"OURO DE TOLO"
Raul Seixas
Eu devia estar contente
Por que eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês
Eu devia agradecer ao senhor por ter tido
sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz por que eu consegui
Comprar um corcel 73
Eu devia estar alegre e satisfeito por morar em
Ipanema depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na cidade maravilhosa
Ah ! Eu devia estar sozinho e orgulhoso por ter
Finalmente vencido na vida mas eu acho isto uma
Grande piada e um tanto quanto perigosa
Eu devia estar contente por ter conseguido tudo
O que eu quis mas confesso abestalhado que eu estou decepcionado
Por que foi tão fácil conseguir e agora eu me pergunto, e dai?
Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar,e eu não
Posso ficar aí parado
Eu devia estar feliz pelo senhor ter me concedido o domingo
Pra ir com a família no Jardim zoológico dar pipoca aos macacos
Ah ! Mas que sujeito chato sou eu que nao acha nada engraçado
Macaco, praia, carro, jornal, tobogã eu acho tudo isso um saco
É voce olhar no espelho se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado que só usa
Dez por cento de sua cabeca animal
E você ainda acredita que é um doutor padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte para nosso belo quadro social
Eu é que não me sento no trono de um apartamento com a boca
Escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar
Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador
quinta-feira, 19 de julho de 2007
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4 comentários:
Nunca estámos satisfeitos com o que temos,queremos sempre mais e mais,faz parte esta busca da essência do ser humano.
Bjs Zita
ola James...
seja sempre bem - vindo em meu blog!
seu post com a letra do raul seixas veio bem nesse momento que estamos vivendo!
um abraço
nunca estamos contentes com o que temos... pensamos antes no que poderiamos ter... um beijão
Nunca gozamos em pleno o presente, por culpa dessa ansiedade de querer mais e não sabermos exactamente o Quê.
Quem sempre assim se sente, acaba por perder uma vida inteira.
Gostei muito do texto. Muito real!
Abraço
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