terça-feira, 21 de agosto de 2007

MÁRIO QUINTANA (4)


CADEIRA DE BALANÇO
(Mario Quintana)


Quando elas se acordam
do sono, se espantam
das gotas de orvalho
na orla das saias,
dos fios de relva
nos negros sapatos,
quando elas se acordam
na sala de sempre,
na velha cadeira
que a morte as embala...

E olhando o relógio
de junto à janela
onde a única hora,
que era a da sesta,
parou como gota que ia cair,
perpassa no rosto
de cada avozinha

um susto do mundo
que está deste lado...

Que sonho sonhei
que sinto inda um gosto
de beijo apressado?
- diz uma e se espanta:
Que idade terei?
Diz outra:
- Eu corria
menina em um parque...
e como saberia
o tempo que era?

Os pensamentos delas
já não têm sentido.

A morte as embala,
as avozinhas dormem
na deserta sala
onde o relógio marca
a nenhuma hora

enquanto suas almas
vêm sonhar no tempo
o sonho vão do mundo...
e depois se acordam
na sala de sempre

na velha cadeira
em que a morte as embala...



QUINTANA, Mario Quintana de Bolso. Porto Alegre: L&PM, 1997.

5 comentários:

Espaços abertos.. disse...

Só Mário Quintana consegue ter um dom tão grande da palavra..
Bjs Zita

- artblog disse...

recebi tua visita no meu blog saladatropical. valeu pelas palavras agradáveis. também gostei do teu e, cá prá nós, mário quintana é mestre. me diz se posso divulgar em link teu blog. abraços. roberto.

Anônimo disse...

Quintana é perfeito e eu, qdo chegar na época das cadeiras de balanço, quero ainda sonhar e poder escrever, ao menos, uma poesia.
Lindo.
Bjs
S

Carol Rocha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carol Rocha disse...

Estou indo dormir, mas não será nessa cadeira de balanço... ainda...

Quintana é mais que genial.