sábado, 30 de agosto de 2008

AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT (5)



SÃO ENVIADAS DO MAL...
(Augusto Frederico Schmidt)


SÃO enviadas do Mal que me perseguem
E me oferecem prendas e folguedos.
Dançam comigo, levam-me sorrindo
Para os abismos louros e sedosos.

Essas mulheres que me telefonam,
Meu sono interrompendo em horas mortas,
E batem na calada à minha porta
Um abrigo em meu leito procurando;

Todo esse arfar de perfumados
Corpos vem da fonte do mal,
E tenta me envolver em sortilégio.

Caio em pecado, mas a aurora nasce
E limpa de minha alma a escura mancha
De ter faltado a Deus, que a mim não falta.





AMO–TE TANTO
(Augusto Frederico Schmidt)


AMO–TE tanto que adormecerei
Diante de tua porta, no frio.
Se não me deres o teu peito
Me encontrarás gelado, morto

De fome, porque só quero
O leite de que és fonte.
Se não me amares
Deitarei a cabeça na pedra.

Estenderei meu corpo na calçada
E descansarei para sempre.
Olha-me e contempla meu rosto

Sulcado de dores velhas, meus cabelos
Duros, minhas mãos cheirando
A fumo, meu hálito de bêbedo!






SCHMIDT, Augusto Frederico. Nova Antologia Poética. Seleção de Rubem Braga. 2ª.Ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964.

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Frederico_Schmidt

Um comentário:

Érika de Lima disse...

aaahhh essas mulheres...
quase te entendo.

beijo!