terça-feira, 30 de novembro de 2010

LEON ELIACHAR (3)

Leon Eliachar
Em
O homem ao quadrado.


“Mulher: amontoado de palavras numa embalagem de carne e osso”.





“O bom psiquiatra não tem complexos: cobra uma fortuna sem o menor constrangimento”.





“Há dois tipos de mulheres: a nossa e a dos outros”.





“O homem inventou o suicídio, mas a mulher se dá muito bem com a tentativa”.





“Quando a mulher começa a chorar, não há dinheiro que chegue para fazê-la parar”.





“Broto que não é problema para ninguém é problema para si mesma”.





“Sua mulher é desconfiada?

SIM – Isso é bom sinal. É melhor ser desconfiada do que ter certeza.

NÃO – Então é bom você desconfiar”.





“Tombu é isso ti a genti leva tuando faiz o ti a mamãi disse pia gente num fazê”.



ELIACHAR, Leon. O homem ao quadrado. São Paulo: Circulo do livro, 1975. Disponível em: http://www.4shared.com/get/s15djqkc/O_Homem_ao_Quadrado_-_Leon_Eli.html

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BANDO DE TANGARÁS





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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

MAURICE MERLEAU-PONTY (4)



Maurice Merleau-Ponty
Em
Fenomenologia da Percepção.







“O real deve ser descrito, não construído ou constituído.

Isso quer dizer que não posso assimilar a percepção às sínteses que são da ordem do juízo, dos atos ou da predicação.

A cada momento, meu campo perceptivo é preenchido de reflexos, de estalidos, de impressões táteis fugazes que não posso ligar de maneira precisa ao contexto percebido e que, todavia situo imediatamente no mundo, sem confundi-los nunca com minhas divagações.

A cada instante também eu fantasio acerca das coisas, imagino objetos ou pessoas cuja presença aqui não é incompatível com o contexto, e todavia eles não se misturam ao mundo, eles estão adiante do mundo, no teatro do imaginário.

Se a realidade de minha percepção só estivesse fundada na coerência intrínseca das “representações”, ela deveria ser
sempre hesitante e, abandonado às minhas conjecturas prováveis, eu deveria a cada momento desfazer sínteses ilusórias e reintegrar ao real fenômenos aberrantes que primeiramente eu teria excluído dele”.





“A percepção não é uma ciência do mundo, não é nem mesmo um ato, uma tomada de posição deliberada, ela é o fundo sobre o qual todos os atos se destacam e ela é pressuposta por eles”.





“Quer se trate de uma coisa percebida, de um acontecimento histórico ou de uma doutrina, “compreender” é reapoderar-se da intenção total – não apenas aquilo que são para a representação as “propriedades” da coisa percebida, a poeira dos “fatos históricos”, as “idéias” introduzidas pela doutrina - , mas a maneira única de existir que se exprime nas propriedades da pedra, do vidro ou do pedaço de cerca, em todos os fatos de uma revolução, em todos os pensamentos de um filósofo”.





”A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo, e nesse sentido uma história narrada pode significar o mundo com tanta “profundidade” quanto um tratado de filosofia.

Nós tomamos em nossas mãos o nosso destino, tornamo-nos responsáveis, pela reflexão, por nossa história, mas também graças a uma decisão em que empenhamos nossa vida, e nos dois casos trata-se de um ato violento que se verifica exercendo-se”.





“A reflexão deve iluminar o irrefletido ao qual ela sucede e mostrar sua possibilidade para poder compreender-se a si mesma enquanto começo.

Dizer que sou eu ainda que me penso como situado em um corpo e como provido de cinco sentidos evidentemente é apenas uma solução verbal, já que eu que reflito não posso reconhecer-me nesse Eu encarnado, já que, portanto a encarnação permanece por princípio uma ilusão e já que a possibilidade dessa ilusão continua incompreensível”.







MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. 2ª. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. Disponível em: http://www.visionvox.com.br/biblioteca/f.htm

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sábado, 27 de novembro de 2010

MICHEL DE CERTEAU (2)



Michel de Certeau
Em
A escrita da história.





“Se, por um lado, a história tem como função exprimir a posição de uma geração com respeito às precedentes, dizendo: “Eu não sou isto”, acrescenta sempre, a esta afirmativa, um complemento não menos perigoso, que faz uma sociedade confessar: “Eu sou outra coisa além daquilo que quero, e sou determinada por aquilo que denego”.

A história atesta uma autonomia e uma dependência cujas proporções variam segundo os meios sociais e as situações políticas que presidem à sua elaboração.

Sob a forma de um trabalho imanente ao desenvolvimento humano, assume o lugar dos mitos através dos quais uma sociedade representava as relações ambíguas com as suas origens, e, através de uma história violenta dos Começos, suas relações com ela mesma”.





“Como o veículo saído de uma fabrica, o estudo histórico está muito mais ligado ao complexo de uma fabricação específica e coletiva do que ao estatuto de efeito de uma filosofia pessoal ou à ressurgência de uma “realidade” passada.

É o produto de um lugar”.





“Não existe relato histórico no qual não esteja explicitada a relação com um corpo social e com uma instituição de saber”.





“Assim, pode-se dizer que ela (a escrita histórica) faz mortos para que os vivos existam.

Mais exatamente, ela recebe os mortos, feitos por uma mudança social, a fim de que seja marcado o espaço aberto por esse passado e para que, no entanto, permaneça possível articular o que surge com o que desaparece.

Nomear os ausentes da casa e introduzi-los na linguagem escrituraria é liberar o apartamento para os vivos, através de um ato de comunicação, que combina a ausência dos vivos na linguagem com a ausência dos mortos na casa.

