sábado, 17 de janeiro de 2009

CECÍLIA MEIRELES (7)



SUGESTÃO
(Cecília Meireles)





Sede assim – qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre,
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também com este ar da noite;
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.

Igual a pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.

A cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.







MEIRELES, Cecília. Mar Absoluto e outros poemas / Retrato Natural. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.



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