sexta-feira, 11 de julho de 2008

CATULLO DA PAIXÃO CEARENSE



Luar do Sertão
(Canção)
(Catullo da Paixão Cearense)






Oh, que saudade
do luar da minha terra,
lá na serra,
branquejando folhas secas
pelo chão!
Este luar, cá da cidade,
tão escuro,
não tem aquela saudade
do luar
lá do sertão.


(estribilho)
Não há,
ó gente,
oh, não,
luar,
como esse,
do sertão.
Não há,
ó gente,
oh, não,
luar,
como esse,
do sertão.


Se a lua nasce
por detrás da verde mata,
mais parece
um sol de prata,
prateando a solidão !
E a gente pega na viola,
que ponteia,
e a canção
é a lua cheia,
a nos nascer
do coração !


(estribilho)


Quando vermelha,
no sertão,
desponta a lua,
dentro dalma,
onde flutua,
também,
rubra,
nasce a dor !
E a lua sobe...
E o sangue muda
em claridade !
E a nossa dor
muda
em saudade...
branca
assim...
da mesma cor !!!


(estribilho)


Quem me dera
que eu morresse lá na serra,
abraçado à minha terra
e dormindo de uma vez !
Ser enterrado
numa grota pequenina,
onde, à tarde,
a sururina
chora a sua viuvez !


(estribilho)


Diz uma trova,
que o sertão todo conhece,
que, se à noite,
o céu floresce,
nos encanta,
e nos seduz,
é porque rouba dos sertões
as flores belas
com que faz essas estrelas
lá do seu jardim de luz !!!


(estribilho)


Mas como é lindo ver,
depois,
por entre o mato,
deslizar,
calmo,
o regato,
transparente, como um véu,
no leito azul das suas águas,
murmurando,
ir, por sua vez,
roubando
as estrelas
lá do céu !!!


(estribilho)


A gente fria
dessa terra,
sem poesia,
não se importa com esta lua,
nem faz caso do luar !
Enquanto a onça
lá na verde capoeira,
leva uma hora
inteira,
vendo a lua,
a meditar !


(estribilho)


Coisa mais bela neste mundo
não existe,
do que ouvir
um galo
triste,
no sertão,
se faz luar !!!
Parece até que a alma da lua
é que descanta,
escondida
na garganta
desse galo,
a soluçar !


(estribilho)


Se Deus me ouvisse
com amor
e caridade,
me faria
essa vontade,
- o ideal do coração !
Era que a morte,
a descantar
me surpreendesse,
e eu morresse
numa noite
de luar,
no meu sertão !


Não há,
ó gente,
oh, não,
luar,
como esse,
do sertão.

Não há,
ó gente,
oh, não,
luar,
como esse,
do sertão.







CEARENSE, Catullo da Paixão. Poemas Escolhidos. Seleção organizada, anotada e revista por Guimarães Martins. 10ª.Ed. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1968.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Catulo_da_Paix%C3%A3o_Cearense

Um comentário:

Leila disse...

ler esta poesia e logo passar a canta-la foi, esta sendo maravilhoso... e' muito bom ter esse tipo de reencontro.
Obrigada por este presente.
beijos primo