Desta maneira, uma sociedade se dá um presente graças a uma escrita histórica”.







CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Tradução de Maria de Lourdes Menezes. Revisão técnica de Arno Vogel. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982. Disponível em: http://www.4shared.com/get/lk1qcgNF/Michel_de_Certeau_-_A_Escrita_.html;jsessionid=3334EC648DC7D870D67CCAB5E06DCDB5.dc214

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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

TOM JOBIM / VINICIUS DE MORAES (3)



Chega de saudade
(Tom Jobim / Vinícius de Moraes)




Vai minha tristeza,
e diz a ela que sem ela não pode ser.
Diz-lhe, numa prece
que ela regresse, porque eu não posso mais sofrer.

Chega, de saudade,
a realidade, é que sem ela não há paz,
não há beleza.
É só tristeza e a melancolia
que não sai de mim, não sai de mim, não sai.

Mas se ela voltar, se ela voltar
que coisa linda, que coisa louca.
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
do que os beijinhos que eu darei
na sua boca.

Dentro dos meus braços
os abraços hão de ser milhões de abraços
apertado assim, colado assim, calado assim.
Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim,
que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim.
Não quero mais esse negócio de você viver longe de mim.

BRUNO SCHMELTZ



L’Atelier
1998-99 – óleo sobre tela – 260 x 430 cm.
Autor: Bruno Schmeltz

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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

PAUL LAFARGUE



Paul Lafargue
Em
O Direito à preguiça.






“Uma estranha loucura se apossou das classes operárias das nações onde reina a civilização capitalista.
Esta loucura arrasta consigo misérias individuais e sociais que há dois séculos torturam a triste humanidade.
Esta loucura é o amor ao trabalho, a paixão moribunda do trabalho, levado até ao esgotamento das forças vitais do indivíduo e da sua progenitora.
Em vez de reagir contra esta aberração mental, os padres, os economistas, os moralistas sacrossantificaram o trabalho.
Homens cegos e limitados quiseram ser mais sábios do que o seu Deus; homens fracos e desprezíveis quiseram reabilitar aquilo que o seu Deus amaldiçoara.
Eu, que não confesso ser cristão, economista e moralista, recuso admitir os seus juízos como os do seu Deus, recuso admitir os sermões da sua moral religiosa, econômica, livre-pensadora, face às terríveis conseqüências do trabalho na sociedade capitalista”.





“Uma vez acocorada na preguiça absoluta e desmoralizada pelo prazer forçado, a burguesia, apesar das dificuldades que teve nisso, adaptou-se ao seu novo estilo de vida.
Encarou com horror qualquer alteração.
A visão das miseráveis condições de existência aceites com resignação pela classe operária e a da degradação orgânica gerada pela paixão depravada pelo trabalho aumentava ainda mais a sua repulsa por qualquer imposição de trabalho e por qualquer restrição de prazeres”.





“Num regime de preguiça, para matar o tempo que nos mata segundo a segundo, haverá sempre espetáculos e representações teatrais; é um trabalho adotado especialmente para os nossos burgueses legisladores.
Organizá-los-emos em bandos que percorrem as feiras e as aldeias, dando representações legislativas”.





“Se, desenraizando do seu coração o vício que a domina e avilta a sua natureza, a classe operária se erguesse com a sua força terrível, não para reclamar os Direitos do Homem, que não são senão os direitos da exploração capitalista, não para reclamar o Direito ao Trabalho, que não é senão o direito à miséria, mas para forjar uma lei de bronze que proíba todos os homens de trabalhar mais de três horas por dia, a Terra, a velha Terra, tremendo de alegria, sentiria saltar nela um novo universo.
Mas como pedir a um proletariado corrompido pela moral capitalista uma revolução viril?”







LAFARGUE, Paul. O Direito à Preguiça. Disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/direitopreguica.html

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

NELSON RODRIGUES



Nelson Rodrigues
Em
A vida como ela é.




A SEMPRE FIEL

Vira-se para uma pequena:
– Quer saber de uma coisa?
E ela:
– Quero.
Estavam tomando refrigerante, com um canudinho, num bar da Quinta da Boa Vista, ao ar livre.
E, então, meio sério, meio brincando, ele baixa a voz:
– Não acredito que você goste de mim.
Admirou-se:
– Sério?
– Palavra de honra!
– Por quê?
Puxa um cigarro:
– Porque não acredito em mulher nenhuma, compreendeu?
Olha: eu tive, até agora, digamos, umas dez namoradas.
Dez ou doze ou treze.
Muito bem.
Todas, absolutamente todas, sem exceção, me passaram pra trás.
Às vezes eu penso que minha sina, minha vocação é ser traído.
Impressionada, Odaléia mexeu com o canudinho no fundo do copo vazio.
Ergue o rosto:
– Posso falar?
– Claro!
Por cima da mesa, ela apanha a mão do namorado:
– Não há no mundo um amor que se compare ao meu.
Você é meu primeiro amor e será o último!






RODRIGUES, Nelson. A vida como ela é: O homem fiel e outros contos. Seleção Ruy Castro. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

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terça-feira, 23 de novembro de 2010

GILLES DELEUZE (2)



Gilles Deleuze
Em
Diferença e repetição.





“O erro “estóico” é esperar a repetição da lei da natureza.

O sábio deve converter-se em virtuoso; o sonho de encontrar uma lei que torne possível a repetição passa para o lado da lei moral.

Sempre uma tarefa a ser recomeçada, uma fidelidade a ser retomada numa vida cotidiana que se confunde com a reafirmação do Dever”.





