sábado, 15 de maio de 2010

JORGE AMADO

Jorge Amado
Em
Capitães de areia.





“Ficou parado olhando Pirulito, que rezava concentrado.

No rosto do que rezava ia uma exaltação, qualquer coisa que ao primeiro momento o Sem-Pernas pensou que fosse alegria ou felicidade.

Mas fitou o rosto do outro e achou que era uma expressão que ele não sabia definir.

E pensou, contraindo o seu rosto pequeno, que talvez por isso nunca tivesse pensado em rezar, em se voltar para o céu de que tanto falava o padre José Pedro quando vinha vê-los.

O que ele queria era felicidade, era alegria, era fugir de toda aquela miséria, de toda aquela desgraça que os cercava e os estrangulava.

Havia, é verdade, a grande liberdade das ruas.

Mas havia também o abandono de qualquer carinho, a falta de todas as palavras boas.

Pirulito buscava isso no céu, nos quadros de santo, nas flores murchas que trazia para Nossa Senhora das Sete Dores, como um namorado romântico dos bairros chiques da cidade traz para aquela a quem ama com intenção de casamento.

Mas o Sem-Pernas não compreendia que aquilo pudesse bastar.

Ele queria uma coisa imediata, uma coisa que pusesse seu rosto sorridente e alegre, que o livrasse da necessidade de rir de todos e de rir de tudo.

Que o livrasse também daquela angústia, daquela vontade de chorar que o tomava nas noites de inverno”.




AMADO, Jorge. Capitães de areia. Disponível em:
http://www.culturabrasil.pro.br/zip/capitaesdeareia.pdf

Sobre Jorge Amado clique
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Amado



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