segunda-feira, 31 de maio de 2010

MAURICE MERLEAU-PONTY (3)



Maurice Merleau-Ponty
Em
O Visível e o Invisível.





“A filosofia não propõe questões e não traz as respostas que preencheriam paulatinamente as lacunas.

As questões são interiores à nossa vida, à nossa história; nascem aí, aí morrem, se encontraram respostas, o mais das vezes aí se transformam; em todo o caso, é um passado de experiência e de saber que termina um dia nesse abismo.

A filosofia não toma por dado o contexto, debruça-se sobre ele para procurar a origem e o sentido das perguntas e respostas, a identidade daquele que questiona, e por aí tem acesso à interrogação que anima todas as questões do conhecimento e que é de outra espécie”.




“É próprio da interrogação filosófica voltar-se sobre si mesma, perguntar também o que é questionar e o que é responder”.




“O sensível é precisamente o meio em que pode existir o ser sem que tenha que ser posto; a aparência sensível do sensível, a persuasão silenciosa do sensível é o único meio de o Ser manifestar-se sem tornar-se positividade, sem cessar de ser ambíguo e transcendente”.






MERLEAU-PONTY, Maurice. O Visível e o Invisível. Tradução: José Artur Gianotti e Armando Mora d’Oliveira. 3ª. Ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.

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sábado, 29 de maio de 2010

MATIAS AIRES (5)

Matias Aires
Em
Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens.




“Com os anos não diminui em nós a vaidade, e se muda, é só de espécie.

A cada passo, que damos no discurso da vida, se nos oferece um teatro novo, composto de representações diversas, as quais sucessivamente vão sendo objetos da nossa atenção, e da nossa vaidade.

Assim como nos lugares, há também horizontes na idade, e continuamente imos deixando uns, e entrando em outros, e em todos eles a mesma vaidade, que nos cega, nos guia.

Nem sempre fomos suscetíveis das mesmas impressões; nem sempre somos sensíveis ao mesmo sentimento; sempre fomos vaidosos, mas nem sempre domina em nós o mesmo gênero de vaidade”.




“Que coisa é a ciência humana, senão uma humana vaidade?

Quem nos dera que assim como há arte para saber, a houvesse também para ignorar; e que assim como há estudo, que nos ensina a lembrar, o houvesse também, que nos ensinasse a esquecer”.






AIRES, Matias. Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens. Introdução de Alceu Amoroso Lima. Ilustrações de Santa Rosa. São Paulo: Livraria Martins Editora S. A., 1955.


Texto Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002989.pdf

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MARACATU RURAL




Maracatu Rural na cidade de Aliança no estado de Pernambuco (Brasil).

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sexta-feira, 28 de maio de 2010

TERTULIANO



Tertuliano
Em
Apologia.





“A Verdade não tem como apelar para vos fazer verificar sua condição, porque isso não promove vossa curiosidade por Ela.

Ela sabe que não é senão uma transeunte na terra, e que entre estranhos, naturalmente encontra inimigos.

E mais do que isso, sabe que sua origem, sua habitação natural, sua esperança, sua recompensa, sua honra estão lá em cima.

Uma coisa, enquanto isso, Ela deseja ansiosamente dos governantes terrestres: não ser condenada sem ser conhecida.

Que dano pode causar às leis – supremas em seu poder – conceder-lhe ser ouvida?

Absolutamente nada lhe prejudicaria e sua supremacia não seria mais distinguida ao condená-la, mesmo depois que Ela apresentasse sua defesa?

Mas se for pronunciada uma sentença contra Ela, sem ter sido ouvida, ao lado do ódio de uma injusta ação, vós incorreis na suspeita merecida de assim agires com alguma intenção que é injusta, como não desejando ouvir o que vós não estais capacitados a ouvir e a condenar”.







