sábado, 28 de fevereiro de 2009

JOSÉ DE ALMADA-NEGREIROS



Canção
(José de Almada-Negreiros)



A pastorinha morreu, todos estão a chorar. Ninguém a conhecia e todos estão a chorar.
A pastorinha morreu, morreu de seus amores. À beira do rio nasceu uma árvore e os braços da árvore abriram-se em cruz.
As suas mãos compridas já não acenam de além. Morreu a pastorinha e levou as mãos compridas.
Os seus olhos a rirem já não troçam de ninguém. Morreu a pastorinha e os seus olhos a rirem.
Morreu a pastorinha, está sem guia o rebanho. E o rebanho sem guia é o enterro da pastorinha.
Onde estão os seus amores? Há prendas para Lhe dar. Ninguém sabe se é Ele e há prendas para Lhe dar.
Na outra margem do rio deu à praia uma santa que vinha das bandas do mar. Vestida de pastora p’ra se não fazer notar. De dia era uma santa, à noite era o luar.
A pastorinha em vida era uma linda pastorinha; a pastorinha morta é a Senhora dos Milagres.



In. Revista Orpheu, Número 1 (1915).
Disponível em:
http://www.gutenberg.org/files/23620/23620-8.txt





NEVES, João Alves das. Poetas Portugueses Modernos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.

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