quarta-feira, 31 de março de 2010

WILHELM DILTHEY (2)



Wilhelm Dilthey
Em
Os Tipos de Concepção de Mundo.






“Atrás de nós, ilimitada e caótica, encontra-se a multiplicidade dos sistemas filosóficos e estende-se à nossa volta.

Em todas as épocas, desde que existem, excluíram-se e entre si se combateram e não se divisa esperança alguma de entre eles se poder chegar a uma decisão”.




“Olhamos retrospectivamente para um incomensurável campo de ruínas de tradições religiosas, de afirmações metafísicas, de sistemas demonstrados: o espírito humano intentou e demonstrou possibilidades de todo o gênero para fundamentar cientificamente a conexão das coisas, para poeticamente a representar ou religiosamente a anunciar, e a investigação metódica, crítica, estuda cada fragmento, cada vestígio deste longo trabalho da nossa espécie.

Cada um destes sistemas exclui o outro, contradizem-se entre si, nenhum leva a melhor na sua demonstração”.




“A filosofia não deve buscar no mundo, mas no homem, o nexo interno dos seus conhecimentos”.









DILTHEY, Wilhelm. Os Tipos de Concepção de Mundo. Tradutor: Artur Morão. Disponível em: http://www.lusosofia.net/textos/dilthey_tipos_de_concep_ao_do_mundo.pdf

Sobre Dilthey clique
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_Dilthey

terça-feira, 30 de março de 2010

ANÍBAL NAZARÉ / FERNANDO CARVALHO



Tudo isto é fado.
(Aníbal Nazaré / Fernando Carvalho)




Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Eu disse que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
E disse que não sabia
Mas vou-te dizer agora

Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na mouraria
Canta a rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

Se queres ser meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
É canção que é meu castigo
Só nasceu p’ ra me perder
O fado é tudo o que eu digo
Mais o que eu não sei dizer

Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na mouraria
Canta a rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

segunda-feira, 15 de março de 2010

VERÃO 2010


(Geribá - Armação dos Búzios)
Fui para a praia, volto já!
Divirtam-se!

KARL POPPER (2)



Karl Popper
Em
Conhecimento Objetivo.






“Historicamente, encontrei minha nova solução do problema psicológico de indução de Hume antes de minha solução do problema lógico: foi aí que observei primeiro que a indução – a formação de uma crença por meio de repetição – é um mito.

Primeiramente em animais e crianças, mas depois também em adultos, foi que observei a imensamente forte necessidade de regularidade – a necessidade que nos leva a procurar regularidades; que às vezes os faz experimentar regularidades mesmo onde não há nenhuma; que os faz aferrar-se dogmaticamente a suas expectativas; e que os torna infelizes e pode mesmo impeli-los ao desespero e à beira da loucura se certas regularidades admitidas ruírem.

Quando Kant disse que nossa inteligência impõe suas leis à natureza, estava certo – só que não notou quantas vezes nossa inteligência falha ao tentá-lo: as regularidades que tentamos impor são psicologicamente a priori, mas não há a menor razão para admitir que sejam válidas a priori, como pensou Kant.

A necessidade de tentar impor tais regularidades a nosso ambiente é claramente inata e baseada em impulsos, ou instintos”.




“Só o conhecimento objetivo é criticável: o conhecimento subjetivo só se torna criticável quando se torna objetivo.
E torna-se objetivo quando dizemos o que pensamos; e mais ainda quando o escrevemos, ou imprimimos”.







POPPER, Karl R. Conhecimento Objetivo: uma abordagem evolucionária. Tradução de Milton Amado. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1975.

Sobre Karl Popper clique no linque abaixo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Popper

sábado, 13 de março de 2010

MONTEIRO LOBATO (2)



Monteiro Lobato
Em
Na Antevéspera.




“Escrever é anotar reações psíquicas.
O escritor funciona qual antena – e disso vem o valor da literatura.
Por meio dela fixam-se aspectos da alma dum povo, ou pelo menos momentos da alma desse povo”.