Tertuliano. Apologia. Disponível em:
http://www.tertullian.org/brazilian/apologia.html

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quinta-feira, 27 de maio de 2010

WALT WHITMAN (3)



ENQUANTO EU LIA O LIVRO
(Walt Whitman)
(tradução José Paulo Reis)




Enquanto eu lia o livro, a famosa biografia;
- Então é isso (eu me perguntava)
o que o autor chama
a vida de um homem?
E é assim que alguém,
quando morto e ausente eu estiver,
irá escrever sobre a minha vida?
(Como se alguém realmente soubesse
de minha vida um nada,
quando até eu, eu mesmo, tantas vezes
sinto que pouco sei ou nada sei
da verdadeira vida que é a minha;
somente uns poucos traços
apagados, uns dados espalhados
e uns desvios, que eu busco
para uso próprio, marcando o caminho
daqui a fora.)






WHITMAN, Walt. Poemas. Disponível em:
http://docs.google.com/leaf?id=0B5AHzCw0T94JZjIwYjQzNWMtNDRjZC00YTQ1LWIxMWEtNjU5NmE2OGEyMzVm&hl=en&pli=1

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quarta-feira, 26 de maio de 2010

ROBERTO FREIRE (4)



Roberto Freire
Em
Ame e dê Vexame.






“Custou-me muita dor, solidão e desespero aprender que sentir amor é uma potencialidade vital minha, é produção criativa da pessoa que sou e, para amar dependo apenas de mim mesmo.

E sua expressão e comunicação são produtos da liberdade pessoal e social conquistada.


Em minha inocência e ignorância, eu atribuía a algumas pessoas o poder de liberar, produzir, fazer exercer-se e comunicar o amor em mim e de mim”.




“Estou convencido de ser o amor, quando plenamente realizado, o principal fator do processo genético que determina as mutações necessárias para a sobrevivência da espécie humana”.




“Viver não é pensar e saber do jeito que desejaram os racionalistas, nem tampouco é trabalhar na maneira marxista, mas sim brincar e jogar como gostam os anarquistas”.








FREIRE, Roberto. Ame e dê Vexame. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1990.

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CAREL WEIGHT


Royal Academy of Arts Collection, London, UK


Portrait of the Artist’s Mother
c. 1928-1929 – oleo sobre tela – 40 x 33 cm.
Autor: Carel Weight

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terça-feira, 25 de maio de 2010

PAUL RICOEUR (2)



Paul Ricoeur
Em
Interpretação e ideologia.






“Surpreende-me o fato de não conseguirmos mais, em nossos dias, colocar juntos estes dois termos: liberdade e instituição.

O desafio que se dissimula sob o conflito da sociedade repressiva e da liberdade selvagem, da ideologia do diálogo e da ideologia do conflito a todo preço, está contido na seguinte questão: como podemos conjugar os progressos da liberdade e os da instituição?

Para mim, aí se situa o lugar, o cerne do drama e do dilaceramento contemporâneos.

Já possuímos uma crítica dos sistemas econômicos, quer do capitalismo, quer do socialismo autoritário.

Todavia, os conflitos de ponta nos conduzem além dessa crítica dos sistemas.

O que me parece em questão é a possibilidade mesma de vivermos em instituições”.




“Somente aquele que conserva no mais profundo de sua convicção a exigência de uma síntese da liberdade e do sentido, do arbitrário e da instituição, pode viver de modo sensato o conflito central da sociedade moderna”.







RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologia. Organização, tradução e apresentação de Hilton Japiassu. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983.

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segunda-feira, 24 de maio de 2010

MUNIZ BARRETO



IMPROVISO
(Muniz Barreto)





Ver... e do que se vê logo abrasado,
Sentir o coração de um fogo ardente,
De prazer um suspiro de repente
Exalar, e após ele um ai magoado!

Aquilo que não foi inda logrado
Nem será talvez, lograr na mente;
Do rosto a cor mudar constantemente
Ser feliz e ser logo desgraçado;

Desejar tanto mais quão mais se prive,
Calmar o ardor que pelas veias corre,
Já querer, já buscar que ele se ative;

O que isto é a todos nós ocorre:
- Isto é amor, e deste amor se vive!
- Isto é amor, e deste amor se morre!








