segunda-feira, 31 de março de 2008

CHUANG TZU (9)



CHUANG TZU
Em
Os Dilúvios De Outono






“Não há limites fixos,
O tempo não permanece imóvel.
Nada dura,
Nada é final.



Você não pode segurar
O fim ou o princípio.
O sábio vê o próximo e o distante
Como se fossem idênticos,
Ele não despreza o pequeno
Nem valoriza o grande:
Onde todos os padrões diferem,
Como poderá você comparar?
Com um olhar
Ele se apodera do passado e do presente,
Sem tristeza pelo passado
Nem impaciência pelo presente.
Tudo está em movimento.
Tem experiência
Da plenitude e do vazio.
Não se rejubila no sucesso
Nem lamenta o insucesso.
O jogo nunca está terminado.
O nascimento e a morte são iguais.
Os termos nunca são finais”.





CHUANG TZU, considerado o maior escritor taoista de cuja existência se tem notícia, escreveu sua obra no final do período clássico da filosofia chinesa, de 550 a 250 aC.


MERTON, Thomas. A Via de Chuang Tzu. Petrópolis: Editora Vozes, 1974.

LUCIAN FREUD

National Gallery of Australia, Canberra


AFTER CÉZANNE
(1999 – 2000) – óleo sobre tela – Irregular: comprimento 215 cm; altura no lado esquerdo 214 cm; no lado direito 173 cm
Autor: Lucian Freud

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lucian_Freud

sábado, 29 de março de 2008

TEILHARD DE CHARDIN



Pensamentos de Teilhard de Chardin:




“A Reflexão, ponto crítico cósmico, inevitavelmente encontrado e transposto, num dado momento, por toda a Matéria levada a um certo excesso de temperatura psíquica e organização.
A Reflexão, passagem (como por um segundo nascimento) da Vida simples à Vida ao quadrado”.


“É provável que, na história dos séculos vindouros, nossa época venha a ser considerada muito importante pelo domínio das novas energias elétricas, químicas, etc.; mas eu não me surpreenderia se, para os observadores do futuro, o maior acontecimento de nossos tempos fosse considerado exatamente o seguinte: o aparecimento na face da terra, da consciência de que havia uma humanidade e uma obra humana a cumprir”.


“Quando, pela primeira vez, num vivo, o instinto se percebeu no espelho de si mesmo, foi o Mundo inteiro que deu um passo”.






CHARDIN, Teilhard de. Teilhard de Chardin: vida e pensamentos. Organizador: José Luís Archanjo. São Paulo: Editora Martin Claret, 1997.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teilhard_de_Chardin

sexta-feira, 28 de março de 2008

VINICIUS DE MORAES (6)



Vinicius de Moraes
Em
A Mulher e o Signo



AQUÁRIO



Se o que se quer é a boa esposa
A aquariana pousa.

Se o que se quer é outra coisa
A aquariana ousa.

Se o que se quer é muito amor
A aquariana
É mulher macho sim senhor.

Porém não são possessivas
Nem procuram dominar
Ou são meigas e passivas
Ou botam para quebrar.





MORAES, Vinicius de. A Mulher e o Signo. Desenhos de Otávio F. de Araújo. Rio de Janeiro: Rocco, 1980.

RABISCOS NO BLOCO


quinta-feira, 27 de março de 2008

HERÁCLITO DE ÉFESO

Heráclito de Éfeso

Fragmentos




“A grande multidão não entende estas coisas, apesar de sempre se encontrarem com elas: percebendo-as, não as compreendem
(em verdade), mas imaginam-nas”.


“Se ouvirem, não a mim, mas ao logos, provarão ser sábios se admitirem que tudo é um”.


“A harmonia invisível é superior à visível”.


“Não se pode descer duas vezes para dentro do mesmo rio, (nem tocar duas vezes a mesma substância perecedoura enquanto mantém o mesmo modo de ser, pois, pela veemência e rapidez de sua transformação, ela) se dispersa e torna a congregar-se, aproxima e distancia-se”.


