ou chatos são, justamente, os que nada encontram de fascinante em serem humanos; sua humanidade é incompleta, já que nunca os surpreendeu.
Também há algo de incompleto naqueles que nada encontram de fascinante em ser.
O leitor poderá dizer que isto é um preconceito profissional de filósofo – que as pessoas são defeituosas por não terem o sentido do metafísico.
Mas qualquer pessoa que pense tem de ser um filósofo – bom ou ruim – pois é impossível pensar sem premissas, sem suposições básicas (e, neste sentido, metafísicas) sobre o que é sensato, o que é a vida adequada, o que é a beleza e o que é o prazer.
Ter tais suposições, consciente ou inconscientemente, é filosofar”.




WATTS, Alan. Tabu – O que não o deixa saber quem você é?. Tradução de Fernando de Castro Ferreira e Olavo de Carvalho. Edição especial de Planeta n 53-A. São Paulo: Editora Três, 1973.



Alan Watts foi um dos grandes divulgadores do pensamento zen-budista nos Estados Unidos e na Inglaterra. Recebeu o grau de mestre do Seabury-Western Theological Seminary, em Illinois, e um doutorado honorário em divindade da University of Vermont. Nasceu na Inglaterra, em 1915 e morreu em 1973 nos Estados Unidos.



Sobre o autor:
http://en.wikipedia.org/wiki/Alan_Watts

domingo, 14 de outubro de 2007

LEIBNIZ


LEIBNIZ
Em
As Noções Inatas




“Filaleto – Não poderia porventura acontecer que, não somente os termos ou palavras de que nos servimos, mas também as idéias, nos venham de fora?

Teófilo – Neste caso seria necessário que nós mesmos estivéssemos fora de nós, pois as idéias intelectuais ou de reflexão são hauridas de nosso espírito. Gostaria de saber como poderíamos ter a idéia do ser, se nós mesmos não fossemos seres e não encontrássemos o ser dentro de nós.”




“Filaleto – Se existem verdades inatas, não será necessário que existam pensamentos inatos?

Teófilo – Em absoluto, pois os pensamentos são ações, e os conhecimentos ou as verdades, enquanto estão dentro de nós (mesmo que neles não pensemos), são hábitos ou disposições; sabemos muitas coisas nas quais não pensamos.

Filaleto – É bem difícil conceber que uma verdade esteja no espírito, se este jamais pensou nesta verdade.

Teófilo – É como se alguém dissesse que é bem difícil conceber que existem veios no mármore antes que os descubramos. Parece também que esta objeção se aproxima demais da petição de princípio. (...)
...se as verdades fossem pensamentos, seríamos privados não somente das verdades nas quais nunca pensamos, mas também daquelas, nas quais já pensamos mas não pensamos mais atualmente; e se as verdades não são pensamentos, mas hábitos e aptidões, naturais ou adquiridas, nada impede que haja algumas em nós, nas quais nunca pensamos nem jamais pensaremos”.




LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm. Novos ensaios sobre o entendimento humano. Tradução de Luiz João Baraúna. – 5a. ed. – São Paulo:Nova Cultural, 1992. – (Os pensadores) v.1.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gottfried_Leibniz

WILL EISNER


THE SPIRIT
História em quadrinhos desenhada entre 1940 e 1952.
Autoria: Will Eisner

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Will_Eisner
http://www.willeisner.com/

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

LAO TSE (6)

SAPIÊNCIA SUPREMA
(Lao Tse)



Inteligente é quem outros conhece;
Sapiente é quem se conhece a si mesmo.
Forte é quem outros vence;
Poderoso é quem muito trabalha,
Rico é quem vive contente.
Firme é quem vive em seu posto,
Eterno é quem supera a morte.




Lao-Tse viveu na China no 6o século a.C. , e a ele se atribui a autoria dos 81 “capítulos breves” que compõem o Tao Te King, uma espécie de síntese da sabedoria milenar chinesa.


LAO-TSE. Tao Te King. Tradução de Humberto Rohde. São Paulo: Fundação Alvorada, s/data. 2a ed.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

OVÍDIO (4)

Ovídio
Em
A Arte de Amar




”Segui, ó mortais, o exemplo das deusas e não negueis prazer aos homens desejosos.
Se eles vos enganam, que perdeis?
Tudo permanecerá.
Mil podem aproveitar-se sem que nada se perca.
Com o uso, o ferro se gasta e a pedra se adelgaça: aquilo porém resiste e não há a recear qualquer dano”.


