sexta-feira, 10 de outubro de 2008

MÁRIO QUINTANA (10)



JARDIM INTERIOR
(Mário Quintana)


Todos os jardins deviam ser fechados,
Com altos muros de um cinza muito pálido,
onde uma fonte
pudesse cantar
sozinha
entre o vermelho dos cravos.
O que mata um jardim não é mesmo
alguma ausência
nem o abandono...
O que mata um jardim é esse olhar vazio
de quem por ele passa indiferente.




AH! OS RELÓGIOS
(Mário Quintana)


Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não conhece a vida – a verdadeira –
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém – ao voltar a si da vida –
acaso lhes indaga que horas são...





QUINTANA, Mário. Quintana de Bolso. Porto Alegre: L&PM Editores, 1997.

Um comentário:

NAMIBIANO FERREIRA disse...

Parabéns pelo Quintana, com Manuel Bandeira, Jorge de Lima e Drummond a Poesia brasileira é ouro sobre azul... e existem tantos outros...
Obrigado!!