WERNECK, Eugenio. Antologia Brasileira. Disponível em:
http://books.google.com.br/books?id=z7lVAAAAMAAJ&dq=WERNECK,+Eugenio.+Antologia+Brasileira&source=gbs_navlinks_s


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sábado, 22 de maio de 2010

EMIL CIORAN



Emil Cioran
Em
Esboços de Vertigem.






“Uma pessoa escreve não porque tenha algo a dizer, mas porque tem vontade de dizer algo”.




“Pensam profundamente só aqueles que não são afligidos pelo senso de ridículo”.




“Cada indivíduo que desaparece carrega consigo o universo: de uma só vez suprime-se tudo, tudo.

Partamos sem tristeza, pois que nada nos sobrevive, sendo nossa consciência a só e única realidade: ela apaga, tudo é apagado, ainda que saibamos que nada disso é objetivamente verdade, e que de fato nada consente a nos seguir, nem se digna a evaporar conosco”.




“Certamente é mau escritor quem pretende escrever para a posteridade.

Não se deve saber para quem se escreve”.




“Provérbio chinês: “Quando um só cão põe-se a ladrar para uma sombra, dez mil cães tomam-na como realidade”.

A colocar em epígrafe em qualquer comentário acerca de ideologias”.






CIORAN, Emil. Esboços de Vertigem (excertos). Tradução de Luiz de Carvalho. Disponível em:
http://traducoesgratuitas.blogspot.com/2008/04/emil-cioran-esboos-de-vertigem.html

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PERDÃO LEITORES


(verão 2010)
Saudade de Búzios!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

PIERRE LECOMTE DE NOÜY (3)



Pierre Lecomte du Noüy
Em
A Dignidade Humana.





“O drama mais freqüente ao homem médio é o de ele não saber o que quer.

Quando um homem consegue saber exatamente o que quer, a sua vontade de execução torna-se irresistível.

É a hesitação, o cálculo mental do interesse, a negociação de si mesmo, a comparação raciocinada do pró e do contra, que enfraquecem a vontade até o ponto de a aniquilarem.

Todo o ser capaz de só considerar um ato ao mesmo tempo é forte: o homem primário, sem instrução, sem imaginação é forte.

No outro extremo, o homem culto, imaginativo, sensível, é, muitas vezes, fraco, por ser paralisado pela representação de todas as conseqüências, próximas e remotas, de cada um dos seus atos.

O seu “bom senso” recomenda-lhe inevitavelmente as soluções descoloridas, os compromissos, as abdicações, importa que a necessidade de um ato atire para a sombra todas as outras possibilidades para que esse ato se imponha.

Enquanto tergiversa consigo, o homem é dominado por vago mas lancinante desejo de escolher solução neutra, fácil, que não exija esforça e nada altere.

Crê decidir, quando apenas obedece”.









Lecomte de Noüy, P. A Dignidade Humana. Tradução de Cruz Malpique. 3ª. Ed. Porto: Editora Educação Nacional, 1955.

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quinta-feira, 20 de maio de 2010

ISMAEL SILVA / NILTON BASTOS / FRANCIISCO ALVES (2)



Se Você Jurar
(Ismael Silva, Nilton Bastos e Francisco Alves)
(canção – 1931)



Se você jurar
Que me tem amor
Eu posso me regenerar,
Mas se é
Para fingir, mulher,
A orgia assim não vou deixar.

Muito tenho sofrido
Por minha lealdade
Agora estou sabido
Não vou atrás de amizade
A minha vida é boa
Não tenho em que pensar
Por uma coisa a toa
Não vou me regenerar.

Se você jurar
Que me tem amor
Eu posso me regenerar,
Mas se é
Para fingir, mulher,
A orgia assim não vou deixar.

A mulher é um jogo
Difícil de acertar
E o homem como um bobo
Não se cansa de jogar
O que eu posso fazer
É se você jurar
Arriscar e perder
Ou desta vez então ganhar.

Se você jurar
Que me tem amor
Eu posso me regenerar,
Mas se é
Para fingir, mulher,
A orgia assim não vou deixar.





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quarta-feira, 19 de maio de 2010

JOSÉ INGENIEROS (5)



José Ingenieros
Em
Simulação na Luta pela Vida.






