segunda-feira, 2 de junho de 2008

LAURINDO RABELO



A MINHA RESOLUÇÃO
(Laurindo Rabelo)





O que fazes, ó minh’alma?
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato,
Busca outro coração!

Corre o ribeiro suave
Pela terra brandamente,
Se o plano condescendente
Dele se deixa regar;
Mas, se encontra algum tropeço
Que o leve curso lhe prive,
Busca logo outro declive,
Vai correr noutro lugar.

Segue o exemplo das águas.
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras,
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato:
Busca outro coração!

Nasce a planta, a planta cresce,
Vai contente vegetando,
Só por onde vai achando
Terra própria a seu viver;
Mas, se acaso a terra estéril
As raízes lhe é veneno,
Ela vai noutro terreno
As raízes esconder.

Segue o exemplo da planta.
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato,
Busca outro coração!

Saiba a ingrata que punir
Também sei tamanho agravo:
Se me trata como escravo,
Mostrarei que sou senhor;
Como as águas, como a planta,
Fugirei dessa homicida;
Quero dar a um’alma fida
Minha vida e meu amor.





LOUSADA, Wilson (Org.) Cancioneiro do Amor. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1952.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Laurindo_Rabelo

Um comentário:

Graziella disse...

Muito lindo !! Parabens!!