quarta-feira, 17 de novembro de 2010

ANTÔNIO BARBOSA BACELAR (3)



Romance Pastoril
(Antônio Barbosa Bacelar)




Pastora de olhos negros,
Que guardas brancas ovelhas,
E deixas tantos em branco
C’uma ventura tão negra.

Tu que na serra pareces
Quando menos uma Estrela,
E no vale a quem te adora
Então lhe pareces serra.

Tu que no monte, e no prado
Dás que dizer às mais belas,
Umas por te ter amor,
Outras por te ter inveja.

Esse teu negro cabelo,
Porque aos olhos se pareça,
A muitas almas é vida,
A muitas vidas é pena.

Dele forma amor Menino
Arco, e juntamente seta,
Aquele com que faz tiro,
Estoutra, com que atravessa.

A boca quem quer dirá
Quando a vir toda vermelha,
Que se é Rubim pela cor,
É Rubim pelo pequena.

Ou também que se envergonha
Creio que afirmar pudera,
De ver que anda entre dentes,
Sendo o exemplar da beleza.

Qualquer bonina que pisas
Porque co pé se pareça,
Inda que pequena flor,
Se quer fazer mais pequena.

O cajadinho, que trazes,
Sabido é que foi frecha,
Que no teu peito cajado
Se fez por mais duro que ela.

Essa pele que te abriga
Se é de cordeiro, ou de ovelha
Não sei, porém dizem todos
Que tens condição de fera.

Basta que serra te chame,
E para serra Morena
Muito te vejo de neve,
Muito tens de Portuguesa.






PÉCORA, Alcyr (Org.). Poesia seiscentista: Fênix renascida & Postilhão de Apolo. Introdução de João Adolfo Hansen. São Paulo: Hedra, 2002. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=jkP94AZMGKsC&printsec=frontcover&dq=Poesia&lr=&cd=27#v=onepage&q&f=false

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