“Quem olha d’alto para o nosso país apreende logo a causa última de todos os seus males: pobreza.
No entanto vivemos a entoar loas às nossas fabulosas riquezas.
Confundimos infantilmente riquezas com possibilidades”.




“A vida do homem moderno se resume num perpétuo jogo de compra e venda.
Todos compram e todos vendem, desde que o sol nasce até que a luz dos lampiões se acenda”.




“Quem bebe compra, não o álcool em si, mas a doce e rósea ebriez que ele dá.
Quem ama à Catarina e lhe dá dinheiro, não adquire materialmente um pedaço dessa interessante criatura, mas sim a ilusão de amor que ela dá”.




“A humanidade se divide em duas classes: os que possuem imaginação e os que não a possuem.
Os imaginativos idealizam e, como idealizam, raro alcançam a felicidade. – tanto o real é inimigo do ideal.
Vem daí que os imaginativos são em regra infelizes no nosso regime sexual”.






LOBATO, J. B. de Monteiro. Na Antevéspera. Disponível em:
http://www.scribd.com/doc/3464194/Na-Antevespera-Reacoes-Mentais-dum-Ingenuo-Monteiro-Lobato

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Monteiro_Lobato

ARNULF RAINER


Tate Gallery, London



A Nose Adjustment
1971 – óleo, pastel e fotografia sobre papel – 60,8 x 50,7 cm.
Autor: Arnulf Rainer


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http://en.wikipedia.org/wiki/Arnulf_Rainer

sexta-feira, 12 de março de 2010

JUNG (5)



C. G. Jung
Em
Memórias, Sonhos, Reflexões.






“Não é exagero dizer que a consciência da civilização que reina hoje em dia, na medida em que reflete sobre si mesma filosoficamente, ainda não aceitou a idéia do inconsciente e de suas conseqüências, se bem que esteja confrontada com ele há mais de meio século.

É ainda uma tarefa do futuro integrar a noção geral e básica de que nossa existência psíquica tem dois pólos”.




“Ocupando-me assiduamente das minhas fantasias, tais pesquisas fizeram-me pressentir que o inconsciente se transforma ou provoca transformações.

Só descobrindo a alquimia compreendi claramente que o inconsciente é um processo e que as relações do ego com os conteúdos do inconsciente desencadeiam um desenvolvimento ou uma verdadeira metamorfose da psique.

Nos casos individuais é possível seguir este processo através de sonhos e fantasias.

No mundo coletivo tal processo se encontra inscrito nos diferentes sistemas religiosos e na transformação de seus símbolos”.











JUNG, C. G. Memórias, Sonhos, Reflexões. Compilação e Prefácio de Aniela Jaffé. Tradução de Dora Ferreira da Silva. 12ª. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung

quinta-feira, 11 de março de 2010

AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT (8)



Destino de Josefina
(Augusto Frederico Schmidt)



Sua cabeça, como um fruto novo,
Sua cabeça, flor tão fresca ainda,
Sua cabeça fina e frágil
Rolará como a água das cachoeiras.

Rolará para a noite sem estrelas.
Ouviremos um ruído seco e surdo,
Ouviremos um ruído de repente,
E o silêncio virá mais duro ainda.

Josefina gentil, morta e perdida
Mergulhará na treva o corpo branco
O corpo matinal, tão puro e casto.

Josefina gentil será chorada
Pelos ventos noturnos, pelas sombras,
Pelas árvores e águas da floresta!







SCHMIDT, Augusto Frederico. Antologia Poética. Seleção de Waldir Ribeiro do Val. Introdução de Bernardo Gersen. Rio de Janeiro: Leitura, 1962.

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quarta-feira, 10 de março de 2010

PIERRE LECOMTE DE NOÜY (2)



Pierre Lecomte du Noüy
Em
A Dignidade Humana.






“As aberrações da inteligência não deixam de ser inteligentes, mesmo quando tornadas diabólicas e criminosas.

