segunda-feira, 18 de agosto de 2008

BARÂO DE ITARARÉ (6)



MONÓLOGO
(Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé)






Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar todas na pia, porque se não...

- Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente. E comecei a desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa.

Tirei a rolha da primeira garrafa e despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo que bebi.

Extrai a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo, que virei.

Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com exceção de um copo, que empinei.

Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa, que bebi.

Apanhei a quinta rolha na pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa por exceção.

Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha.

Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da garrafa, arrolhei o copo e bebi por exceção.

Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau gênio que tem.

Segurei então a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram exatamente trinta e nove.

Para me certificar de que não havia engano, contei tudo outra vez e quando terminei já encontrei um total de noventa e três, o que dá certo, quando as coisas andam de perna para o ar.

Como a casa nesse momento passou mais uma vez pela minha frente, aproveitei para controlar minhas contas e recontei todas as casas, copos, rolhas, pias e garrafas, menos aquelas duas, que escondi no banheiro e que eu acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca...








Barão de Itararé. Máximas e Mínimas do Barão de Itararé. Seleção e organização Afonso Félix de Souza. Apresentação de Jorge Amado. 2ªed. Rio de Janeiro: Record, 1986.

Sobre o autor:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bar%C3%A3o_de_Itarar%C3%A9

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