“O movimento do nadador não se assemelha ao movimento da onda; e, precisamente, os movimentos do professor de natação, movimentos que reproduzimos na areia, nada são em relação aos movimentos da onda, movimentos que só aprendemos a prever quando os aprendemos praticamente como signos.

Eis por que é tão difícil dizer como alguém aprende: há uma familiaridade prática, inata ou adquirida, com os signos, que faz de toda educação alguma coisa amorosa, mas também mortal.

Nada aprendemos com aquele que nos diz: faça como eu.

Nossos únicos mestres são aqueles que nos dizem “faça comigo” e que, em vez de nos propor gestos a serem reproduzidos, sabem emitir signos a serem desenvolvidos no heterogêneo”.





“A negação é a diferença, mas a diferença vista do menor lado, vista de baixo.

Ao contrário, endireitada, vista de cima para baixo, a diferença é a afirmação”.





“É contraindo que somos hábitos, mas é pela contemplação que contraímos.

Somos contemplações, somos imaginações, somos generalidades, somos pretensões, somos satisfações.

Com efeito, o fenômeno da pretensão é somente ainda a contemplação contraente, pela qual afirmamos nossa própria satisfação enquanto contemplamos.

Não nos contemplamos, mas só existimos contemplando, isto é, contraindo aquilo de que procedemos”.





“Todo mundo” bem sabe que, de fato, os homens pensam raramente e o fazem mais sob um choque do que no elã de um gosto”.





“Fazem-nos acreditar que os problemas são dados já feitos e que eles desaparecem nas respostas ou na solução; sob este duplo aspecto, eles seriam apenas quimeras.

Fazem-nos acreditar que a atividade de pensar, assim como o verdadeiro e o falso em relação a esta atividade, só começa com a procura de soluções, só concerne às soluções”.







DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Tradução de Luiz Orlandi e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1988. Disponível em: http://www.visionvox.com.br/biblioteca/d/DELEUZE,-Gilles-Diferença-e-Repetição.txt

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RABISCOS NO BLOCO


Postado originalmente no REFLEXÕES: Novembro 2007

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

MANUEL BANDEIRA (17)



Céu
(Manuel Bandeira)



A criança olha
Para o céu azul.
Levanta a mãozinha,
Quer tocar o céu.

Não sente a criança
Que o céu é ilusão:
Crê que o não alcança,
Quando o tem na mão.






BANDEIRA, Manuel Estrela da Vida Inteira. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1979.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

STUART HALL



Stuart Hall
Em
A identidade cultural na pós-modernidade.







“O sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como um individuo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo – contínuo ou “idêntico” a ele – ao longo da existência do indivíduo”.





“A noção de sujeito sociológico refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo a auto-suficiente, mas era formado na relação com “outras pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava”.





“A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia.

Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente”.





“As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre “a nação”, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidades”.




“Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas – desalojadas - de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem “flutuar livremente”.

Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual nos fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes de nós), dentre as quais parece possível fazer uma escolha”.





“Tanto o liberalismo quanto o marxismo, em suas diferentes formas, davam a entender que o apego ao local e ao particular dariam gradualmente vez a valores e identidades mais universalistas e cosmopolitas ou internacionais; que o nacionalismo e a etnia eram formas arcaicas de apego – a espécie de coisa que seria “dissolvida” pela força revolucionária da modernidade.

De acordo com essas “metanarrativas” da modernidade, os apegos irracionais ao local e ao particular, à tradição e às raízes, aos mitos nacionais e às “comunidades imaginadas”, seriam gradualmente substituídos por identidades mais racionais e universalistas.

Entretanto, a globalização não parece estar produzindo nem o triunfo do “global” nem a persistência, em sua velha forma nacionalista, do “local”.









HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guaciara Lopes Louro. 4ª. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. Disponível em: http://www.visionvox.com.br/biblioteca/i.htm

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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

BAUDELAIRE (7)

As Massas
(Charles Baudelaire)



“Não é dado a qualquer um tomar banho de multidão.
Gozar a massa é uma arte, e somente pode fazer, às custas do gênero humano, uma pândega de vitalidade, aquele a quem uma fada tenha insuflado no berço o gosto pelo disfarce e pela máscara, o ódio do domicílio e a paixão pela viagem.

Multidão, solidão: termos iguais e permutáveis para o poeta ativo e fecundo.
Quem não sabe povoar sua solidão, tampouco sabe estar em meio a uma massa atarefada.

O poeta goza deste incomparável privilégio de poder ser, a bel-prazer, ele próprio e outrem.
Como estas almas errantes que buscam um corpo, ele entra, quando quer, na personagem de cada um.
Somente para ele tudo está vacante; e se alguns lugares lhe parecem estar fechados, é que a seus olhos eles não valem a pena serem visitados.

O andarilho solitário e pensativo tira uma embriaguez singular desta universal comunhão.
Aquele que desposa facilmente a massa conhece gozos febris, dos quais serão eternamente privados o egoísta, trancado como um cofre, e o preguiçoso, internado como um molusco.
Ele adota como suas todas as profissões, todas as alegrias e todas as misérias que a circunstância lhe apresenta.

O que os homens denominam amor é bem pequeno, bem restrito e bem fraco, comparado com esta inefável orgia, com esta santa prostituição da alma que se dá por inteiro, poesia e caridade, ao imprevisto que se mostra, ao desconhecido que passa.