“Quem se impediria de se gastar a luz de uma lâmpada, quem tomaria conta das vastas águas do mar?
E, no entanto, uma mulher dirá ao homem “Não é possível”?
Por que, se só perdes a água que gastas”?


“Minhas palavras não vos aconselham a vos prostituíres, mas sim a não temer um prejuízo imaginário; nada perdeis oferecendo-vos”.




OVÍDIO. A Arte de Amar. Tradução de David Jardim Júnior. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ov%C3%ADdio

RABISCOS NO BLOCO


quarta-feira, 10 de outubro de 2007

OSCAR WILDE (8)

OSCAR WILDE
Em
A ALMA DO HOMEM SOB O SOCIALISMO



“É de notar também que o individualismo não se apresenta ao homem com lastimosos sermões a respeito do dever, que consiste simplesmente em fazer o que os demais querem, porque necessitam de que a gente o faça; prescinde igualmente de todo esse outro fastidioso sermão a respeito de sacrifício e da renúncia de si mesmo, que não é, em suma, mais do que um legado da mutilação dos selvagens.
Na realidade apresenta-se ao homem sem exigência alguma, e surge dele espontânea, natural e inevitavelmente”.


“O individualismo é o ponto para o qual tende todo desenvolvimento.
É a diferenciação em que termina todo organismo.
É a perfeição inerente a toda forma de vida e para a qual tende toda forma de vida com velocidade acelerada”.


“O egoísmo não consiste em viver como se quer, mas em exigir dos demais que vivam como a gente.”


“Quando o homem tiver compreendido o individualismo, compreenderá igualmente a simpatia para com o próximo e a exercerá livre e espontaneamente.”




WILDE, Oscar A Alma do Homem sob o Socialismo. In.__________ Obra Completa. Tradução de Oscar Mendes. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, Ltda., 1961.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

BRONISLAW BACZKO (2)

Bronislaw Baczko
Em
Imaginação social



“A influência dos imaginários sociais sobre as mentalidades depende em larga medida da difusão destes e, por conseguinte, dos meios que asseguram tal difusão. Para garantir a dominação simbólica, é de importância capital o controle destes meios, que correspondem a outros tantos instrumentos de persuasão, pressão e inculcação de valores e crenças”.


“É assim que qualquer poder procura desempenhar um papel privilegiado na emissão dos discursos que veiculam os imaginários sociais, do mesmo modo que tenta conservar um certo controle sobre os seus circuitos de difusão”.


“Como já observamos, os meios de comunicação de massa garantem a um único emissor a possibilidade de atingir simultaneamente uma audiência enorme, numa escala até então desconhecida. Por outro lado, os novos circuitos e meios técnicos amplificam extraordinariamente as funções performativas dos discursos difundidos e, nomeadamente, dos imaginários sociais que eles veiculam”.


“Os mass media não se limitam a aumentar o fluxo de informação; modelam também as suas características. A informação é recebida de forma contínua, diversas vezes por dia, englobando o planeta inteiro, conjugando os dados estatísticos com as imagens e afetando todos os domínios da vida social, etc. A informação está centrada na atualidade, sendo portanto necessariamente atomizada e fragmentada: o acontecimento que hoje é posto em foco, amanhã será esquecido e recalcado. Devido tanto à sua quantidade como à sua qualidade, esta massa de informações presta-se particularmente às manipulações. A sua transmissão impõe inevitavelmente uma seleção e uma hierarquização”.


“Com efeito, aquilo que os mass media fabricam e emitem, para além das informações centradas na atualidade, são os imaginários sociais: as representações globais da vida social, dos seus agentes, instâncias e autoridades; as imagens dos chefes, etc.”.




BACZKO, Bronislaw. Imaginação social. In: ROMANO, Ruggiero (org.). Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1985. v. 5.

ANTONIO BERNI

Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires – Fundación Costantini


LA MUJER DEL SWEATER ROJO
1935 – óleo sobre arpillera – 108 x 92,3 cm
Autoria de: ANTONIO BERNI

Sobre o autor:
http://es.wikipedia.org/wiki/Antonio_Berni

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

PABLO NERUDA (4)

20
(Pablo Neruda)


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada
e tiritam, azuis, os astros à distância”.

O vento desta noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis e por vezes ela também me quis.

Em noites como esta apertei-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela me quis e às vezes eu também a queria.
Como não ter amado seus grandes olhos fixos?

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela.
E cai o verso na alma como o orvalho no trigo.

