quarta-feira, 24 de novembro de 2010

NELSON RODRIGUES



Nelson Rodrigues
Em
A vida como ela é.




A SEMPRE FIEL

Vira-se para uma pequena:
– Quer saber de uma coisa?
E ela:
– Quero.
Estavam tomando refrigerante, com um canudinho, num bar da Quinta da Boa Vista, ao ar livre.
E, então, meio sério, meio brincando, ele baixa a voz:
– Não acredito que você goste de mim.
Admirou-se:
– Sério?
– Palavra de honra!
– Por quê?
Puxa um cigarro:
– Porque não acredito em mulher nenhuma, compreendeu?
Olha: eu tive, até agora, digamos, umas dez namoradas.
Dez ou doze ou treze.
Muito bem.
Todas, absolutamente todas, sem exceção, me passaram pra trás.
Às vezes eu penso que minha sina, minha vocação é ser traído.
Impressionada, Odaléia mexeu com o canudinho no fundo do copo vazio.
Ergue o rosto:
– Posso falar?
– Claro!
Por cima da mesa, ela apanha a mão do namorado:
– Não há no mundo um amor que se compare ao meu.
Você é meu primeiro amor e será o último!






RODRIGUES, Nelson. A vida como ela é: O homem fiel e outros contos. Seleção Ruy Castro. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

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