É bom ensinar, às vezes, aos felizes deste mundo, mesmo que só para humilhar por um instante seu orgulho tolo, que existem felicidades superiores às suas, mais amplas e refinadas.
Os fundadores de colônias, os pastores de povos, os padres missionários exilados no fim do mundo, decerto conhecem algo destas misteriosas embriaguezes; e, no seio da vasta família que seu gênio construiu para si, eles por vezes devem rir daqueles que se compadecem de sua sorte tão agitada e de sua vida tão casta”.




BAUDELAIRE, Charles. Pequenos Poemas em Prosa. Tradução de Dorothée de Bruchard. Introdução por Dirceu Villa. São Paulo: Hedra, 2007.

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JOSHUA ALLEN HARRIS





Inflatable Bag Monsters

DAVID HARVEY



David Harvey
Em
Condição pós-moderna.






“O modernismo dedicava-se muito à busca de futuros melhores, mesmo que a frustração perpétua desse alvo levasse à paranóia.

Mas o pós-modernismo tipicamente descarta essa possibilidade ao concentrar-se nas circunstâncias esquizofrênicas induzidas pela fragmentação e por todas as instabilidades (inclusive as lingüísticas) que nos impedem até mesmo de representar coerentemente, para não falar de conceber estratégias para produzir, algum futuro radicalmente diferente”.





“As práticas estéticas e culturais têm particular suscetibilidade à experiência cambiante do espaço e do tempo exatamente por envolverem a construção de representações e artefatos espaciais a partir do fluxo da experiência humana.

É possível escrever a geografia histórica da experiência do espaço e do tempo na vida social, assim como compreender as transformações por que ambos têm passado, tendo por referência condições sociais e materiais”.





“Uma retórica que justifica a falta de moradias, o desemprego, o empobrecimento crescente, a perda de poder etc. apelando a valores supostamente tradicionais de autoconfiança e capacidade de empreender também vai saudar com a mesma liberdade a passagem da ética para a estética como sistema de valores dominante”.





“Os sentimentos modernistas podem ter sido solapados, desconstruídos, superados ou ultrapassados, mas há pouca certeza quanto à coerência ou ao significado dos sistemas de pensamento que possam tê-los substituído”.








HARVEY, David. Condição pós-moderna. Tradução de Adail Ubirajara Sobral e Mara Stela Gonçalves. 16 ed. São Paulo: Loyola, 2007. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=8bcTGHbGP_MC&pg=PA4&lpg=PP1&dq=related:ISBN8574304042#v=onepage&q&f=false

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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

ANTÔNIO BARBOSA BACELAR (3)



Romance Pastoril
(Antônio Barbosa Bacelar)




Pastora de olhos negros,
Que guardas brancas ovelhas,
E deixas tantos em branco
C’uma ventura tão negra.

Tu que na serra pareces
Quando menos uma Estrela,
E no vale a quem te adora
Então lhe pareces serra.

Tu que no monte, e no prado
Dás que dizer às mais belas,
Umas por te ter amor,
Outras por te ter inveja.

Esse teu negro cabelo,
Porque aos olhos se pareça,
A muitas almas é vida,
A muitas vidas é pena.

Dele forma amor Menino
Arco, e juntamente seta,
Aquele com que faz tiro,
Estoutra, com que atravessa.

A boca quem quer dirá
Quando a vir toda vermelha,
Que se é Rubim pela cor,
É Rubim pelo pequena.

Ou também que se envergonha
Creio que afirmar pudera,
De ver que anda entre dentes,
Sendo o exemplar da beleza.

Qualquer bonina que pisas
Porque co pé se pareça,
Inda que pequena flor,
Se quer fazer mais pequena.

O cajadinho, que trazes,
Sabido é que foi frecha,
Que no teu peito cajado
Se fez por mais duro que ela.

Essa pele que te abriga
Se é de cordeiro, ou de ovelha
Não sei, porém dizem todos
Que tens condição de fera.

Basta que serra te chame,
E para serra Morena
Muito te vejo de neve,
Muito tens de Portuguesa.






PÉCORA, Alcyr (Org.). Poesia seiscentista: Fênix renascida & Postilhão de Apolo. Introdução de João Adolfo Hansen. São Paulo: Hedra, 2002. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=jkP94AZMGKsC&printsec=frontcover&dq=Poesia&lr=&cd=27#v=onepage&q&f=false

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terça-feira, 16 de novembro de 2010

BACHELARD (7)



Gaston Bachelard
Em
A formação do espírito científico.






“O conhecimento do real é luz que sempre projeta algumas sombras.
Nunca é imediato e pleno.
As revelações do real são recorrentes.
O real nunca é “o que se poderia achar” mas é sempre o que se deveria ter pensado.
O pensamento empírico torna-se claro depois, quando o conjunto de argumentos fica estabelecido.
Ao retomar um passado cheio de erros, encontra-se a verdade num autêntico arrependimento intelectual”.





“A opinião pensa mal; não pensa: traduz necessidades em conhecimentos.
Ao designar os objetos pela utilidade, ela se impede de conhecê-los.
Não se pode basear nada na opinião: antes de tudo, é preciso destruí-la”.





“Acho surpreendente que os professores de ciências, mais do que os outros se possível fosse, não compreendam que alguém não compreenda.
Poucos são os que se detiveram na psicologia do erro, da ignorância e da irreflexão”.





“Parece que nenhuma experiência nova, nenhuma crítica pode dissolver certas afirmações primeiras.
No máximo, as experiências primeiras podem ser retificadas e explicadas por novas experiências.
Como se a observação primeira pudesse fornecer algo além de uma oportunidade de pesquisa”.





“Se conseguíssemos tomar – a respeito de qualquer conhecimento objetivo – a justa medida do empirismo, por um lado, e do racionalismo, por outro lado, ficaríamos admirados com a imobilização do conhecimento produzido por uma adesão imediata a observações particulares”.