“Para a divindade, tudo é belo, bom e justo: foram os homens que tiveram umas coisas por justas e outras por injustas”.


“Para os homens, não seria melhor se lhes sucedesse tudo quanto querem”.






Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Her%C3%A1clito_de_%C3%89feso



SANSON, Victorino Félix. Textos de Filosofia. Edição provisória para uso interno. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 1974.

quarta-feira, 26 de março de 2008

ADORNO



Theodor Adorno
Em
Mínima Moralia






“A tarefa atual da arte é introduzir o caos na ordem”.


“A arte é magia, libertada da mentira de ser verdade”.


“O amor é a capacidade de perceber o semelhante no dessemelhante”.


“Amado tu serás unicamente quando puderes te mostrar fraco sem provocares força”.


“A sociedade é integral, antes mesmo de ser governada de um modo totalitário.
Sua organização envolve mesmo aqueles que a combatem e impõe normas à sua consciência.
(....)
O fato de que todos os produtos culturais, mesmo os não conformistas, estejam incorporados ao mecanismo de distribuição do grande capital, de que, no país mais desenvolvido, um produto que não obtiver o imprimatur da fabricação em massa praticamente não atingirá nenhum leitor, espectador ou ouvinte, recusa de antemão toda matéria ao anseio divergente”.





ADORNO, Theodor. Mínima Moralia. Reflexões a partir da vida danificada. Tradução: Luiz Eduardo Bicca. Revisão da tradução: Guido de Almeida. São Paulo: Editora Ática, 1992.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Theodor_Adorno

terça-feira, 25 de março de 2008

CECÍLIA MEIRELES (5)



CRIANÇA
(Cecília Meireles)




Como te chamas? Que idade tens? Não sei. Não sei quem és, mas eu te amo.
Sem te conhecer, compus este livro que te ofereço, querendo fazer-te feliz.
Pensa na desconhecida que de longe te escreveu estas páginas.
Terás coragem de esquecê-la?
Terás coragem de dizer não, se ela te fizer um pedido?
Oh! Bem sei que não tens...
Ouve, pois: entras agora na vida. Tua alma é um tesouro de carinho e amor.
Dá-me um pouco do teu tesouro, oh criança!
- Como? Perguntarás.
Amando este livro, que é teu, procurando entendê-lo e procurando guardá-lo na memória do teu coração, que eu beijaria de joelhos, se o pudesse beijar!...





MEIRELES, Cecília. Criança Meu Amor... Ilustrações de Marie Louise Nery. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986.

M. C. ESCHER


Museu Escher

House of Stairs
1951 – litogravura – 47 x 24 cm.
Autor: M. C. Escher

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Maurits_Cornelis_Escher

segunda-feira, 24 de março de 2008

EINSTEIN (3)



Albert Einstein
Em
SOBRE O MÉTODO DA FÍSICA TEÓRICA





“Admiramos a Grécia antiga porque fez nascer a ciência ocidental.
Lá, pela primeira vez, se inventou a obra prima do pensamento humano, um sistema lógico, isto é, tal que as proposições se deduzem umas das outras com tal exatidão que nenhuma demonstração provoca a dúvida.
É o sistema da geometria de Euclides.
Esta composição admirável da razão humana autoriza o espírito a ter confiança em si mesmo para qualquer nova atividade.
E se alguém, no despertar de sua inteligência, não for capaz de se entusiasmar com uma arquitetura assim, então nunca poderá realmente se iniciar na pesquisa teórica.


Mas para atingir uma ciência que descreva a realidade, ainda faltava uma segunda base fundamental que, até Kepler e Galileu, foi ignorada por todos os filósofos.
Porque o pensamento lógico, por si mesmo, não pode oferecer nenhum conhecimento tirado do mundo da experiência.
Ora, todo o conhecimento da realidade vem da experiência e a ela se refere.
Por este fato, conhecimentos, deduzidos por via puramente lógica, seriam diante da realidade estritamente vazios.
Desse modo Galileu, graças ao conhecimento empírico, e sobretudo por ter se batido violentamente para impô-lo, tornou-se o pai da física moderna e provavelmente de todas as ciências da natureza em geral”.