Que importa se não pôde o meu amor guardá-la?
A noite está estrelada e ela não será comigo.

Isso é tudo. À distância alguém canta. À distância.
Minha alma se exaspera por havê-la perdido.

Para tê-la mais perto meu olhar a procura.
Meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite faz brancas as mesmas árvores.
Já não somos os mesmos que antes tínhamos sido.

Já não a quero, é certo, porém quanto a queria!
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes de meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos.

Já não a quero, é certo, porém talvez a queira.
Ah, é tão curto o amor e tão demorado o olvido.

Porque em noites como esta a apertei nos meus braços
minha alma se exaspera por havê-la perdido.

Mesmo que seja a última esta dor que me causa
e estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito.





NERUDA. Pablo. 20 Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada. Tradução de Domingos Carvalho da Silva, ilustrações de Carybé. 12a. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986.

domingo, 7 de outubro de 2007

CHUANG TZU (6)

AS DESCULPAS
(Chuang Tzu)


Quando um homem pisa no pé de um estranho
No mercado,
Desculpa-se amavelmente
E dá uma explicação
(“Esta praça está
Tão apinhada de gente!”).

Se um irmão mais velho
Pisa no pé do irmão mais moço,
Diz: “Desculpe”
E fica por isso mesmo.
Quando um pai
Pisa no pé do filho,
Não lhe diz nada.

A perfeita sabedoria
Não é premeditada.
A maior delicadeza
É livre de qualquer formalidade.
A conduta perfeita
É livre de preocupação.
O amor perfeito
Dispensa as demonstrações.
A perfeita sinceridade não oferece
Qualquer garantia



CHUANG TZU, considerado o maior escritor taoista de cuja existência se tem notícia, escreveu sua obra no final do período clássico da filosofia chinesa, de 550 a 250 aC.


MERTON, Thomas. A Via de Chuang Tzu. Petrópolis: Editora Vozes, 1974.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

CECÍLIA MEIRELES (2)

VIGÍLIA
(Cecília Meireles)



Como o companheiro é morto,
todos juntos morreremos
um pouco

O valor de nossas lágrimas
sobre quem perdeu a vida,
não é nada.

Amá-lo, nesta tristeza,
é suspiro numa selva
imensa.

Por fidelidade reta
ao companheiro perdido,
que nos resta?

Deixar-nos morrer um pouco
por aquele que hoje vemos
todo morto.




MEIRELES, Cecília. Antologia Poética. 3a.ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor,1966.

RABISCOS NO BLOCO


quinta-feira, 4 de outubro de 2007

MENOTTI DEL PICCHIA (2)

Menotti Del Picchia
Em
Juca Mulato


A Voz Das Coisas


E Juca ouviu a voz das coisas. Era um brado:
“Queres tu nos deixar, filho desnaturado?”

E um cedro o escarneceu: “Tu não sabes, perverso,
que foi de um galho meu que fizeram teu berço?”

E a torrente que ia rolar para o abismo:
“Juca, fui eu quem deu a água do teu batismo”.

Uma estrela, a fulgir, disse da etérea altura:
“Fui eu que iluminei a tua choça escura
no dia em que nasceste. Eras franzino e doente.
E teu pai te abraçou chorando de contente...
-Será doutor! – a mãe disse, e teu pai, sensato:
-Nosso filho será um caboclo do mato,
forte como a peroba e livre como o vento! –
Desde então foste nosso e, desde esse momento, nós
te amamos, seguindo o teu incerto trilho,
com carinhos de mãe que defende seu filho!

Juca olhou a floresta: os ramos, nos espaços,
pareciam querer apertá-lo entre os braços:
“Filho da mata, vem! Não fomos nós, ó Juca,
o arco do teu bodoque, as grades da arapuca,

o varejão do barco e essa lenha sequinha
que de noite estalou no fogo da cozinha?
Depois, homem já feito, a tua mão ansiada
não fez, de um galho tosco, um cabo para a enxada?”
“Não vás – lhe disse o azul. “Os meus astros ideais
num forasteiro céu tu nunca o verás mais.
Hostis, ao teu olhar, estrelas ignoradas
hão de relampejar como pontas de espadas.
Suas irmãs daqui, em vão, ansiosas, logo,
Irão te procurar com seus olhos de fogo...
Calcula, agora, a dor destas pobres estrelas
correndo atrás de quem anda fugindo delas...