“Há de fato um perigoso prazer intelectual na generalização apressada e fácil.
A psicanálise do conhecimento objetivo deve examinar com cuidado todas as seduções da facilidade”.







BACHELARD, Gastón. A formação do espírito científico. Tradução de Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. Disponível em: http://www.visionvox.com.br/biblioteca/b/BACHELARD,-Gaston.-A-Formação-do-espírito-científico.txt

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ÂNGELO DE AQUINO



Rex e seu carro amarelo
1992 – acrílico sobre tela – 120 cm x 100 cm.
Autor: Ângelo de Aquino.

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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

ROBERTO CARLOS / ERASMO CARLOS



Olha
(Roberto Carlos / Erasmo Carlos)




Olha, você tem todas as coisas
Que um dia eu sonhei pra mim
A cabeça cheia de problemas
Não me importo eu gosto mesmo assim.

Tem os olhos cheios de esperança
De uma cor que mais ninguém possui
Me traz meu passado e as lembranças
Coisas que eu quis ser e não fui.

Olha, você vive tão distante
Muito além do que eu posso ter
Eu, que sempre fui tão inconstante
Te juro meu amor, agora é pra valer.

Olha vem comigo aonde eu for
Seja minha amante, meu amor
Vem seguir comigo o meu caminho
E viver a vida só de amor.

Olha, você vive tão distante
Muito além do que eu posso ter
Eu, que sempre fui tão inconstante
Te juro meu amor, agora é pra valer.

Olha vem comigo aonde eu for
Seja minha amante, meu amor
Vem seguir comigo o meu caminho
E viver a vida só de amor.

sábado, 13 de novembro de 2010

NIETZSCHE (21)



Friedrich Nietzsche
Em
Ecce Homo.






“A disparidade entre a grandiosidade da minha tarefa e a pequenez dos meus contemporâneos encontrou expressão na circunstância de que não fui ouvido nem sequer visto”.





“Recompensa mal um professor quem se mantém unicamente aluno”.





“Nada nos consome mais do que os efeitos do ressentimento”.





“Sou demasiado perscrutador, demasiado discutível, demasiado altivo para me contentar com uma resposta banal.

Deus é uma resposta banal, uma manifestação de indelicadeza contra nós, pensadores – fundamentalmente”.





“Uma pessoa precisa conhecer a dimensão do seu estômago”.





“Talvez até eu tenha inveja de Stendhal.

Roubou-me a melhor tirada ateia jocosa que eu poderia ter pronunciado: “A única desculpa de Deus é que não existe”.





“Conheço o meu destino.

Um dia, haverá associada ao meu nome, a recordação de algo de assustador – de uma crise como nenhuma outra na Terra, do mais profundo choque de consciências, de uma decisão proferida contra tudo em que até então se acreditara, fora exigido, santificado.

Não sou um homem, sou dinamite”.







NIETZSCHE, F. Ecce Homo. Tradução (da versão inglesa) de Eduardo Saló. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1994. Disponível em: http://www.visionvox.com.br/biblioteca/e.htm

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

EVANS-PRITCHARD



Evans-Pritchard
Em
Os Nuer do sul do Sudão.






“Se um homem tem a razão do seu lado, e, por virtude disso, obtém o apoio dos seus parentes e eles estão preparados pra usar a força, tem uma boa probabilidade de obter o que lhe é devido, se as partes viverem perto uma da outra”.




“Embora em qualquer altura alguns membros possam ter mais gado e cereal do que os outros, e estes sejam a sua propriedade privada, as pessoas comem nas casas uns dos outros, em festas e refeições vulgares, os alimentos são de outras maneiras divididos, numa tal proporção que poderá falar-se de provisões comuns”.





“A definição mais simples afirma que uma tribo é a mais larga comunidade que considera que as disputas entre os seus membros devem ser resolvidas por arbitragem e que deve unir-se contra outras comunidades da mesma espécie e contra estrangeiros”.





“A força da “lei” varia com a posição das partes na estrutura política, e assim a “lei” Nuer é essencialmente relativa, como a própria estrutura”.








Evans-Pritchard. “Os Nuer do sul do Sudão”. In. M. Fortes & Evans-Pritchard. Sistemas Políticos Africanos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1981.

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RABISCOS NO BLOCO


Postado originalmente no REFLEXÕES: Outubro 2007

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PAULO CÉSAR BARROS / GETÚLIO CORTES



O tempo vai apagar
(Paulo César Barros - Getúlio Cortes)




Sempre quando eu venho aqui
Só escuto de você
Frases tão vazias que pretendem dizer

Que já não preciso mais
Seu carinho procurar
Que não adiantará pedir nem ficar

Se assim for seu desejo
Não vejo motivo pra contestar
Não sofrerei pois bem sei isso passa
E o tempo vai apagar

Só levo comigo
A certeza que você
Muito mais que eu terá que esperar pra esquecer.

E que já não preciso mais
Seu carinho procurar
Que não adiantará pedir nem ficar

Se assim for seu desejo
Não vejo motivo pra contestar
Não sofrerei pois bem sei isso passa
E o tempo vai apagar

Só levo comigo
A certeza que você
Muito mais que eu terá que esperar pra esquecer.







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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

RAINER MARIA RILKE (4)



Rainer Maria Rilke
Em
Cartas a um jovem poeta.








“As coisas não são todas tão apreensíveis e dizíveis como muitas vezes se gostaria de nos fazer crer, a maior parte dos eventos são indizíveis, perfazem-se num espaço que nunca foi tocado por uma palavra, e mais indizíveis do que tudo são as obras de arte, existências secretas cuja vida perdura enquanto a nossa passa”.