EINSTEIN, Albert. Como vejo o mundo. Tradução: H. P. de Andrade. São Paulo: Circulo do Livro, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Einstein

sábado, 22 de março de 2008

LA ROCHEFOUCAULD (7)



La Rochefoucauld



Máxima 345

“As oportunidades fazem-nos conhecer os outros e mais ainda a nós mesmos”.


Máxima 348

“Quando se ama duvida-se daquilo em que mais se acredita”.


Máxima 364

“Sabemos muito bem não dever falar de nossa mulher, mas não sabemos bastante que deveríamos ainda menos falar de nós mesmos”.


Máxima 366

“Por mais desconfiança que tenhamos da sinceridade dos que nos falam, sempre julgamos que a nós eles dizem mais verdade que aos outros”.


Máxima 367

“Há poucas mulheres honestas que não estejam cansadas de sua situação”.





François de La Rochefoucauld foi um nobre que escreveu apenas dois livros. Um de memórias e outro de máximas. Filho do duque de Poitou, suas máximas foram publicadas pela primeira vez em 1664, anônimas. Retrabalhadas reapareceriam em 1678. La Rochefoucauld faleceu em 1688.


LA ROCHEFOUCAUD, François VI de. Reflexões e Máximas Morais. Tradução de Alcântara Silveira. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1969.

RABISCOS NO BLOCO


sexta-feira, 21 de março de 2008

BAKUNIN (2)



Mikhail Bakunin
Em
Deus e o Estado






“Todas as religiões, com seus deuses, seus semideuses e seus profetas, seus messias e seus santos, foram criadas pela fantasia crédula do homem, que ainda não alcançou pleno desenvolvimento e a plena possessão de suas faculdades intelectuais.
Em conseqüência, o céu religioso nada mais é do que uma miragem onde o homem, exaltado pela ignorância e pela fé, encontra sua própria imagem, mas ampliada e invertida, isto é, divinizada”.

“A história das religiões, a do nascimento, da grandeza e da decadência dos deuses que se sucederam na crença humana, não é nada mais do que o desenvolvimento da inteligência e da consciência coletivas dos homens.
À medida que, em sua marcha histórica progressiva, eles descobriram, sejam neles próprios, seja na natureza exterior, uma força, uma qualidade, ou mesmo quaisquer grandes defeitos, eles os atribuíam a seus deuses após tê-los exagerado, ampliado desmedidamente, como fazem habitualmente as crianças, por um ato de sua fantasia religiosa”.






BAKUNIN, Mikhail. Deus e o Estado. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000020.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mikhail_Aleksandrovitch_Bakunin

quinta-feira, 20 de março de 2008

GILKA MACHADO



AMEI O AMOR
(Gilka Machado)





Amei o Amor, ansiei o Amor, sonhei-o
uma vez, outra vez (sonhos insanos)!...
e desespero haja maior não creio
que o da esperança dos primeiros anos.

Guardo nas mãos, nos lábios guardo em meio
do meu silêncio, aquém dos olhos profanos,
carícias virgens, para quem não veio
e não virá saber dos meus arcanos.

Desilusão tristíssima, de cada
momento, infausta e merecida sorte
de ansiar o Amor e nunca ser amada!

Meu beijo intenso e meu abraço forte,
com que pesar penetrareis o Nada,
levando tanta vida para a Morte...





LOUSADA, Wilson. Cancioneiro do Amor: os mais belos versos da poesia brasileira. Simbolistas e contemporâneos. Seleção e notas: Wilson Lousada. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1952.