“Em nenhuma outra espécie animal se apresenta sob tão múltiplos aspectos a luta pela vida; só no homem os meios de luta chegam a ser um produto quase puramente intelectual.

E, como é fácil de compreender, a violência física pessoal continua sendo o essencial na luta entre os selvagens, entre as crianças e entre pessoas incultas, ao passo que os meios de luta se tornam mais intelectuais nas sociedades civilizadas, nos adultos e nas pessoas cultas.

Produz-se, em outras palavras, uma evolução que tende a fazer primar as aptidões mentais sobre as aptidões físicas”.




“Entre os homens agregados em grupos sociais que vivem relacionados, a simulação é freqüentíssima como fenômeno consciente e voluntário”.




“Dever-se-ia definir a “educação” como a arte de formar nos homens uma personalidade; vemos, porém, que o uso corrente dá a essa palavra um sentido contrário, dizendo que são mais bem “educados” os indivíduos que, por sua refinada aptidão para fingir, conseguem dissimular completamente sua personalidade própria, sem nunca a fazer sobressair sobre os demais”.




“Não importa que esse hábito de parecer destrua no homem toda capacidade para ser; a sociedade não vacila em sacrificar os indivíduos ao interesse da espécie, da mesma forma que as demais colônias animais”.









INGENIEROS, José. As Forças Morais / Simulação na Luta pela Vida. Sem indicação do tradutor. Rio de Janeiro: Editora MELSO Soc. Anônima, s/data.

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RABISCOS NO BLOCO


Postado originalmente no REFLEXÕES: Setembro 2008

terça-feira, 18 de maio de 2010

THEODOR ADORNO (5)



Theodor Adorno
Em
Teoria da estética.






“Cada obra de arte é um instante; cada obra conseguida é um equilíbrio, uma pausa momentânea no processo, tal como ele se manifesta ao olhar atento”.




“A arte é a antítese social da sociedade, e não deve imediatamente deduzir-se desta”.




“Assim como a categoria do Novo resultava do processo histórico, que dissolve primeiro a tradição específica e, em seguida, toda e qualquer tradição, assim o Moderno não é nenhuma aberração que se deixaria corrigir, regressando a um terreno que já não existe e não mais deve existir; isto é paradoxalmente o fundamento do Moderno e confere-lhe o seu caráter normativo”.




“As obras não têm nenhum poder sobre a duração; em última análise, ela é garantida quando o que se presume ligado a uma época é eliminado em favor do permanente”.




“A finalidade da obra de arte é a determinação do indeterminado”.








ADORNO, Theodor. Teoria da estética. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, Ltda, s/data. Disponível em:
http://www.scribd.com/doc/12536375/Adorno-Teoria-Da-Estetica

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segunda-feira, 17 de maio de 2010

WILHELM DILTHEY (3)



Wilhelm Dilthey
Em
Os Tipos de Concepção de Mundo.





“As mundividências não são produtos do pensamento.

Não brotam da simples vontade de conhecer.

A apreensão da realidade é um momento importante na sua configuração, mas, no entanto, é apenas um.

Promana da conduta vital, da experiência da vida, da estrutura da nossa totalidade psíquica.

A elevação da vida à consciência no conhecimento da realidade, na valoração da vida e na realização volitiva é o lento e árduo trabalho que a humanidade prestou no desenvolvimento das concepções da vida”.




“A formação das visões do mundo é determinada pela vontade de obter a solidez da imagem do mundo, da apreciação da vida, da ação da vontade, que deriva do rasgo fundamental exposto de sequências de etapas no desenvolvimento psíquico.

A religião e a filosofia buscam firmeza, força atuante, dominação, validade universal.

Mas a humanidade não avançou um passo sequer por esse caminho.

O antagonismo recíproco das concepções do mundo não chegou a uma decisão em nenhum ponto importante.

A história realiza entre elas uma seleção, mas os seus grandes tipos mantêm-se lado a lado com poder próprio, indemonstráveis e indestrutíveis”.








