quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

BENJAMIN PÉRET (2)



Benjamin Péret
Em
EU SUBLIME


UMA MANHÃ




Há gritos que não acabam mais
berros de terra agitada como um leque
desmantelado
por topeiras em conserva
por soluços de tábuas que alguém estripa
longos como uma locomotiva que vai nascer
por convulsões de árvores revoltadas que não querem
deixar subir a seiva
tanto como o metrô não aceita transportar avestruzes
nos seus túneis de barba mal-escanhoada
há gritos
aranhas de vitríolo que engulo sem perceber
perto desse rio gasto saído de um bocal de cachimbo
que não passa de um longo focinho
um pouco quente
um pouco mais resmungão que um caldeirão quase
vazio
este no que tu não vês como não vês a poeira de uma
hóstia
que o vento misturou
com a poeira do vigário semelhante ao sulfato de cobre
e à da igreja mais torta que um velho
saca-rolha
pois não estás mais aí do que não estou aí sem ti
e com isso o mundo fica todo descabelado.






PÉRET, Benjamin. Amor sublime: ensaio e poesia. Organização: Jean Puyade. Tradução: Sérgio Lima, Pierre Clemens. São Paulo: Brasiliense, 1985.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Benjamin_P%C3%A9ret

Um comentário:

Sheila Maria Conde Rocha Campello disse...

Oi Jambão!
Estou aproveitando este espaço para dizer que nós, arte-educadores, agradecemos pela divulgação da notícia sobre a petição ao CNPq pela manutenção da nossa área de conhecimento. É muito importante divulgar o link para a petição. Beijos, Sheila.