Sobre a autora:
http://www.releituras.com/gilkamachado_menu.asp

quarta-feira, 19 de março de 2008

PAUL VALÉRY (2)



Dos Cadernos de Valéry




“Tenho uma espécie de tédio dos “acontecimentos” – e como não posso suportar o comprimento (longueur), talvez menos ainda posso agüentar as cenas “históricas”, os quadros e os efeitos sucessivos”.


“Devemos sorrir dos que se levam a sério”.


“O poema é uma máquina de produzir certos efeitos sobre certas pessoas que se imaginam tais ou quais”.


“Eu experimentei e cultivei a partir de 1892 um ódio e um desprezo pelas coisas vagas e lhes fiz uma guerra implacável em mim durante toda a minha vida”.


“Nada de repetições: construir para se destruir”.





CAMPOS, Augusto de. Paul Valéry: A serpente e o pensar. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Val%C3%A9ry

WESLEY DUKE LEE


Coleção Particular

MEU DOCE AMOR
1957 – mista sobre papel – 40 x 21 cm.
Autor: WESLEY DUKE LEE

Sobre o autor:

terça-feira, 18 de março de 2008

TORQUATO NETO (3)



ANTES QUE ZARPE A NAVILOUCA

Publicado por Torquato Neto em sua coluna Geléia Geral, no jornal Última Hora. {Rio de Janeiro, sexta-feira, 25 de fevereiro de 1972}.





* Comandos do ar informam sobre a temperatura vigente nos dois pólos da questão: tudo azul e escuro. Olha o telex: azul muito escuro do lado de cá enquanto as cobras se decifram à beira da piscina azul-escura do super-hotel de luxo às margens das águas artificiais, em Pindorama Palace.

* Informações gerais pra quem se liga: a paisagem aguarda inquieta resoluções dos altos escalões das cobras. Hoje é sexta-feira o que será no sábado entrante pela próxima semana? Perguntas e respostas variadas, conforme o tempo provável da duração da alvorada, gracias.

* Miedo de perder-te, adiós amor que já me voy, e muito em breve parto mesmo e por enquanto ainda espero inquieto resoluções que não posso compreender em voz mais alta. Agora & sempre assim, conforme for.

* Carroções rondam a madrugada em pleno dia meio-dia sol com chuva tudo a pino tudo ao menos, menos dia, chuva no lugar. O que me dizes? Faz hoje quatro noites que não durmo, aguardo informações e decisões dos altos escalões das cobras das esferas rolantes nacionálicas e da ferocidade amável do País.

* Enquanto isso eu pergunto a ti, neste silêncio: quem me ama por aqui?

* Silêncio, meu amor.

* A moral do cangaço geral é com um N a menos pelo medo manso cordeirinho da miséria. Eu sei bem os sorrisos que me esperam do outro lado e aguardo que apenas o essencial se cumpra.

* Noticiário rodante: agulhas negras apontam em minha direção os pontos da comoção geral. Emoção: apontam como foguetes loucos desgovernados. Primeira providência do mais novo: expulsar dois mil!

* Meu coração despedaçado não agüenta mais, não quer não pode não tem tempo não tem nada que me faça ficar sentado deitado de pé esperando, haja fogo, meu coração na agüenta ficar sentado, calado sofrendo morrendo debaixo da chuva na beira da calçada no meio do caminho, vereda tropical, esgoto das maravilhas, ilhas, trilhas, musical, calma calamidade, fevereiro, março, abril.

* Até que pinte outra maneira de viver em paz.

* Até que não me queiram mais calado embora eu nunca fique como me adoravam, sabe? Até que a morte me separe e reintegre após transações heurísticas, sabe? Até que tudo igual a nada igual à poeira da ossada, sabe? Até que um dia, enfim!





Torquato Neto. Torquatália: obra reunida de Torquato Neto. Organização de Paulo Roberto Pires. v. 2. Geléia Geral. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Torquato_Neto

segunda-feira, 17 de março de 2008

PEDRO BLOCH (3)



Pedro Bloch
Em
Abrir os olhos





“Até que ponto vale a pena abrir os olhos de uma criança?
Não é fácil saber como e quando advertir um ser em formação.
Chega um momento em que a criança toma conhecimento das guerras, dos ódios, das maldades.
Seu cérebro em formação se desnorteia diante de tantas contradições e tantos paradoxos.