DILTHEY, Wilhelm. Os Tipos de Concepção de Mundo. Tradutor: Artur Morão. Disponível em: http://www.lusosofia.net/textos/dilthey_tipos_de_concep_ao_do_mundo.pdf

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sábado, 15 de maio de 2010

JORGE AMADO

Jorge Amado
Em
Capitães de areia.





“Ficou parado olhando Pirulito, que rezava concentrado.

No rosto do que rezava ia uma exaltação, qualquer coisa que ao primeiro momento o Sem-Pernas pensou que fosse alegria ou felicidade.

Mas fitou o rosto do outro e achou que era uma expressão que ele não sabia definir.

E pensou, contraindo o seu rosto pequeno, que talvez por isso nunca tivesse pensado em rezar, em se voltar para o céu de que tanto falava o padre José Pedro quando vinha vê-los.

O que ele queria era felicidade, era alegria, era fugir de toda aquela miséria, de toda aquela desgraça que os cercava e os estrangulava.

Havia, é verdade, a grande liberdade das ruas.

Mas havia também o abandono de qualquer carinho, a falta de todas as palavras boas.

Pirulito buscava isso no céu, nos quadros de santo, nas flores murchas que trazia para Nossa Senhora das Sete Dores, como um namorado romântico dos bairros chiques da cidade traz para aquela a quem ama com intenção de casamento.

Mas o Sem-Pernas não compreendia que aquilo pudesse bastar.

Ele queria uma coisa imediata, uma coisa que pusesse seu rosto sorridente e alegre, que o livrasse da necessidade de rir de todos e de rir de tudo.

Que o livrasse também daquela angústia, daquela vontade de chorar que o tomava nas noites de inverno”.




AMADO, Jorge. Capitães de areia. Disponível em:
http://www.culturabrasil.pro.br/zip/capitaesdeareia.pdf

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Amado



BLU




MUTO
The new short film by Blu: an ambiguous animation painted on public walls.
Made in Buenos Aires and in Baden (fantoche)

music by Andrea Martignoni
assistant: Sibe

sexta-feira, 14 de maio de 2010

MARIA ZAMBRANO



Maria Zambrano
Em
Poesia e metafísica.




“No fundo desta época moderna parece residir uma única palavra, um único anseio: querer ser.

O homem quer ser, antes de tudo o mais.

Cego, antes de esforçar-se para abrir os olhos, quer, quer cegamente.

E quando olha é para ser.

Por isso não quer ver senão o absoluto.

À sua ânsia de absoluto nenhuma outra coisa pode ser dada senão o absoluto também.

Mas, na realidade, não foi buscá-lo, porque o absoluto respira já dentro dele.

Não se sente, na verdade, incompleto, o homem deste momento; não se sente necessário nem carente de sair em busca de nada.

E, contudo, debaixo do seu “absoluto” está – mares de nada –, cega indiferente, a angústia.

E, sobre a angústia, os altos muros do sistema.



A angústia que parece ser a raiz originária da Metafísica moderna, em geral; isto é, da Metafísica”.






ZAMBRANO, Maria. Poesia e metafísica. Tradução de José Bento. Disponível em:
http://www.lusosofia.net/textos/zambrano_maria_poesia_e_metafisica.pdf


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e
http://www.leme.pt/biografias/80mulheres/zambrano.html

quinta-feira, 13 de maio de 2010

JOHANNES HESSEN (2)



Johannes Hessen
Em
Filosofia dos Valores.





“Todo o progresso da cultura consiste num constante avançar e ir mais longe, por parte da humanidade, no Cosmos dos valores e na descoberta de valores novos.

Uma tal descoberta – sabe-se – jamais é uma conquista das massas, mas só dos indivíduos.

É nas grandes personalidades criadoras que se realizam estas descobertas e conquistas.

As massas, pelo contrário, essas permanecem sempre indiferentes à visão solitária que os grandes indivíduos têm dos novos valores.

Geralmente, medem-nos com as suas tradicionais escalas axiológicas, feitas de hábitos rotineiros, e acabam por os rejeitar.

Muitas vezes, sucede até que as massas começam por se revoltar contra a audácia dos gênios que descobriram algum novo valor e pretendem impor-lhes uma nova concepção axiológica.

