segunda-feira, 26 de maio de 2008

TOMMASO CAMPANELLA



Tommaso Campanella
Em
A Cidade do Sol




Interlocutores: O Grão-Mestre dos Hospitalários e um Almirante genovês, seu hóspede.
( Hospitalários = Ordem religiosa baseada no serviço hospitalar. )



Grão-Mestre – Suplico-lhe, primeiro que me responda a esta única pergunta: que dizem eles do pecado de Adão?

Almirante – Confessam sinceramente que há muita iniqüidade no universo.
Os homens não são governados por superiores e verdadeiras razões, vivendo infelizes e sem escutar os bons.
Triunfam os perversos, se bem que eles consideram miserável esse triunfo, não havendo nada de mais vão e de mais desprezível do que querer mostrar-se aquilo que na realidade não se é ou não se merece ser, como tantos que se chamam reis, sábios, guerreiros ou santos.
Argumentam ainda que há, por causa ignorada, uma grande desordem nas coisas humanas.
E, quanto as primeiras, inclinam-se a crer, com Platão, que os mundos celestes sofreram, outrora, uma revolução do atual Ocidente para a parte agora chamada Oriente, dirigindo-se depois para a parte oposta.
Acrescentam ser possível que o governo da terra, com permissão do Deus Supremo, tenha sido confiado a divindades inferiores.
Mas consideram tolice afirmá-lo de um modo absoluto, e tolice ainda maior asseverar que, primeiro, com máxima eqüidade, tenha reinado Saturno, com menor Júpiter, e depois, sucessivamente, os outros planetas.
Não obstante, confessam que a idade do mundo é regulada de acordo com a série dos planetas, e acreditam que com as mutações dos astros, depois de 1000 ou 1600 anos, poderão as coisas passar por grandes mudanças.
Dizem que a idade presente parece dever atribuir-se a Mercúrio, conquanto modificada pelas grandes conjunções e repetições das anomalias que possuem uma força fatal.
Afirmam, finalmente, que feliz é o cristão que se contenta em acreditar que toda essa revolução se tenha originado do pecado de Adão”.


“Mas, quem estuda a construção do universo e a anatomia do homem (por eles freqüentemente praticada nos cadáveres dos condenados), assim como os planetas, os animais e a função de cada uma de suas partes, deve confessar em voz alta a sabedoria e a providência de Deus.
É, pois, dever do homem consagrar-se inteiramente à religião e humilhar-se continuamente perante o próprio autor, o que só é possível e fácil para quem estuda e conhece as obras deste, obedecendo às suas leis e pondo em prática a sentença do filósofo: “Não faças aos outros o que não queres que te façam; e o que queres que te façam, faze-o aos outros”.
Dessa forma, nós que pretendemos dos filhos e dos homens bens e honras em troca de poucas vantagens que lhes concedemos, devemos dar a Deus tudo, porque dele tudo temos recebido, e estamos nele e com ele.
Glória, pois, a Deus por todos os séculos dos séculos”.








CAMPANELLA, Tommaso. A Cidade do Sol. Sem indicação do tradutor.Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000001.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tommaso_Campanella

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