quarta-feira, 28 de outubro de 2009

CARLOS DRMMOND DE ANDRADE (8)



O ENTERRADO VIVO
(Carlos Drummond de Andrade)




É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábioa a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.






ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética. 16 Ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1983.

Um comentário:

Anna Flávia disse...

portNão conhecia e gostei muito. Beijo.