quarta-feira, 3 de março de 2010

CASSIRER (7)



Ernst Cassirer
Em
A Filosofia das formas simbólicas: segunda parte – O pensamento mítico.






“Enquanto o pensamento (que pesquisa e pergunta, que duvida e põe à prova) se relaciona com aquilo que vem ao seu encontro como seu “objeto” com a exigência de objetividade e necessidade, enquanto se põe diante dele com suas próprias normas, a consciência mítica, por sua vez, não conhece uma tal forma de confrontação.

Ela “tem” o objeto somente porque é dominada por ele; ela não o possui porque o constrói progressivamente para si, mas é simplesmente tomada por ele.

Aqui não domina a vontade de compreender o objeto, no sentido em que ele é intelectualmente circunscrito e ordenado a um complexo de causas e efeitos; aqui, há apenas a modesta comoção por ele.

Mas justamente essa intensidade, esse vigor imediato com o qual o objeto mítico existe para a consciência, retira-a da mera sucessão daquilo que sempre tem a mesma forma e retorna do mesmo modo.

Em vez de estar preso ao esquematismo de uma regra, de uma lei necessária, todo objeto que apreende e preenche a consciência mítica aparece como algo que pertence a si mesmo, como algo incomparável e próprio.

Ele vive, por assim dizer, numa atmosfera individual; é algo excepcional, que só pode ser apreendido nesta sua singularidade, em seu aqui e agora imediato”.










CASSIRER, Ernst. A Filosofia das formas simbólicas: segunda parte – O pensamento mítico. Tradução: Cláudia Cavalcanti. Revisão técnica e da tradução Moacyr Ayres Novaes Filho. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

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