Basta dar a vocês o exemplo dos surdos.
Quando se educa uma criança surda, quando se lhes ensina a falar, sua mente funciona de modo concreto, objetivo, verdadeiro.
Pão é pão e queijo é queijo.
Para ela é uma complicação a abstração maior.
Chega um momento em que o surdo é capaz de parar diante de uma senhora e dizer:
- A senhora é velha, feia e desdentada. Por quê?

Dirá isso com a maior pureza de alma.
Está dizendo uma verdade e, dentro de sua lógica, a verdade não merece censura.

E é aí que nos vamos fazer uma coisa terrível: - vamos ensinar o surdo a mentir.
Vai passar a falsificar-se, a usar as mentiras convencionais”.





BLOCH, Pedro. Criança Diz Cada Uma!. Ilustrações de Luiz Sá. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1963.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Bloch

RABISCOS NO BLOCO


sábado, 15 de março de 2008

GREGÓRIO DE MATOS (2)



O POETA CHORA UM BEM PERDIDO, PORQUE O DESCONHECIDO NA POSSE.
(Gregório de Matos)





Porque não merecia o que lograva,
Deixei como ignorante o bem que tinha,
Vim sem considerar aonde vinha,
Deixei sem atender o que deixava:

Suspiro agora em vão o que gozava,
Quando não me aproveita a pena minha,
Que quem errou sem ver o que convinha,
Ou entendia pouco, ou pouco amava.

Padeça agora, e morra suspirando
O mal, que passo, o bem que possuía;
Pague no mal presente o bem passado.

Que quem podia, e não quis viver gozando
Confesse, que esta pena merecia,
E morra, quando menos confessado.






MATOS, Gregório de. Poemas Escolhidos. Organização, seleção e notas: José Miguel Wisnik. São Paulo: Cultrix, 1976.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Greg%C3%B3rio_de_Matos

sexta-feira, 14 de março de 2008

SCHOPENHAUER (4)



Schopenhauer
Em
Ensaio Acerca Das Mulheres





“A vantagem que a monogamia e as leis que dela resultam concedem à mulher, proclamando-a igual ao homem, o que ela não é, sob nenhum ponto de vista, produz esta conseqüência que os homens sensatos e prudentes hesitam muitas vezes em deixar-se arrastar a tamanho sacrifício, a um pacto tão desigual!

Entre os povos polígamos, cada mulher encontra alguém que se incumbe dela. Entre nós, pelo contrário o número das mulheres casadas é bastante restrito e há um número infinito de mulheres que ficam sem proteção, donzelonas, vegetando tristemente nas classes elevadas da sociedade, pobres criaturas submetidas a trabalhos penosos e rudes, nas classes inferiores.

Ou então se tornam miseráveis prostitutas, arrastando uma vida vergonhosa e levadas pela força das coisas a formarem uma espécie de classe pública e reconhecida, cujo fim especial é preservar dos perigos da sedução, as mulheres felizes que acharam maridos ou que os podem esperar”.






SCHOPENHAUER, Arthur. Amor, Mulheres e Casamento. Tradução de Fernandes Costa. São Paulo: Distribuidora de Publicações, s/data.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Schopenhauer

quinta-feira, 13 de março de 2008

MATIAS AIRES (2)



Matias Aires
Em
Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens


Prólogo Ao Leitor

(trechos)


“Eu que disse mal das vaidades, vim a cair na de ser Autor: verdade é que a maior parte destas Reflexões escrevi sem ter o pensamento naquela vaidade; houve quem a suscitou, mas confesso que consenti sem repugnância, e depois quando quis retroceder, não era tempo, nem conseguir o ser Anônimo.
Foi preciso por o meu nome neste livro, e assim fiquei sem poder negar a minha vaidade.
A confissão de culpa costuma fazer menor a pena”.

