Ferreira de Araújo
Em
O coração humano.
“É um teatro em que se representam todas as cenas, das mais trágicas às mais burlescas.
É um manequim a que se acomodam todas as máscaras, a do tirano e a do hipócrita.
É um instrumento em que todas as cordas vibram, e que nem sempre anda afinado.
Umas vezes, restrito e quieto como o altar em que só pode estar um santo, outras vezes amplo e barulhento como uma hospedaria em que entram caras novas todos os dias.
E nada lhe altera a natureza.
Puro e sereno como o céu sem nuvens, negro e sombrio como uma noite de tempestade, é sempre o mesmo coração humano.
Fala uma língua que em todas as nações se estende, mas de que ninguém pode fixar as regras.
Aninha todas as virtudes e todos os vícios, tendo uma moral sua, que o leva com igual impulso, pelo bem ou pelo mal, para o fim almejado: a satisfação do eu.
Aquilo mesmo que se combinou chamar abnegação, sacrifício, é o egoísmo depurado, a quinta essência do gozo, que consiste em sofrer, para ter o prazer de evitar o sofrimento àquele a quem o coração se dedica.
Eu creio que no coração humano há um germe de tudo o que há de bom e mau na natureza: o suco de todas as plantas, as que nutrem e as que matam; um pouco de todos os animais indistintamente, leões, e cordeiros, o pelicano e o abutre, os que voam e os que se arrastam; as mariposas, que morrem na luz e os micróbios, que nascem na podridão.
Como estranhar que ele seja sublime e covarde, adorável e repugnante, heroicamente grande ou microscopicamente mesquinho?”
Disponível em Antologia brasileira coletânea em prosa e verso de escritores nacionais ... Por Eugenio Werneck
terça-feira, 28 de abril de 2009
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