Foi sangrenta
(Pablo Neruda)
Foi sangrenta toda a terra do homem.
Tempo, edificações, rotas, chuva,
apagam as constelações do crime,
o certo é que um planeta tão pequeno
foi mil vezes coberto pelo sangue,
guerra ou vingança, armadilha ou batalha,
caíram homens, foram devorados,
depois o esquecimento foi limpando
cada metro quadrado: alguma vez
um vago monumento mentiroso,
às vezes uma cláusula de bronze,
depois conversações, nascimentos,
municipalidades, e o esquecimento.
Que artes temos para o extermínio
e que ciência para extirpar lembranças!
Está florido o que foi sangrento.
Preparar-se, rapazes,
para outra vez matar, morrer de novo,
e cobrir com flores o sangue.
NERUDA, Pablo. Últimos Poemas. Tradução de Luiz de Miranda. Porto Alegre: L&PM, 1997.
terça-feira, 18 de setembro de 2007
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3 comentários:
Eu gosto do Neruda.
E parece que sim, é coisa de quem tem útero. Hahaha
Bem que eu queria que não fosse, seria legal homens mais sensíveis.
Beijo
belo...tanto...
beijO
Neruda é impressionante!
"Eu abro o meu Neruda e apago o sol... Misturo poesia com cachaça..."
Ótimo blog. Foi um prazer passar por aqui.
Beijuca
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