Estabelece-se assim, muitas vezes, uma luta entre o indivíduo e a sociedade, entre a personalidade e a massa, na qual quem começa por vencer é, não o valor novo, não o Espírito, mas sim a força”.




“O anunciador do valor novo é, em regra, vencido no primeiro combate”.




“Esses valores, que foram consagrados pelo sacrifício da sua vida, vão tornar-se manancial de energias na vida de outros; estarão, apesar de todas as resistências, na consciência da humanidade e levá-la-ão a um nível mais elevado”.











HESSEN, Johannes. Filosofia dos Valores. 4ª. Ed. Tradução e prefácio do Prof. L. Cabral de Moncada. Coimbra: Armênio Amado, Editor, Sucessor, 1974.

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quarta-feira, 12 de maio de 2010

MANUEL DA COSTA (2)



Anônimo (atribuído a Manuel da Costa)
Em
A Arte de Furtar.




“E digo que este mundo é um covil de ladrões, porque, se bem o considerar-mos, não há nele coisa viva que não viva de rapinas; os animais, aves e peixes, comendo-se uns aos outros se sustentam; e se alguns há que não se mantenham doutros viventes, tomam seu pasto dos frutos alheios que não cultivaram, com que vem a ser tudo uma pura ladroeira.

Tanto que até nas árvores há ladrões, e os elementos se comem e gastam entre si, diminuindo-se por partes, para acrescentar cada qual as suas.

Assim se portam as criaturas irracionais e insensíveis e as racionais ainda pior que todas, porque lhes sobeja a malícia, que nas outras falta, e com ela trata cada qual de se acrescentar a si.

E como o homem de si nada tem de próprio, claro está que, se os acrescenta, muitos hão de ser alheios”.








ANÔNIMO. A Arte de Furtar. 3ª. Ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1978.

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CHUCK CLOSE


Museum of Fine Arts, Boston


Paul IV
2001 – óleo sobre tela – 264,2 x 208,3 cm.
Autor: Chuck Close

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terça-feira, 11 de maio de 2010

NOVALIS (3)



Novalis
Em
Observações Entremescladas.




49

“O ponto de vista transcendental para esta vida espera por nós – somente ali se tornará ela verdadeiramente interessante para nós”.



55

“Sagacidade genial é uso sagaz da sagacidade”.



61

“O melhor nas ciências é seu ingrediente filosófico.
Desfilosofem-se as ciências – o que resta – terra, ar e água”.



91

“Estamos em relações com todas as partes do universo.
– Assim como com o futuro e a antiguidade”.



99

“Um criminoso não pode queixar-se de injustiça, quando o tratam dura e desumanamente.
Seu crime foi um ingresso no ramo da violência, da tirania.
Medida e proporção não há nesse mundo – por isso a desproporcionalidade da reação não deve estranhar-lhe”.












NOVALIS. Pólen. Tradução, apresentação e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho. 2ª. Ed. São Paulo: Iluminuras, 2001.

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segunda-feira, 10 de maio de 2010

MIGUEL DE UNAMUNO



Miguel de Unamuno
Em
Verdade e vida.





“Desde sempre foi a minha convicção, mais arraigada e mais corroborada em mim à medida que o tempo vai passando; que a suprema virtude de um homem deve ser a sinceridade.

O vício mais feio é a mentira, os seus derivados e disfarces, a hipocrisia e o exagero.

Prefiro o cínico ao hipócrita, não fora aquele já parte deste.



Abrigo a profunda crença de que, se todos disséssemos sempre e em cada caso a verdade, a verdade nua e crua, ao princípio ameaçaria tornar-se inabitável a terra, mas depressa acabaríamos por nos entender como hoje nos entendemos.

Se todos, podendo assomar ao bocal das consciências alheias, víssemos despidas as almas, as nossas rixas e suspeitas fundir-se-iam todas numa imensa piedade mútua.

Veríamos as negruras do que temos por santo, mas também a alvura daquele que consideramos um malvado”.







