sábado, 7 de junho de 2008
MARIANA ALCOFORADO
Mariana Alcoforado
Em
Primeira Carta
“Considera, meu amor, até que ponto foste imprevidente!
Oh!, infeliz, que foste enganado e a mim enganaste também com esperanças ilusórias.
Uma paixão sobre a qual tinhas feito tantos projetos de prazeres não te causa agora mais do que um mortal desespero, só comparável à crueldade da ausência que o provoca.
E esta ausência, para a qual a minha dor, por mais que se esforce, não consegue encontrar um nome assaz funesto, há de então privar-me para sempre de fitar esses olhos onde eu via tanto amor, esses olhos que me faziam saborear emoções que me cumulavam de alegria, que eram o meu tudo, a tal ponto que deles só precisava para viver?
Ai de mim!
Os meus encontram-se privados da única luz que os animava e só lhes restam as lágrimas; não os tenho usado senão para chorar incessantemente desde que soube que estavas decidido a um afastamento que não posso suportar e me fará morrer em pouco tempo.
Parece-me, contudo, que chego até a prezar as desgraças de que és a única causa: dediquei-te a minha vida assim que te vi e sinto algum prazer sacrificando-a a ti”.
ALCOFORADO, Mariana. Cartas Portuguesas. Porto Alegre: L&PM, 1997.
Sobre a autora:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mariana_Alcoforado
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Maravilhosaaaaa!
Beijo pra você...
Mariana rompe com o hábito do silêncio...
...de tudo se é capaz, em nome de algo que nunca saberemos explicar...porque a sua natureza é essa: a de infinito inexplicável sem lugar para os limites da prosaica razão
Postar um comentário