“Escrevi das vaidades, mais para instrução minha, que para doutrina dos outros, mais para distinguir as minhas paixões, que para que os outros venham a distinguirem as suas, por isso quis de alguma forma pintar as vaidades com cores lisonjeiras, e que as fizessem menos horríveis, e sombrias, e por conseqüência menos fugitivas da minha lembrança, e do meu conhecimento”.

“Mas se ainda assim fiz mal em tornar das minhas Reflexões um livro, já me não posso emendar por esta vez, senão com prometer, que não hei de fazer outro;...”







AIRES, Matias. Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002989.pdf

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Matias_Aires

MODIGLIANI


Guggenheim Museum, New York City

Nu
1917 – óleo sobre tela – 73 x 116 cm.
Autor: Amedeo Modigliani


Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Amedeo_Modigliani

quarta-feira, 12 de março de 2008

SAFO



A ÁTIS
(Safo)



Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:

“Mas, ah, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro,
Safo”. “Seja feliz”, eu disse.

,"E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.

Quantas grinaldas, no seu colo,
- Rosas, violetas, açafrão –
Trançamos juntas! Multiflores.

Colares atei para o tenro
Pescoço de Átis; os perfumes
Nos cabelos os óleos raros

Da sua pele em minha pele!
[...]
Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava
A sua sede” [...]

Cai a lua, caem as plêiades e
É meia-noite, o tempo passa e
Eu só, aqui deitada, desejante.

— Adolescência, adolescência,
Você se vai, aonde vai?
— Não volto mais para você,
Para você volto mais não.





PIGNATARI, Décio (org., trad. & notas). 31 poetas, 214 poemas; do Rig-Veda e Safo a Apollinaire. São Paulo : Companhia das Letras, 1996.

Sobre a autora:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Safo

terça-feira, 11 de março de 2008

AUGUSTO FREDERICO SCHIMIDT (4)



Poema
(Augusto Frederico Schmidt)





Não morrer – mas ser colhido pela morte.
Ser colhido, porque maduro, para o silêncio.
Não morrer – mas pender para a morte,
Como as frutas que, tocadas pelo tempo,
Se inclinam para o úmido chão.

Não morrer – mas estar com a morte ampla e serena
Nos olhos, no coração e no corpo e na alma.
Estar para o Fim, maduro como as amoras de vez,
Como as amoras da montanha.

Sentir em si a harmonia dos últimos passos
E o consolo dos olhares que não querem mais ver.
Ser levado pelas mãos da morte,
E estar com a morte em si, como esperança, como única esperança.






SCHMIDT, Augusto Frederico. Antologia Poética. Seleção de Waldir Ribeiro do Val. Introdução de Bernardo Gersen. Rio de Janeiro: Leitura, 1962.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Frederico_Schmidt

RABISCOS NO BLOCO


segunda-feira, 10 de março de 2008

VICO (4)



Giambattista Vico
Em
Do estabelecimento de novos princípios




7.
“A legislação considera o homem tal qual ele é, para fazer bons usos disto na sociedade humana.
Assim sendo, da ferocidade, da avareza e da ambição, que são os três vícios levados, de ponta a ponta, por todo o gênero humano, os converte, respectivamente, na força militar, no comércio e nos tribunais, e, por isso mesmo, na força, na opulência e na sabedoria das repúblicas.
Assim é que desses três enormes vícios, que certamente destruiriam a geração humana sobre a terra, faz resultar o bem estar civil.

Esta dignidade prova a existência da providência divina, sendo ela uma divina mente legisladora, que das paixões dos homens, todos apoiados em seus interesses privados, que os faria viver como bestas feras enclausurados na solidão, faz resultarem as ordens civis que os façam viver em sociedade humana”.