Combinam os instintos mais primitivos – que nós, com a nossa mentalidade, julgamos cruéis, mas que no animal mais não são do que a Lei da natureza – com requintes inauditos e inúteis, e o homem tira daí voluptuosidades malsãs (sadismo).

Vão à procura desses instintos imemoriais que centenas de séculos de evolução se tinham esforçado por destruir no homem, porquanto eles não eram mais úteis do que o apêndice, e trazem-nos à superfície, ampliando-os.

Essas aberrações representam, portanto, uma pesquisa voluntária, sistemática, da regressão.

Constituem a expressão do Mal absoluto, contrário à Evolução, diretamente oposto a marcha ascensional da humanidade”.




“Sabemos, por experiência, que cada indivíduo tem a sua específica maneira de reagir, maneira inconsciente, e, voluntária ou involuntariamente, existe uma espécie de antagonismo entre quem expõe o resultado de suas reflexões e quem as escuta, ainda que com simpatia”.




“Geralmente, julgamos as pessoas e suas ações em relação ao nosso universo e não em relação ao deles, que nos é inacessível.

Daí os conflitos, as incompreensões, os desprezos, os ódios e os simples mal entendidos onde, aliás, a boa fé pode ser real de parte a parte’.










DU NOÜY, Pierre Lecomte. A Dignidade Humana. Tradução de Cruz Malpique. 3ª. Ed. Porto: Editora Educação Nacional, 1955.

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RABISCOS NO BLOCO


Postado originalmente no REFLEXÕES: Abril 2008

terça-feira, 9 de março de 2010

ANTÔNIO JOSÉ FORTE



AINDA NÃO
(Antônio José Forte)


Ainda não
não há dinheiro para partir de vez
não há espaço de mais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar

ainda não há uma flor na boca
para os poetas que estão aqui de passagem
e outra escarlate na alma
para os postos à margem

ainda não há nada no pulmão direito
ainda não se respira como devia ser
ainda não é por isso que choramos às vezes
e que outras somos heróis a valer

ainda não é a pátria que é uma maçada
nem estar deste lado que custa a cabeça
ainda não há uma escada e outra escada depois
para descer à frente de quem quer que desça

ainda não há camas só para pesadelos
ainda não se ama só no chão
ainda não há uma granada
ainda não há um coração







Poesia Surrealista Portuguesa. Disponível em:
http://www.scribd.com/doc/14543657/Poesia-Surrealista-Portuguesa

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http://cvc.instituto-camoes.pt/poemasemana/32/poeta_cidade1.html

segunda-feira, 8 de março de 2010

JAMES HARVEY ROBINSON (4)



James Harvey Robinson
Em
A Formação da Mentalidade.






“Se alguma transformação mágica ocorresse no modo dos homens verem-se a si mesmos e aos semelhantes, boa parte dos males que hoje nos afligem desapareceriam, ou remediar-se-iam automaticamente.

Se a maioria das pessoas influentes tivesse as opiniões e adotassem o ponto de vista de certo número de pessoas não influentes, mas que vêem com maior clareza, não haveria possibilidade de certas coisas como, por exemplo, outra guerra; todo o problema do “trabalho e do capital” podia ser transformado e atenuado; a arrogância política e a ineficiência podiam descer abaixo do ponto perigoso.



Como um velho adágio estóico o formulou, os homens são mais atormentados pelas opiniões que têm sobre as coisas do que pelas próprias coisas em si”.










ROBINSON, James Harvey. A Formação da Mentalidade. Tradução de Monteiro Lobato. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940.

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sábado, 6 de março de 2010

MICHEL FOUCAULT (5)

Michel Foucault
Em
A ordem do discurso.




“No discurso que hoje eu devo fazer, e nos que aqui terei de fazer, durante anos talvez, gostaria de neles poder entrar sem se dar por isso.

Em vez de tomar a palavra, gostaria de estar à sua mercê e de ser levado muito para lá de todo o começo possível.