“O amor de ser humano a ser humano: isso é talvez o mais difícil que nos é destinado, o extremo, a última prova e verificação, o trabalho para que todos os outros trabalhos não passam de preparatórios”.





“Só são perigosas e más aquelas tristezas que andam conosco, no meio da gente, para falarem mais alto, como doenças tratadas de modo superficial e disparatado, que recuam e, depois de um pequeno intervalo, têm uma recaída mais temível, e acumulam-se no íntimo e são vida, são a vida não vivida, desprezada, perdida, de que se pode morrer”.





“Se o seu dia-a-dia lhe parece pobre, não o lamente; lamente-se a si, diga para consigo que não é suficientemente poeta para convocar as suas riquezas; pois para o criador não existe escassez nem lugar pobre ou indiferente”.





“As obras de arte são de uma solidão infinita e nada pode atingi-las menos do que a crítica”.








RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. Tradução, prefácio e notas: Vasco Graça Moura. Porto: ASA Editores, 2002. Disponível em: http://www.visionvox.com.br/biblioteca/c.htm

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terça-feira, 9 de novembro de 2010

ARJUN APPADURAI

Arjun Appadurai
Em
La vida social de las cosas.




“A pesar de que el antropólogo y el historiador hablan con mayor frecuencia uno acerca del otro, excepcionalmente lo hacen uno con el otro”.





“Las mercancías, como las personas, tienen una vida social”.





“La situación mercantil en la vida social de cualquier “cosa” se defina como la situación en la cual su intercambiabilidad (pasada, presente o futura) por alguna otra cosa se convierta en su característica socialmente relevante”.





“En muchas sociedades, las transacciones matrimoniales pueden constituir el contexto donde las mujeres sean vistas más intensa y apropiadamente como valores de cambio”.





“La variedad de los contextos, dentro y a través de las sociedades, proporciona el vínculo entre el ambiente social de la mercancía, y su estado temporal y simbólico”.





“Aunque las mercancías, en virtud de su destino de intercambiabilidad y su mutua conmensurabilidad, tienden a disolver los lazos entre las personas y las cosas, dicha tendencia siempre está balanceada por la contratendencia, existente en toda sociedad, a restringir, controlar y canalizar el intercambio”.





“La desviación de las mercancías de sus rutas específicas siempre es un signo de creatividad o crisis, ya sea estética o económica”.





“El robo, condenado en la mayoría de las sociedades humanas, es la forma más modesta de desviación de mercancías de sus rutas preestablecidas”.






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APPADURAI, Arjun (ed.). La vida social de las cosas. Traducción: Argelia Castillo Cano. México, D. F.: Editorial Grijalbo, 1991. Disponível em: http://www.4shared.com/account/document/bvZ0Mynf/Appadurai_Arjun_-_La_vida_soci.html

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PERDÃO LEITORES

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ROBERT JASTROW



Robert Jastrow
Em
A arquitetura do universo.






“Nunca ninguém apanhou um elétron com uma pinça e disse: “Aqui está um.”
As provas da sua existência são todas indiretas, durante os 150 anos decorridos desde a segunda metade do século dezoito até ao começo do século vinte, foi levada a cabo uma grande variedade de experiências sobre a passagem da corrente elétrica através de líquidos e gases.
A existência do elétron não ficou conclusivamente provada por nenhuma destas experiências.
Contudo, a maior parte destas podia ser mais facilmente explicada se o físico pressupusesse que a eletricidade era transportada por uma corrente de pequenas partículas, cada uma das quais carregando a sua própria carga elétrica.
Gradualmente os físicos pressentiram, chegando quase a convicção, que o elétron existe realmente”.





“Se a maior parte do átomo é espaço vazio, por que será que o tampo da mesa oferece resistência quando fazemos pressão sobre ela com o dedo?
A razão é que a superfície da mesa é constituída por uma barreira de elétrons, elétrons esses pertencentes à camada mais exterior de átomos no tampo da mesa; a superfície do nosso dedo é também constituída por uma barreira de elétrons; ao seu contato, forças potentes de repulsão elétrica impedem os elétrons na ponta do nosso dedo de penetrar através dos elétrons exteriores no tampo da mesa e de atingir o espaço vazio existente dentro de todos os átomos”.





“Quando a estrela tem um tamanho normal – com um diâmetro da ordem do milhão de quilômetros – a força de gravidade na sua superfície não é suficientemente potente, para impedir os raios de luz de se libertarem, e eles abandonam a estrela, embora com um pouco menos de energia,
Mas, à medida que a estrela se contrai, a força de gravidade aumenta rapidamente e, quando o diâmetro da estrela já diminuiu para 6 quilômetros, a gravidade à sua superfície é milhares de milhões de vezes mais forte do que a força de gravidade à superfície do Sol.
A potência desta força enorme impede os raios de luz de abandonarem a superfície da estrela: tal como uma bola lançada para o ar, eles são atraídos no sentido contrário e não podem libertar-se para o Espaço.
A partir deste momento a estrela é invisível.
É um buraco negro no espaço.

No interior do buraco negro, a contração prossegue, acumulando matéria no centro, numa aglomeração pequeníssima mas incrivelmente densa.
De acordo com o conhecimento geral da Física teórica, isto é o fim da vida da estrela.
O volume da estrela vai-se tornando cada vez mais pequeno; de uma esfera com 3 quilômetros de raio, ela contrai-se para o tamanho de uma cabeça de alfinete, depois para o tamanho de um micróbio e, continuando sempre a contrair-se, passa para o domínio das distâncias menores do que o que já alguma vez foi dado ao Homem examinar.
Por outro lado, a massa de mil bilhões de bilhões de toneladas de uma estrela permanece sempre acumulada no volume contraído.
Mas a intuição diz-nos que tal objeto não pode existir”.