VICO, Giambattista Princípios De (Uma) Ciência Nova. Seleção, tradução e notas: Antonio Lázaro de Almeida Prado. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Giambattista_Vico

sábado, 8 de março de 2008

STENDHAL (4)



STENDHAL
Em
Do Amor


Primeiro Ensaio de Prefácio

(trechos)



“Apesar de muitos cuidados para ser claro e lúcido, não posso fazer milagres; não posso dar ouvidos aos surdos nem olhos aos cegos.
Por isso, as criaturas ricas e dadas aos prazeres grosseiros, que ganharam cem mil francos no ano que precedeu o momento de abrirem este livro, devem bem depressa fechá-lo, sobretudo se são banqueiros, donos de fábricas, respeitáveis industriais, isto é, pessoas de idéias eminentemente positivas.

Este livro será menos incompreensível para quem tiver ganhado muito dinheiro na Bolsa ou na loteria.
Um tal lucro pode existir ao lado do hábito de gozar da emoção que proporciona um quadro de Prud’hon, uma frase de Mozart, ou certo olhar diferente de uma mulher na qual se pensa com freqüência”.



“Peço que só abra este livro quem tenha sido infeliz por causas imaginárias estranhas à vaidade, das quais se envergonharia profundamente se fossem divulgadas nos salões”.



“Todo este prefácio é feito para anunciar que este livro tem a infelicidade de só poder ser compreendido por pessoas que têm lazeres para fazer loucuras”.





STENDHAL Do Amor (Trechos Escolhidos). Seleção, Tradução e Prefácio de Wilson Lousada. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Stendhal

sexta-feira, 7 de março de 2008

FERNANDO PESSOA (9)



Ricardo Reis
Em
Odes Escolhidas





NADA FICA de nada.
Nada somos. Um pouco de sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas –
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.

(28 – 9 – 1932)




PESSOA, Fernando Poemas Escolhidos. São Paulo: O Estado de S. Paulo/ Klick Editora, 1997.

DANIEL SENISE

Coleção Particular

SEM TÍTULO ( O beijo do Elo Perdido )
1992 – mista sem cretone – 143 x 253 cm.
Autoria de: DANIEL SENISE

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_Senise

quinta-feira, 6 de março de 2008

CARNAP



CARNAP
Em
A realidade do mundo exterior




“Dois geógrafos, um realista e um idealista, que são enviados com o fim de verificar se uma montanha que se supõe existir em algum lugar na África é somente lendária ou realmente existe, chegarão ao mesmo resultado (positivo ou negativo)”.


“Há desacordo entre os dois cientistas somente quando eles não mais falam como geógrafos mas como filósofos, quando apresentam uma interpretação filosófica dos resultados empíricos com os quais eles concordam.
Então diz o realista: “esta montanha que nós dois descobrimos, não só tem as propriedades geográficas afirmadas, mas é também, além disso, real”; e diz o “fenomenalista” (uma subvariedade do realismo): “a montanha que descobri funda-se em algo real que não podemos conhecer em si mesmo”; o idealista por outro lado diz: “ao contrário, a montanha em si não é real, somente nossas (ou no caso da linha solipista do idealismo: “somente minhas”) percepções e processos conscientes são reais”.


Esta divergência entre os dois cientistas não ocorre no domínio empírico, pois há uma unanimidade completa no que diz respeito aos fatos empíricos.
Estas duas teses que se acham aqui em oposição entre si transcendem a experiência e não possuem nenhum conteúdo factual.
Nenhum dos opositores sugere que sua tese seja testada por algum experimento conjunto e decisivo, nem qualquer um deles dá uma indicação do desígnio de um experimento no qual se pudesse fundamentar sua tese”.

“Isto não significa que as duas teses são falsas; ao contrário, elas não possuem qualquer significado, de tal forma que nem mesmo se pode colocar a questão de sua verdade ou falsidade”.




