quinta-feira, 1 de maio de 2008

OSCAR WILDE (12)



Oscar Wilde
Em
Poemas Em Prosa / O Discípulo







Quando Narciso morreu, o lago de seus arroubos de prazer converteu-se de ânfora de água doce em ânfora de lágrimas salgadas.
E as Oréades vieram chorando pelo bosque a cantar junto do lago para consolá-lo.

E ao ver que o lago se havia convertido de ânfora de água doce em ânfora de lágrimas salgadas, soltaram as madeixas verdes de suas cabeleiras e gritaram para o lago, dizendo-lhe:

- Não nos surpreende que chores assim por Narciso, que era tão belo.

- Mas Narciso era belo? – perguntou o lago.

- Quem melhor do que tu poderia sabê-lo? – responderam as Oréades – Ele nos desdenhava, mas cortejava-te, e deitado em tua margem, contemplava-te e no espelho de tuas águas mirava sua própria beleza.

E o lago respondeu:

- Eu amava Narciso porque, quando se inclinava na minha margem e me contemplava, no espelho de seus olhos sempre via minha própria beleza refletida.







WILDE, Oscar. Poemas Em Prosa. In.__________ Obra Completa. Tradução de Oscar Mendes. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, Ltda., 1961.

2 comentários:

L.Reis disse...

Wilde...no seu melhor!!

Anônimo disse...

Sempre achei que este texto de Oscar Wilde, mais do que a história de Narciso, conta a incompreensão e a falta de diálogo

Ou

visto de outra maneira, o conflito que há, tantas vezes, no amor e na paixão: só a nós vemos reflectidos.

beijinhos