Preferia dar-me conta de que, no momento de falar, uma voz sem nome me precedia desde há muito; bastar-me-ia assim deixá-la ir, prosseguir a frase, alojar-me, sem que ninguém se apercebesse, nos seus interstícios, como se ela me tivesse acenado, ao manter-se, um instante, em suspenso.

Assim não haveria começo; e em vez de ser aquele de onde o discurso sai, estaria antes no acaso do seu curso, uma pequena lacuna, o ponto do seu possível desaparecimento”.




“O desejo diz: “Eu, eu não queria ser obrigado a entrar nessa ordem incerta do discurso; não queria ter nada que ver com ele naquilo que tem de peremptório e de decisivo; queria que ele estivesse muito próximo de mim como uma transparência calma, profunda, indefinidamente aberta, e que os outros respondessem à minha expectativa, e que as verdades, uma de cada vez, se erguessem; bastaria apenas deixar-me levar, nele e por ele, como um barco à deriva, feliz”.

E a instituição responde: “Tu não deves ter receio em começar; estamos aqui para te fazer ver que o discurso está na ordem das leis; que sempre vigiamos o seu aparecimento; que lhe concedemos um lugar, que o honra, mas que o desarma; e se ele tem algum poder, é de nós, e de nós apenas, que o recebe”.








FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Tradução de Edmundo Cordeiro com a ajuda para a parte inicial de Antônio Bento. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/26442197/A-ordem-do-discurso-Michel-Foucaul

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BENJAMIN ABRAHÃO





Bando de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião)
Algumas imagens do filme realizado por Benjamin Abrahão em 1936.



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sexta-feira, 5 de março de 2010

H. L. MENCKEN



H. L. Mencken
Em
O Livro dos Insultos.






“O mais vira-lata dos cães tem sentidos mais agudos e é infinitamente mais corajoso, para não dizer mais honesto e confiável.

As formigas e abelhas são, de várias formas, mais inteligentes e engenhosas; tocam para a frente seus sistemas de governo com muito menos arranca-rabos, desperdícios e imbecilidades.

O leão é mais bonito, digno e majestoso.

O antílope é infinitamente mais rápido e gracioso.

Qualquer gato doméstico comum é mais limpo.

O cavalo, mesmo suado do trabalho, cheira melhor.

O gorila é mais gentil com seus filhotes e mais fiel à companheira.

O boi e o asno são mais produtivos e serenos.

Mas, acima de tudo, o homem é deficiente em coragem, talvez a mais nobre de todas as qualidades.

Seu pavor mortal não se limita a todos os animais do seu próprio peso ou mesmo da metade do seu peso – exceto uns poucos que ele degradou por cruzamentos artificiais –, seu pavor mortal é também daqueles da sua própria espécie – e não apenas de seus punhos e pés, mas até de suas risotas”.






MENCKEN, H. L. O Livro dos Insultos. Seleção, tradução e prefácio de Ruy Castro. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/27629806/O-Livro-Dos-Insultos


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quinta-feira, 4 de março de 2010

LUIZ GONZAGA / HUMBERTO TEIXEIRA



ASSUM PRETO
(Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira)





Tudo em volta é só beleza
Sol de Abril e a mata em flor
Mas Assum Preto, cego dos olhos
Não vendo a luz, ai, canta de dor
Mas Assum Preto, cego dos olhos
Não vendo a luz, ai, canta de dor

Talvez por ignorância
Ou maldade das pior
Furaram os olhos do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantar melhor
Furaram os olhos do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantar melhor

Assum Preto vive solto
Mas não pode avoar
Mil vezes a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse olhar
Mil vezes a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse olhar

Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaram o meu amor
Que era a luz, ai, dos olhos meus
Também roubaram o meu amor
Que era a luz, ai, dos olhos meus






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quarta-feira, 3 de março de 2010

CASSIRER (7)



Ernst Cassirer
Em
A Filosofia das formas simbólicas: segunda parte – O pensamento mítico.