CARNAP, R. “Pseudoproblemas na Filosofia”. In. Schlick e Carnap. Seleção de Paulo Rubén Mariconda. Traduções de Luís João Baraúnas e Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Editora Abril, 1980. (Os Pensadores)

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rudolf_Carnap

quarta-feira, 5 de março de 2008

CRUZ E SOUSA (2)



Cruz e Sousa
Em
O Livro Derradeiro




SATANISMO



Não me olhes assim, branca Arethusa,
Peregrina inspiração dos meus cantares;
Não me deixes a razão vagar confusa
Ao relâmpago ideal de teus olhares.

Não me olhes, oh! não, porquanto eu penso
Envolvido no luar das minhas cismas,
Que o olhar que me dardejas -- doido, imenso
Tem a rápida explosão dos aneurismas.

Não me olhes. Oh! não, que o próprio inferno
Problemático, fatal, cálido, eterno,
Nos teus olhos, mulher, se foi cravar!.

Não me olhes, oh! não, que m'entolece
Tanta luz, tanto sol -- e até parece
Que tens músicas cruéis dentro do olhar!...





Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000075.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_e_Sousa

RABISCOS NO BLOCO


terça-feira, 4 de março de 2008

NIETZCHE (12)



NIETZSCHE
Em
Aurora




2. Preconceito Dos Sábios

“Os sábios têm razão quando pensam que os homens de todas as épocas imaginavam saber o que era bom e mau.
Mas é preconceito dos sábios acreditar que agora estamos mais bem informados a respeito do que em qualquer outra época”.


19. Moralidade e Embrutecimento

“Os costumes representam as experiências dos homens anteriores acerca do que consideravam útil ou prejudicial – mas o sentimento dos costumes (moralidade) não se refere a suas experiências, mas à antiguidade, à santidade, à indiscutibilidade dos costumes.
Aí está porque esse sentimento se opõe a que se façam novas experiências e se corrijam os costumes: o que quer dizer que a moralidade se opõe à formação de costumes novos e melhores: ela embrutece”.


54. As Idéias Sobre a Doença

“Tranqüilizar a imaginação do doente para que não tenha mais que sofrer com idéias que tem de sua doença, mais que com a própria doença – acho que já é alguma coisa!
E não é mesmo pouco!
Compreendem agora nossa tarefa”?





NIETZSCHE, F. Aurora. Tradução de Antonio Carlos Braga. São Paulo: Editora Escala, 2007.

BRINCANDO É QUE SE BRINCA

Recebo da amiga Goddess Night o desafio de listar seis músicas que foram importantes na minha vida.
Acredito que poderia fazer diversas listas e ainda ia sobrar música que eu gosto.
Aí vão seis delas (toda estão no Youtube);


The mamas and the papas - California dreamin

O Rappa - Vapor Barato

Bezerra da Silva - Vou apertar, mas não vou acender agora

Caetano Veloso - Tempo de estio

Raul Seixas - Al Capone

Nirvana - Smells like teen spirit


Desafio transferido para os leitores, acredito que servem como uma pista de quem está por trás dos blogs...

segunda-feira, 3 de março de 2008

FEDRO



FEDRO
Em
Fábula XIX do Livro I
(Tradução de Ary de Mesquita)




Esta fábula ensina que a carícia
Dos maus envolve sempre uma malícia.

Certa cadela que esperava filhos,
Para os ter, procurava um bom lugar,
Porém, em vão. Após mil empecilhos,
Uma cova excelente foi achar.

Pediu à dona – uma cachorra boa –
Que lhe cedesse por um tempo breve.
Esta o permite. Quando a hora soa
De devolver a casa, como deve,

A primeira cadela implora à amiga
Que espere um pouco mais. Ela o consente.
Corrido o prazo, volta, e embora diga
Que quer a cova, a outra, azedamente,

Lhe diz: só se tiveres, desgraçada,
Mais força que eu e a minha filharada.






Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fedro


OLIVEIRA, Ary de (Seleção e Prefácio) Poesia – 1o. Volume. Rio de Janeiro/ São Paulo/ Porto alegre: W. M. Jackson Inc. Editores, 1950.