quinta-feira, 28 de agosto de 2008

JOSÉ SARAMAGO



José Saramago
Em
Este mundo da injustiça globalizada.







“É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo.

Tudo isso é verdade, mas é igualmente verdade que a possibilidade de ação democrática começa e acaba aí.

O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me obviamente, ao poder econômico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira.

Todos sabemos que é assim, e, contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos fatos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e atuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica”.







SARAMAGO, José. Este mundo da injustiça globalizada. Texto lido na cerimônia de encerramento do Fórum Social Mundial 2002. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000302.pdf

Sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Saramago

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