“Enquanto o pensamento (que pesquisa e pergunta, que duvida e põe à prova) se relaciona com aquilo que vem ao seu encontro como seu “objeto” com a exigência de objetividade e necessidade, enquanto se põe diante dele com suas próprias normas, a consciência mítica, por sua vez, não conhece uma tal forma de confrontação.

Ela “tem” o objeto somente porque é dominada por ele; ela não o possui porque o constrói progressivamente para si, mas é simplesmente tomada por ele.

Aqui não domina a vontade de compreender o objeto, no sentido em que ele é intelectualmente circunscrito e ordenado a um complexo de causas e efeitos; aqui, há apenas a modesta comoção por ele.

Mas justamente essa intensidade, esse vigor imediato com o qual o objeto mítico existe para a consciência, retira-a da mera sucessão daquilo que sempre tem a mesma forma e retorna do mesmo modo.

Em vez de estar preso ao esquematismo de uma regra, de uma lei necessária, todo objeto que apreende e preenche a consciência mítica aparece como algo que pertence a si mesmo, como algo incomparável e próprio.

Ele vive, por assim dizer, numa atmosfera individual; é algo excepcional, que só pode ser apreendido nesta sua singularidade, em seu aqui e agora imediato”.










CASSIRER, Ernst. A Filosofia das formas simbólicas: segunda parte – O pensamento mítico. Tradução: Cláudia Cavalcanti. Revisão técnica e da tradução Moacyr Ayres Novaes Filho. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

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HANS ARP



Guggenheim Museum, New York City


Overturned Blue Shoe with Two Heels Under a Black Vault
c. 1921 – madeira pintada – 79,3 x 104,6 cm.
Autor: Hans Arp

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terça-feira, 2 de março de 2010

ALBERTO DE OLIVEIRA (2)



CHEIRO DE ESPÁDUA
(Alberto de Oliveira)




“Quando a valsa acabou, veio à janela.
Sentou-se. O leque abriu. Sorria e arfava.
Eu, viração da noite, a essa hora entrava
E estaquei, vendo-a decotada e bela.

Eram os ombros, era a espádua, aquela
Carne rosada um mimo! A arder na lava
De improvisa paixão, eu, que a beijava,
Hauri sequiosa toda a essência dela!

Deixei-a, porque a vi mais tarde, oh ciúme!
Sair velada da mantilha. A esteira
Sigo, até que a perdi, de seu perfume.

E agora, que se foi, lembrando-a ainda,
Sinto que a luz do luar nas folhas, cheira
Este ar da noite àquela espádua linda!”







BARBOSA, Frederico (Seleção e organização). Clássicos da poesia brasileira. Rio de Janeiro: O Globo / Click Editora,1997.

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segunda-feira, 1 de março de 2010

CLAUDE LÉVI-STRAUSS



Claude Lévi-Strauss
Em
De perto e de longe.





“Acontece que me entendo melhor com os crentes do que com os racionalistas empedernidos.

Pelo menos os primeiros têm o sentido do mistério.

Um mistério que, a meu ver, o pensamento parece constitucionalmente incapaz de resolver.

É preciso contentar-se com as mordidelas infatigáveis que o conhecimento científico dá em suas bordas.

Mas eu não conheço nada mais estimulante, mais enriquecedor para o espírito, do que tentar seguir este processo – como profano; permanecendo consciente de que cada avanço faz surgir novos problemas, e de que a tarefa não tem fim”.




“Na verdade, e apesar de todos os trabalhos acumulados, continuamos sem saber, não compreendemos o que foi a América.

Como para os descobridores dos séculos XV e XVI, ela continua sendo um outro planeta.

A cada ano, ou quase, surge uma nova descoberta que recoloca em discussão tudo o que acreditávamos estabelecido.

O americanismo está sempre no estado daquelas ciências do século XIX, ricas em esperança de achados ao alcance da mão.

É isso que o torna tão atraente”.








LÉVI-STRAUSS, Claude. ERIBON, Didier. De perto e de longe. Tradução de Léa Mello e Julieta Leite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/7300027/De-Perto-e-de-Longe


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