UNAMUNO, Miguel de. Verdade e vida. Tradução de João da Siva Gama. Disponível em:
http://www.lusosofia.net/textos/unamuno_miguel_de_verdade_e_vida.pdf


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sábado, 8 de maio de 2010

RAINER MARIA RILKE (3)



HORA GRAVE
(Rainer Maria Rilke)





Quem agora chora em algum lugar do mundo,
Sem razão chora no mundo,
Chora por mim.

Quem agora ri em algum lugar na noite,
Sem razão ri dentro da noite,
Ri-se de mim.

Quem agora caminha em algum lugar no mundo,
Sem razão caminha no mundo,
Vem a mim.

Quem agora morre em algum lugar no mundo,
Sem razão morre no mundo,
Olha para mim.



(Tradução: Augusto de Campos)






RILKE, Rainer Maria. Poemas. Disponível em:
http://temqueler.files.wordpress.com/2009/12/rilke-poemas.pdf

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RABISCOS NO BLOCO


Postado originalmente no REFLEXÕES: Agosto 2008

sexta-feira, 7 de maio de 2010

PASCAL (7)



Blaise Pascal
Em
Pensamentos.





84
“A imaginação amplia os pequenos objetos até enchermos a alma com eles, em uma avaliação fantasista; e numa insolência temerária diminui os grandes e os reduz à sua medida, como ao falar de Deus".


85
“As coisas que mais prezamos, como esconder a nossa pequena fortuna, não são amiúde, quase nada.
São um vazio que nossa imaginação amplia.
Outro passe de imaginação no-lo faz descobrir sem dificuldade".


86
“Minha fantasia impele-me a odiar um indivíduo que grasna ou que come ofegando.
A fantasia pesa muito.
Que proveito tiraremos disso?
Seguir esse peso por ser natural?
Não.
Mas resistir...”






PASCAL, Blaise Pensamentos. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

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quinta-feira, 6 de maio de 2010

JOHN MILTON



John Milton
Em
Paraíso Perdido.






“Que importa onde eu esteja, se eu o mesmo
Sempre serei, – e quanto posso, tudo?...
Tudo... menos o que é esse que os raios
Mais poderoso do que nós fizeram!
Nós ao menos aqui seremos livres,
Deus o Inferno não fez para invejá-lo;
Não quererá daqui lançar-nos fora;
Poderemos aqui reinar seguros.
Reinar é o alvo da ambição mais nobre,
Inda que seja no profundo Inferno;
Reinar no Inferno preferir nos cumpre
À vileza de ser no Céu escravos”.





“Eis Belial do outro lado se levanta,
O anjo mais belo que perdeu o Empíreo;
Todo era graças, era grados todo.
Tal dignidade ostenta no semblante
Que só rasgos de heroísmo em si inculca;
Era em tudo porém frívolo e falso
A sua voz, de que maná goteja,
Tantos encantos tem, tanto arrebata
Que mostra puras as razões mais torpes,
E torna embaraçados e perplexos
Os mais previstos e maduros planos;
Com perspicácia suma induz ao vício,
Ante as altas ações afrouxa e treme;
Aos ouvidos apraz quando ele exprime;
Cobre alma vil com porte de grandeza”.






MILTON, John. Paraíso Perdido. Tradução de Antônio José de Lima Leitão. Rio de Janeiro: W. M. Jackson Inc., 1956. Disponível em:
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/paraisoperdido.html

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quarta-feira, 5 de maio de 2010

MAX SCHELER

Max Scheler
Em
Diferença essencial entre Homem e Animal.




“Só o homem, enquanto é pessoa, consegue – como ser vivo – alçar-se acima de si e, a partir de um centro que está, por assim dizer, para lá do mundo espaço-temporal, fazer de tudo, inclusive de si próprio, um objeto do seu conhecimento.

Por isso, o homem, como ser espiritual, é o ser superior a si mesmo como ser vivo e ao mundo.

É enquanto tal igualmente capaz da ironia e do humor, que encerram sempre uma elevação sobre a existência própria.



Mas o centro a partir do qual o homem realiza os atos com que objetiva o seu corpo e a sua psique, com que do mundo na sua plenitude espacial e temporal faz do objeto, não pode ser uma “parte” deste mundo; não pode, pois, possuir sítio algum no espaço ou no tempo; só pode estar situado no fundamento mais elevado do ser”.




