SONETO DE QUARTA – FEIRA DE CINZAS
(Vinicius de Moraes)
Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada.
Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada.
Porque te vi nascer, de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura.
Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.
MORAES, Vinicius de. Livros dos sonetos. Prefácio de Otto Lara Rezende. 19ª. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.
Um comentário:
Que lindo.
E para ele a quarta-feira não era tão ingrata. :)
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