JASTROW, Robert. A arquitetura do universo. Tradução de Verônica Ferreira e Margarida Cabrita. Lisboa: edições 70, s/data. Disponível em: http://www.visionvox.com.br/biblioteca/a.htm

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sábado, 6 de novembro de 2010

ROSEANA MURRAY



As feiticeiras
(Roseana Murray)




Não sei se existe ainda
o ofício de feiticeira,
isso é coisa medieval.
Naqueles tempos
elas eram lenha de fogueira
com seus ardentes pensamentos.

Queria hoje ser uma delas,
virar tudo pelo avesso,
trocar as almas e os corações.

Fazer por um segundo
deste triste planeta
um outro mundo.







MURRAY, Roseana. A Bailarina e Outros Poemas. São Paulo: FTD, 2003. Disponível em: http://www.visionvox.com.br/biblioteca/a.htm

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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

PIERRE BOURDIEU



Pierre Bourdieu
Em
O Poder Simbólico.





“As diferentes classes e frações de classes estão envolvidas numa luta propriamente simbólica para imporem definição do mundo social mais conforme aos seus interesses, e imporem o campo das tomadas de posições ideológicas reproduzindo em forma transfigurada o campo das posições sociais”.





“O cume da arte, em ciências sociais, está sem dúvida em ser-se capaz de por em jogo “coisas teóricas” muito importantes a respeito de objetos ditos “empíricos” muito precisos, frequentemente menores em aparência, e até mesmo um pouco irrisórios.

Tem-se demasiada tendência para crer, em ciências sociais, que a importância social ou política do objeto é por si mesmo suficiente par dar fundamento à importância do discurso que lhe é consagrado”.





“Construir um objeto científico é, antes de mais e sobretudo, romper com o senso comum, quer dizer, com representações partilhadas por todos, quer se trate dos simples lugares-comuns da existência vulgar, quer se trate das representações oficiais, frequentemente inscritas nas instituições, logo, ao mesmo tempo na objetividade das organizações sociais e nos cérebros”.





“A capacidade de reproduzir ativamente os melhores produtos dos pensadores do passado pondo a funcionar os instrumentos de produção que eles deixaram é a condição do acesso a um pensamento realmente produtivo”.





“Só podemos produzir a verdade do interesse se aceitarmos questionar o interesse pela verdade e se estivermos dispostos a por em risco a ciência e a respeitabilidade científica fazendo da ciência o instrumento do seu próprio por-se-em causa”.





“O poder simbólico é um poder que aquele que lhe está sujeito dá àquele que o exerce, um crédito com que ele o credita, uma fides, uma auctoritas, que ele lhe confia pondo nele a sua confiança.

É um poder que existe porque aquele que lhe está sujeito crê que ele existe”.






BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1998. Disponível em: http://www.4shared.com/document/DO7io40_/BOURDIEU_Pierre_O_poder_simbli.html

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JOHN WILLIAM WATERHOUSE


Reproduced in London Illustrated News in 1881 (Vol LXXVIII) on a double page.

A Greek Play
1880 – gravura em marrom e branco – 71 x 56 cm.
Autor: John William Waterhouse

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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

CARL SAGAN



Carl Sagan
Em
O mundo assombrado pelos demônios.





“Não sei até que ponto a ignorância em ciência e matemática contribuiu para o declínio da Atenas antiga, mas sei que as conseqüências do analfabetismo científico são muito mais perigosas em nossa época do que em qualquer outro período anterior”.





“É um desafio supremo para o divulgador da ciência deixar bem clara a história real e tortuosa das grandes descobertas, bem como os equívocos e, por vezes, a recusa obstinada de seus profissionais a tomar outro caminho”.





“Os seres humanos podem ansiar pela certeza absoluta; podem aspirar a alcançá-la, podem fingir, como fazem os partidários de certas religiões, que a atingiram.

Mas a história da ciência – de longe o mais bem-sucedido conhecimento acessível aos humanos – ensina que o máximo que podemos esperar é um aperfeiçoamento sucessivo de nosso entendimento, um aprendizado por meio de nossos erros, uma abordagem assintótica do Universo, mas com a condição de que a certeza absoluta sempre nos escapará”.





“Um extraterrestre, recém-chegado à Terra – examinando o que em geral apresentamos às nossas crianças na televisão, no rádio, no cinema, nos jornais, nas revistas, nas histórias em quadrinhos e em muitos livros – poderia facilmente concluir que fazemos questão de lhes ensinar assassinatos, estupros, crueldades, superstições, credulidade e consumismo”.





“Não é preciso um diploma de nível superior para conhecer a fundo os princípios do ceticismo, como bem demonstram muitos compradores de carros usados que fazem bons negócios”.





“Estaríamos certamente perdendo algo importante sobre a nossa natureza, se nos recusássemos a enfrentar o fato de que as alucinações são uma característica humana”.







SAGAN, Carl. O mundo assombrado pelos demônios. Tradução de Rosaura Eichemberg. São Paulo: Cia. Das Letras, 1995. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/36887721/Carl-Sagan-O-Mundo-Assombrado-Pelos-Demonios

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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

STANISLAW PONTE PRETA (6)



Stanislaw Ponte Preta
Em
FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país.





