segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

BAUDELAIRE (5)



A Sopa e as Nuvens
(Charles Baudelaire)






A LOUCA da minha bem-amada me dava de jantar, e pela janela aberta da sala de refeições eu contemplava as movediças arquiteturas que Deus faz com as nuvens, as maravilhosas construções do impalpável.

E dizia comigo, através da minha contemplação:

– “Todas estas fantasmagorias são quase tão belas quanto os olhos de minha amada, a pequena louca monstruosa de olhos verdes”.

De súbito senti um violento murro nas costas e ouvi uma voz rouca e encantadora, uma voz histérica, e como enrouquecida pela aguardente, a voz da minha querida bem-amada, que me dizia:

– Trate de tomar a sua sopa, seu maluco, mercador de nuvens!







BAUDELAIRE, Charles. Pequenos poemas em prosa. 4ª. Ed. Tradução de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Baudelaire

2 comentários:

Claudio Boczon disse...

Genial e, por coincidência, parecidíssimo com algo que me ocorreu nos estertores de 2008, com direito aos olhos verdes e voz rouca.

abraço

Cadu Oliveira disse...

Muito bom, afinal, Baudelaire.
Por coincidência este francês também andou dando o ar da graça no Citosfera.

Acabei de sair da leitura do famoso Poema do Haxixe.
Grande abraço!