“A raiz da intuição humana do espaço e do tempo, que precede todas as outras sensações externas, reside na possibilidade de movimento orgânico espontâneo e de ação numa ordem determinada”.




SCHELER, Max. Diferença essencial entre Homem e Animal.
Tradução de Artur Morão. Disponível em:
http://www.lusosofia.net/textos/scheler_max_dieferenca_entre_homem_e_animal.pdf


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http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Scheler

BOB ESPONJA




Abertura do desenho do Bob Esponja Calça Quadrada (em português).

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terça-feira, 4 de maio de 2010

TORQUATO NETO (4)



COGITO
(Torquato Neto)



eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim







Torquato Neto. Torquatália: obra reunida de Torquato Neto. Organização de Paulo Roberto Pires. v. 1. Do lado de dentro. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

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segunda-feira, 3 de maio de 2010

ANDRÉ MALRAUX

André Malraux
Em
A Condição Humana.





“O essencial, o que o perturbava até a angústia, era que de repente se separara dela, não pela raiva (ainda que houvesse raiva nele), não pelo ciúme (ou então seria o ciúme exatamente isso?); por um sentimento sem nome, tão destruidor como o tempo ou a morte: não a reencontrava.

Reabrira os olhos; que ser humano era aquele corpo desportivo e familiar, aquele perfil perdido; os olhos grandes, partindo das têmporas, mergulhados entre a testa ampla e as maçãs do rosto?

Aquela que acabara de ter relações?

Mas não era aquela que suportava as suas fraquezas, as suas dores, as suas irritações, aquela que tratara com ele os seus camaradas feridos, velara com ele os seus amigos mortos...

A doçura da sua voz, ainda no ar...

Não se esquece o que se quer.

No entanto, aquele corpo retomava o mistério doloroso do ser conhecido transformado de repente... do mudo, do cego, do doido.

E era uma mulher.

Não uma espécie de homem.

Outra coisa...”.






MALRAUX, André. A Condição Humana. Tradução de Jorge de Sena. Disponível em:
http://temqueler.files.wordpress.com/2009/12/andre-malraux-a-condicao-humana.doc


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sábado, 1 de maio de 2010

ATHOS CAMPOS / SERRINHA



O Inhambu-xintã e o Xororó
(Athos Campos / Serrinha)




Eu não troco meu ranchinho amarradinho de cipó
Por uma casa na cidade, nem que seja bangalô
Eu moro lá no deserto, sem vizinho, eu vivo só
Só me alegra quando pia, lá pr’aqueles cafundó
É o inhambu-xintã e o xororó
É o inhambu-xintã e o xororó

Quando rompe a madrugada canta o galo carijó
Pia triste a coruja, na cumeeira do paiol
Quando chega o entardecer, pia triste o jaó
Só me alegra quando pia, lá pr’aqueles cafundó
É o inhambu-xintã e o xororó
É o inhambu-xintã e o xororó

Não me dou com a terra roxa, com a seca larga pó
Na baixada do areião eu sinto um prazer maior
É da rolinha no andar, no areião faz caracol
Só me alegra quando pia, lá pr’aqueles cafundó
É o inhambu-xintã e o xororó
É o inhambu-xintã e o xororó

Eu faço minhas caçadas bem antes de sair o sol
Espingarda cartucheira, patrona de tiracolo
Tenho buzina e cachorro pra fazer forrobodó
Só me alegra quando pia, lá pr’aqueles cafundó
É o inhambu-xintã e o xororó
É o inhambu-xintã e o xororó

Quando eu sei de uma notícia que outro canta melhor
Meu coração da um balanço, fica meio banzaró
Suspiro sai do meu peito, que nem bala jeveló
Só me alegra quando pia, lá pr’aqueles cafundó
É o inhambu-xintã e o xororó
É o inhambu-xintã e o xororó






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EMIL NOLDE


Statens Museum for Kunst, Dinamarca.



Child and Large Bird
1912 – óleo sobre tela – 73 x 88 cm.
Autor: Emil Nolde


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