“O médico Parga Rodrigues era o primeiro psiquiatra contratado pelo Itamarati para examinar seu pessoal.
E revelava estar recebendo inúmeras consultas de membros do Corpo Diplomático, inclusive dos que estavam fora do país, porque — dizia ele — "Lá fora a estrutura social é diferente e o indivíduo tem mais possibilidade de manifestar o que já possui de anormal". Eu, hein...”





“Em Bauru (SP) o Delegado de Polícia oficiava ao presidente da liga de futebol de lá que não ia enviar mais policiamento para os jogos porque os campos "não oferecem segurança à Polícia".





“Um desses sujeitos assim cujo complexo de inferioridade é tamanho que, ao se olhar no espelho, sente-se mal ao deparar sua própria imagem, por considerá-la superior ao original.
Tem uns caras que, francamente: eu — por exemplo — conheci um que o pessoal chegou a apelidar de Zé Complexo.
Um dia ele me confessou que, muitas vezes, quando saía de casa, tinha ímpetos de deixar o elevador pra lá e descer pela lixeira”.





“Ora, o Mirinho vocês conhecem e, se não conhecem, perguntem na Polícia, que lá eles sabem”.




“O Cafezinho do Canibal

DEIXA EU ver se dá pra resumir.
Foi o seguinte: o avião ia indo fagueiro por sobre a densa selva africana.
Dentro dele vários passageiros, inclusive, e muito principalmente, uma lourinha dessas carnudinhas, mas nem por isso menos enxuta, uma dessas assim que puxa vida...
Foi aí que o avião deu um estalo, começou a sair aquela fumaça preta e pronto: num instante estava o avião todo arrebentado no chão, com os passageiros todos mortos.

Aliás, minto... todos não; a lourinha era a única sobrevivente do desastre.
Tanto assim que os canibais, quando chegaram ao local do acidente, só encontraram ela, que foi logo aprisionada para o menu do chefe da tribo.
Canibal é canibal, mas a loura era tão espetacular que a turma viu logo que ela era coisa muito fina e digna apenas do paladar do maioral.

Levaram a loura para a maloca dele e a entregaram na cozinha, onde um ajudante de cozinheiro já ia prepará-la para o jantar, quando chegou o cozinheiro-chefe e examinou a loura.
Ela era muito da bonitinha, tudo certinho, tudo tamanho universal, aquelas pernas muito bem feitinhas, aquilo tudo assim do melhor.
Então o experimentado cozinheiro disse para o ajudante: - Não sirva isto no jantar do chefe não. Deixa pro café da manhã porque o chefe gosta de tomar café na cama”.











PONTE PRETA, Stanislaw. FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país. Prefácio e ilustração de Jaguar. 12 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/7022954/sergio-Porto-Stanislaw-Ponte-Preta-FebeapA-o-Festival-de-Besteira-Que-Assola-o-PaIs


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terça-feira, 2 de novembro de 2010

FRÉDÉRIC BASTIAT (2)



Frédéric Bastiat
Em
Ensaios.






“Na esfera econômica, um ato, um hábito, uma instituição, uma lei não geram somente um efeito, mas uma série de efeitos.
Dentre esses, só o primeiro é imediato.
Manifesta-se simultaneamente com a sua causa.
É visível.
Os outros só aparecem depois e não são visíveis.
Podemo-nos dar por felizes se conseguirmos prevê-los”.





“O mesmo que acontece a um povo acontece a um homem.
Quando ele deseja obter alguma satisfação, cabe-lhe, antes de mais nada, verificar quanto ela vai lhe custar.
Para uma nação, a segurança é um dos bens maiores.
Se, para alcançá-la, for preciso arregimentar cem mil homens e gastar CRM milhões de francos, não tenho nada a dizer.
É um prazer obtido ao preço de um sacrifício.
Que ninguém se engane quanto ao alcance de minha tese”.





“As vantagens que os funcionários encontram ao receberem seus salários é o que se vê.
O benefício que resulta disso para os fornecedores em geral é o que ainda não se vê.
Isso cega os olhos do corpo.

Mas as desvantagens que os contribuintes experimentam ao terem que pagar é o que não se vê, e os danos que isso acarreta para os fornecedores é o que não se vê mais ainda, embora eles devessem saltar aos olhos da inteligência”.





“Quando se trata de impostos, senhores, procurem provar que eles são necessários e úteis com razões substanciais e não com a seguinte afirmação, tão descabida: “As despesas públicas fazem a classe operária viver”.
Tal afirmação é equívoca, pois dissimula um fato essencial, a saber, que as despesas públicas são sempre substituídas por despesas privadas e que, por conseguinte, elas fazem um operário viver em vez de outro, mas não acrescentam nada à classe operária, considerada em sua totalidade”.







BASTIAT, F. Ensaios. Editado por Alexandre Giasti, traduzido por Ronaldo Legey; ilustrações de Marcos Pites de Campos. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1989. Disponível em:
http://www.ordemlivre.org/files/bastiat-ensaios.pdf

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RABISCOS NO BLOCO


Postado originalmente no REFLEXÕES: Setembro 2007

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

MANACÉIA JOSÉ DE ANDRADE



Quantas Lágrimas
(Manacéia José de Andrade)
(samba – 1974)




Ah, quantas lágrimas eu tenho derramado
Só em saber que não posso reviver o meu passado
Eu vivia cheio de esperança e de alegria
Eu cantava, eu sorria
Mas hoje em dia eu não tenho mais
A alegria dos tempos atrás
Mas hoje em dia eu não tenho mais
A alegria dos tempos atrás

Só melancolia os meus olhos trazem
Ai, quanta saudade a lembrança faz
Se houvesse retrocesso na idade
Eu não teria saudade da minha mocidade






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