Juca olhou para a terra muda e fria
Pela voz do silêncio ela também dizia:

“Juca Mulato, és meu! Não fujas que eu te sigo...
Onde estejam teus pés, eu estarei contigo.
Tudo é nada, ilusão! Por sobre toda a esfera
há uma cova que se abre, há meu ventre que espera...
Nesse ventre há uma noite escura e ilimitada,
e nela o mesmo sono e nele o mesmo nada.
Por isso o que vale ir, fugitivo e a esmo,
buscar a mesma dor que trazes em ti mesmo?

Tu queres esquecer? Não fujas ao tormento...
Só por meio da dor se alcança o esquecimento.
Não vás. Aqui serão teus dias mais serenos,
que, na terra natal, a própria dor dói menos...
E fica, que é melhor morrer (ai, bem sei eu!)
no pedaço de chão em que a gente nasceu!”




DEL PICCHIA, Menotti. Poemas. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1960.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Menotti_Del_Picchia

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

SÖREN KIERKEGAARD

Sören Kierkegaard
Em
Diário De Um Sedutor



“Os meus olhos nunca se cansam de aflorar essas riquezas externas, essas emanações propagadas pela beleza feminina. Cada elemento particular possui dessa beleza uma pequena parcela, sendo, ao mesmo tempo, completo em si próprio, feliz, alegre, belo”.


“Cada uma tem o seu sorriso alegre; o olhar ladino; os olhos ardentes de desejo; a fronte altiva; o espírito galhofeiro; a doce melancolia; a intuição profunda; o humor sóbrio e fatídico; a nostalgia terrestre; as emoções não confessadas; as sobrancelhas eloqüentes; os lábios interrogadores; a testa cheia de mistério; os caracóis sedutores; os cílios que escondem o olhar; o orgulho divino; a castidade terrena; a pureza angélica; o insondável rubor; os passos leves; o balançar gracioso; a pose langorosa; o devaneio cheio de impaciência; os suspiros inexplicados; a cintura esbelta; as formas suaves; o colo opulento; as ancas bem arqueadas; o pé pequeno; a mão gentil. – Cada uma tem o seu, e uma tem o que a outra não possui”.


“E quando vi e revi, contemplei e voltei a contemplar as riquezas deste mundo, quando sorri, suspirei, lisonjeei, ameacei, desejei, tentei, ri, chorei, esperei, ganhei, perdi – fechei o leque, e o que era esparso reúne-se numa coisa só, as partes conjugam-se num todo. A minha alma alegra-se então, o meu coração bate mais rápido, e a paixão incendeia-se”.





KIERKEGAARD, Sören. Diário De Um Sedutor. Tradução de Jean Melville. São Paulo: Editora Martin Claret, 2004.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B8ren_Kierkegaard

ROBERT CRUMB


Detalhe da capa do LP “CHEAP THRILLS” do Big Brother & The Holding Company (1968)Autoria: Robert Crumb


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Crumb

terça-feira, 2 de outubro de 2007

SÊNECA (2)

Sêneca
Em
Consolação À Minha Mãe Hélvia




”A desventura é grave para aqueles a quem chega inesperadamente; facilmente a suporta quem sempre a espera.”


“Assim, também o ataque de um exército inimigo dispersa os soldados tomados de surpresa; mas se preparados para a guerra antes da guerra, ordenados e prontos repelem a primeira investida, que é a mais furiosa.”


“A sorte contrária não diminui senão os homens que se deixaram enganar pela prosperidade.”


“Os homens que se agarram a seus presentes como a coisas das quais temos perpétua propriedade e que por eles querem ser invejados pelos outros, jazem prostrados e aflitos, quando os deleites falsos e fugazes abandonam sua alma vã e pueril, que ignora qualquer prazer real; mas, quem na prosperidade não se orgulhou, não se abala se as coisas mudam.”




SÊNECA, Lúcio Aneu. Obras. Tradução de G. D. Leoni. São Paulo: Atena Editora, 1955.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9neca

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

MANUEL BANDEIRA (7)

MINHA GRANDE TERNURA
(Manuel Bandeira)



Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequenas aranhas.

Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desjáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E eu não pude amar.

Minha grande ternura
Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite
De um túmulo.



BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1979.

BRINCANDO É QUE SE BRINCA


O Reflexões foi indicado pelo Improfícuo para ostentar este selo!
Cumprindo o dever de indicar outros 5 blogs para o seleto grupo, lá vai:

BLOG DO ZEZO
DIGIT@L PIXEL
UN - DRESS
VARAL DE IDÉIAS (Eduardo Lunardelli)
Visitem também os outros da lista de links, todos valem a pena conferir!